19.6.12

portugal-holanda


Muito mais do que pelo resultado em si, para nós um encontro entre as equipas de Portugal e da Holanda vale por toda a envolvente emocional. Está em jogo muito mais do que o mero sucesso competitivo da equipa que representa o nosso país - embora assumamos essa ambição como qualquer outro português residente ou expatriado. Há igualmente que considerar todo o impacto pessoal e social para quem reside no país cuja equipa se defronta naquela ocasião em particular.

Por coincidência, mais ou menos por altura de nos mudarmos para cá, Portugal e Holanda tinham-se encontrado duas vezes seguidas em fases finais de competições de futebol - mais concretamente nas meias finais do Euro 2004 e nos oitavos de final do Mundial de 2006 - e em ambos os casos as partidas foram muito disputadas (diria até controversas, com queixas dos dois lados) e a vitória acabou por sorrir à equipa portuguesa. O jogo de 2006, durante o qual a tensão esteve ao rubro e vários jogadores de cada lado foram expulsos, decorreu na antevéspera da nossa primeira viagem para cá e 5 dias antes do meu primeiro dia de trabalho. Lembro-me que a memória estava ainda bem fresca nas cabeças dos meus colegas e que durante meses aproveitaram qualquer ocasião para lançar acusações ao comportamento dos jogadores portugueses.

Por isso, assim que soubemos que o sorteio para o Euro 2012 nos tinha alinhado novamente com a Holanda, percebemos de imediato as implicações que isso teria para nós: fossem quais fossem o resultado entre os dois países e a classificação final do grupo, este confronto directo iria inevitavelmente afectar-nos. Se fossemos afastados e eles seguissem em frente, pela raiva afogada à força e pela humilhação de os ver celebrar nas ruas, espalhando bandeiras e toda a espécie de tecido laranja pela cidade; se nos calhasse a nós avançar deixando-os para trás, por ter que conter a alegria por precaução - acredite quem quiser que, pelo menos no que toca ao futebol, estes nórdicos nada têm de moderados.

A isso juntava-se ainda uma desconfiança generalizada nas capacidades da selecção. Talvez porque o percurso durante a qualificação foi irregular, ou porque o seleccionador não tem grande carisma, ou possivelmente porque a atitude dos jogadores durante o período de preparação deixou algo a desejar em termos de concentração. A verdade é que dava ideia de um conjunto desagregado com um par de estrelas vaidosas, uns quantos aspirantes ressentidos e um mar de carregadores de piano sem talento para jogos ao mais alto nível, todos pretensamente liderados por um treinador famoso pelo sua teimosia extrema e cujos únicos méritos conhecidos eram umas temporadas mal conseguidas ao serviço do sporting. Para dizer verdade, se lhes era concedido o benefício da dúvida era apenas em função dos resultados conseguidos depois da saída do anterior seleccionador e do descalabro dos primeiros jogos de qualificação. Ainda por cima tinha-nos calhado na rifa o denominado `grupo da morte`, com Alemanha, Holanda e Dinamarca pela frente.

Começou então o campeonato e com ele as primeiras surpresas. No nosso grupo a equipa das quinas correspondia às expectativas e perdia contra a Alemanha (apesar de ter feito um bom jogo); já a Dinamarca surpreendeu o mundo com uma vitória frente à Holanda, uma das principais apostas para a conquista do título. A coisa estava a tornar-se interessante. No segundo jogo cumprimos a obrigação e derrotámos a Dinamarca - condição sine qua non para a continuação em prova -, enquanto a Holanda se afundava contra a Alemanha e liquidava qualquer aspiração. The tables had turned, tudo estava a nosso favor. Restava-nos um jogo contra uma equipa fragilizada e descrente, precisamente aquela que para nós interessava mais. Estávamos então no pior cenário possível: o embate entre as equipas portuguesa e holandesa seria um jogo de mata-mata, de tudo ou nada.

Os holandeses começaram agressivos, como se esperava. Para terem qualquer hipótese de passar tinham que ganhar por pelo menos 2-0 e esperar pela vitória da Alemanha no outro jogo. E tudo parecia sair-lhes bem...ao fim de uns minutos já ganhavam por 1-0, golão de fora da área no primeiro remate digno do nome. Mas esse golo teve um efeito surpresa: a nossa selecção acordou e perdeu o medo, tomando controlo do jogo e passando a ameaçar com regular acutilância a baliza adversária. Daí até ao final aconteceu o mais natural, com Portugal a dar a volta ao resultado, falhando uma goleada histórica por manifesta falta de sorte no remate final.

Escusado será dizer que aqui em casa se festejou. Discretamente, como é nosso apanágio, mas com fervor. Basta ver a imagem acima, que julgo reflectir a crença que por aqui se passeava. Enquanto isso, nas ruas o silêncio era total. O mais curioso é que essa tranquilidade não chegou no final do jogo, já vinha de trás: desde a primeira desilusão contra a Dinamarca que tomou conta do povo uma descrença generalizada. Do habitual arraial que assalta cada espaço público ou privado nos dias de jogo, passou-se para uma discreção quase arrepiante. E no final, quanto tudo tinha acabado e se confirmaram os piores receios, soltaram os dedos acusatórios e massacraram o treinador; o mesmo que há 2 anos levou a equipa à final do Mundial.

Nuno

5 comentários:

Ndda disse...

Concordo plenamente com quase tudo...

Os Holandeses sempre foram bons a gerir caminhos que outros no passado descobrirão...

Eles são holandeses e Nós Portugueses, no futebol e no resto.

Seguem-se os checos.
Abraço
NDA

CDA disse...

Nuno,
Olha que cá entrevistaram um grupo de "entusiasmados" holandeses residentes, reunidos em Cascais para assistirem juntos ao jogo.
Mas no fim disseram que iriam passar a apoiar Portugal, em directo para um canal holandês (NOS)..
E esta, hem!?

Berta disse...

O Dioguinho é que sabia! Portugal -1000 e a Holanda - 1! Pois claro!
Os Holandeses esqueceram-se de um pormenor: o melhor jogador do mundo está na equipa portuguesa. E mais, vem lá daquela ilha do meio do Atlântico, Madeira. E viva o Cristiano Ronaldo, rapaz da minha terra, que salvou a nossa honra com os 2 golos que marcou. Bjs

pdalmeida disse...

Foi a Lindinha que fez e escreveu a previsao.

Berta disse...

Então faço a devida correcção! Isso é que foi pontaria, Catarina, pese embora o exagero da diferença de golos, de 10000 para 1...´! Foi para mostrar a grande vontade que tu tinhas para que Portugal ganhasse! Beijinhos