25.12.12

Nosso primeiro jantar de Véspera de Natal enquanto anfitriões

Este ano decidimos, pela primeira vez desde que emigrámos e por diversas razões, não ir a Portugal pelo Natal.

Resolvemos que, não obstante, celebraríamos a Véspera de Natal em nossa casa. Fizémo-lo, pela primeira vez, este ano - e que trabalheira dá!

Tendo em conta os amigos de diferentes locais do mundo (4 continentes representados) que convidámos, resolvemos que perú seria o prato mais consensual. Éramos 17: nós os quatro; uma família de mais quatro, ele da África do Sul, ela do Reino Unido e os pequenotes nascidos na Holanda; um casal com um filhote da Holanda; mãe e filho, ela do Japão, ele nascido na Holanda; dois amigos gregos e um casal americano. 

Decidido o menú, arranjámos panela (36 litros) e tabuleiro que naturalmente não tinhamos para a tarefa que nos propunhamos. O Grandalhão encomendou o bicho e sábado foi buscá-lo. O bicho tinha 9 kgs.

Ainda sábado, eu e a Kaki preparámos tudo para, com muito carinho, o pôr a marinar. Passou quase 24h numa piscina, a ganhar gosto. 
Domingo, cozêmo-lo. Uma cozedura mais ou menos rápida para assegurar que apanhava um entalão mas não o suficiente para se desfazer assim que lhe pegássemos. E, tabuleiro com ele.

Recheámo-lo com carnes e enchidos mas não o conseguimos coser - e também não foi preciso.


Pincelado várias vezes e virado outras tantas com o forno ligado durante muitas horas (domingo e segunda), mesmo a testar a paciência. O perú ficou pronto a horas do nosso jantar da véspera de Natal.

O molho, fê-lo a amiga americana, ao estilo do molho que é feito para o perú do dia de acção de graças: manteiga, farinha e o molho do tabuleiro onde assámos o bicho.

Comêmo-lo, depois de ter comido os camarões que o Grandalhão tinha feito como entrada. Pareceram-me bons mas distraí-me a tirar fotos e tratar da refeição dos pequenotes. Quando fui ver o que me calhava na sorte, tinha desaparecido tudo!

Na minha memória ficarão como de deixar água na boca... E em baixo a prova de que até lambiam os dedos a comê-los!

Para os meninos tínhamos preparado almondegas.


As sobremesas foram variadas e trazidas pelos convidados. Tínhamos, apple crumble, american cookies, bolachas holandesas, e claro, bolo rei e broas de natal.

Depois foi o momento de distribuir uma prenda por cada criança.


E do convívio que se segue, até ser já tarde e os convidados, começarem a sua jornada de regresso a casa.  
  Tivémos saudades sobretudo da família e de tantas pequenas (e grandes) coisas que há, só em Portugal. Mas tendo a decisão sido tomada de passar cá o Natal este ano, soubémos reunir-nos de boa gente, e de fazer uma celebração ao nosso estilo - fortemente influenciado em tudo pela herança de todos os Natáis passados.   Soube bem não ter de ir a lado nenhum, apesar de haver os despojos da guerra para tratar... E, tarde e exaustos nos deitámos. Na manhã seguinte, nem queria acreditar quando, às 7 da manhã, acordei com as vozezinhas a gritar "mamã, papá, o Pai Natal passou cá por casa!!!!!!"

Patrícia

23.12.12

Cinderella

Fomos hoje ver a Cinderella ao Muziektheater, Amsterdam. A coreografia de Christopher Wheeldon estava espectacular. Esperava algo muito mais clássico e surpreendeu-me pela positiva porque conseguiram aliar  a magia, comicidade e técnica no mesmo espectáculo.


O Campeão, que achava que ía ser "torturado", gostou. A Kaki também e eu, vi o ballet deliciada e, desta vez, até ao fim.

Patrícia



22.12.12

Kaki - primeiro trimestre da CP

A Kaki começou, como se esperava, muito bem o início da primária. Teve A (de acquis) em todas as competências que foram avaliadas em francês, inglês e holandês. As competências avaliadas estão divididas em quatro grandes categorias no francês:

1. Compétences sociales et civiques
- Instruction civique et Morale

2. Maîtrise de la langue française
- Langage oral
- Lecture
- Écriture
- Orthographe

3. Principaux éléments de mathématiques
- Nombres et calcul
- Géométrie

4. Découvrir le monde
- Se repérer dans l’espace et le temps
- Découvrir le monde du vivant, de la matière, des objets
- Arts
- Education Physique

Definitivamente não é um feito comum nesta escola e a Kaki continua de parabéns!

A professora de francês escreve no caderno de avaliação relativamente ao primeiro trimestre: "Excellent premier trimestre de Cp. Catarina est une élève sérieuse et appliquée. Elle a des facilités à apprendre et ses compétences en lecture lui permettent déjà d’être autonome. Elle s’intéresse à toutes les activités et participe beaucoup en classe. Félicitations également pour son comportement en classe et avec ses camarades.C'est un plaisir de l'avoir comme élève."

Já a professora de inglês, escreve sobre a "língua estrangeira" da Kaki (isto porque se assume na escola que o Francês é a língua materna, que no caso da nossa lindinha, obviamente não é): "Catarina has made an excellent start to the year in English. She is a conscientious member of the class who participates enthusiastically in all activities. Her general communication skills are excellent and we will be working on grammatical and lexical accuracy over the year. She is able to read some simple English words by using the sounds we have learnt in class. Keep up the good work Catarina."

O Didi ainda não recebeu a avaliação. A professora adiou o envio do caderno de avaliações para depois das férias. Mas os resultados continuam muito positivos. A título de curiosidade, fui espreitar o caderno do Diogo para exactamente a mesma fase. A professora era outra e o Didi teve 35 A, no total de 38 pontos avaliados. 

Em baixo ficam duas das obras, lindissimas aos meus olhos de mamã babada, que a Kaki produziu neste trimestre.

"Só traços"

 "Grenouilles"

E mais não digo.

Patrícia

Não há como brincadeiras de irmãos

E os nossos meninos não são uma excepção. É  relação mais testada de todos os tempos: brincam, zangam-se um com o outro, protegem-se um ao outro, entendem-se, desentendem-se, provocam-se, e, crescem juntos.

Saudades do meu mano por perto.

Patrícia

15.12.12

Kung Fu

Hoje os meninos completaram mais uma semana de exames e conseguiram a faixa na cor respectiva do cinturão que se segue.
O Di recebeu hoje a faixa roxa para o seu cinturão verde.

Já a Kiki, tinha o cinturão vermelho e hoje recebeu a faixa verde.

Lá vamos tendo os nossos dilemas sobre a continuação ou não desta actividade.

Foi o Grandalhão que a escolheu, a dedo, e procurou a escola. Ultimamente, tenho sido a maior defensora de que nela continuem porque considero que tem várias vertentes boas. Trabalham na forma física, e nos princípios de respeito, controlo, concentração, auto-defesa, integridade e disciplina. É uma actividade que podem fazer ao mesmo tempo e que beneficia os dois - o que, para pais sem grande tempo disponível, é uma grande vantagem. Dá-lhes também competências para, não estimulando a agressividade, saberem proteger-se.

É importante também porque os obriga a estarem continuamente expostos ao holandês. Finalmente, acho importante que os obrigue ao compromisso e a não desistirem. Aliás, o mote da escola é "a black belt is a white belt that never gives up".

Patrícia

9.12.12

Oh - Paris, Paris!

Este fim de semana fizemos uma surpresa aos meninos e levámo-los a Paris.

Saímos quinta-feira, dia que os meninos não tiveram aulas, ao final da tarde. As malas já estavam no carro de véspera e eles só descobriram já a caminho. Passado o jantar na Bélgica e cinco horas de viagem chegámos ao nosso destino. Tínhamos hotel marcado na Avenue de la République e aí fizemos o nosso poiso.

No dia seguinte de manhã, depois de um pequeno almoço reforçado, dirigimo-nos ao Louvre. Entrámos pela pirâmide (entrada principal) e visitámos duas das alas do Louvre. Começámos pela ala Denon onde vimos, entre outros, a vitória de Samotrácia, a Gioconda de Leonardo da Vinci, a sagração do imperador Napoleão e a Vénus de Milo (que o Di reconheceu do filme Astérix nos Jogos Olímpicos...). Depois passámos à ala Sully onde o Di queria ver, em especial, antiguidades egípcias e vimos, entre outros, a estátua sentada de Ramsés II. Os meninos ficaram impressionados com o tamanho do Louvre, e com o de alguns quadros que ocupavam paredes inteiras. Ainda acharam engraçado alguns pintores que faziam imitações perfeitas de obras primas expostas no museu. O Di gostou especialmente do Louvre, já a Kaki não achou grande graça ao conceito de "grandes corredores com imagens paradas nas paredes".




Do Louvre seguimos, junto ao Sena, até Notre-Dame de Paris. Não sem antes fazermos uma pausa de aquecimento com chocolate quente e madalenas. Visitámos a catedral que comemora, este ano, 850 anos. Depois de visitar a igreja decidimos subir às torres onde se dizia que o Corcunda Quasimodo viveu. A subida das torres é feita em grupos numa escada em caracol de 422 (li algures) degraus. É cansativo mas fizemos e vimos lá de cima a fantástica vista sobre Paris, as gárgulas e as criaturas fantásticas (pássaros fantasticos, animais híbridos, monstros fabulosos). Quando descemos de novo a escadaria, a Kaki tinha as pernas a tremer, tal tinha sido o esforço - que segundo todos valeu muito a pena.



Daí passámos a ponte para o lado da Sorbonne onde almoçámos e visitámos uma fantástica loja de banda desenhada. De novo voltámos a passar o Sena e entrámos num autocarro de turistas que nos levou à Torre Eiffel. Com tudo isto o sol tinha-se posto, o frio intensificava-se e a Torre, não só com a iluminação normal mas também de Natal, esperava por nós. A Kaki estava radiante de ir à Torre Eiffel (o Di nem por isso). Lá esperámos até à nossa vez de chegar ao segundo andar (o topo estava encerrado). Vento e frio fizeram-nos rapidamente querer voltar a descer, desiludidos com a visita à Torre. Talvez a vista do topo num dia de Verão valha a pena, o que fizemos, no Inverno, foi uma bela decepção e a Torre vale o que vale por fora, apenas.


Esgotados, molhados e com frio, dirigimo-nos a pé ao hotel. O Di amuou. Lá parámos para nos reconfortar o estômago numa Brasserie antes de caírmos, esgotados, na cama. Não sem antes o Grandalhão receber uma chamada que, de uma forma ou doutra, ficará para a nossa história comum.

Sábado acordámos famintos e um pequeno almoço no hotel satisfez-nos. Daí fizemo-nos a caminho do Forum des Halles - passando a caminho pelo Centre Pompidou que ficará para outra visita - para passar um bom tempo na Fnac - gigantesca, comparada com qualquer uma de Portugal. Os meninos lá encontraram alguns livros que leram, sentados no chão da loja. O Di trouxe o seu primeiro Harry Potter ("de setecentas e cinquenta e sete páginas") e a Kaki a sua primeira enciclopédia em francês, entre outros.

Voltámos ao Louvre para subirmos/descermos (??) os Campos Elíseos em direcção à Place de la Concorde. Daí percorremos as ruas para a Opera, onde almoçámos, regalados, num restaurant bem français e cheio de locais. Depois fomos até ao Arco do Triumfo (passámos a subida depois de olhar para a fila e da desilusão do dia anterior) e descemos a Champs Elysées - cheia literalmente à pinha para as compras de Natal e de pedintes (que muita confusão fez à nossa Kaki) - e daí seguimos para o mercado de Natal.





De novo metemo-nos no metro para ir para a zona do hotel onde resolvemos (bem) aventurar-nos num restaurante Coreano.



De novo cansados dormimos que nem pedras. Na manhã seguinte, depois de um pequeno almoço parisiense na République, dissémos adeus ao hotel e fomos buscar o carro para nos fazermos à estrada, de regresso a casa.


Um fim de semana a não esquecer numa cidade fabulosa.

Patrícia

22.11.12

máquina

Contou-me a Patrícia que o campeão se predispôs voluntariamente a ajudar a irmã a aprender um poema para a escola.

Leu uma primeira vez para ela, deixou-a ler uma segunda vez e...sem querer já sabia a poesia de cor.

Sempre foi assim. Memória prodigiosa que aplica com a mesma facilidade nos trabalhos de casa, nas línguas, na música e...para decorar nomes de jogadores de futebol.

Nuno

kikizices

A nossa kiki de 6 anos.

Numa conversa casual, eu explicava que pedi à Hertz para me instalar pneus de Inverno e que tinham preferido trocar de carro a trocar apenas os pneus.

- Tenho 2 perguntas...compraste um carro novo só por causa dos pneus?!? E...estes pneus podem pisar as poças?

Ri-me durante uns bons 30 segundos, depois calei-me à procura de inspiração para a resposta. No final ficam as deliciosas perguntas.

Nuno

16.11.12

Queda do primeiro dente de leite da Kiki

Há que tempos que andávamos a falar nisto e, anteontem, finalmente caíu o primeiro dente de leite da nossa Kiki.


A lindinha ficou contente porque o esperava com alguma impaciência. Na manhã seguinte acordou e ficou radiante porque a fada dos dentes lhe deixou uma carta, de fada para fada, muito especial...

Temos desdentadita em casa.

Patrícia

15.11.12

veia artística

À minha volta gente essencialmente simples. Nuances poucas, nenhumas mesmo. Gente que parece complexa, que se empenha em parecê-lo. Mas gente simples. Linear nos gostos, tendenciosa nas escolhas, uniforme na apresentação.

Arrogância minha, dir-se-á, é conhecido por isso. E logo aqui, por escrito, tão definitivo e absoluto. Só pode ser engano, cada pessoa é um mundo, cada alma um turbilhão. Não digo que não sintam, sonhem, sofram, amem. Fazem tudo isso, confirmo. Mas em cardume, num contínuo perpétuo de imitação. Enjoa-me. Procuro obssessivamente a diferença, desiludindo-me quando a encontro e a percebo igualmente imitada.

Ambiciono a unicidade discreta, com desprezo pelas parangonas e pela aprovação colectiva. Por fora a normalização pragmática, por dentro uma explosão infinita de autenticidade indiferente. Pouco me importa a qualidade estética, essa entrego-a de bom grado à voracidade de um mundo dominado por chavões. Spin city. Spin world diria eu. Nada dura mais do que um momento, todos mesmerizados pela brilhância, empolgados pelo aparente alcance da imagem, iludidos quanto ao risível impacto da própria existência.

Hoje cá andamos, amanhã o mundo continua sem nós. Essa continua a ser a única realidade. Numa vida para os vivos, cada um procura apresentar-se mais vivo que o resto, numa chamada de atenção virtual ao desconhecido, numa exclamação de renúncia à morte, numa pertença compulsiva ao grupo dos que respiram com mais força, numa absurda crença de mérito vital que convença o derradeiro juiz da justeza da sua vivência.

Todos simples, todos desmascarados. Eu inclusive. Desmascaro-me a mim próprio pois a tal arrogância não permite deixar tal tarefa para terceiros. A minha exclamação revela-se na absorção da alma do mundo. Quero o âmago, nada menos que isso. Vivo à superfície mas sonho profundo. Renego o consumismo experiencial, evito a entropia intelectual pela via sensorial e cativo ao invés a fruição mais elementar. Qual físico existencialista, reduzo aos elementos básicos toda e qualquer percepção, retirando satisfação da enorme complexidade natural que nos rodeia.

Nisto sou certamente igual a tantos outros, presentes e passados. Mas sou-o por mim, num agradecimento silencioso ao acaso pela oportunidade de estar vivo. Quando um dia me for, espero sair com a convicção que retirei tudo o que podia e que deixei apenas uma forma de estar. De forma alguma desejo ser fonte de inspiração, não tenho ombros para tanta responsabilidade. Reservo antes a cada um o direito de moldar livremente o seu próprio alter ego.

Nuno

10.11.12

Diploma C da Kiki

E hoje a Kiki ganhou o seu diploma C de natação. Pais e mano foram apoiá-la na sua prova que começa primeiro vestida (com calças, sweatshirt e casaco de chuva) e calçada .





Depois ficou em fato de banho e continuou as provas: mergulhar para a água, mergulhar 9 metros debaixo de água e passar por um buraco, boiar, nadar de diversos modos, passar obstáculos por baixo de água ou por cima deles e, tudo o que tinha de fazer, fez.

E no fim, comemoração e diversão!


Estamos todos muito contentes com a nadadorazinha da casa.

Patrícia

Imagens do dia da "derrota"







Patricia

farinha do mesmo saco

O pai folheia deliciado livros técnicos sobre excel. A filha calcula médias das notas da primária dos filhos. Estatística glorificada nas mãos dos Dias de Almeida...

Nuno

5.11.12

derrota

Ontem o campeão viveu a sua primeira grande derrota pessoal. Pelo menos foi assim que se sentiu, o que na prática é bem mais importante do que a realidade do acontecimento. Pela segunda vez falhou o teste de vela e vai ser obrigado a repetir o segundo nível. Esteve bem no teste teórico e faz quase tudo bem na prática mas falta-lhe uma competência de base no manuseamento da vela tida como fundamental para avançar para o nível final.

Obviamente desdramatizámos, até porque esta actividade tem sido elemento de discórdia cá por casa, mas levou a desfeita a peito. Suponho que estivesse convencido do sucesso a priori e tenha sido surpreendido pela decisão da instrutora. Ou poderá ter-se sentido humilhado por achar que foi o único a ficar para trás, algo que na verdade não verificámos: quando ele perguntou à instrutora se todos passavam, ela respondeu que caberia aos pais essa decisão - que no caso dele não recomendava - mas não chegou a esclarecer a situação dos outros.

O mais engraçado nisto tudo é que o filhote não gosta da vela e todos os Domingos me massacra por ter que ir passar 3 horas no meio do lago. Até na apresentação que tem que fazer para a escola deixou bem explícito que detesta a coisa e que sou eu quem o obriga a ir. Mas agora ficou deprimido por não conseguir passar - resta saber se pelo falhanço em si ou pela ideia de ter que repetir algo que rejeita com tanta paixão.

Como pai, vi este insucesso pela positiva. Tendo que acontecer, e todos sabemos que a derrota é parte integrante da vida, que seja nesta actividade secundária. Agora já sabe que nem tudo na vida lhe vai correr bem e que todos caímos. Falta-lhe aprender a segunda parte: a diferença entre os que vencem e os que ficam para trás está na reacção à queda.

Nuno

4.11.12

Férias de Outono

A meu pedido, e com uma paciência e genorosidade que não tem fim, lá vieram os meus pais de Lisboa para mais uma vez nos nos ajudar e cobrir as duas semanas de férias dos meninos. Não sendo a disponibilidade da família em Portugal e os meninos teriam umas férias bem menos gostosas .

A mamã fez um cozido à portuguesa como só ela sabe e convidámos uns amigos para connosco o saborear. Era véspera da maratona que o meu irmão veio fazer a Amesterdão. O meu mano superou-se, mais uma vez, na sua prova. Fez 3h18m e ficou em 1.316 dos 15 ou 16 mil alucinados que correram ao frio naquele dia. Um orgulho para todos à sua volta mas, acima de tudo, mais uma evidência para si de que só não faz aquilo que não se predispõe a fazer.

No dia lá estivémos a ver passar a laranja mecânica e a mostrar o nosso apoio incondicional.

Os meninos e nós (eu em especial) tivémos os mimos todos e agora reajustamo-nos à vida a que estamos tão habituados a quatro.

Em especial fica um gesto que me foi contado pelos meus pais sobre a Kiki. A casa do rés do chão está à venda, e ela, ao passear na rua perguntou porque não a compravam. Parece que a conversa começou com a avó que lhe indicou o avô. Disse-lhe « avô, porque não compras esta casa que tem jardim e assim vêem para cá mais vezes ? » Ao que o meu pai terá respondido « Gostavas ? Então vou pensar nisso ». A resposta dela foi aproximar-se e pedir-lhe que se baixasse. Deu-lhe um beijio na cara e saiu aos saltinhos, típicos de quando vai satisfeita com a vida.

Patrícia

2.11.12

Halloweenices

Não gosto, não gosto, não gosto...de palhaçadas. Nunca foi o meu estilo, nem em pequeno. Desde miúdo fujo de máscaras, disfarces, pinturas, maquilhagens, tatuagens, perucas e todos os outros artigos criados com fins de alteração da imagem pessoal, como um diabo (artigo indefinido e d pequeno só para prevenir) da cruz.

Algo me perturba profundamente no conceito de transformação instantânea, no artificialismo da caracterização, na ocultação dos elementos físicos que nos caracterizam e diferenciam enquanto indivíduos. A meu ver há algo de maléfico e aterrador em seres alterados por camadas de químicos. Acredito na existência simultânea de múltiplas personalidades dentro de cada um e aprecio a extraordinária capacidade do ser humano para se reinventar continuamente sem artifícios, apenas com força de vontade e ambição. Não compreendo portanto o propósito ou o interesse das alterações superficiais e temporárias.

Em criança, por alturas de Fevereiro, e sobretudo naquelas festas carnavalescas que a minha mãe organizava para celebrar o aniversário da minha irmã, desesperava em vã busca de uma qualquer aspiração estética refundida para dar à luz algo que se encaixasse no espírito da época. Visto está que o falhanço era trágico, tal como a escolha final da personagem. Acabava vestido como algo que os outros não estranhassem demais, que não atraísse demasiado a atenção. No fundo só queria arrumar a questão, mostrando que participava mas sem me fazer notar.

Como poderia eu adivinhar que teria que passar pelo mesmo em adulto? Pior ainda, a trabalhar! Mas assim foi neste Halloween. Fui recebendo avisos mas ignorei-os deliberadamente, convencido que se tratava de um embuste ou quanto muito de uma declaração de intenções vazia. Festa de Halloween, anunciavam os cartazes colados nas paredes interiores do edifício. Pois sim, desdenhava eu no meu cinismo tão costumário, fiquem para aí com a vossa conversa. A data foi-se aproximando e o tom dos avisos crescia, levando-me aos poucos a acreditar que algo se passaria.

Nas vésperas do dia 31 multiplicaram-se os esforços de decoração dos espaços, com os diferentes departamentos a espalharem pelos escritórios e espaços comuns adereços característicos da época: teias de aranha, caveiras, sangue simulado e doces tomaram de assalto o ambiente de trabalho e convenceram-me que a festa seria de arromba. No meu departamento, os mais entusiastas saíam a meio do dia para ir comprar o que faltava para o concurso da melhor decoração. Houve um que dedicou boa parte do fim-de-semana a construir um carro alegórico, que depois desmontou para transporte e voltou a montar no escritório para ficar em exposição.

Não consigo descrever a alucinação colectiva que tomou conta daquela gente. O edifício estava todo às escuras. Havia pessoas irreconhecíveis, integralmente incarnadas nas respectivas personagens. Um grupo passou a tarde a dançar o Thriller com um aparelho de karaoke. O meu chefe vestiu-se de Sith Lord, passeando pelo campus de capa e espada luminosa nas mãos. Há fotos para prová-lo mas não posso partilhá-las aqui.

No meio disto tudo, uns quantos fizeram figura de mal dispostos. Queriam trabalhar, acabar as coisas para ir para casa e passar tempo com a família. Afinal de contas, que pseudo-Carnaval é este em que os adultos se divertem e deixam os putos em casa? Mas este tipo de raciocínio é mal visto. Como dizia uma colega, desde que entrou para aquela empresa foi obrigada a embrace estas ocasiões para não se sentir excluída.

Já eu fiz como de costume: participei o mínimo possível para evitar acusações. Recusei obstinadamente porcarias na pele e não me juntei a tudo o que considerei exagerado. Mas vesti-me como os restantes elementos do departamento e fui fazer o giro como era esperado. Ainda assim tive que ouvir comentários sobre o meu desinteresse. Como explicar a esta gente esta minha perspectiva sem sair irreversivelmente queimado?

Nuno

1.11.12

Má vida

Emprego novo, vida nova. Não é ditado mas devia ser, tal o impacto de um novo desafio profissional na rotina familiar. Da noite para o dia tudo muda e todos se ressentem. Mais ainda do que os aspectos logísticos, é a reduzida disponibilidade - intelectual, física, afectiva - que provoca o maior desgaste. No próprio, que sente não poder dar tanto de si como habitual; no parceiro, que de repente recebe uma carga adicional para a qual não estava preparado; nos putos, que só se apercebem da mudança em termos práticos e se ressentem do défice de atenção.

Há dias chegou-me aos ouvidos a história (sim, com h...) de um indivíduo que se despediu da família durante 6 meses para se dedicar a uma nova posição. Um pouco radical por certo mas prevalece a lógica da imperiosa dedicação nos primeiros tempos para causar boa impressão e asfaltar devidamente a estrada do sucesso. Escolho aqui a palavra sucesso com hesitação, pois pode dar ideia falsa de ambição pessoal a troco do equilíbrio colectivo em casa. Para quem está acostumado às lides das empresas internacionais em que nos movemos, o conceito é contudo amplamente familiar e resume-se à sobrevivência num ambiente intratável de "dog eat dog", no qual por vezes nem o máximo de nós é suficiente. Quem se segurar a uma posição, achar que tem cadeira garantida, deixar de crescer, perde lugar instantaneamente e é substituído por alguém mais forte, mais esfomeado.

Tudo isto para explicar a dedicação obrigatória, sobretudo nos primeiros tempos em que ninguém nos conhece. Com o tempo, bem devagar, há pequenos espaços para acomodação ligeira, para desligar o telemóvel, ignorar mensagens, fazer as coisas à nossa maneira. Mas no princípio o campo está minado, impõe-se concentração total para evitar lesões permanentes ou até mortíferas. Isto de ser a pessoa nova é sempre muito complicado, mesmo para quem o faz tantas vezes quanto eu.

É neste estado de inquietação que me encontro agora. Estive 2 anos mais sossegado, com controlo quase total do tempo e do espaço, e de repente fui engolido por um monstro insaciável de expectativa. De um escritório privado com vista total sobre Amesterdão, passei para um open space com janelas para o pátio. De reuniões marcadas com semanas de antecedência para ajuntamentos instantâneos sem tempo, lugar ou pré-aviso. De um ambiente populado predominantemente por contabilistas e advogados para outro dominado por marketeers e designers. De uma organização em que o poder era manifesto e delegado cerimoniosamente, para uma em que a autoridade é esparsa e intangível. De um  chefe excessivamente disciplinado e confiante para um manager caótico e inseguro. Enfim, de 8 para 80.

Tenho tido portanto necessidade de me dedicar à causa, pelo menos até sentir que tenho alguma segurança sobre as responsabilidades que me foram alocadas. Escusado será dizer que esta minha entrega ao trabalho provoca mossa em casa, pois com isso deixei de ter tempo para todas aquelas pequenas coisas que antes assegurava. É preciso tempo para encontrar um novo equilíbrio, para encaixar todas as peças harmoniosamente. Lá chegaremos mas entretanto é impossível evitar agravos.

Compreendo, procuro compensar. Nesta fase é tudo o que posso fazer. O primeiro passo já está: sou a partir de hoje efectivo - até ontem estive em período de experiência.

Nuno 

31.10.12

Halloween 2012

Dia de brincadeira que calhou a uma quarta feira.

Os meninos, com os avós, decoraram ontem as abóboras.

 Hoje, esculpimo-las (em duas metades).


 A Kiki quis soltar a bruxinha que há em si.

E o Di, o diabito que há em si.

Patrícia