16.2.23

Seres muito extraordinários

Nova e muito frequentemente, cá vem mais um post cheio de - terna, afectuosa e nada subjectiva - baba de mãe. 💗

É assim. Parece que orgulho é hoje a palavra do dia (ou foi sobre o meu cabelo grisalho). No que se refere ao tema maternidade, orgulho é não palavra do dia mas sentimento de toda uma existência enquanto mãe do Diogo e da Catarina. É uma imensa responsabilidade. Os filhos são seres muito extraordinários (que não é o mesmo que dizer que são melhores ou piores que outros), mais não fora pela luz, poder e reflexo que têm sobre mim.

Ora vamos lá (dedos a estalar).👇

Este ano escolar (o último ano da educação secundária dela) a Makuks tem andado num corropio de exames, testes, exames e afins. Fora da escola para as universidades a que se vai candidatando já fez o UCAT, o BMAT e esta semana vai fazer o teste para a Universidade de medicina de Groningen. Isto claro, adicional ao trabalho da escola: defender a média, fazer trabalhos, projectos, ensaios, B-Testes e o Pre-BAC (coisa pouca). 😅 Tem sido pesado.

O reconhecimento – e não me venham com histórias de “olhos de mãe” porque se assim for também atiro com ”os números não mentem” – chegou no boletim da escola: 

A média deste momento PRE-BAC (também ela uma média de notas de classe e notas do exame) é de 9,02. 

Eu era boa aluna na secundária, não é que ter boas notas seja um shangri-la. Mas tinha-as, já dentro das humanidades, mais dirigidas aos meus interesses. Ela é consistência pura. Não só no boletim: socialmente, desportivamente, criativamente. Ponto. 

Mais palavras para quê? Ela anseia, como é muito natural, por não saber ainda onde vai parar. No meio de tudo, em alto nível na escola (as 3 ciências naturais e matemática avançada), sem tempos ou apoios extra. O que eu vejo é um caminho de luz: o resultado dela é claro, consistente, inequivoco.

E não menos relevante (apenas respeitei a cronologia das coisas), quero também destacar e celebrar o Champs, que hoje fez a sua primeira candidatura de trabalho. Para uma grande casa. 

É um novo começo para o qual se tem vindo a preparar com vontade (fome, diria) e diligentemente. A par da universidade (agora com a tese a braços), do honours, do seu raguebi (no qual usa dois chapéus: capitão da equipa masculina e secretary of the Board), das suas actividades de angariação de capital para um projecto, da sua vida por conta própria (que também dá trabalho ir às compras, fazer comida, limpar a casa, e todas as administrações associadas), dos seus investimentos. Tanta coisa que até me perdi. Dizia a par de, porque definiu que quer ir para uma consultora e tem estado a preparar o curriculum, cartas de motivação, casos para entrevistas etc. Dá tudo muito trabalho. Muito investimento de tempo, intelecto e emoção.

Vai provavelmente fazer muitas candidaturas. Até aterrar no sítio onde vai começar esta nova etapa. E eu fico entusiasmada à espera porque certamente tem muito para dar e contribuir.


São seres muito extraordinários. Seriam-no só (e tal bastaria) por serem meus. Mas repito, são-no objectivamente – como o teste do algodão - passam a olhos de terceiros.

Alguém que me questione quem sou e o que faço. Ser mãe destes seres muito extraordinários por si só já me deixa com excelentes credenciais e um enorme crédito no balanço da vida. Parto muito à frente. Privilegiada que sou.

Patrícia

O meu cabelo grisalho



Fiz 48 anos a semana passada. Fiz. Podia escrever atingi, o que também seria verdade. Mas para o tema que exploro neste post, não seria adequado. Fiz 48 anos. Ponto.

Em trocas de mensagens de parabéns com uma amiga de tempos da faculdade, ela escrevia “os 48 mexeram um bocadinho. Como já tenho 48?“.

Ao que respondi, na hora:


E segui caminho. Alegre e contente com a idade que tenho. Convencida que tenho vivido bem a vida e que tenho, provavelmente, o mesmo tanto pela frente (sem acidentes). Espero (e faço por) que bem.

Até que ontem à noite me assaltou uma observação: conto pelos dedos de uma mão (e não são todos) as mulheres que conheço que não pintam o cabelo. Certamente haverá mais mas ainda não me vieram à lembrança... São muito poucas. Mesmo muito poucas.

E comecei, enredada neste meu novelo, a procurar. Contei a minha sogra, a irmã dela, uma sra holandesa que conheci num programa que fiz o ano passado. E continuo à procura. Vem-me à cabeça a Christine Lagarde (mas não a conheço).

Todas as outras - amigas, conhecidas, mulheres com quem trabalho, mulheres com quem pratico desporto, vizinhas, mulheres da rede social, em geral – não têm cabelo grisalho. Estranho.😲

Lembro-me de uma amiga me ter dado nota da sua resolução no pós-pandemia, de não voltar a sujeitar-se a pintar/colorir (nem sei bem qual é o termo certo). E lembro-me também de me contar que colegas dela (homens) lhe terem comentado, no escritório e portanto em ambiente profissional, que "as raízes"  estavam a começar a ver-se. A lata!

Nunca, nestes meus 48 anos, pintei o cabelo. Acho que considerei um dia influenciada por uma história de uma anciã que tinha prometido à neta pintar o cabelo de cor de rosa quando ela se formasse . Achei graça e quem sabe que combinações estarei disposta a fazer com possíveis futuras gerações? 😉 O meu cabelo começou a enbranquecer cedo (totalmente lado do pai). Ainda em Portugal (de onde sai com 31 anos), era sempre um assédio no cabeleireiro: “que tal fazermos umas madeixinhas, levezinhas ou uma corzinha, menina?” (sim, é um abuso total de diminutivos no linguajar dos cabeleireiros em Portugal, o que às vezes, muito me diverte). “Não, só mesmo o cortezinho”, respondia às tantas já de sorisso amarelo e secamente. Aborrecia-me mas não ligava muito, achava que estavam a fazer o seu papel e a vender serviço.

E fui continuando, sem pensar muito nisso e sem pintar.

Na Holanda, ou pelos lugares onde fui passando, nunca me fizeram comentários sobre a tonalidade do meu cabelo. Apesar de, estranha e igualmente, não se ver muitas mulheres de cabelo grisalho. Certamente não no meu círculo, como apontei. Mas agora que penso nisso, em Portugal não é nada incomum ouvir “está(s) toda branca!” – e não, não é referência à cor da pele (o que também conferiria😄).

Este “estás toda branca” não é com um tom de “que gira!”. É mais um “para bom entendedor meia palavra basta”, tom chocado e reprovatório, de como que se quisessem que me sentisse mal por escolher envelhecer naturalmente e não combater esse terrível sinal de envelhecimento. Sentindo-me bem onde estav/a(ou), ignor/ava(o) e, na minha cabeça, justificando-os com “só me vêem cada X meses/anos e é normal que observem com mais nitidez a diferença”.

Não que seja imune a alguns sinais de envelhecimento: ir às compras de bikinis para mim (algo que sempre adorei fazer) tornou-se um tormento. Não gosto da forma que vejo ao espelho, à espera de um reflexo da forma que já não sou.

Mas a cor do cabelo, não era tema meu. Volta e meia surgia trazida pelo comentário de alguém e, como uma nuvem, passava.

Ontem assaltou-me esta ideia. Fiquei fixada. Perguntei à minha filha se era estranho (a mãe) ter cabelo branco? Respondeu, com um sorriso, “estranho, não. É quem tu és. Não te pintas, não pintas o cabelo. Mas é incomum, sim.”

Este "é quem tu és", sorrindo ternamente como ela o fez, encheu-me o coração. Intensificou valores marcados na minha personalidade. Como que a somar áquilo que eu inconscientemente venho fazendo um outro nível: a confirmação da minha identidade para ela, dada assim, tão casualmente, de uma total aceitação, que apenas adensa a minha beleza. De maneira directa e transcendente. 

Orgulho-me dos meus cabelos brancos, e alegro-me por não sentir necessidade de sucumbir à pressão social para os pintar.

Hoje, fiz a mesma pergunta, por mensagem, ao filho. Que me respondeu "bué random" 😂 mas que não, que não é algo estranho para ele. Depois de lhe explicar a minha observação, estranheza, indignação(?), confirmou que, de facto, não se vê muito mulheres de cabelos brancos. E encorajou-me a pesquisar mais sobre o tema.  

Explicou-me "a ciência" que à medida que envelhecemos, os nossos folículos produzem menos melanina, o pigmento que dá cor ao cabelo. Sem ela, o nosso cabelo parece cinzento ou branco. É (também) genético. Esclarecendo que a cor do cabelo não é indicativo de má condição física ou estado mental.

Mas (vale tanto aqui como em tantos outros temas) a nossa percepção e conduta social não se priva de fazer apreciações e comentários antes de se esclarecer com a dita ciência, pois não? Sabemos que não.  Os cabelos brancos, ou grisalhos, são vistos como um sinal de idade e envelhecimento (ainda que apareçam aos 20 anos, o que na realidade é o número mágico, o risco na areia do que é velho para os adolescentes). 

Ora, não suficiente estarmos mal informados, ainda temos de encarar aqui um padrão duplo: nos homens é celebrado como sinal de força e sabedoria. Um homem com cabelo branco é "charmoso". Nas mulheres, há a expectativa social (por parte de ambos os sexos) de que devem parecer jovens e vibrantes. "Charmosas" só é possível sem cabelos brancos. O charme é só para homem. Mulher com cabelo branco é “velha”.

Este padrão duplo, como tantos outros, é injusto. Nunca me tinha ocorrido mas claro que essa expectativa leva as mulheres a se sentirem desconfortáveis com o aparecimento das suas raízes brancas. E, regular e activamente, assegurarem que não se vêem. Que fique bem claro, não quero converter ninguém a nada, cada um sabe o que lhe convem, agrada e/ou assenta. Apenas quero que (igualmente) me respeitem e me deixem na minha paz.

Eu cá, brindo os meus cabelos brancos como um símbolo de sabedoria, experiência, transparência e graça!

O que vejo numa mulher com cabelo grisalho? 

  • Que mostra ao mundo que vive uma vida plena e pode oferecer experiência/conhecimento (eventualmente valioso) a outr@s. 
  • Maturidade, que está confortável consigo mesma, que chegou a um acordo com o seu processo natural de envelhecimento e abraça, por completo, a sua idade. 
  • Confiança, que tem orgulho de quem é, da sua idade e que não tem medo de se destacar do grupo.
  • Transparência, que não precisa de se maquilhar/camuflar para se assumir e se apresentar como é.
  • Graça e elegância, porque pode ser um visual bonito, sofisticado, moderno e atemporal.

Pronto. Fiz face a esta dúvida que me assaltou ontem. E justifiquei, com argumentos espero informados e lógicos, a minha escolha de sempre. Tenho orgulho nos meus cabelos brancos. São medalhas, muitas, que trago sempre comigo!

Patrícia   

P.S. As fotos são autoria do companheiro, que vez alguma sugeriu desagrado com o efeito do tempo em mim (ou ao meu lado).