21.12.07

divulgação

Sem qualquer benefício pessoal que não seja o prazer que retiramos em elogiar aquilo que é nosso, temos vindo a fazer um esforço consciente de promoção dos produtos e destinos portugueses, incluindo o vinho, a culinária, a música e tudo o mais em que conseguimos pensar.

Se acreditarmos que entre 5 a 10 milhões de portugueses estão, como vimos numa estatística há pouco tempo, espalhados pelo mundo e fazem esforço semelhante, torna-se difícil compreender como é que os vinhos portugueses continuam a ser ilustres desconhecidos.

Mas não é isso que vemos: na Wine Spectator que comprei quando fomos a Valência verificámos não existir qualquer vinho de origem portuguesa analisado ou sequer mencionado; aqui na Holanda temos vindo a confirmar que para a generalidade das pessoas Portugal não é um produtor de vinho de qualidade; e é possível encontrar vinho português à venda nas lojas especializadas mas é preciso esforçar-se para encontrá-lo entre as toneladas de garrafas francesas, espanholas, italianas, alemãs e americanas.

O pior é que não só não há como parece não haver qualquer tentativa séria para mudar isso.
Onde está a publicidade? As pessoas reagem bem às nossas coisas, temo-lo comprovado repetidamente. Pelam-se pela comida, adoram o sol, comentam a hospitalidade e perguntam o que raio fazemos aqui.

Ao fim de décadas a investir em estratégias de promoção do país, através do ICEP ou outros que tal, continuamos sem identidade internacional que não seja o sol e a praia. É preciso mais, importa associar bens tangíveis comercializáveis à marca que já criámos.

Às vezes sentimo-nos originários de algum país africano com produtos exóticos. E no entanto somos membros da UE, criámos autoestradas pelo país todo para facilitar o transporte de produtos.

De forma muito inteligente, Espanha tem vindo aos poucos a conseguir impor-se como um obstáculo intransponível para nós, isolando-nos progressivamente até aceitarmos a integração sem piar.
Neste momento, as empresas portuguesas parecem ter desistido de entrar na Europa: ou vão para Espanha, onde encontram dificuldades deliberadas para entrar, ou se viram para baixo. Nao pretendo aqui argumentar sobre a estratégia comercial nacional, apenas lamentar a quase impossibilidade de encontrar produtos nacioanais.

Nuno

neve

Do meu local de trabalho vejo as árvores cobertas de neve e os canais gelados por vários dias de temperaturas negativas.
Não digo que seja algo do outro mundo nesta zona da Europa mas para mim a coisa tem um encanto especial. É como fazer parte de um postal de Natal.

Nuno

Brasil da Europa

Nas notícias mais recentes li um artigo do Pacheco Pereira sobre o Porto, o FC Porto e toda a polémica em torno das acusações que recaem sobre Valentim Loureiro e Pinto da Costa, outro sobre um roubo de que foi alvo um futebolista num parque de estacionamento, um terceiro sobre a diminuição objectiva do poder de compra dos portugueses e ainda mais um a propósito da investigação de que é alvo o BCP na sequência de uma denúncia deposta por Joe Berardo.

Uma aflição incontrolável apoderou-se do meu espírito: Portugal entrou na espiral da morte, o país caminha imparável para a ingovernabilidade. A justiça, a segurança, a economia e as finanças, todos elementos essenciais para o bem-estar, parecem condenados a reduzir-se a um estado de pobreza sem recuperação à vista.

E os políticos parecem cegos perante tudo isto, continuam perdidos nas suas vidinhas privilegiadas e trocam cartões de Natal de apreço mútuo pela miséria em que insistem em deixar os portugueses.

Eu sei que estou fora e que tenho menos direito a reclamar mas a minha impressão é que poucos são os que o fazem de dentro. Percebo que é mais difícil, até porque os que têm voz para contestar são geralmente mais bem tratados, mas é desesperante assistir a tudo isto.

Nuno

19.12.07

O frio

chegou em força. Prevê-se 6 graus negativos à noite nos próximos tempos. Os canais começam a gelar, há gente a esquiar nos sítios mais improváveis, os dias amanhecem sempre brancos (embora ainda não neve) e após cinco minutos na rua a cara perde sensibilidade.

Mas as bicicletas continuam a dominar as estradas, os putos jogam futebol na rua, os centros comerciais exteriores estão cheios de gente às compras, as esplanadas continuam postas e muitos sentam-se para tomar café como se o sol banhasse as ruas e o mar se fizesse ouvir ali ao lado. Em suma, a vida continua apesar das temperaturas negativas e do vento gelado que parece cortar a pele.

Gosto do frio, as coisas parecem ter mais gosto. Cada momento passa a viver-se com mais intensidade, talvez por ser mais estanque. A temperatura domina tudo, não é indiferente estar na rua ou em casa, na cama ou fora dela, muito ou pouco vestido. Cada decisão tem uma consequência sensitiva imediata e o convite ao comportamento correcto é muito tentador.

Estou cada vez mais convicto que o clima é directamente responsável pelo desenvolvimento dos povos. Para além das consequências fisiológicas óbvias (o calor convida à preguiça) há a vertente psicológica: para quem vive em zonas quentes a vida é mais fácil, as consequências de decisões incorrectas são menos graves e as pessoas acabam por se acostumar ao facilitismo.

O Inverno aqui sabe mesmo bem. Na rua o frio tem um charme especial e sabe mesmo bem chegar a casa.

Nuno

No final do primeiro trimestre do ano lectivo 07/08

as professoras escrevem “Très bon début d´ánnée, Diogo travaille bien. C'ést un élève agréable et très serviable. De bons progrès en français – contiue”.

A avaliação é de A a D, sendo:
A – competência adquirida;
B – a reforçar;
C – no início de aquisição; e
D – competência não adquirida.

A grande maioria das competências, classificadas em grandes grupos, são avaliadas com A . Tem alguns B e apenas um C. Nenhum D.

A avaliação foi como se segue:

Linguagem verbal
Comunicação:
- Exprimir-se de forma compreensível – B (A língua materna do Diogo é Português. A introdução ao francês – língua escolar - foi há 11 meses, de modo que esta classificação é notável);
- comunicar em diálogo e em grupo - A;
- dizer de memória um texto - A;

Linguagem escrita
- contar uma história ou acontecimento – B/C (novamente, em Português não se nota qualquer dificuldade nesta competência por parte do Diogo);
Leitura e escrita
- perceber o sentido de uma frase na leitura - A;
- diferenciar palavras, silabas e letras - A;
Interpretação
- compreender um texto lido pela professora - A;
Escrita
- reconhecer as diferenças gráficas duma mesma letra e palavra - A;
- escrever de forma legível e respeitando as regras da escrita – B;
Produção escrita
- copiar uma frase com um modelo - A;

Matemática
Numeração
- enumerar e quantificar - A;
- contar até - 39+
- classificar os números, comparar grupos - A;
Geometria
- escrever números - A;

Descobrindo o mundo
- situar-se no tempo e fazer sequências cronológicas - A;

Matéria e tecnologia
- manipular e utilizar técnicas simples - A;
- compreender e respeitar regras de higiene - A;

Educação artística
Educação musical
- cantar canções simples - A;
- participar em actividades com instrumentos - A;
- escutar um registo sonoro - A;
Educação visual
- manifestar interesse por actividades de artes plásticas - A;
- escolher a plicar uma técnica para fazer uma produção pessoal – A;
- provar criatividade e imaginação;

Educação física e desportiva
- participar em jogos de oposição e jogos colectivos – A;
- participar em actividades atléticas e ginastas – A;

Comportamentos e métodos de trabalho
- respeitar as regras da escola e da sala – A;
- estar atento e concentrar-se na realização de uma tarefa – A;
- trabalhar a um ritmo satisfatório – A;
- ser cuidadoso com o seu trabalho – B;
- compreender o trabalho – A .

Estou muito satisfeita porque sei que são muito exigentes pelo que a avaliação não podia ser melhor. Não quero no entanto de deixar de escrever que a melhor avaliação que nós temos é a sua satisfação diária em ir para a escola.

Patrícia

Aos 20 meses

O desenvolvimento da linguagem da Catarina tem sido impressionante. Claro que sou parcial no julgamento mas para quem estava preparada para vê-la a começar a falar por volta dos dois anos e meio, três anos, com base nas teorias de que as crianças expostas a mais do que uma língua desenvolvem a linguagem tardiamente, estou (e não sou a única, o que me encoraja escrevê-lo) impressionada.

Não sinto diferenças em relação ao Diogo que, em abono da verdade, sempre foi precoce no que respeita à linguagem. Pelo contrário, a Catarina, com 20 meses, tem o cuidado de dizer “(s)antinha” cada vez que alguém espirra, ou “bigada” sempre que lhe dão algo que pede. Há muito adulto que se esquece destes básicos!!!

Mas o seu desenvolvimento não fica pela linguagem. Esta manhã, após um bocejo do Nuno disse “papá (s)ono”. Está sempre atenta. Faz legos com o irmão – claro que apenas sobrepõe a peças mas ainda assim, são legos próprios para idades dos 5 aos 12, e não legos gigantes (na escala para pequenotes). Percebe o conceito e tem a motricidade fina para os encaixar.

E como cereja em cima do bolo a personalidade parece ser vincada. Este facto é um pau de dois bicos. É difícil (ou impossível) convencê-la de algo. Por enquanto podemos fazer-nos valer da autoridade parental mas se continuar assim antecipo sérias pegas. Digo que é cereja em cima do bolo se conseguirmos incutir-lhe a filosofia de causa – consequência, ou seja, ela pode fazer as escolhas que quiser se assumir as responsabilidades e consequências inerentes a essa decisão – base da nossa conduta e princípio basilar da nosso papel de pais.

E o que é engraçado é que a convivência com a Catarina me tem permitido perceber algumas frases dos meus pais em relação a mim e a diferenciação para com o meu irmão. Pois bem, é agora claro para mim que a resposta à Catarina é, em muitos aspectos, diferente daquela que tenho para com o Diogo.

Patrícia

18.12.07

O Luxemburgo

e a nossa ida lá ficaram por comentar. Faço-o agora.

De novo os sentimentos contraditórios, como em tudo aquilo que mexe com Portugal. Mais uma vez de volta a este tema, já me aborreço a mim próprio, mas não será por isso que deixarei de falar sobre ele.

No Luxemburgo estivemos bem, sentimo-nos confortáveis. Nada a relatar senão um contínuo bem-estar, como se estivessemos de volta a casa.
Aproveito para deixar aqui uma palavra de agradecimento aos nossos amigos Marta e Miguel pela recepção calorosa de que fomos alvos. De tal forma o foi que vejo com agrado a possibilidade de repetição futura da viagem até lá.

Por falar na viagem, acabou por correr bem. Tínhamos algum receio do comportamento dos putos mas portaram-se bem. A viagem não é tão longa quanto isso, apesar de se atravessar vários países a distância total não chega aos 400 kms.
No regresso o clima não foi favorável: houve um momento, já em território holandês, em que a autoestrada se tornou intransitável por causa do volume de precipitação. Basta lembrar que entrámos em aquaplanning a 80km/h com aquele carro.

Já o país em si parece não existir, encurralado pela sua dimensão residual entre os monstros alemão e francês. A minha percepção é que o Luxemburgo não passa de um conjunto de estradas a ligar os países adjacentes, faz lembrar aquelas regiões alentejanas que se demarcaram enquanto pontos de passagem nas viagens cíclicas entre o Algarve e o resto do país.

No fundo não é uma questão de tamanho mas de carácter. O Luxemburgo pareceu-me território de ninguém, uma espécie de zona franca à espera de desintegração por uma qualquer legislação. Os nossos amigos trabalham lá mas vivem na Alemanha e fazem compras em França.

Sente-se uma presença portuguesa relevante. De certa forma, fiquei com a sensação que sempre que tiver saudades basta-me percorrer 400 kms em vez de 2000. Na verdade, reduziu em enorme medida a vontade de ir a Portugal pelo Natal.

Ao mesmo tempo, rejuvenesceu o meu gosto por este nosso país de adopção. Aqui sente-se uma identidade fortíssima, uma cultura dominante apesar dos inúmeros expatriados. Posso dizer que, em pleno frenesim de portuguesismo, me senti mais Amsterdammer que nunca.

Nuno

15.12.07

Voltar a Portugal

nesta fase não faz qualquer sentido. Não tenho grandes angústias sobre o assunto.

Esta não foi primeira vez que sai do país, não por não gostar muito dele, mas por querer fazer as coisas de outra forma. A verdade é que não acredito no país tal como agora o vejo e sinto. Várias vezes disse que o pior momento da minha vida foi quando tive de regressar da Suíça para Portugal (já fez 11 anos). As circunstancias eram diferente mas o espirito critico era grande já na altura. Hoje digo que foi também um período muito difícil aquele em que o Nuno já estava na Holanda e nós não, e uma fase (não a inicial) já aqui.

O investimento emocional foi muito grande. O custo da mudança não se pense que não pesa. Mas agora está feita. Sujeitar de novo os pequenotes à mudança não me parece boa ideia, não já pelo menos e certamente não para Portugal. Podemos não ter o bolo rei, a manteiga portuguesa, os bolinhos e os cafés, mas temos o privilégio de estar-lhes a proporcionar uma educação nossa e coerente.

Hoje é Sábado. Neste preciso momento estão os filhotes abraçados a dançar na sala e a ouvir música infantil portuguesa. São meninos felizes. E no forno está um bacalhau com natas preparado para receber mais logo novos amigos, também eles expatriados, vindos de Espanha, Itália, Irlanda, China e Roménia. Temos também queijo, chouriço, croquetes, e claro, um belo vinho tinto, da região demarcada dos vinhos do Dão. Fazemos questão de lhes oferecer apenas produtos portugueses, tentamos transmitir-lhes o nosso pais. Não o esquecemos, somente o celebramos e promovemos cá fora e à nossa maneira.

Patrícia

14.12.07

uns minutos antes

de me sentar ao computador a Patrícia chamou-me para ver a Catarina. Não me disse para quê para manter a surpresa. Quando cheguei à sala a minúscula estava sentada à frente do computador, de rato na mão e a comentar o que via no ecrã.
Agora está a reclamar comigo porque lhe ocupei o lugar, isto enquando me rapta o rato e se passeia pela sala com ele.

Entretanto largou-me e foi atormentar o irmão. Filhote, vais sofrer nas mãos dessa mega-peste. Mas também vai provavelmente ajudar-te muito.

Nuno

e mais do mesmo

Ainda no mesmo tempo, eis que resolvi o mistério do vai-e-volta.

A resposta é na verdade simples dentro de uma complexidade irresolúvel: não há regresso possível. Não ao país, pois é sempre possível regressar fisicamente, mas ao que era.

Acabou, qualquer tentativa nunca será mais do que uma reposição digitalmente composta de um clássico da televisão dos anos 60: não acrescenta nada e só aumenta a nostalgia de algo irrecuperável.

Como tentar reviver os tempos da juventude, voltar ao país de origem depois de emigrar só poderá resultar numa enorme frustração.

Nuno

quase Natal

e os já habituais sentimentos contraditórios.

Nesta altura volta a assaltar-me a dúvida fundamental: e se de repente se proporcionasse voltar para Portugal? Refiro-me a uma oportunidade inquestionável, de tal forma que só deixasse espaço à vontade. Que faríamos então?

Olho para nós e vejo pouca disposição para voltar a partir. Todos estamos confortáveis, adaptados e rotinados, os grãos de areia na engrenagem foram lentamente retirados e tudo funciona sem hesitações.
Escusado será dizer que continuamos a interrogar-nos regularmente mas já o fazíamos em Portugal, nada mudou nesse campo.

A verdade é que Portugal se transformou no nosso estrangeiro. Penso que já comentei o tema aqui mas não consigo evitar o regresso a esta questão que me atormenta. Talvez porque um novo ano está à porta, parece-me uma boa altura para tomar decisões relevantes. Ou simplesmente porque vamos a casa e já não consigo pensar no meu país como tal.

Os nossos filhos estão a transformar-se em verdadeiros emigreses. Só por persistência pura conseguimos que mantenham o português.
E a conversa com o Luís fez-me perguntar porque insistimos nisso, porque não deixamos o inevitável acontecer. Queremos mesmo regressar?

A Patrícia já quer deixar de ir a Portugal pelo Natal. E eu compreendo-a. Se esta passou a ser a nossa casa (porque assim é, aconteceu naturalmente) é aqui que devemos celebrar as grandes ocasiões.
Ainda sou contra mas não sei até quando. Aos poucos começo a ter mais vontade de explorar o resto do mundo que ainda não vi do que voltar para trás. Mesmo a Holanda começa aos poucos a parecer-me pequena (quero dizer em termos de prejecção, pois fisicamente é indiscutível), imagino-nos noutros sítios.

Deixei de pertencer. Tenho agora projectos em Portugal e o meu chefe deu-me liberdade para ir antes das reuniões para passar mais tempo lá. Recusei, já não sei o que lá faria.
E as pessoas esquecem, raríssimas são as que fazem esforço por manter contacto. Para a esmagadora maioria a iniciativa tem que ser nossa. Mas o investimento é grande e suponho que com o tempo deixe de ver a razão para continuar a fazê-lo. Há tanto para onde ir, tanta gente para conhecer e Portugal começa a ser tão pequeno.

Divagações de emigrante. Agora só sonho com bolo-rei e uma bica.

Nuno

29.11.07

línguas

A Catarina está um papagaio. Persegue toda a gente e repete as últimas palavras de cada frase exactamente com a mesma entoacão, seja quando nos dirigimos a ela ou quando falamos entre nós. Complicado quando se faz perguntas ou quando nos zangamos com o irmão...

Para além disso, tem memória fotográfica e faz imitacões perfeitas dos gestos comuns do dia-a-dia. É hilariante vê-la falar ao telefone enquanto se dobra e ri, mete as mãos à cabeca, dobra as ancas e tudo o mais.

O mais entusiasmante é contudo a velocidade a que processa toda esta informacão e a converte em discurso próprio.
Num cenário de aprendizagem paralela de duas línguas, no qual se podia esperar uma evolucão mais lenta, consegue já formular frases de 3 palavras e decora os pequenos livrinhos de animais e as partes do corpo em poucos dias.
Simultaneamente, as educadoras garantem que faz o mesmo em holandês. Mas só raramente troca as línguas, o que indica que vê uma clara distincão entre as duas línguas.

Nuno

lego

Ontem o Diogo fez algo incrível: sem qualquer tipo de apoio, inventou e montou uma nave Lego. E à tarde preparava-se para fazer o mesmo com um helicóptero que recebeu pelo Sinter Klaas.

Com 5 anos. Está visto que não sai ao pai.
E o mais curioso é que não tinha demonstrado esta capacidade até agora, foi súbito.

Nuno

28.11.07

Nós os 4

Grandalhão, pequenina, minorca e minúscula.

Patrícia

21.11.07

baixa produtividade

Refiro-me neste caso à minha. E no que se refere ao blog.
Porque a minha capacidade contributiva tem andado pelas ruas da amargura.

Mudei de emprego e, desde que tomei a decisão e comecei a comunicá-la, toda a minha energia ficou concentrada na gestão de um processo que, independentemente da experiência que se tenha, é sempre esgotante.

No início de Novembro comecei a trabalhar para uma consultora estratégica de imobiliário, uma mistura de tudo aquilo que me atrai. Espero que venha a ser aquilo que imaginei.

Com o tempo desabituei-me das especificidades da consultoria e acomodei-me aos maus hábitos de trabalhar em empresas grandes: ineficiência, aversão ao risco, acotovelamento e outras características interessantes.
A triste realidade é que aos poucos desaparecem a frustração inicial por cada minúscula decisão demorar séculos e o espanto com a obsessão geral de dinamitar qualquer hipótese de alguém se destacar pela positiva, surgindo no seu lugar a acomodação e o cinismo.

Faço agora o esforço para regressar a uma realidade que já mal conheço. Cada dia é uma luta para me lembrar das razões que me levaram a fazer mais esta mudança, para não ter vontade de regressar para o conforto de uma posição menos exigente.

Por isso tenho tido tão pouco tempo para pensar em escrever aqui. Mas também aqui não desisto, este é um projecto comum pelo qual continuarei a lutar.

Nuno

20.11.07

Vidas duras


Durante a guerra civil Angolana, a área de Mavinga (foto anexa) foi substancialmente minada.

No fim do conflito, em 2002 (dois meses depois da morte de Jonas Savimbi em Fevereiro desse ano), Angola era o pais mais minado do mundo com 10 a 15 milhões de minas enterradas ao longo do pais inteiro – uma para cada homem, mulher e criança angolana.

Todos os dias, em Angola, morrem dez pessoas, vítimas da explosão de minas antipessoais. Um flagelo que mutilou já cerca de 70 mil pessoas - oito mil dos quais crianças. Por detonar, permanecem ainda dez milhões de minas no território.

Esta foto (de John Keane and Christian Aid) mostra o quanto a terra tem ainda de ser revolvida e queimada até que as minas possam ser removidas.

Estou sempre a dizer aos meus filhos (especialmente ao Diogo que a Catarina ainda não entende) que ha crianças cujas vidas são muito duras. Sorte a nossa que não nascemos e vivemos nesta agonia.
Patrícia

2.11.07

Conduzir pela esquerda




Hoje soube, da boca de um inglês, da razão pela qual os ingleses conduzem do “lado errado” da estrada.

Conduzem pela esquerda porque antigamente, no tempo em que os homens se deslocavam a cavalo, quando viam um cavaleiro estranho levavam a mão direita à espada para a puderem empunhar e, sendo caso disso, lutar.

Para ficarem em posição de combate, a mão direita tinha de ir ao encontro da mão direita do seu adversário, de modo que os cavalos ficavam na direcção da esquerda.

E assim nasceu esta (estranha mas agora muito justificada) regra de transito para os ingleses. Faz sentido, experimentem!


Patrícia

1.11.07

Primeiro de Novembro de 2007

Hoje é dia de Todos-os-Santos... Feriado em Portugal, mas não na Holanda.
Destemido, começaste hoje um novo desafio profissional. Se não me falham as contas, é o teu sexto emprego.


Votos de realização, reconhecimento (por parte dos outros porque eu tenho o maior orgulho em ti) e sucesso. Quiçá o dia é um augúrio de que neste darás “o salto”!

Patrícia

Varicela II


Há 3 semanas a Catarina apareceu com varicela. Precisamente 16 dias depois, revelou o Diogo os primeiros sinais de ter sido contagiado.

Ao contrário da miminha, para quem a varicela pareceu passar ao lado, o Diogo ficou muito incomodado, comichoso, queixoso. As “barbolhas” (não sei porque raio embirra com esta palavra) que “fazem mal”. E não pode ir ao after school (estava de férias do liceu). Valeu o pai estar também de férias, ou para ser mais precisa, entre empregos, e estar cheio de energia e paciência para distrair o seu campeão. Foram 3 dias (e noites) de extremo incómodo. Agora passou. E ficaram despachados desta doença de infância!

Patrícia

A escolha dos nomes

Porque e como escolhemos os vossos nomes.

Diogo – tem origem no Latim e tem como significado “o conselheiro”

Estiveste quase a chamar-te Miguel. Pelo menos era essa a nossa intenção ate a manha, já com 6/7 meses de gestação, em que o teu pai resolveu abordar-me com “sabes que também gosto de Diogo”. Isto porque tinha estado na noite anterior com um amigo chamado Diogo. Disse-lhe que o nome não me chocava, que até gostava, e que, assim sendo podíamos deixar a sorte decidir (eu estava confiante porque regra geral, o teu pai não tem sorte ao jogo, por compensação...). Assim atiramos uma moeda (já eram Euros na altura) ao ar. Não sei se escolhemos cara para Diogo e coroa para Miguel ou vice-versa, sei que o resultado do lançamento decidiu que te chamarias Diogo. E assim ficou, sem qualquer hesitação.

Catarina – tem origem no Grego e significa pura, casta.

Discutimos outros nomes (usando um livro que enumerava e explicava a sua origem etimológica), ainda antes de seres concebida: Inês e Matilde são os que agora me recordo. Catarina foi escolhido por ser um nome sonante, forte, internacionalmente usado e, também, feminino.

Hoje os vossos nomes adquiriram outra dimensão. São colossos, sons de Amor (muito e infinito), palavras de ordem, ligações a uma memória repleta de historias e significados. Quando escolhemos os vossos nomes ainda não vos tínhamos visto (sim ver, porque conhecer não posso escrever uma vez que já conhecíamos um infinitésimo do vosso comportamento na minha barriga). Espero que gostem deles e que os usem com orgulho. Porque esses nomes são vocês...

Noutro post tenho de escrever os vossos cognomes/alcunhas, que são já uns quantos!

Patrícia

P.S. Corrige-me Nuno naquilo que estiver enganada.

e agora para um momento menos positivo...

(e com poucos acentos e afins)

Recebo diariamente notícias e impressoes sobre a situacao em Portugal. Excluindo as variacoes indiossincráticas, leio sobretudo uma descrenca generalizado no futuro.

A impressao que tenho é que se acentua em Portugal o fosso entre os ricos e os outros, que a classe média se extingue lentamente e que se cria uma gigantesca classe de remediados, pessoas que continuamente contam os tostoes e rezam para nao perder o emprego. Nao há iniciativa, todos olham para o Estado como salvador e lutam por um lugarzinho a sombra num qualquer servico da máquina pública.

E o Estado, cada vez mais controlador e manipulador, fomenta essa dependencia enquanto anuncia pseudo-medidas para a combater. Os lobbies ficam cada vez mais poderosos, a Igreja mantem uma forca incompreensível num estado laico e tudo se divide entre 3 ou 4 grandes famílias. Nao há lugar para a competencia, tudo o que conta é a fidelidade a este ou aquele senhor, típico de um sistema feudal, de uma sociedade da Idade Média.

Mas nao é só Portugal, os países do Sul da Europa em geral fazem esse caminho. Espanha, esgotado o sector da construcao, está longe de ter uma economia equilibrada e pujante, Itália está uma desgraca, Grécia nunca deixou de o ser e a Franca para lá caminha.

O mundo está (passe o lugar comum) globalizado e, nesse contexto, os países do Sul todos juntos nao sao maiores que uma regiao chinesa. Para a Europa, o caminho para a sobrevivencia pode passar por especializar regioes, deixando ao Sul nada mais que o turismo. E Portugal nada mais será que uma regiao engracada de Espanha. E Lisboa uma capital de provincia da Península Ibérica.

Depois de muitas ilusoes, a descrenca talvez signifique que os portugueses finalmente se aperceberam da realidade. Depois da negacao, a depressao, talvez se siga agora a reaccao?

Nuno

30.10.07

mais pais

Desde que cá chegámos sentimo-nos muito mais pais do que quando estávamos em Portugal.

Ao contrário do que poderia ser de supor, isto não se deve ao aumento de trabalho com os miúdos ou de presença junto deles, justifica-se ao invés pela responsabilidade que agora recai integral sobre os nossos ombros.

Em Portugal, a educação do Diogo e da Catarina era partilhada entre nós e os avós. Logo, era fácil fazer recair a culpa dos maus resultados sobre eles, que mimavam em excesso.
Era também simples assumir exclusivamente um determinado papel na condução dos assuntos pois havia gente suficiente para todas as personagens necessárias.

Aqui somos só nós a tempo inteiro, tanto quando temos energia para lidar com eles como quando estamos esgotados por um rotina diária de exigência extrema e só sonhamos com o sofá e uma qualquer série estupidificante na TV.

E isso significa que se nós não fizermos ninguém fará, que os putos se viram para nós para tudo e que os resultados só a nós podem ser imputados.
Sem sermos por isso melhores pais, mais somo-lo sem dúvida. Também por aí somos mais adultos e o regresso (e cada visita, na verdade) parece cada vez mais difícil.

[Nuno]

herança familiar

Depois de me culpabilizar vezes sem conta pela vinda para cá e pelos efeitos que tal decisão teve e tem sobre os meus pais, lembrei-me de repente que não fiz e faço mais do que qualquer um dos meus antepassados mais recentes fez na sua vez.

Os meus avós paternos como os maternos iniciaram (tanto quanto sei) uma viagem progressiva e continuada da província para a cidade, à qual os meus pais e agora eu damos continuidade.

Não consigo retratar com exactidão as origens de cada um. Basta contudo para contextualizar referir que o meu pai é algarvio e a minha mãe madeirense. Viveram ambos nas capitais de distrito antes de se mudarem para Lisboa para estudar mas os seus pais mudaram de locais mais remotos para essas mesmas capitais.

O que para trás ficou é o tema que pretendo explorar com bem maior profundidade no futuro próximo mas a informação que tenho no momento bastou-me para me sentir bem mais acompanhado nesta aventura.
Como se este meu passo fizesse parte de uma estratégia desenhada muito antes de eu ser sequer imaginado. Como se houvesse destino.

[Nuno]

26.10.07

Rodinhas


Na véspera de natal de 1993 recebi um envelope com uma(s) chave(s) e uns documentos de um carro. Que grande prenda que os meus pais me deram! Era um Renault Super 5 que era, até ai, usado pela minha mãe. E nem sequer tinha, ainda, a carta de condução.

Depressa me converti ao conforto do carro e larguei a “acelera” e o capacete com que andava há dois anos. Para alem da possibilidade de deslocação fácil (“rabinho tremido”), o carro acrescenta à nossa vida mais um espaço, quase como uma casa. Lá, temos a nossa musica, as nossas coisas, e lá podemos colocar em palavras o acto de condução, somos senhores do nosso destino!

Depois do Renault Super 5 tive um Renault Clio e, algures em 2001, tive um Peugeot que era parte da retribuição mensal da primeira empresa onde trabalhei. Quando mudei de emprego, regressei à Renault, passei a ter uma carrinha Mégane, no mesmo esquema, mas que resolvia melhor a necessidade originada pelo aumento da família. No meio destes carros cujo uso era meu, conduzia, volta e meia, os carros dos pais e do irmão. Sempre adorei conduzir.

Em Dezembro de 2006, perto do período de Natal, quando deixei a segunda empresa para quem trabalhava e resolvi rumar aos Países Baixos, fiquei sem o objecto em discussão neste texto. A empresa para a qual trabalho agora não atribui carro.

O carro não é um bem de primeira necessidade, todos concordamos. A Holanda tem uma boa rede de transportes públicos, e aqui adquiri a minha Batavius (bicicleta adaptada às necessidades familiares: neste momento tem três bancos, o meu, mais duas cadeiras atras para os pequenotes e, um imenso cesto como porta bagagens na frente). Assim nos temos vindo a deslocar nos últimos meses.

Mas eis que o Nuno vai ter (finalmente) carro da empresa. Se tivesse ficado no primeiro emprego mais seis mezitos, poderia ter tido carro, como eu, em 2001. Seis anos esperou e eis que agora vai te-lo. Poderia o momento ser mais oportuno? Agora que sabemos o que é, e também o que significa não o ter, e agora que o inverno se começa a fazer sentir...

Por isso esperamos, contando os dias, para celebrar a nova conquista. E que bem que sabem as conquistas quando se as sabe reconhecer e celebrar. Ainda nem chegou mas o animo já se alterou.

Faltam apenas uns dias.

Patrícia

Comprimento e peso – 18 meses

No passado dia 16 a Catarina voltou ao consultatiebureau para o habitual controlo de desenvolvimento. Mede 86 cm e pesa 12 kgs.

Patrícia

15.10.07

Varicela


A semana passada foi diagnosticada varicela, “waterpoken” ou “chicken pox” a Catarina. Tudo tem corrido muito bem e as “pústulas” já estão a secar. Um bocadinho de febre, e mimo e está passada mais um obstáculo que sempre tentei evitar.

O curioso é que foi ao infantário. A política holandesa a este respeito é que todas as crianças, desde que saudáveis, devem ter a doença quando são pequenas, evitando assim males maiores no futuro. De modo que, encontrando-se bem de saúde (i.e., sem febre) podem ir a escola. E a Catarina foi, poupando-me assim dias de faltas ou de ferias. Cá está mais uma forma de comparar a produtividade e pragmatismo em Portugal e na Holanda...

Só espero que eu, e o Diogo, não sejamos apanhados também pela varicela...


Patrícia

3.8.07

Vamos de férias.

E é já amanha! Durante uns dias adeus Holanda, ratitos, mau tempo. Venha o sol, a família, a boa pastelaria, a praia, alguns amigos.

Sobretudo, vou poder abraçar-te de novo, meu Dioguito, contar-te as infinitas saudades que tive tuas, orgulhar-me do teu fantástico comportamento nestas férias de Verão.

Vamos poder levar a Catarina ao mar (onde ela ainda nunca se banhou) e faze-la ouvir português...

Patrícia

31.7.07

Perspectiva


Ontem à noite soubemos que a casa que actualmente arrendamos irá a mercado no final deste ano. Não a queremos comprar por inúmeros e variados motivos. Apesar de certa forma esperarmos por isto, a confirmação desta nova tem implicações: nova ronda de horas a ponderar se partimos ou se ficamos; se compramos ou arrendamos; quem nos fará a mudança; quanto custará; como reagirão os nossos filhos; e depois, o processo implementação...

Não é que com isto “caia o Carmo e a Trindade” - expressão idiomática que deriva da época do terramoto de um de Novembro de 1755, em que desabaram as igrejas do Carmo e da Trindade, situadas no centro de Lisboa -, mas é, certamente, mais um desafio / obstáculo (dependendo da perspectiva), a ultrapassar. E, de uma forma ou de outra, ultrapassaremos.

De qualquer maneira, hoje tivemos a sorte de ver um arco-íris no inicio do dia. E ver um arco-íris é sempre um acontecimento (acho que por isso os antigos criaram todos os mitos a sua volta), um bom prenuncio! Ou pelo menos, é bom para lembrar que não existe realmente como um lugar no céu, antes tratando-se de um fenómeno metereológico que causa uma ilusão de óptica dependendo da perspectiva do observador. Não é tudo na vida assim?


Patrícia

30.7.07

Ambivalência

Tenho tantas saudades tuas Diogo! Sei que estas férias estão a ser especialmente saborosas. Nos primeiros dez dias via fotos tuas na praia, na piscina, no jardim, no pomar, filmes de ti a andar de um lado para o outro no carro novo. Tão contente.

Agora tem sido mais complicado. Nunca gostaste de falar ao telefone, e isto do tempo começar a pesar, de quase não falar contigo, nem te ver está-me a custar um bocadinho.

Claro que espero que te divirtas muito mesmo, aproveitando ao máximo o tempo que agora passas com os teus avós. Se aqui estivesses não terias, certamente, o imenso carinho que ai te dedicam.


E conto os dias para, simultaneamente, te fazer um ataque de cócegas e te dar um ataque de beijos!

Patrícia

Portugal e o mundo,

neste caso em Amesterdão.
[Nuno]

Amesterdão vivida


Domingo à tarde, numa rua no centro da cidade: à falta de centros comerciais,
as lojas tradicionais continuam a atrair multidões.

[Nuno]

olimpíadas 2028

Folheava eu distraidamente um dos múltiplos jornais grátis com que os viajantes dos transportes públicos são brindados quando me deparei com um título que me obrigou a fazer o esforço sempre indesejado de ler o texto completo (o jornal é holandês, relembro): a Holanda vai candidatar-se à organização das olimpíadas de 2028.

Dito assim, inclino-me a concordar que não parece especial. A peculiaridade reside no facto de já estarem a preparar-se para essa candidatura. Em 2007, 21 anos antes do evento, 9 anos antes da data limite para a apresentação das canditaturas (2016), décadas antes de qualquer pessoa de mente sã sequer se lembrar dos jogos olímpicos de 2028.

Toda esta motivação advém da possibilidade de celebrar o centenário dos anteriores jogos olímpicos organizados na Holanda, em 1928, justamente com evento igual. Concordo que teria a sua graça, mas poderá ser algo exagerado constituir comissões e atribuir recursos humanos de alto gabarito em permanência a um desígnio de tal forma hipotético.

Mas quem conviva com este povo percebe que isto é apenas normal. A organização é uma fixação, tudo é planeado com suficiente avanço para evitar imprevistos e os assuntos estratégicos são decididos com antecedência e com independência da orientação política vigente.

Porque esta orientação varia, como em qualquer ponto do globo. Mas não vigora a política da terra queimada, não se recomeça tudo só porque os antecessores vestiam camisolas diferentes.

Para mim, como português de gema, incomoda-me todo este planeamento. Lembro-me do Euro 2004 e da capacidade estonteante de realização que demonstrámos para provar que tudo se faz com vontade e motivação. Mas será que teríamos construído 10 estádios (que em boa parte o tempo veio a provar inúteis) se houvesse tempo e cabeça para decidir?

Claro que esta antecipação exige uma disposição adequada. Se tentássemos fazer o mesmo, provavelmente falharíamos miseravelmente pois perder-nos-íamos em querelas inconsequentes até ao momento em que alguém decidisse de forma autoritária e os outros aceitassem, não sem antes se vingarem com anedotas venenosas repetidas à exaustão.

Importa portanto perceber como funciona uma sociedade civil, como esta ganha direito a intervir e como se debate com clareza e finalidade questões de interesse público.

[Nuno]

fraldas

Apenas para memória futura:

D. V. => algures em Abril de 2005, alguns meses antes dos 3 anos
D. S. => entre os 3 e 4 anos, com avanços e recuos

C. V. => com 15 meses, forte consciência e avisos
C. S. => nada a assinalar

[Nuno]

27.7.07

5 anos


faz o Diogo este Verão e esta é a imagem que escolhemos para os convites.

Imprimi dezenas de exemplares aos pares em papel grosso, recortámos tudo num esforço de equipa, em que o Diogo participou com a organização e contagem, e dobrámos as imagens duplas ao meio, formando assim cartões para escrever a mensagem de convite para a festa.

Ele ficou todo contente, sobretudo porque isto se passou poucos dias antes de partir para Portugal de férias. Antecipava por isso naquele momento a visita à escola antiga, onde reviu todos os amigos e os convidou para a festinha.

O problema é que ele, tal como eu, faz anos em Agosto, um mês terrível para organizar festas. Vai acontecer provavelmente que acabe a celebrar os anos com muito poucos meninos. Custa-me um pouco mas não posso dizer que me afecte muito pois conheço bem a sensação.

De qualquer forma, espero que consigamos preparar um dia especial, ele bem merece depois de tudo o que ultrapassou no último ano.

[Nuno]

Visita ao antigo colégio

Mudamos de pais no inicio deste ano. Foi (e ainda esta a ser) uma mudança tremenda, porque faze-lo com filhos tem implicações que só quem passa por elas sabe. Quem tem filhos pode tentar imaginar, talvez por equiparação ao que é preciso para umas ferias, quem não os tem, então, nem vale a pena, porque simplesmente não tem referencias.

O Diogo tem sido espectacular neste processo. Com quatro anos e meio, teve de se ambientar a uma casa, pais, clima, comida, escola, vida novas. E tem tirado tudo de letra. Seis meses passados brinca com os seus novos amigos, como se tivesse estado naquela escola desde os três anos. Mais, enfrenta o “after school” com naturalidade e um sorriso. Menino de ouro, só nos podemos orgulhar imensamente dele.

Para a Catarina foi talvez mais fácil no inicio porque a senhora que nos acompanhava em Portugal veio connosco e a vida dela não mudou muito. Tinha nove meses. Quando, com um ano, teve de começar o infantário, é que a porca torceu o rabo. Numa entrevista no infantário tinha dito que ela era uma doçura, não dava trabalho e só chorava quando se magoava. Não é que a minúscula chorou todo o dia durante a primeira semana? Depois chorava só de manha, e finalmente, só quando a deixava. Agora é a menina dos olhos das educadoras...

Chegado o Verão (pelo menos o que convencionamos ser a estacão, porque sol só de vez em quando), entendemos ser o melhor para o nosso Diogo ir para Portugal, de ferias com os avos (tenho tantas saudades tuas filhote!!). E era aqui que queria chegar. Anteontem foi ao colégio, onde frequentou a sala dos três anos e um mais um trimestre da sala dos quatro. Fizeram-me hoje o relato, e aqui vai:

A Senhora que estava sempre à porta do colégio disse: “o Diogo fez um olhar muito acanhado, depois, quando me meti com ele, sorriu-me imediatamente”. Já a Educadora (com E maiúsculo porque é realmente fenomenal) disse-me que o achou muito crescido, que ele não ficou minimamente intimidado com ela ou com os meninos (“a sensação foi que ele ca tinha estado ontem”, disse), que o seu raciocínio é muito desenvolvido porque tenta arranjar soluções para os problemas, que está muito ágil, e tem uma personalidade muito flexível.

Só relatei...

Patrícia

Oedipus Child

Deixo o excerto de um artigo tirado da revista 'The American' através do 25 centímetros de neve:

'[...]
Recently, these stories have become relevant in an entirely new way. On May 16th, a Maryland State Court of Appeals decision determined that children born to surrogate mothers—with whom they have no genetic connection—can be legally motherless.

In August 2001, a surrogate mother—or “gestational carrier”—gave birth to the biological twin daughters of a man identified as Roberto d.B. When the hospital put the surrogate’s name on the children’s birth certificates as the legal mother, Mr. d.B. sued to have the certificates reissued without a mother, on the grounds that the surrogate is not genetically related to the children. The Court of Appeals granted his wish, basing its decision on Maryland’s Equal Rights Amendment, which guarantees men and women equal rights under the law. According to the opinion, “[T]he paternity statute, as written, provides an opportunity for genetically unlinked males to avoid parentage, while genetically unlinked females do not have the same option.”

The implications inspire a sense of foreboding. As Judge Dale Cathell noted in his dissent, the decision means that “an entrepreneur could contract with a sperm donor, contract with an egg donor, contract with an assembler, contract with a woman to carry the child through the gestation period, and a child could be manufactured with neither a mother nor a father…. The child could then be put up for adoption at a price—and a new business, in the spirit of American ingenuity, is created.”
[...]'

[Nuno]

Camisola amarela


Esta manha vinha a pensar na sorte que tenho em poder vir de bicicleta para o trabalho. Pois é, sair de casa e logo estacionada a porta, a minha super bike. Tirar os três cadeados (que o desporto nacional deste pais é o roubo de bicicletas), despejar as mochilas para as malas laterais, sentar a Catarina na cadeirinha da frente (apertar cinto), e o Diogo na cadeira de trás (apertar cinto), e “up we go!”.

E lá vamos nos, a cantar “os três soldados malucos”, ou algo que o valha. Fica a Catarina no infantário, depois o Diogo na escola, e lá sigo eu para o trabalho, que é o percurso mais distante.

Mas falava da bicicleta. A terceira. A primeira foi roubada, a segunda aguentou três dias com as cadeiras (não era resistente o suficiente para a distribuição de pesos, fui enganada), e esta é a terceira. Espero que dure! Pelo sim, pelo não, fiz-lhe um seguro.

Gosto da bicicleta porque:
- não ha grande problema de estacionamento: digo grande porque tenho de me certificar que fica presa a algo agarrado ao chão ou a parede, e a concorrência por esses locais é enorme;
- faço algum exercício: coisa que em Lisboa não fazia por falta de tempo;
- venho distraída com os meus pensamentos, a calcular o tempo, e a ultrapassar os obstáculos;
- sinto cada pedalada como uma vitoria, ao invés de ir sentada num carro e ver tudo passar ao lado, como se estivesse a ver TV e não a participar no percurso; e
- parei com a minha maior contribuição de CO2 para a atmosfera.

E assim me tenho deslocado nos últimos meses, quatro para ser mais precisa.

Patrícia

26.7.07

os nossos filhotes

são espantosos. Do meu ponto de vista, escusado será dizer. E quem quiser afirmar o contrário tem a caixa de comentários à disposição.
Mas não somos nós que os gabamos assim pois, embora tenhamos consciência da sorte que temos, não faz de todo o nosso estilo fazer gala dos méritos próprios - em bom português 'eu não sou de me gabar' -, são terceiros que o clamam aos quatro ventos.

Desde que o Diogo está em Portugal, os elogios têm sido constantes. Ontem deu-se a ida à antiga escola e o espanto foi geral pela absoluta naturalidade com que entrou e cumprimentou afectuosamente todo um mar de gente com quem não estava há mais de 6 meses.
Tem características de político, liga e desliga com facilidade estonteante o interruptor social: tanto dá a impressão de estar intimamente ligado às pessoas como as esquece sem remorsos, tudo isto num espaço temporal extremamente diminuto.
Graças a essa característica, não só conseguiu adaptar-se muito bem e depressa à escola aqui onde, apesar das diferenças linguísticas, reuniu já alguns amigos muito próximos como manteve na escola antiga inúmeros admiradores confessos, mesmo depois de meses separados.
Conta a professora que alguns miúdos ainda perguntam diariamente por ele, que fazem trabalhos a pensar nele e que ontem foi dia de festa na escola com a visita que lá fez.

Quanto à nossa Catarina, ontem foi também dia de elogios. A Patrícia foi com ela ao infantário para uma reunião com a educadora e a apreciação não podia ter sido melhor. Diz a senhora, que parece ter criado já uma relação muito especial com o nosso passarinho, que ela está bastante avançada para a idade numa série de capítulos.
Nada que nos surpreenda pois ao longo destes anos de experiência parental temos tido oportunidade de conviver com muitas crianças e temos uma ideia fundamentada do que é normal em cada fase; sabemos portanto que a minúscula está avançada no tempo.
A coordenação motora continua a ser o que mais me surpreende, fico embasbacado com a precisão e equilíbrio que ela demonstra com 15 meses, ao nível tanto da deslocação como do manuseamento de objectos complexos.

Mas isto tudo não sou eu quem o diz, porque eu nem sou de me gabar...

[Nuno]

24.7.07

ratos


em nossa casa. Ao que consta, em muitas casas das principais cidades da Holanda, resultado da omnipresença de água e zonas verdes, da idade dos edifícios e da (falta de) qualidade da construção, maioritariamente em madeira e cheia de pequenos buracos por onde os ratos se conseguem espremer para entrar.

Quando falo de ratos, afaste-se desde já a confusão, refiro-me a ratitos de 5 cms de comprimento. Por isso conseguem enfiar-se pelos tais buracos minúsculos provocados pelo desleixo da construção ou entre as frinchas de madeira. Se de ratazanas se tratasse, por mais que se contorcessem não conseguiriam passar. São animais vertebrados, não polvos.

Pelo facto de serem tão pequenos são quase engraçados, sobretudo se observados à luz do dia. Já à noite, quando vamos buscar leite para a pequenota e os apanhamos a passear pela cozinha, faz alguma impressão ver bichos a tomarem conta do nosso espaço. Assim como de manhã, quando nos preparamos para tomar o pequeno-almoço e nos deparamos com vestígios da sua passagem.

Já tentámos tudo: ratoeiras com todos os tipos de iscos (no início resultaram mas a partir de certa altura perceberam a lógica e não mais se deixaram apanhar), veneno (este nem sabemos se resultou) e até vasculhar a casa por possíveis locais de entrada para depois tapá-los. Tudo parece ter resultados temporários mas os ratitos arranjam sempre maneira de voltar.

Será que vamos ter que comprar um gato? Mas um vadio, daqueles que perseguem ratos mesmo com a barriga cheia, nada de Garfields lá para casa...

[Nuno]

meninos em mãos de bruxas,

diz o meu pai para ilustrar os efeitos da convivência do Diogo com as avós. Na verdade, ele acaba por ser um dos piores, cedendo (e antecipando) a todo e qualquer capricho dos netos de forma totalmente despudorada.

Reprimida a ânsia de agradar aos netos durante meses, os avós comportam-se agora como deseducadores descomplexados. Já não disfarçam, assumem abertamente que o tempo que tiverem com eles será para os mimar (equivalente politicamente correcto do mais adequado 'estragar') sem restrições.

Tudo é possível, se o menino quer o menino tem. E, no meio de tanta alegria, até nós temos direito a elogios. De bestiais a bestas, como diz o meu pai, momentaneamente em direcção inversa. Resta saber a velocidade com que, assim que acabarem as férias, voltamos ao sentido habitual.

O Diogo vai estar 20 dias em Portugal sem nós. Este período será dividido em 2: metade para os avós maternos, metade para os paternos. Não é portanto uma eternidade, dá para matar saudades mas dificilmente se compara aos 3 meses de férias a que normalmente associamos o Verão.

Para os 10 dias que vai passar com os avós maternos recebeu, entre milhentas outras coisas, um carro eléctrico (isso mesmo, um daqueles grandes que custam uma pipa de massa).
Ora a última vez que ele se tinha sequer lembrado que tal coisa existia foi há mais de um ano, numa visita à loja de brinquedos, durante a qual se sentou em 20 carros diferentes, saiu de lá de mãos vazias mas muito satisfeito pelo tempo passado.

Os avós sabem, porque foi repetidamente conversado no passado, que nós não somos favoráveis a este género de brinquedos que facilitam a vida às crianças. Gostamos de lhes dar desafios físicos e intelectuais, de os obrigar a criar as suas brincadeiras, de lhes ensinar que o esforço compensa. Estes carros eléctricos incitam-nos, acreditamos nós, à acomodação.
Se é para ter carros, que sejam daqueles a pedais. Mas para quê ter carros se já tem bicicletas, triciclos e outros objectos do género?

Como começa a ser costume, a primeira ocasião em que não estamos presentes foi ideal para deseducá-lo. Procuro lembrar-me que não é assunto meu, que está fora da minha esfera de educador, que faz parte da relação entre netos e avós, mas tudo isso foge à verdade.

A verdade é que nada posso fazer para não gerar conflitos, porque não quero privar os miúdos da presença dos avós e porque a harmonia familiar também depende da minha capacidade de aceitação e transigência.

Deixo aqui então apenas a nota de incompreensão por uma atitude consciente de avós que já foram pais e que conseguem concerteza imaginar o que custa ambientar uma criança de 4 anos a um país novo e a dificuldade que encontraremos em entusiasmá-lo com a ideia de voltar para cá.

[Nuno]

20.7.07

First shoes


Eis os primeiros sapatos da Catarina que hoje seguem para reforma. Os sapatos com que (oficialmente) deu os primeiros passos. Sapatos a sério, com sola grossa, para poder andar na rua segura de que os pés não vão ficar magoados ou molhados, com calcanhar reforçado para que os pés cresçam sustentados.

Escolhemos sapatos vermelhos porque (gostámos deles e) ouvimos dizer que é tradição, no Brasil, oferecer-se sapatos vermelhos a bebés como votos de saúde. E saúde te desejamos!

Patrícia

19.7.07

As Quartas-feiras

Ontem (quarta-feira) foi dia de ficar em casa. Não por doença (minha ou familiar), também não por ser preciso alguém em casa (para receber o electricista ou homem dos telefones). Fiquei, porque os hábitos do país que nos acolhe são diferentes, e uma dessas diferenças é que as mães não trabalham a tempo inteiro mas em regime de part-time (isto quando trabalham). E como diz o ditado (quase direito consuetudinário): “em Roma, sê romana”. Pois eu, na Holanda (e ressalve-se que neste aspecto), sou holandesa, quer dizer, não trabalho cinco mas quatro dias por semana.

As razões para este costume são muitas: historicamente, porque nas guerras mundiais os homens não foram para a guerra (foram território invadido e pronto), logo as mulheres não tiveram de ocupar os seus lugares nas fábricas, empresas e diversas actividades; o pais tem gozado de saúde financeira; qualquer mãe gosta de poder dedicar tempo aos filhos; é muito bem aceite profissional e socialmente (já trabalhar em regime de full time tendo filhos é visto como uma bizarrice, “que raio de mãe dedica todo o seu tempo ao trabalho?”); o custo de ter varias crianças num infantário é elevado, etc.

Já as minhas razões para esta aculturação são outras: a principal é de facto poder acompanhar mais os meus filhos. Em Portugal tinha a doce Narcisa que tratava deles (e de nós), tinha a minha alegre mãe e a minha pedagógica sogra que muito tempo lhes dedicavam, dando-me espaço para outras preocupações; tinha a carrinha do colégio que ia buscar e trazer o Diogo (alguém quer lançar aqui o easybus??), os horários eram mais alargados. Aqui não há disso. Os meus filhos tem-me a mim e ao pai. Os horários são curtos. O pai trabalha longe. A(s) língua(s) é(são) outra(s) e é nossa intenção manter o português correcto. Isso exige tempo com eles. E bom tempo, de preferência.

Ainda só experimentei 2 quartas-feiras em casa. Não posso avaliar, ainda, qual será o meu sentimento. Por agora sei que é uma escolha consciente, em favor da minha família. É que isto de ser mãe tem esta armadilha muito matreira, escolhe-se o que entendemos ser melhor para eles. E se o é para eles, assumimos que é também para nós. Em alguns casos será uma afirmação verdadeira, noutros falsa. Por hora, estou em crer que é a melhor decisão para todos. Depois, logo se reavaliará.

Agora, às quartas-feiras dá vontade de escrever no out of office: “Às quartas-feiras (hoje) dedico-me na integra ao mega projecto dos recursos humanos vindouros”.


Patrícia

férias

O Diogo está em Portugal com os avós, a passar férias sem nós. Não é a primeira vez, mas o facto de estarmos fora do país acrescenta algum peso emocional à separação.
Mas a verdade é, confesso aqui para quem quiser ler, que não me sinto minimamente agastado com a distância. Sinto infinitas saudades dele, vejo constantemente o buraco gigante em forma dele que ficou na casa e em todos nós mas desejo intensamente que se diverta e se lembre pouco de mim, pois também me sabe bem este tempo calmo sem ele.

Isto a propósito do relato que recebemos ontem, segundo o qual o nosso campeão teria acordado às 4.30 da manhã (não é erro de simpatia, ele acordou mesmo de madrugada), foi para a sala brincar e às 6 foi acordar a avó enquanto lhe chamava dorminhoca.

Do que conheço do meu filhote, esperou pelo nascer do dia para decretar oficialmente que estava na hora de acordar. Para ele, como no fundo para todos nós, a luz equivale ao tempo de vigília e, como ainda não tem a noção de tempo dos adultos, não entende a existência de padrões horários de sono independentes do meio ambiente.
Para além disso, tem naturalmente pouca necessidade de dormir. A mistura é portanto explosiva. O que vale é que os avós se encantam de tal forma com o menino que contam isto a rir.

E nós recebemos a mensagem com um sorriso, enquanto recuperamos forças para enfrentar a fera quando voltar.
Mas não me posso queixar demasiado, este comportamento dele é igual ao meu na sua idade. Estou portanto supostamente a pagar por algo que não podia evitar.

[Nuno]

17.7.07

equilibrismo

Agora foi de vez, ficámos sem rede: a senhora que nos acompanhou no início desta aventura voltou para Portugal.

Estamos sós, qualquer falha resulta em desastre.
Em contrapartida, todos os sucessos têm autoria indiscutível.

[Nuno]

a dúvida

Todos os dias me pergunto se devemos ficar ou partir. Suponho que esta seja a dúvida na cabeça de qualquer expatriado até ao dia em que percebe que já não tem para onde voltar.
E, como acontece com todas as dúvidas verdadeiramente importantes, a resposta não só não está à vista como provavelmente não existe. Pelo menos palpável, concreta, como seria desejável.

À minha volta abundam exemplos de gente que saiu para nunca mais voltar. E que garante que não há retorno possível, pois qualquer tentativa nesse sentido resultará em frustração, seja pelo insucesso do retorno seja pelo desgosto do que se deixa para trás.
Mas esta gente não tem filhos, ou se os tem não os vê como eu os vejo. Apesar de todas as vantagens que possa ter, eu não os quero desenraízados, apátridas, desajustados cá - porque estrangeiros - e lá, em casa, porque incompreendidos.

Garantem-me que não mais é possível habituar-se ao trabalho em Portugal (ou Espanha, ou França, ou qualquer país do centro-sul) depois de aqui ter estado.
Lembro-me contudo de um artigo que li em tempos, escrito por alguém que trabalhou fora muitos anos e decidiu voltar, que defendia o oposto, e acredito que tudo passa pela atitude. E aí torce a porca o rabo de novo: sempre tive problemas com a forma como as coisas se passam nas empresas no nosso país.

A verdade é que, com ou sem razão para isso, recuso-me a voltar para algo que não seja um evidente salto em frente. Sinto que vi e aprendi imenso e que isso teria que ser reconhecido para que o retorno fosse um passo lógico.
Mas sei que as coisas não funcionam assim, que isso não vai acontecer, pois ninguém reconhece seja o que for gratuitamente, pois o mercado tem gente de valor (seja em que medida for) em excesso para as raríssimas posições disponíveis.

E continuo na dúvida. Menos por mim, que me satisfaço com as visitas de férias, em que de tudo tiro prazer, do que pelos meus filhos, que crescem longe dos avós, e dos meus pais, que envelhecem longe dos filhos e dos netos.

[Nuno]

para mais tarde recordar

Antes de vir para a Holanda, a empresa que me contratou avisou-me que seria necessário apresentar um comprovativo de comunicação à Câmara / Junta de Freguesia da minha saída do país por tempo indeterminado.

Como nunca tinha ouvido falar de tal coisa, tentei explicar que estava convencido que tal coisa não existia em Portugal. A resposta foi que era essencial pois da apresentação do comprovativo dependeria a aceitação da minha inscrição, obrigatória por lei, na Câmara da cidade em que escolhesse viver.

Ainda recordo com incontido sorriso a reacção das funcionárias da Junta de Freguesia à qual me dirigi para tentar obter o tal documento: em poucos minutos assumiram as posturas mais contraditórias até que, num gesto de arrogância inconvicta, concluiram que me restava dizer "lá" que tal coisa não existia no nosso país.

Quando hoje leio textos de pseudo-liberais a queixar-se do socialismo português, só consigo lembrar-me do abismo que em poucos minutos vislumbrei entre o controlo sufocante que mais tarde confirmei dominar as terras holandesas e a improvisação que desgoverna Portugal.

[Nuno]

12.7.07

Tira-teimas (para lembranças diferentes no futuro)

O Diogo está quase com cinco anos. Pesa 23 kg e mede 116 cm. Na relação peso/estatura está no percentil 90.

Fez, hoje, testes auditivos, visuais, de representação gráfica e, ainda de motricidade (que incluíram coordenação, equilíbrio, etc.). Em todos os testes ele apresentou bons resultados. Ouve bem, vê bem, graficamente está (muito) desenvolvido – isto, (estou em crer) é fruto da exigência do ensino francês. Aquilo que notei que (talvez) fosse esperado (um bocadinho) mais foi a motricidade (parte do ensino holandês). E que, o que um miúdo médio português consegue fazer e a partir de que idade, comparado com o que um miúdo médio holandês consegue, é quase uma anedota.

Essa é, alias, a maior diferença que observo em relação aos miúdos holandeses. Eles saltam, correm, patinam, exercitam-se em andas, e nos parques sobem e descem de todas as maneiras possíveis e imagináveis. Fazem aquilo que, para pais portugueses com o coração menos forte, provocaria um inicio de ataque cardíaco. E os pais (holandeses) estão “na boa”, sentados no banco do parque a conversar com outros pais, incitando os miúdos a experimentar e permitindo-os testar, por si, os seus limites. Surpreendentemente, no tempo que aqui estou, assisti uma única vez uma cabeça partida. E os resultados desta abordagem nos miúdos é impressionante. Eles mexem-se com destreza, mas em segurança, e claro, emocionalmente, eles crescem com confiança em si próprios.

Aos 15 meses, a Catarina está com 10 280 gr e 79,2 cm. Está alta e leve. Quando digo leve não quero dizer magra, está linda! Na mesma idade, o Diogo tinha 13 kg e 83 cm. Ela já é totalmente diferente do Diogo. Mas sobre isso já o Nuno escreveu. Obedece a ordens simples, “vai por a tua roupa suja no cesto Catarina”, assinala quando acabou de sujar a fralda, faz queixas do “Didi” e, ontem, por duas vezes, chamou-me a atenção para o facto da musica de fundo ter acabado. Em relação à linguagem, apesar de dizerem que crianças expostas a mais do que uma língua se atrasam a começar a falar, não é esta a percepção que tenho do que esta a acontecer com a Catarina. Ela entende o que lhe dizemos, e dizem as educadoras que, no infantário, ela entende o que elas lhe dizem. Quanto a falar, tenta imenso, dá entoações, constrói aquilo que parecem ser frases. Vai ser tagarela, como a da canção da Ana Faria.


Patrícia

11.7.07

Personalidade

Pasmo, observo como, desde cedo, se evidenciam as diferenças entre os nossos dois filhos. Não digo que todas se devam a idiossincrasias naturais: sem dúvida as nossas acções enquanto pais, voláteis em tempo e espaço, e a própria existência de um irmão influenciam os comportamentos destes seres em busca de referências.

Mas volto às diferenças, tão notórias que me fazem voltar a acreditar que muito do que somos está inscrito no código genético e pré-determinado antes dos educadores terem qualquer hipótese de intervenção.

O Diogo em casa é um furacão. Precisa de espaço para correr e gritar, para atirar os brinquedos todos para o chão de um só golpe, para brandir a espada e imitar os heróis da guerra das estrelas ou para se enrolar e atirar teias como o homem-aranha.
Fala alto, esquece subitamente as regras e berra para assustar a irmã; em acessos súbitos de energia pura, corre de um lado para o outro da sala até se desequilibrar e bater com a cabeça ou o pé numa mesa e se deitar no chão a gritar com dores; irrompe pelo quarto da Catarina, pega nos brinquedos todos, brinca com cada um 5 segundos e sai, deixando tudo no chão espalhado; só quer lutas, contacto físico, corridas e competição.
Um dia com ele é intenso, emocionante e esgotante, perfeito para esquecer de imediato o stress do trabalho, as angústias diárias e quaisquer motivações pessoais.

A Catarina é a delicadeza em pessoa. Sem qualquer esforço, passa dias seguidos em casa, pois precisa apenas de companhia e de um cantinho para os seus brinquedos de eleição.
Adepta de organização e limpeza, diverte-se a guardar aquilo que o irmão desarruma. Ao mesmo tempo, dotada de uma motricidade fina muito acima da média e de uma capacidade de observação estranhamente madura, é capaz de imitar o Diogo ou mesmo os pais em actividades que normalmente estão reservadas a crianças mais velhas.
Parece desde já muito mais complexa emocionalmente, reagindo com sensibilidade quase assustadora a todo e qualquer tom de voz ou mesmo olhar.
Um dia com ela é pacificador, caloroso e retemperante.

A ver vamos em que se transformam. No Diogo já vamos observando mudanças com o tempo, dizem os mais velhos que todas as crianças mudam várias vezes, por vezes bruscamente.
Pretendo atestar essas mudanças aqui, para mais tarde poder lembrar-me da sua evolução.

[Nuno]

9.7.07

Scheveningen

Finalmente, ao fim de um ano neste país, conheci praia. Conhecemo-la todos juntos mas eles não cá estão há tanto tempo e tiveram tempo de praia no ano passado.

Em Julho de 2006, a Holanda foi, tal como o resto da Europa, invadida por uma onda de calor insuportável. Este ano, para compensar, só não choveu copiosamente um dia, justamente o de ontem. Hoje voltou o clima típico: céu encoberto, chuva intermitente, desta vez com granizo e trovoada para ajudar à festa.

Mas ontem não, ontem foi dia de festa. De manhã à noite, a luz reinou. Sem uma nuvem, temperatura altíssima (22 graus), sol inclemente (para peles que o não sentiam havia meses) e estão reunidos os ingredientes essenciais para um bom escaldão. Que na verdade se verificou, embora apenas moderado.

Os mais felizes do dia eram os nadadores-salvadores (é este o termos politicamente correcto para os janotas das marés vivas?). Que raio de profissão para escolher num país que vê o sol 30 dias por ano! Tão queridos, a ligar e desligar as luzes de emergências e as sirenes das pick-ups, enquanto varriam a praia com os pneus em acelerações e travagens bruscas.

Mas passa-se alguma coisa? pensava eu. Nada, mar vazio e umas almas penadas a cumprir diligentemente exercícios de rotina.
Sim, mar vazio. Quem se atreve a meter o termómetro no Mar do Norte?

Mas quanto à praia em si, é fascinante observar o talento comercial desta gente.
Numa praia igual, nós (atenção, passo a caricaturar!) teríamos três quiosques de bugigangas e dois restaurantes com mau serviço e comida de aspecto duvidoso (embora deliciosa, para quem conhece...), ou então o caos total, sem espaço para andar, carros engalfinhados e casas comerciais atiradas ao desbarato.
Eles têm uma avenida infindável para andar a pé, com restaurantes e hotéis de ambos os lados, atrás dos quais se esconde a praia. É perfeitamente possível passar um dia animadíssimo sem sequer se aproximar da areia, e aliás é difícil cumprir o objectivo de lhe tocar, dada a quantidade de distracções.

Portanto, mais uma vez o tal factor de espanto: a partir de um produto de origem sem ponta de qualidade se cria um produto turístico de sucesso, com base apenas no engenho e organização.

Não é deslumbramento, é aprendizagem.

[Nuno]

Madurodam



Banhada completa!

Os holandeses têm a arte de fazer dinheiro do nada: convertem este Madurodam, que não passa de uma banalíssima exibição de curiosidades na qual as crianças nem podem participar, pois estão proibidas de sequer se aproximar das reproduções expostas, numa mina de ouro, ao cobrar 13 euros por adulto ao turista idiota (oui, c'est moi...) que acredita nos guias que recomendam a visita.

Soubéssemos nós, portugueses, explorar pela metade qualquer um dos tesouros monumentais que temos num dos múltiplos recantos perdidos e obteríamos do turismo visitantes e receitas suficientes para alimentar a Portela e a OTA (ou outro qualquer) em simultâneo e pôr as taxas de crescimento do PIB lá onde a UE as quer.

E o que é Madurodam? Uma exposição com os edifícios e meios de transporte mais significativos do país, a uma escala de 1/25. Mas, ao contrário do nosso "Portugal dos Pequeninos", não há qualquer interacção, é um museu ao ar livre.

Ainda por cima, fomos lá supostamente para mostrar tudo aquilo aos putos, numa de "Holanda dos pequeninos", e acabámos a tentar desesperadamente transmitir um mínimo de entusiasmo ao Diogo, que só nos perguntava quando estava na hora de comer.

A única parte que o divertiu foi andar no escorrega da zona do restaurante, pois também nisso são incríveis: mestres na exploração da restauração, proporcionam aos pais um momento em que podem descansar e consumir à vontade, pois os putos estão nas suas sete quintas.

[Nuno]

6.7.07

O inicio

Só o convite para participar no panutrinocia me poderia tirar desta depressão motivada pelo facto de estarmos em Julho e nem ver (sequer!) vestígios do Verão. O convite, e o facto de ter (vitoriosamente) ultrapassado “een google-account maken”, em holandês, pois está claro!

Pois foi. Completos ficaram, ontem, seis felizes e movimentados anos de casamento. Tanta coisa que temos feito juntos, e (muitíssimo) bem, basta dar uma olhadela ao campeão e a minúscula. Podemo-nos congratular pelos feitos, e pela estrela que nos tem protegido.

E a convivência tem sido fantástica. Talvez com excepção dos montes com os (teus) papeis que insistes em fazer aqui ou ali na nossa casa. E com excepção dos YAAAs do Diogo quando mata (vezes sem conta) os clones do “império” e, dos bramidos da Catarina quando alguém resolve não lhe fazer o que ela quer.

A tua sorte é que és um gajo lindo e inteligente e cheio de amor por mim e pelos pequenotes, senão...

o dia seguinte

Ontem celebrámos 6 anos de casamento. Hoje parece o dia ideal para iniciar este projecto, para somar aos muitos a que em conjunto já nos dedicámos.

[Nuno]