22.11.12

máquina

Contou-me a Patrícia que o campeão se predispôs voluntariamente a ajudar a irmã a aprender um poema para a escola.

Leu uma primeira vez para ela, deixou-a ler uma segunda vez e...sem querer já sabia a poesia de cor.

Sempre foi assim. Memória prodigiosa que aplica com a mesma facilidade nos trabalhos de casa, nas línguas, na música e...para decorar nomes de jogadores de futebol.

Nuno

kikizices

A nossa kiki de 6 anos.

Numa conversa casual, eu explicava que pedi à Hertz para me instalar pneus de Inverno e que tinham preferido trocar de carro a trocar apenas os pneus.

- Tenho 2 perguntas...compraste um carro novo só por causa dos pneus?!? E...estes pneus podem pisar as poças?

Ri-me durante uns bons 30 segundos, depois calei-me à procura de inspiração para a resposta. No final ficam as deliciosas perguntas.

Nuno

16.11.12

Queda do primeiro dente de leite da Kiki

Há que tempos que andávamos a falar nisto e, anteontem, finalmente caíu o primeiro dente de leite da nossa Kiki.


A lindinha ficou contente porque o esperava com alguma impaciência. Na manhã seguinte acordou e ficou radiante porque a fada dos dentes lhe deixou uma carta, de fada para fada, muito especial...

Temos desdentadita em casa.

Patrícia

15.11.12

veia artística

À minha volta gente essencialmente simples. Nuances poucas, nenhumas mesmo. Gente que parece complexa, que se empenha em parecê-lo. Mas gente simples. Linear nos gostos, tendenciosa nas escolhas, uniforme na apresentação.

Arrogância minha, dir-se-á, é conhecido por isso. E logo aqui, por escrito, tão definitivo e absoluto. Só pode ser engano, cada pessoa é um mundo, cada alma um turbilhão. Não digo que não sintam, sonhem, sofram, amem. Fazem tudo isso, confirmo. Mas em cardume, num contínuo perpétuo de imitação. Enjoa-me. Procuro obssessivamente a diferença, desiludindo-me quando a encontro e a percebo igualmente imitada.

Ambiciono a unicidade discreta, com desprezo pelas parangonas e pela aprovação colectiva. Por fora a normalização pragmática, por dentro uma explosão infinita de autenticidade indiferente. Pouco me importa a qualidade estética, essa entrego-a de bom grado à voracidade de um mundo dominado por chavões. Spin city. Spin world diria eu. Nada dura mais do que um momento, todos mesmerizados pela brilhância, empolgados pelo aparente alcance da imagem, iludidos quanto ao risível impacto da própria existência.

Hoje cá andamos, amanhã o mundo continua sem nós. Essa continua a ser a única realidade. Numa vida para os vivos, cada um procura apresentar-se mais vivo que o resto, numa chamada de atenção virtual ao desconhecido, numa exclamação de renúncia à morte, numa pertença compulsiva ao grupo dos que respiram com mais força, numa absurda crença de mérito vital que convença o derradeiro juiz da justeza da sua vivência.

Todos simples, todos desmascarados. Eu inclusive. Desmascaro-me a mim próprio pois a tal arrogância não permite deixar tal tarefa para terceiros. A minha exclamação revela-se na absorção da alma do mundo. Quero o âmago, nada menos que isso. Vivo à superfície mas sonho profundo. Renego o consumismo experiencial, evito a entropia intelectual pela via sensorial e cativo ao invés a fruição mais elementar. Qual físico existencialista, reduzo aos elementos básicos toda e qualquer percepção, retirando satisfação da enorme complexidade natural que nos rodeia.

Nisto sou certamente igual a tantos outros, presentes e passados. Mas sou-o por mim, num agradecimento silencioso ao acaso pela oportunidade de estar vivo. Quando um dia me for, espero sair com a convicção que retirei tudo o que podia e que deixei apenas uma forma de estar. De forma alguma desejo ser fonte de inspiração, não tenho ombros para tanta responsabilidade. Reservo antes a cada um o direito de moldar livremente o seu próprio alter ego.

Nuno

10.11.12

Diploma C da Kiki

E hoje a Kiki ganhou o seu diploma C de natação. Pais e mano foram apoiá-la na sua prova que começa primeiro vestida (com calças, sweatshirt e casaco de chuva) e calçada .





Depois ficou em fato de banho e continuou as provas: mergulhar para a água, mergulhar 9 metros debaixo de água e passar por um buraco, boiar, nadar de diversos modos, passar obstáculos por baixo de água ou por cima deles e, tudo o que tinha de fazer, fez.

E no fim, comemoração e diversão!


Estamos todos muito contentes com a nadadorazinha da casa.

Patrícia

Imagens do dia da "derrota"







Patricia

farinha do mesmo saco

O pai folheia deliciado livros técnicos sobre excel. A filha calcula médias das notas da primária dos filhos. Estatística glorificada nas mãos dos Dias de Almeida...

Nuno

5.11.12

derrota

Ontem o campeão viveu a sua primeira grande derrota pessoal. Pelo menos foi assim que se sentiu, o que na prática é bem mais importante do que a realidade do acontecimento. Pela segunda vez falhou o teste de vela e vai ser obrigado a repetir o segundo nível. Esteve bem no teste teórico e faz quase tudo bem na prática mas falta-lhe uma competência de base no manuseamento da vela tida como fundamental para avançar para o nível final.

Obviamente desdramatizámos, até porque esta actividade tem sido elemento de discórdia cá por casa, mas levou a desfeita a peito. Suponho que estivesse convencido do sucesso a priori e tenha sido surpreendido pela decisão da instrutora. Ou poderá ter-se sentido humilhado por achar que foi o único a ficar para trás, algo que na verdade não verificámos: quando ele perguntou à instrutora se todos passavam, ela respondeu que caberia aos pais essa decisão - que no caso dele não recomendava - mas não chegou a esclarecer a situação dos outros.

O mais engraçado nisto tudo é que o filhote não gosta da vela e todos os Domingos me massacra por ter que ir passar 3 horas no meio do lago. Até na apresentação que tem que fazer para a escola deixou bem explícito que detesta a coisa e que sou eu quem o obriga a ir. Mas agora ficou deprimido por não conseguir passar - resta saber se pelo falhanço em si ou pela ideia de ter que repetir algo que rejeita com tanta paixão.

Como pai, vi este insucesso pela positiva. Tendo que acontecer, e todos sabemos que a derrota é parte integrante da vida, que seja nesta actividade secundária. Agora já sabe que nem tudo na vida lhe vai correr bem e que todos caímos. Falta-lhe aprender a segunda parte: a diferença entre os que vencem e os que ficam para trás está na reacção à queda.

Nuno

4.11.12

Férias de Outono

A meu pedido, e com uma paciência e genorosidade que não tem fim, lá vieram os meus pais de Lisboa para mais uma vez nos nos ajudar e cobrir as duas semanas de férias dos meninos. Não sendo a disponibilidade da família em Portugal e os meninos teriam umas férias bem menos gostosas .

A mamã fez um cozido à portuguesa como só ela sabe e convidámos uns amigos para connosco o saborear. Era véspera da maratona que o meu irmão veio fazer a Amesterdão. O meu mano superou-se, mais uma vez, na sua prova. Fez 3h18m e ficou em 1.316 dos 15 ou 16 mil alucinados que correram ao frio naquele dia. Um orgulho para todos à sua volta mas, acima de tudo, mais uma evidência para si de que só não faz aquilo que não se predispõe a fazer.

No dia lá estivémos a ver passar a laranja mecânica e a mostrar o nosso apoio incondicional.

Os meninos e nós (eu em especial) tivémos os mimos todos e agora reajustamo-nos à vida a que estamos tão habituados a quatro.

Em especial fica um gesto que me foi contado pelos meus pais sobre a Kiki. A casa do rés do chão está à venda, e ela, ao passear na rua perguntou porque não a compravam. Parece que a conversa começou com a avó que lhe indicou o avô. Disse-lhe « avô, porque não compras esta casa que tem jardim e assim vêem para cá mais vezes ? » Ao que o meu pai terá respondido « Gostavas ? Então vou pensar nisso ». A resposta dela foi aproximar-se e pedir-lhe que se baixasse. Deu-lhe um beijio na cara e saiu aos saltinhos, típicos de quando vai satisfeita com a vida.

Patrícia

2.11.12

Halloweenices

Não gosto, não gosto, não gosto...de palhaçadas. Nunca foi o meu estilo, nem em pequeno. Desde miúdo fujo de máscaras, disfarces, pinturas, maquilhagens, tatuagens, perucas e todos os outros artigos criados com fins de alteração da imagem pessoal, como um diabo (artigo indefinido e d pequeno só para prevenir) da cruz.

Algo me perturba profundamente no conceito de transformação instantânea, no artificialismo da caracterização, na ocultação dos elementos físicos que nos caracterizam e diferenciam enquanto indivíduos. A meu ver há algo de maléfico e aterrador em seres alterados por camadas de químicos. Acredito na existência simultânea de múltiplas personalidades dentro de cada um e aprecio a extraordinária capacidade do ser humano para se reinventar continuamente sem artifícios, apenas com força de vontade e ambição. Não compreendo portanto o propósito ou o interesse das alterações superficiais e temporárias.

Em criança, por alturas de Fevereiro, e sobretudo naquelas festas carnavalescas que a minha mãe organizava para celebrar o aniversário da minha irmã, desesperava em vã busca de uma qualquer aspiração estética refundida para dar à luz algo que se encaixasse no espírito da época. Visto está que o falhanço era trágico, tal como a escolha final da personagem. Acabava vestido como algo que os outros não estranhassem demais, que não atraísse demasiado a atenção. No fundo só queria arrumar a questão, mostrando que participava mas sem me fazer notar.

Como poderia eu adivinhar que teria que passar pelo mesmo em adulto? Pior ainda, a trabalhar! Mas assim foi neste Halloween. Fui recebendo avisos mas ignorei-os deliberadamente, convencido que se tratava de um embuste ou quanto muito de uma declaração de intenções vazia. Festa de Halloween, anunciavam os cartazes colados nas paredes interiores do edifício. Pois sim, desdenhava eu no meu cinismo tão costumário, fiquem para aí com a vossa conversa. A data foi-se aproximando e o tom dos avisos crescia, levando-me aos poucos a acreditar que algo se passaria.

Nas vésperas do dia 31 multiplicaram-se os esforços de decoração dos espaços, com os diferentes departamentos a espalharem pelos escritórios e espaços comuns adereços característicos da época: teias de aranha, caveiras, sangue simulado e doces tomaram de assalto o ambiente de trabalho e convenceram-me que a festa seria de arromba. No meu departamento, os mais entusiastas saíam a meio do dia para ir comprar o que faltava para o concurso da melhor decoração. Houve um que dedicou boa parte do fim-de-semana a construir um carro alegórico, que depois desmontou para transporte e voltou a montar no escritório para ficar em exposição.

Não consigo descrever a alucinação colectiva que tomou conta daquela gente. O edifício estava todo às escuras. Havia pessoas irreconhecíveis, integralmente incarnadas nas respectivas personagens. Um grupo passou a tarde a dançar o Thriller com um aparelho de karaoke. O meu chefe vestiu-se de Sith Lord, passeando pelo campus de capa e espada luminosa nas mãos. Há fotos para prová-lo mas não posso partilhá-las aqui.

No meio disto tudo, uns quantos fizeram figura de mal dispostos. Queriam trabalhar, acabar as coisas para ir para casa e passar tempo com a família. Afinal de contas, que pseudo-Carnaval é este em que os adultos se divertem e deixam os putos em casa? Mas este tipo de raciocínio é mal visto. Como dizia uma colega, desde que entrou para aquela empresa foi obrigada a embrace estas ocasiões para não se sentir excluída.

Já eu fiz como de costume: participei o mínimo possível para evitar acusações. Recusei obstinadamente porcarias na pele e não me juntei a tudo o que considerei exagerado. Mas vesti-me como os restantes elementos do departamento e fui fazer o giro como era esperado. Ainda assim tive que ouvir comentários sobre o meu desinteresse. Como explicar a esta gente esta minha perspectiva sem sair irreversivelmente queimado?

Nuno

1.11.12

Má vida

Emprego novo, vida nova. Não é ditado mas devia ser, tal o impacto de um novo desafio profissional na rotina familiar. Da noite para o dia tudo muda e todos se ressentem. Mais ainda do que os aspectos logísticos, é a reduzida disponibilidade - intelectual, física, afectiva - que provoca o maior desgaste. No próprio, que sente não poder dar tanto de si como habitual; no parceiro, que de repente recebe uma carga adicional para a qual não estava preparado; nos putos, que só se apercebem da mudança em termos práticos e se ressentem do défice de atenção.

Há dias chegou-me aos ouvidos a história (sim, com h...) de um indivíduo que se despediu da família durante 6 meses para se dedicar a uma nova posição. Um pouco radical por certo mas prevalece a lógica da imperiosa dedicação nos primeiros tempos para causar boa impressão e asfaltar devidamente a estrada do sucesso. Escolho aqui a palavra sucesso com hesitação, pois pode dar ideia falsa de ambição pessoal a troco do equilíbrio colectivo em casa. Para quem está acostumado às lides das empresas internacionais em que nos movemos, o conceito é contudo amplamente familiar e resume-se à sobrevivência num ambiente intratável de "dog eat dog", no qual por vezes nem o máximo de nós é suficiente. Quem se segurar a uma posição, achar que tem cadeira garantida, deixar de crescer, perde lugar instantaneamente e é substituído por alguém mais forte, mais esfomeado.

Tudo isto para explicar a dedicação obrigatória, sobretudo nos primeiros tempos em que ninguém nos conhece. Com o tempo, bem devagar, há pequenos espaços para acomodação ligeira, para desligar o telemóvel, ignorar mensagens, fazer as coisas à nossa maneira. Mas no princípio o campo está minado, impõe-se concentração total para evitar lesões permanentes ou até mortíferas. Isto de ser a pessoa nova é sempre muito complicado, mesmo para quem o faz tantas vezes quanto eu.

É neste estado de inquietação que me encontro agora. Estive 2 anos mais sossegado, com controlo quase total do tempo e do espaço, e de repente fui engolido por um monstro insaciável de expectativa. De um escritório privado com vista total sobre Amesterdão, passei para um open space com janelas para o pátio. De reuniões marcadas com semanas de antecedência para ajuntamentos instantâneos sem tempo, lugar ou pré-aviso. De um ambiente populado predominantemente por contabilistas e advogados para outro dominado por marketeers e designers. De uma organização em que o poder era manifesto e delegado cerimoniosamente, para uma em que a autoridade é esparsa e intangível. De um  chefe excessivamente disciplinado e confiante para um manager caótico e inseguro. Enfim, de 8 para 80.

Tenho tido portanto necessidade de me dedicar à causa, pelo menos até sentir que tenho alguma segurança sobre as responsabilidades que me foram alocadas. Escusado será dizer que esta minha entrega ao trabalho provoca mossa em casa, pois com isso deixei de ter tempo para todas aquelas pequenas coisas que antes assegurava. É preciso tempo para encontrar um novo equilíbrio, para encaixar todas as peças harmoniosamente. Lá chegaremos mas entretanto é impossível evitar agravos.

Compreendo, procuro compensar. Nesta fase é tudo o que posso fazer. O primeiro passo já está: sou a partir de hoje efectivo - até ontem estive em período de experiência.

Nuno