O nosso querido gatinho, companheiro da nossa vida na última década partiu. Foi um choque. Tombou sem pré-aviso, de forma fulminante e inesperada neste triste dia a seguir ao natal. Decidiu descansar, deixando-nos a responsabilidade de continuar a caminhada.
Como reagir a
esta perda? A sua presença estava em cada rotina, em cada espaço das nossas
casas e nas nossas vidas. Um companheiro maravilhoso que desapareceu e me faz
parecer estar numa espécie de mundo paralelo – parece que o vejo pelo canto do
olho, ou oiço as suas patinhas ou miado ao longe.
Sei que é o ciclo
da vida. Sei também que os bichinhos o têm mais breve do que o nosso e que nos dão
muitos, muitos dias de alegria mas que a probabilidade é alta de um dia nos
darem uma grande tristeza com a sua partida. Esta eterna dicotomia razão –
emoção.
O seu nome oficial era Matty mas assim que o acolhemos, o Grandalhão chamou-lhe Mel. E ele, subtilmente como é o jeito felino, acolheu o nome personificando-o cada vez mais: não punha nunca as unhas de fora com intenção de magoar. Por vezes, em brincadeira, entusiasmava-se e apanhava uma mão, e claramente logo se apercebia que tinha magoado recolhendo-se. Um gato-cão, apesar de não gostar de ser pegado ao colo, quando lhe pegávamos ronronava, num misto `não devia gostar mas como são vocês a pegar-me, até acho que gosto`. Muito fácil, doce e dedicado a nós.
Estava sempre presente e vigilante. A mensagem que por vezes sentia dele em momentos menos bons, quando se roçava na minha cabeça ou se deitava ao meu lado, era algo como »acho que acredito em ti mais do que tu neste momento. Deixa lá. Lá chegarás, eu sei.»
Vou ter imensas saudades
suas. Dos seus miados em resposta aos meus olás, ou a receber-me quase sempre à entrada da
porta de casa, a dar-me turras com a sua cabecinha para que o beijasse ou lhe
fizesse festas. Vou ter saudade de passar a mão pelo seu pêlo tão suave e fofo.
Da sua presença, sábia e tranquila. Da sua imensa beleza que me encantava só de
olhar para ele quando tantas vezes o via a dormir, ou estendido ao sol, ou a
alertar para os pássaros na varanda, ou atento a algo que me escapava. Da sua
companhia discreta e sempre presente seguindo-me pelas divisões da casa.
Deixa um buraco enorme.
Não está em mim acreditar que estará
num céu algures a olhar por nós. Gosto de pensar que, se em algum sítio
estivesse, estaria a pensar que gostaria de nos ver a olhar uns pelos outros, agora e sempre enquanto por cá andarmos.
Patrícia