30.10.20

Dupla maravilha: alho e mel

Em época de pandemia há que cuidar ainda melhor da saúde e como somos o que comemos, deixo uma receita muito fácil de um alimento para fortalecer o sistema imunitário.

O alho é uma planta nativa da Asia Central e nordeste do Irão, tendo sido um tempero comum no mundo inteiro e com uma longa história longa de vários milhares de anos de uso humano tanto quanto aroma alimentar como medicamento. Sabemos do seu cultivo na Mesopotâmia pelo menos desde há 4.000 anos, sendo que chineses, egípcios, gregos, romanos e árabes já o usavam. É um ingrediente comum na cozinha mediterrânea e, pensando bem, é raro o prato que cozinhe sem alho.  

Também tem usos medicinais e é conhecido por ser anti-inflamatório, anti-oxidante e útil no combate a vários tipos de infecções respiratórias e digestivas.

Os ingleses chamam “garlic belt” aos países que rodeiam o mediterrâneo e que incorporam o alho na sua culinária. E é verdade que conheci gente, britânica e indiana, que detesta o sabor e cheiro do alho e dele foge como da cruz. Uma das lições que nunca implementei do meu professor de ioga que dizia que o alho era estimulante e não devia ser consumido por iogis. Curiosamente, o alho era um dos elementos que nas crenças antigas se acreditava afastar os vampiros.

O alho contem alicina, útil para a saúde, sobretudo se ingerido cru. E dai esta receita que tentei hoje e para o qual apenas é preciso: alho, mel e um frasco de vidro com tampa. Convém que o mel seja o mais puro possível: à maior parte do mel no mercado é adicionado algo.

Descascam-se os dentes de alho e poem-se no frasco. 





Cobre-se de mel e fecha-se a tampa. Coloca-se num armário protegido da luz e vai-se misturando de cada par de dias ate fermentar, pelo menos uma semana.

Depois e comer uma colher do preparado de manha em jejum durante sete dias consecutivos. Descansa-se duas semanas e pode voltetar a ingerir. E o mel usar para temperar saladas.

Preparei hoje e vou experimentar.

Patricia

28.10.20

Passeio a Delft

Tem sido um ano brutal. No sentido negativo, de cruel e violento. Exigente emocionalmente porque somos seres sociais e temos de nos distanciar de quase todos e de muito. O Grandalhão ainda sem pausa de férias – é certo que fizemos uma semana em Portland de familiarização com a cidade mas isso não foi descanso, para alem do jet lag as reuniões com agentes imobiliários, bancos, escolas, etc. No Verão fomos a Portugal mas ele esteve a trabalhar. Esta semana, coincidindo com as férias da Kiks, resolveu tirar uns dias para descansar mais não seja de telefonemas e zooms.

Não tivemos sorte que estamos em plena segunda onda de Covid-19 na Europa. Ainda pensamos fazer finalmente o passeio de que falamos há uns tempos a Berlim mas a Alemanha tem a Holanda na lista vermelha e a Holanda algumas cidades da Alemanha, incluindo Berlim, também vermelhas – quer dizer, quarentena. O que não seria aconselhável para a Kiks que só tem uma semana de férias e se fossemos a Berlim ela teria de ficar as duas seguintes em casa de quarentena.

A maior parte das coisas está fechada e o tempo nem sempre ajuda mas dá para passear e sentir o cheiro.

Delft é uma cidade a sudeste de Haia e a noroeste de Roterdão com longa historia e ligada à dinastia Orange-Nassau (origem da actual casa real Holandesa), que fortemente influenciou a idade do ouro holandesa, origem da famosa cerâmica azul. Em 1246 (mais ou menos por esta altura D. Afonso III abdicava de Bolonha e ascendia ao trono de Portugal expulsando os mouros das terras dos algarves) tornou-se um território com direitos próprios, uma espécie de condado tornando-se uma das maiores cidades da Holanda até ao século XVII.

É uma cidade pequena que visitámos numa manhã e vimos vários pontos de interesse:

A torre inclinada da Oude Kerk

A catedral velha, de influência gótica na construção e culto protestante. É conhecida porque a sua torre de 75 metros de altura está inclinada pelo menos 2 metros do eixo vertical - ainda mais original que a de Pisa! Estava fechada e não pudemos visitar o interior, onde se encontram túmulos de vários notáveis do reino, nomeadamente o do pintor Johannes Vermeer.



Praça Markt

É praça principal da cidade: Markt. Grande e com a Stadhuis opondo-se a Nieuwe Kerk. Nos lados há muitas lojas com a cerâmica de Delf, os queijos holandeses e, loja que visitámos a Van Delft a fabricar pepernoten desde 1880. Pepernoot é uma espécie de biscoito holandês, de cor castanha e do tamanho de uma avelã grande, associada com a época do Sinterklaas. Aliás, é costume o Sinterklaas e os seus ajudantes, ao passar na parada, atirarem ou darem uma mão cheia deles às crianças. Quanto a sabor, há os originais e uma variedade imensa de outros sabores. Nós comprámos um pacote das originais, uma com morango e chocolate branco, uma de licor e uma de chocolate extra puro. Todas deliciosas - mas pelo que falta no pote dois dias passados da visita já nos dá uma indicação da preferência cá em casa, aliás, os originais já desapareceram todos e estes são outros mais comuns que temos em stock!



Stadhuis Delft

O equivalente a camara municipal da cidade de Delft, construída no estilo renascentista. Continua a albergar o governo da cidade e é o local de preferência para casamentos. Alias assistimos a um, que ajustado aos dias em que vivemos tinha poucas pessoas que respeitavam a distância social e algumas usavam máscaras, sob a vigilância de um carro policia na praça.








Estátua de Hogo Grotius

Um holandês que deixou vasta marca no seculo XVII: humanista, diplomata, homem das leis, religioso e poeta nascido em Delft e estudante da Universidade de Leiden.

Escreveu a maior parte dos seus livros de Paris onde viveu exilado, devido a uma grande controvérsia religiosa, a partir dos seus 38 anos. Lançou as bases do direito internacional baseado na lei natural (ou jusnaturalismo) e dois livros de sua autoria tiveram grande impacto sobre a matéria: De Jure Belli ac Pacis (O direito da guerra e da Paz) vivendo na época da Guerra dos Oitenta anos entre a Holanda e Espanha e na Guerra dos Trinta Anos entre as nações Católicas e Protestantes da Europa, não admira que o estatuto legal da guerra tivesse nos seus pensamentos. Também foi o autor do Mare Liberum (Liberdade dos Mares) que é uma dissertação sobre o direitos dos holandeses de manterem o comércio nas Índias, discutindo o direito a governar os mares e contestando a politica de Mare Clausum defendida por Portugal (e Espanha). A sua tese defende que a liberdade dos mares era um aspecto primordial na comunicação entre povos e nações e que nenhum pais poderia monopolizar o controle do Oceano, dada a sua imensidão e falta de limites estabelecidos.

Nieuwe Kerk

Também não conseguimos visitar. O local onde a família real é enterrada.  

Meisjes Huis

Ou a casa das meninas, foi entre os seculos XVI e XX um orfanato de raparigas que era meio órfãs (ou seja tinham pelo menos um dos pais vivos). Recebia meninas entre os 6 e 10 anos que ficavam geralmente ate terem 18 anos (momento em que passavam a ter direito a herança). Na sua estadia eram educadas em língua, números, religião, artes manuais e cozinha.



Sempre bom passear na melhor companhia, 

experimentar, descobrir e aprender.

Patrícia

26.10.20

A primeira vez que nos visita

O nosso Champs atingiu a maioridade legal em Agosto. No inicio de Outubro, voou do ninho, mudando-se para a sua nova cidade, Haia, para assim ficar perto da Universidade, dos colegas e dos acontecimentos. Pese embora a sombra deste horrível vírus que nos mudou a vida desde Março deste ano.

Desde que se mudou, vi-o duas vezes:

- eu e o Grandalhão fomos um dia tomar o pequeno almoço com ele;

- os três que ficámos fomos almoçar com ele a um simpático restaurante italiano no centro de Haia.


Este fim de semana passado, depois do primeiro bloco de exames completo, o Champs decidiu visitar-nos.

Há muito quem fale do síndrome do ninho vazio. Não é ainda o nosso caso na totalidade. Mas é um vazio, sim, com a enorme forma de Diogo, alegre, participativo, e com reajustar de equilíbrios e dinâmicas. Sabíamos que ia ser assim: fomos pais cedo e para mais sempre preparamos os filhos para serem independentes e autónomos, sendo isso reforçado com o costume local dos filhos saírem de casa dos pais quando entram na universidade. E assim é, saiu.

Soube tão bem quando voltou. Dois dias, uma noite (que dormi como um anjo). Sensação de dia de festa em casa, mas ao mesmo tempo uma grande tranquilidade de sabermos o espaço de cada um. Amor infinito e enorme respeito por este Homem que ajudei a educar e que acredito ser de grande valor e génio.

Volta sempre que quiseres. Eu vou sempre saborear cada momento contigo. Aqui, ou onde for que estejamos, a casa é sempre tua.

Patricia