7.11.22

Edimburgo 2

Estendi-me tanto no último post que agora segue outro a cobrir o resto da visita.

Fomos ao castelo, claro. O Champs e eu bastante animados e a demorar muito mais do que a Makuks e o Grandalhão gostariam. O guia do tour da véspera, tinha-nos dito que esta fortificação é a que mais vezes foi cercada no Reino Unido. Aliás, que no ano anterior tinha sido cercado por 36 activistas...

É um castelo com muita história – mesmo se há quem seja da opinião que um castelo do século XII não devia impressionar um(a) portugues(a) habituad@ a vê-los a pontapé...

As primeiras comunidades cresceram perto do proeminente rochedo (castle rock) onde se construiu a fortificação. O rochedo formou-se naturalmente, estendendo-se por uma paisagem que é o produto da atividade vulcânica inicial e períodos posteriores de intensa glaciação. O cume do rochedo ficaa 130 metros acima do nível do mar, com penhascos rochosos a sul, oeste e norte, subindo a uma altura de 80 metros acima da paisagem circundante. O que quer dizer que a vantagem defensiva do sitio é evidente - e o Diogo andou à volta a ver -, com uma única rota acessível, onde fica a entrada do castelo (a leste), onde o cume se inclina mais suavemente. Acho que o Diogo viu algures que o calcanhar de aquiles era o fornecimento de água para o castelo, apesar do poço ter 28 metros de profundidade. Quer tambem dizer que o horizonte é a perder de vista.








O castelo real data algures do século XII, sendo inicialmente fortificação e residência real, perdendo o papel residencial no século XVII e usado como quartel militar, sendo agora claro o imenso empenho em mantê-lo preservado como património nacional e a jóia da coroa turística de Edimburgo.

Dentro das muralhas, visitamos também:

- a exposição One Hour Clock - sobre a marcação do tempo que agora é fácil mas assim não era no passado. De modo que se disparava uma bala de canhão exactamente à 1 hora da tarde para afinar a hora para a população e para o porto e suas embarcações (diz-se que ao contrário de muitas fortificações que o faziam ao meio dia, os escoceses escolheram 1 da tarde porque assim poupavam 11 balas por dia – sim, são conhecidos por serem poupados).

 - o museu da guerra – que cobre muita da história escocesa mas para mim foi elucidante juntar os pontos relativamente ao momento em que a Escócia e a Inglaterra se uniram, e perceber que na época era imperativo que os estados-nações das potencias europeias tivessem capacidade bélica organizada e capaz de defender os seus interesses. A Escócia por si não conseguia estar nessa liga de competição por dominância imperial. Inglaterra, por outro lado, precisava da estabilidade e da integridade do território da Grã-Bretanha para poder fortalecer-se e expandir. A união da Inglaterra e da Escócia permitiu que esta recebesse uma parte da riqueza daquela, em contrapartida de uma segurança militar. Para fazer crescer o império britânico fora da ilha (e em rivalidade com França e Espanha), a Gra-Bretanha precisava de sólidas forças armadas: os escoceses forneciam imensos homens para esse propósito. No museu encontra-se imensas peças militares que eu e o Champs adoramos (espadas, canhões, uniformes, medalhas, quadros etc).




- a capela de St Margareth – do século XII e provavelmente a parte mais antiga da edificação.

- regalia – ou as Honras da Escócia que consistem na Coroa da Escócia, o Ceptro e a Espada do Estado. A coroa de ouro foi feita na Escócia em 1540 e mantem a forma original. A espada e o ceptro foram feitos em Itália como presentes do papa. Vimos ainda exposta a pedra do destino (stone of destiny) ainda usada no presente nas coroações dos monarcas britânicos (ou seja, em uso em Maio do próximo ano para a coroação de Charles III).

Satisfeitos com o compromisso do castelo, paramos para tomar um chocolate quente (com um shot de whisky) e scones, no Brodie’s.



A alcachofra, parece ser a flor do local – lembro-me sempre do filme Braveheart, quando a Murron (menina) oferece a William Wallace a flor no enterro do seu pai e irmão, e que ele guarda sempre consigo.


Visitámos o city art center, e passámos pelo Scott Monument – um monumento gótico vitoriano ao autor escocês Sir Walter Scott, que marcou a escrita anglófona, com romances como Ivanhoe, Rob Roy, Waverley, Old Mortality, The Heart of Mid-Lothian e The Bride of Lammermoor. Trata-se de uma torre com 61 metros de altura, construída a partir de arenito local e com detalhes lindissismos e com os jardins onde se recordam os caídos em batalha com papoilas vermelhas, usadas para comemorar aqueles que morreram na guerra. Estas Rememberance Poppies estão por todo o lado no Reino Unido, e são vendidas por uma instituição de caridade que presta apoio àqueles que serviram ou estão atualmente ao serviço das Forças Armadas Britânicas e seus dependentes. Vê-se por todo o lado na rua à venda e com muita genta a usá-las na lapela.






Seguimos de tram para o aeroporto, vendo o estádio enorme de raguebi e os arredores da cidade.

E assim se acabou o que foi doce.

Patrícia

6.11.22

Edimburgo

Finda a missão de ter uma ideia das possíveis universidades para a nossa Makuks, já que lá poderá passar os próximos 6 anos, pudémos passar ao modo descoberta de nova (tanto eu como o Nuno já tínhamos estado há muito, muito tempo) cidade, a quatro, como tanto gosto.

A temperatura estava amena, e não choveu o resto do nosso tempo em Edimburgo, antes fomos brindados por céu azul a contrastar com os lindissimos edificios muito bem conservados da cidade, como (espero) mostram as fotos.

 Edimburgo tem vestigios de presença humana desde cerca de 8.500 a.c.... Mas é verdadeiramente na época medieval que se começa a afirmar o seu carácter distintivo que tem como ponto central o castelo. Não é certo quando a fortificação foi erguida no topo da rocha, mas pensa-se que terá sido pouco antes ou pelo século XII. Também no periodo medieval surge o conceito de frade (por oposição à de monge) que trabalha para a comunidade e pode deixar o mosteiro – esta cidade era povoada pelos dominicanos (com o hábito preto) e os agostinianos (que trajavam cinzento). Porque religião foi outro grande factor que marcou aquela zona: inicialmente marcada pelo culto dos espíritos e dos druidas, assimilando a cristianidade (e catolicismo) desde o século II d.c. até à proibição do catolicismo romano (ie, da missa e abolição da autoridade do Papa) com a reforma protestante de 1560 pelos ingleses, que teve um efeito profundo na vida da nação.

 Durante o século XIV, o comércio começou a crescer e Edimburgo tornou-se conhecida pela  sua lã e artigos de couro, ambos exportados pelo Porto de Leith. As batalhas contra os ingleses eram uma constante, mas Edimburgo desenvolveu-se como uma cidade próspera tornando-se, durante o século XV, a capital da Escócia (com Charles II). Por volta do ano 1500, viviam aproximadamente 12.000 pessoas na cidade tendo a população crescido rapidamente e chegado a 15.000 menos de meio século depois. Como a cidade era cercada pela muralha, a sua população em constante crescimento construia casas de vários andares. Os primeiros arranha-céus de pedra foram construídos na Royal Mile e chegaram a ter 12 andares de altura (sendo que eram os pobres que ocupavam os lugares de topo). E quando não era suficiente, os cidadãos construíam casas de madeira em cima das casas de pedra.

No final do século XVII, a cidade tinha uma população de 50.000 pessoas. Era pequena, com demasiada população para o espaço que tinha, imunda e continuamente atingida por pragas, doenças e incêndios. Era uma das cidades mais insalubres da Europa e a peste bubônica, o tifo e a cólera eram parte do quotidiano da população de Edimburgo.

Apesar da ideia de união entre Inglaterra e Escócia ser velha, a suspeita e a desconfiança entre os dois países impediam a união, e é só no início do século XVIII (em 1707) que finalmente acontece. Os escoceses temiam que se tornassem outra região da Inglaterra, sendo engolidos como acontecera com o País de Gales cerca de quatrocentos anos antes. Para a Inglaterra, o temor de que os escoceses tomassem o lado da França e reacendessem a 'Auld Alliance' era decisivo. A Inglaterra dependia fortemente de soldados escoceses e fazê-los juntar-se aos franceses teria sido desastroso.

A 1 de maio de 1707 o Parlamento Escocês e o Parlamento Inglês uniram-se para formar o Parlamento da Grã-Bretanha, com sede no Palácio de Westminster, em Londres, sede do Parlamento Inglês. A Escócia manteve sua independência em relação aos seus sistemas jurídicos e religiosos, mas a cunhagem, a tributação, a soberania, o comércio, o parlamento e a bandeira tornaram-se um.

Muito mudou para ambos: os habitantes de Edimburgo deixaram de precisar da protecção da muralha defensiva e Inglaterra, e a cidade tornou-se um lugar popular para intelectuais, especialmente no que diz respeito à filosofia, história, medicina, ciência e economia. Para os ingleses, sem o perigo a Norte, podiam-se finalmente concentrar em construir um império além da ilha.

Consta todavia que os ingleses tiveram sempre mão no devido controlo dos escoceses, e em particular de Edinburgo de várias formas: na Escócia havia fome (mas não vinha abastecimento de comida de Inglaterra...), talvez porque isso fazia com que muitos jovens se alistassem no exército da Grã-Bretanha, fazendo com que não houvesse perigo de  crescimento e impetos de independência e/ou força de trabalho a norte... Por outro lado,  durante o século XIX, com a revolução industrial (e a produção de cerveja e a indústria gráfica, seguidos por banqueiros e advogados que também ai se estabeleceram), Glasgow ganha importância em detrimento de Edimburgo (capital politica da Escócia) e torna-se a segunda cidade do Reino Unido (a estratégia de dividir para reinar...). Ainda no início deste século se concluíu a construção da Cidade Nova, que atraiu muita imigração irlandesa (em 1850 a população era de 170.000 pessoas).

Durante o século XX, o sector do turismo cresceu Edimburgo tornou-se um destino turístico popular. E encantador.

Edimburgo é listada pela UNESCO como World Heritage Site. A cidade velha estende-se do alto e rochoso cume no topo do qual foi construído o castelo até ao Palácio de Holyrood. Caracteriza-se pela sobrevivência de ruas de padrão medieval, em espinha de peixe, de ruas estreitas que saem de uma unica rua mais larga e longa. Esta topografia quase dramática resulta em panoramas espectaculares e um ambiente icónico, com um nível de conservação de autenticidade muito elevado, sentindo-se integridade na conservação da traça original das ruas e dos edificios. E foi sobretudo na cidade velha que os nossos passeios se concentraram.

Em particular a Victoria Street que é, provavelmente, das ruas mais fotografadas da cidade tanto é o charme, com lojas maravilhosas nas quais fomos entranto, à espreita.






Fomos até à entrada do Castelo e visitámos a magnífica catedral de St Giles - edificio central da cidade velha - fundada em 1124 pelo rei David I, uma igreja em funcionamento há quase 900 anos – apesar do edificio que visitámos datar do seculo XIV com reformas ao longo do tempo. E um pano de fundo para a turbulenta história religiosa da Escócia. Durante a nossa (e de muitos outros turistas) visita decorria, impassível, uma missa. E o ambiente era paz.











Subimos ao observatório da cidade que fica no cume de Calton Hill, perto da extremidade leste da Princes Street e com fácil acesso ao centro da cidade de Edimburgo. O horizonte é vasto e as vistas lindíssimas.


 Onde encontramos um canhao portugues, do seculo XV que se passeou pela Asia, fez parte das possessoes do Rei de Burma, e acabou aqui depois de capturado pelos Ingleses em 1885.


Também nesse cume está o monumento nacional, construído em honra do Vice Almirante Horatio Nelson em 1815, em comemoração da vitória sobre as armadas francesas e espanholas, na Batalha de Trafalgar em 1805 (onde morreu). 


Com retemperos que a cidade tambem oferece deliciosos repastos, ao fim de um dia longo, 

ainda tínhamos o Tour do Harry Potter que começava às 6 da tarde – já escuro como breu - no cemitério Greyfriars onde jazem muitos dos que aqui morreram e passando por locais que inspiraram J.K. Rowling a escrever o Harry Potter (a cidade onde a obra foi escrita). O guia era americano, estudante de filosofia na universidade e foi dando também informação pertinente sobre a vida de estudante em Edimburgo.







O Grandalhão e a Makuks não estavam devidamente preparados para o frio - não quando o guia parava muito para falar - e estavam congelados de modo que jantamos tapas no Andaluz - ninguém estava com muita paciência para procurar local e o jantar estava delicioso.

E nestes caminhos, em maravilhosa companhia, tudo bem disposto, com concessões aqui e ali de todos, conversa, piadas e gargalhadas, o dia se passou na perfeição.

Patrícia