30.12.22

Mezinho

O nosso querido gatinho, companheiro da nossa vida na última década partiu. Foi um choque. Tombou sem pré-aviso, de forma fulminante e inesperada neste triste dia a seguir ao natal. Decidiu descansar, deixando-nos a responsabilidade de continuar a caminhada. 

Como reagir a esta perda? A sua presença estava em cada rotina, em cada espaço das nossas casas e nas nossas vidas. Um companheiro maravilhoso que desapareceu e me faz parecer estar numa espécie de mundo paralelo – parece que o vejo pelo canto do olho, ou oiço as suas patinhas ou miado ao longe.

Sei que é o ciclo da vida. Sei também que os bichinhos o têm mais breve do que o nosso e que nos dão muitos, muitos dias de alegria mas que a probabilidade é alta de um dia nos darem uma grande tristeza com a sua partida. Esta eterna dicotomia razão – emoção.

O seu nome oficial era Matty mas assim que o acolhemos, o Grandalhão chamou-lhe Mel. E ele, subtilmente como é o jeito felino, acolheu o nome personificando-o cada vez mais: não punha nunca as unhas de fora com intenção de magoar. Por vezes, em brincadeira, entusiasmava-se e apanhava uma mão, e claramente logo se apercebia que tinha magoado recolhendo-se. Um gato-cão, apesar de não gostar de ser pegado ao colo, quando lhe pegávamos ronronava, num misto `não devia gostar mas como são vocês a pegar-me, até acho que gosto`. Muito fácil, doce e dedicado a nós.

Estava sempre presente e vigilante. A mensagem que por vezes sentia dele em momentos menos bons, quando se roçava na minha cabeça ou se deitava ao meu lado, era algo como »acho que acredito em ti mais do que tu neste momento. Deixa lá. Lá chegarás, eu sei.»

Vou ter imensas saudades suas. Dos seus miados em resposta aos meus olás, ou a receber-me quase sempre à entrada da porta de casa, a dar-me turras com a sua cabecinha para que o beijasse ou lhe fizesse festas. Vou ter saudade de passar a mão pelo seu pêlo tão suave e fofo. Da sua presença, sábia e tranquila. Da sua imensa beleza que me encantava só de olhar para ele quando tantas vezes o via a dormir, ou estendido ao sol, ou a alertar para os pássaros na varanda, ou atento a algo que me escapava. Da sua companhia discreta e sempre presente seguindo-me pelas divisões da casa.

Deixa um buraco enorme. 



Em vida, foi um companheiro muito acarinhado, mimado e celebrado. É o meu consolo.

Não está em mim acreditar que estará num céu algures a olhar por nós. Gosto de pensar que, se em algum sítio estivesse, estaria a pensar que gostaria de nos ver a olhar uns pelos outros, agora e sempre enquanto por cá andarmos.

Patrícia    

11.12.22

Árvore de Natal 2022

 Este Novembro foi um mês de intensas viagens do Grandalhão que esteve 3 semanas em trabalho fora de casa. E ainda assim, há tradições que são para cumprir. Sobretudo nesta altura tão mágica do ano.

É a altura de montar a nossa árvore de natal, e da nossa celebração de Sinterklaas. E dá-me tanto gosto que ainda o consigamos fazer os 4.

  







O jantar

E as trocas de prendas

Tão bom.

Patrícia




7.11.22

Edimburgo 2

Estendi-me tanto no último post que agora segue outro a cobrir o resto da visita.

Fomos ao castelo, claro. O Champs e eu bastante animados e a demorar muito mais do que a Makuks e o Grandalhão gostariam. O guia do tour da véspera, tinha-nos dito que esta fortificação é a que mais vezes foi cercada no Reino Unido. Aliás, que no ano anterior tinha sido cercado por 36 activistas...

É um castelo com muita história – mesmo se há quem seja da opinião que um castelo do século XII não devia impressionar um(a) portugues(a) habituad@ a vê-los a pontapé...

As primeiras comunidades cresceram perto do proeminente rochedo (castle rock) onde se construiu a fortificação. O rochedo formou-se naturalmente, estendendo-se por uma paisagem que é o produto da atividade vulcânica inicial e períodos posteriores de intensa glaciação. O cume do rochedo ficaa 130 metros acima do nível do mar, com penhascos rochosos a sul, oeste e norte, subindo a uma altura de 80 metros acima da paisagem circundante. O que quer dizer que a vantagem defensiva do sitio é evidente - e o Diogo andou à volta a ver -, com uma única rota acessível, onde fica a entrada do castelo (a leste), onde o cume se inclina mais suavemente. Acho que o Diogo viu algures que o calcanhar de aquiles era o fornecimento de água para o castelo, apesar do poço ter 28 metros de profundidade. Quer tambem dizer que o horizonte é a perder de vista.








O castelo real data algures do século XII, sendo inicialmente fortificação e residência real, perdendo o papel residencial no século XVII e usado como quartel militar, sendo agora claro o imenso empenho em mantê-lo preservado como património nacional e a jóia da coroa turística de Edimburgo.

Dentro das muralhas, visitamos também:

- a exposição One Hour Clock - sobre a marcação do tempo que agora é fácil mas assim não era no passado. De modo que se disparava uma bala de canhão exactamente à 1 hora da tarde para afinar a hora para a população e para o porto e suas embarcações (diz-se que ao contrário de muitas fortificações que o faziam ao meio dia, os escoceses escolheram 1 da tarde porque assim poupavam 11 balas por dia – sim, são conhecidos por serem poupados).

 - o museu da guerra – que cobre muita da história escocesa mas para mim foi elucidante juntar os pontos relativamente ao momento em que a Escócia e a Inglaterra se uniram, e perceber que na época era imperativo que os estados-nações das potencias europeias tivessem capacidade bélica organizada e capaz de defender os seus interesses. A Escócia por si não conseguia estar nessa liga de competição por dominância imperial. Inglaterra, por outro lado, precisava da estabilidade e da integridade do território da Grã-Bretanha para poder fortalecer-se e expandir. A união da Inglaterra e da Escócia permitiu que esta recebesse uma parte da riqueza daquela, em contrapartida de uma segurança militar. Para fazer crescer o império britânico fora da ilha (e em rivalidade com França e Espanha), a Gra-Bretanha precisava de sólidas forças armadas: os escoceses forneciam imensos homens para esse propósito. No museu encontra-se imensas peças militares que eu e o Champs adoramos (espadas, canhões, uniformes, medalhas, quadros etc).




- a capela de St Margareth – do século XII e provavelmente a parte mais antiga da edificação.

- regalia – ou as Honras da Escócia que consistem na Coroa da Escócia, o Ceptro e a Espada do Estado. A coroa de ouro foi feita na Escócia em 1540 e mantem a forma original. A espada e o ceptro foram feitos em Itália como presentes do papa. Vimos ainda exposta a pedra do destino (stone of destiny) ainda usada no presente nas coroações dos monarcas britânicos (ou seja, em uso em Maio do próximo ano para a coroação de Charles III).

Satisfeitos com o compromisso do castelo, paramos para tomar um chocolate quente (com um shot de whisky) e scones, no Brodie’s.



A alcachofra, parece ser a flor do local – lembro-me sempre do filme Braveheart, quando a Murron (menina) oferece a William Wallace a flor no enterro do seu pai e irmão, e que ele guarda sempre consigo.


Visitámos o city art center, e passámos pelo Scott Monument – um monumento gótico vitoriano ao autor escocês Sir Walter Scott, que marcou a escrita anglófona, com romances como Ivanhoe, Rob Roy, Waverley, Old Mortality, The Heart of Mid-Lothian e The Bride of Lammermoor. Trata-se de uma torre com 61 metros de altura, construída a partir de arenito local e com detalhes lindissismos e com os jardins onde se recordam os caídos em batalha com papoilas vermelhas, usadas para comemorar aqueles que morreram na guerra. Estas Rememberance Poppies estão por todo o lado no Reino Unido, e são vendidas por uma instituição de caridade que presta apoio àqueles que serviram ou estão atualmente ao serviço das Forças Armadas Britânicas e seus dependentes. Vê-se por todo o lado na rua à venda e com muita genta a usá-las na lapela.






Seguimos de tram para o aeroporto, vendo o estádio enorme de raguebi e os arredores da cidade.

E assim se acabou o que foi doce.

Patrícia

6.11.22

Edimburgo

Finda a missão de ter uma ideia das possíveis universidades para a nossa Makuks, já que lá poderá passar os próximos 6 anos, pudémos passar ao modo descoberta de nova (tanto eu como o Nuno já tínhamos estado há muito, muito tempo) cidade, a quatro, como tanto gosto.

A temperatura estava amena, e não choveu o resto do nosso tempo em Edimburgo, antes fomos brindados por céu azul a contrastar com os lindissimos edificios muito bem conservados da cidade, como (espero) mostram as fotos.

 Edimburgo tem vestigios de presença humana desde cerca de 8.500 a.c.... Mas é verdadeiramente na época medieval que se começa a afirmar o seu carácter distintivo que tem como ponto central o castelo. Não é certo quando a fortificação foi erguida no topo da rocha, mas pensa-se que terá sido pouco antes ou pelo século XII. Também no periodo medieval surge o conceito de frade (por oposição à de monge) que trabalha para a comunidade e pode deixar o mosteiro – esta cidade era povoada pelos dominicanos (com o hábito preto) e os agostinianos (que trajavam cinzento). Porque religião foi outro grande factor que marcou aquela zona: inicialmente marcada pelo culto dos espíritos e dos druidas, assimilando a cristianidade (e catolicismo) desde o século II d.c. até à proibição do catolicismo romano (ie, da missa e abolição da autoridade do Papa) com a reforma protestante de 1560 pelos ingleses, que teve um efeito profundo na vida da nação.

 Durante o século XIV, o comércio começou a crescer e Edimburgo tornou-se conhecida pela  sua lã e artigos de couro, ambos exportados pelo Porto de Leith. As batalhas contra os ingleses eram uma constante, mas Edimburgo desenvolveu-se como uma cidade próspera tornando-se, durante o século XV, a capital da Escócia (com Charles II). Por volta do ano 1500, viviam aproximadamente 12.000 pessoas na cidade tendo a população crescido rapidamente e chegado a 15.000 menos de meio século depois. Como a cidade era cercada pela muralha, a sua população em constante crescimento construia casas de vários andares. Os primeiros arranha-céus de pedra foram construídos na Royal Mile e chegaram a ter 12 andares de altura (sendo que eram os pobres que ocupavam os lugares de topo). E quando não era suficiente, os cidadãos construíam casas de madeira em cima das casas de pedra.

No final do século XVII, a cidade tinha uma população de 50.000 pessoas. Era pequena, com demasiada população para o espaço que tinha, imunda e continuamente atingida por pragas, doenças e incêndios. Era uma das cidades mais insalubres da Europa e a peste bubônica, o tifo e a cólera eram parte do quotidiano da população de Edimburgo.

Apesar da ideia de união entre Inglaterra e Escócia ser velha, a suspeita e a desconfiança entre os dois países impediam a união, e é só no início do século XVIII (em 1707) que finalmente acontece. Os escoceses temiam que se tornassem outra região da Inglaterra, sendo engolidos como acontecera com o País de Gales cerca de quatrocentos anos antes. Para a Inglaterra, o temor de que os escoceses tomassem o lado da França e reacendessem a 'Auld Alliance' era decisivo. A Inglaterra dependia fortemente de soldados escoceses e fazê-los juntar-se aos franceses teria sido desastroso.

A 1 de maio de 1707 o Parlamento Escocês e o Parlamento Inglês uniram-se para formar o Parlamento da Grã-Bretanha, com sede no Palácio de Westminster, em Londres, sede do Parlamento Inglês. A Escócia manteve sua independência em relação aos seus sistemas jurídicos e religiosos, mas a cunhagem, a tributação, a soberania, o comércio, o parlamento e a bandeira tornaram-se um.

Muito mudou para ambos: os habitantes de Edimburgo deixaram de precisar da protecção da muralha defensiva e Inglaterra, e a cidade tornou-se um lugar popular para intelectuais, especialmente no que diz respeito à filosofia, história, medicina, ciência e economia. Para os ingleses, sem o perigo a Norte, podiam-se finalmente concentrar em construir um império além da ilha.

Consta todavia que os ingleses tiveram sempre mão no devido controlo dos escoceses, e em particular de Edinburgo de várias formas: na Escócia havia fome (mas não vinha abastecimento de comida de Inglaterra...), talvez porque isso fazia com que muitos jovens se alistassem no exército da Grã-Bretanha, fazendo com que não houvesse perigo de  crescimento e impetos de independência e/ou força de trabalho a norte... Por outro lado,  durante o século XIX, com a revolução industrial (e a produção de cerveja e a indústria gráfica, seguidos por banqueiros e advogados que também ai se estabeleceram), Glasgow ganha importância em detrimento de Edimburgo (capital politica da Escócia) e torna-se a segunda cidade do Reino Unido (a estratégia de dividir para reinar...). Ainda no início deste século se concluíu a construção da Cidade Nova, que atraiu muita imigração irlandesa (em 1850 a população era de 170.000 pessoas).

Durante o século XX, o sector do turismo cresceu Edimburgo tornou-se um destino turístico popular. E encantador.

Edimburgo é listada pela UNESCO como World Heritage Site. A cidade velha estende-se do alto e rochoso cume no topo do qual foi construído o castelo até ao Palácio de Holyrood. Caracteriza-se pela sobrevivência de ruas de padrão medieval, em espinha de peixe, de ruas estreitas que saem de uma unica rua mais larga e longa. Esta topografia quase dramática resulta em panoramas espectaculares e um ambiente icónico, com um nível de conservação de autenticidade muito elevado, sentindo-se integridade na conservação da traça original das ruas e dos edificios. E foi sobretudo na cidade velha que os nossos passeios se concentraram.

Em particular a Victoria Street que é, provavelmente, das ruas mais fotografadas da cidade tanto é o charme, com lojas maravilhosas nas quais fomos entranto, à espreita.






Fomos até à entrada do Castelo e visitámos a magnífica catedral de St Giles - edificio central da cidade velha - fundada em 1124 pelo rei David I, uma igreja em funcionamento há quase 900 anos – apesar do edificio que visitámos datar do seculo XIV com reformas ao longo do tempo. E um pano de fundo para a turbulenta história religiosa da Escócia. Durante a nossa (e de muitos outros turistas) visita decorria, impassível, uma missa. E o ambiente era paz.











Subimos ao observatório da cidade que fica no cume de Calton Hill, perto da extremidade leste da Princes Street e com fácil acesso ao centro da cidade de Edimburgo. O horizonte é vasto e as vistas lindíssimas.


 Onde encontramos um canhao portugues, do seculo XV que se passeou pela Asia, fez parte das possessoes do Rei de Burma, e acabou aqui depois de capturado pelos Ingleses em 1885.


Também nesse cume está o monumento nacional, construído em honra do Vice Almirante Horatio Nelson em 1815, em comemoração da vitória sobre as armadas francesas e espanholas, na Batalha de Trafalgar em 1805 (onde morreu). 


Com retemperos que a cidade tambem oferece deliciosos repastos, ao fim de um dia longo, 

ainda tínhamos o Tour do Harry Potter que começava às 6 da tarde – já escuro como breu - no cemitério Greyfriars onde jazem muitos dos que aqui morreram e passando por locais que inspiraram J.K. Rowling a escrever o Harry Potter (a cidade onde a obra foi escrita). O guia era americano, estudante de filosofia na universidade e foi dando também informação pertinente sobre a vida de estudante em Edimburgo.







O Grandalhão e a Makuks não estavam devidamente preparados para o frio - não quando o guia parava muito para falar - e estavam congelados de modo que jantamos tapas no Andaluz - ninguém estava com muita paciência para procurar local e o jantar estava delicioso.

E nestes caminhos, em maravilhosa companhia, tudo bem disposto, com concessões aqui e ali de todos, conversa, piadas e gargalhadas, o dia se passou na perfeição.

Patrícia