5.6.12

Lx 3d

Por extenso, 3 dias em Lisboa para recuperar forças, ganhar inspiração para os tempos que se avizinham e tratar de negócios.

Como não podia deixar de ser, planeei esta pequena escapadela com suficiente antecipação e cuidado, negociando datas e duração com toda a família para evitar incómodos ou melindres. Isto porque não sou obviamente o único a apreciar estes saltinhos a casa e ninguém gosta de ficar para trás. Mas devo admitir que tudo se passou com muito mais tranquilidade do que esperava à partida e ninguém objectou ou interferiu.

Feitas as contas e após alguns ajustamentos forçados pelo calendário de reuniões, acertei as datas para chegar na quarta-feira à noite e regressar sábado à tarde. Tudo somado, 2 dias úteis completos para uso misto e meio dia de fim-de-semana para tempo dedicado aos pais. Dita a experiência que esta é a fórmula mágica pois satisfaz sem enjoar visitantes e visitados.

Lisboa lá estava, nos seus sítio e disposição costumeiros. A minha cidade tem o condão de envelhecer  tranquila e indiferente às vaidades vãs de nativos e turistas, como uma árvore velha que assiste enternecida às idas e vindas de gerações de esquilos e ri em silêncio quando casais de namorados escrevem promessas eternas de amor na casca.

Assim é comigo, que vou e ao voltar encontro sempre à minha espera os mesmos cheiros, sons, cores, sabores. Esta sensação de conforto primordial é inacessível a todos aqueles que vivem em casa pois nasce justamente do desconforto que a saudade, no seu jeito de camisa de forças emocional, provoca em quem se atreve a afastar-se do ninho.

Há muito me pergunto se tem mais valor o prazer doseado do dia-a-dia ou o gozo intenso espicaçado pela ausência. Ao fim destes 6 anos continuo a não ter resposta concludente para esta pergunta mas talvez a comparação seja simplesmente impossível pois seria preciso isolar estas sensações de todas as outras e medir níveis de (in)satisfação, (in)felicidade e afins. Seja como for, a diferença intuída é notória e massiva.

Porque tudo segue imutável neste ambiente onde cresci, o país e os seus actores convertem-se involuntariamente em referência absoluta daquilo que fui e permitem-me observar mudanças próprias. Sem que consiga precisar o teor ou o valor destas mudanças, sinto que deixei muito de mim para trás quando saí e que preenchi esses espaços vazios com influências forasteiras. Acima de tudo reparo que cresci muito e que a minha compreensão do mundo se alterou irreversivelmente.

Depois de 3 dias a tentar imaginar-me de regresso, continuo sem perceber se perdi de vez a ligação à terra onde nasci.

Nuno

1 comentário:

Berta disse...

Filho Nuno do meu coração!

Here we go again!!! Cá está de novo o escritor de serviço! Não há volta a dar-lhe...É sempre a mesma emoção! Forma e substância incluídas!
Lisboa como árvore velha, ninho de gerações de esquilos e registo de amores eternos?!
Programar a viagem utilizando uma «fórmula mágica que satifaz sem enjoar visitantes e visitados» é de um requinte impressionante. Mesmo aqueles a quem amamos muito, por vezes nos cansam! E sabe-nos bem um intervalo de distância para confirmarmos a nossa individualidade...mas com a certeza de podermos regressar e termos o nosso lugar garantido.
Nuno, perguntas-te há muito «se tem mais valor o prazer doseado do dia-a-dia ou o gozo intenso espicaçado pela ausência»? Que bem que expressas esta ideia! Tens resposta para a pergunta? Depende de tantas variáveis... Dos teus traços de personalidade e características pessoais,dos teus valores, das pessoas envolvidas!!
Podem ser fantásticos o prazer doseado do dia-a-dia bem como o gozo intenso da ausência. Mas tb. podem ser os dois desgastantes ou rotineiros(não quereria utilizar a palavra enjoativos!). E até podem coexistir em alternância.
Quando terminas afirmando que continuas sem perceber se perdeste de vez a ligação à terra onde nasceste, permite-me afirmar que acho essa possibilidade quase impossível,o que não significa que uma pessoa se sinta obrigada a gostar de voltar a viver onde nasceu. Eu jamais quereria voltar a viver na Madeira ou Porto Santo, mas quando lá volto, aí sim, é mesmo o gozo intenso espicaçado pela ausência... Beijinhos