21.12.07

divulgação

Sem qualquer benefício pessoal que não seja o prazer que retiramos em elogiar aquilo que é nosso, temos vindo a fazer um esforço consciente de promoção dos produtos e destinos portugueses, incluindo o vinho, a culinária, a música e tudo o mais em que conseguimos pensar.

Se acreditarmos que entre 5 a 10 milhões de portugueses estão, como vimos numa estatística há pouco tempo, espalhados pelo mundo e fazem esforço semelhante, torna-se difícil compreender como é que os vinhos portugueses continuam a ser ilustres desconhecidos.

Mas não é isso que vemos: na Wine Spectator que comprei quando fomos a Valência verificámos não existir qualquer vinho de origem portuguesa analisado ou sequer mencionado; aqui na Holanda temos vindo a confirmar que para a generalidade das pessoas Portugal não é um produtor de vinho de qualidade; e é possível encontrar vinho português à venda nas lojas especializadas mas é preciso esforçar-se para encontrá-lo entre as toneladas de garrafas francesas, espanholas, italianas, alemãs e americanas.

O pior é que não só não há como parece não haver qualquer tentativa séria para mudar isso.
Onde está a publicidade? As pessoas reagem bem às nossas coisas, temo-lo comprovado repetidamente. Pelam-se pela comida, adoram o sol, comentam a hospitalidade e perguntam o que raio fazemos aqui.

Ao fim de décadas a investir em estratégias de promoção do país, através do ICEP ou outros que tal, continuamos sem identidade internacional que não seja o sol e a praia. É preciso mais, importa associar bens tangíveis comercializáveis à marca que já criámos.

Às vezes sentimo-nos originários de algum país africano com produtos exóticos. E no entanto somos membros da UE, criámos autoestradas pelo país todo para facilitar o transporte de produtos.

De forma muito inteligente, Espanha tem vindo aos poucos a conseguir impor-se como um obstáculo intransponível para nós, isolando-nos progressivamente até aceitarmos a integração sem piar.
Neste momento, as empresas portuguesas parecem ter desistido de entrar na Europa: ou vão para Espanha, onde encontram dificuldades deliberadas para entrar, ou se viram para baixo. Nao pretendo aqui argumentar sobre a estratégia comercial nacional, apenas lamentar a quase impossibilidade de encontrar produtos nacioanais.

Nuno

neve

Do meu local de trabalho vejo as árvores cobertas de neve e os canais gelados por vários dias de temperaturas negativas.
Não digo que seja algo do outro mundo nesta zona da Europa mas para mim a coisa tem um encanto especial. É como fazer parte de um postal de Natal.

Nuno

Brasil da Europa

Nas notícias mais recentes li um artigo do Pacheco Pereira sobre o Porto, o FC Porto e toda a polémica em torno das acusações que recaem sobre Valentim Loureiro e Pinto da Costa, outro sobre um roubo de que foi alvo um futebolista num parque de estacionamento, um terceiro sobre a diminuição objectiva do poder de compra dos portugueses e ainda mais um a propósito da investigação de que é alvo o BCP na sequência de uma denúncia deposta por Joe Berardo.

Uma aflição incontrolável apoderou-se do meu espírito: Portugal entrou na espiral da morte, o país caminha imparável para a ingovernabilidade. A justiça, a segurança, a economia e as finanças, todos elementos essenciais para o bem-estar, parecem condenados a reduzir-se a um estado de pobreza sem recuperação à vista.

E os políticos parecem cegos perante tudo isto, continuam perdidos nas suas vidinhas privilegiadas e trocam cartões de Natal de apreço mútuo pela miséria em que insistem em deixar os portugueses.

Eu sei que estou fora e que tenho menos direito a reclamar mas a minha impressão é que poucos são os que o fazem de dentro. Percebo que é mais difícil, até porque os que têm voz para contestar são geralmente mais bem tratados, mas é desesperante assistir a tudo isto.

Nuno

19.12.07

O frio

chegou em força. Prevê-se 6 graus negativos à noite nos próximos tempos. Os canais começam a gelar, há gente a esquiar nos sítios mais improváveis, os dias amanhecem sempre brancos (embora ainda não neve) e após cinco minutos na rua a cara perde sensibilidade.

Mas as bicicletas continuam a dominar as estradas, os putos jogam futebol na rua, os centros comerciais exteriores estão cheios de gente às compras, as esplanadas continuam postas e muitos sentam-se para tomar café como se o sol banhasse as ruas e o mar se fizesse ouvir ali ao lado. Em suma, a vida continua apesar das temperaturas negativas e do vento gelado que parece cortar a pele.

Gosto do frio, as coisas parecem ter mais gosto. Cada momento passa a viver-se com mais intensidade, talvez por ser mais estanque. A temperatura domina tudo, não é indiferente estar na rua ou em casa, na cama ou fora dela, muito ou pouco vestido. Cada decisão tem uma consequência sensitiva imediata e o convite ao comportamento correcto é muito tentador.

Estou cada vez mais convicto que o clima é directamente responsável pelo desenvolvimento dos povos. Para além das consequências fisiológicas óbvias (o calor convida à preguiça) há a vertente psicológica: para quem vive em zonas quentes a vida é mais fácil, as consequências de decisões incorrectas são menos graves e as pessoas acabam por se acostumar ao facilitismo.

O Inverno aqui sabe mesmo bem. Na rua o frio tem um charme especial e sabe mesmo bem chegar a casa.

Nuno

No final do primeiro trimestre do ano lectivo 07/08

as professoras escrevem “Très bon début d´ánnée, Diogo travaille bien. C'ést un élève agréable et très serviable. De bons progrès en français – contiue”.

A avaliação é de A a D, sendo:
A – competência adquirida;
B – a reforçar;
C – no início de aquisição; e
D – competência não adquirida.

A grande maioria das competências, classificadas em grandes grupos, são avaliadas com A . Tem alguns B e apenas um C. Nenhum D.

A avaliação foi como se segue:

Linguagem verbal
Comunicação:
- Exprimir-se de forma compreensível – B (A língua materna do Diogo é Português. A introdução ao francês – língua escolar - foi há 11 meses, de modo que esta classificação é notável);
- comunicar em diálogo e em grupo - A;
- dizer de memória um texto - A;

Linguagem escrita
- contar uma história ou acontecimento – B/C (novamente, em Português não se nota qualquer dificuldade nesta competência por parte do Diogo);
Leitura e escrita
- perceber o sentido de uma frase na leitura - A;
- diferenciar palavras, silabas e letras - A;
Interpretação
- compreender um texto lido pela professora - A;
Escrita
- reconhecer as diferenças gráficas duma mesma letra e palavra - A;
- escrever de forma legível e respeitando as regras da escrita – B;
Produção escrita
- copiar uma frase com um modelo - A;

Matemática
Numeração
- enumerar e quantificar - A;
- contar até - 39+
- classificar os números, comparar grupos - A;
Geometria
- escrever números - A;

Descobrindo o mundo
- situar-se no tempo e fazer sequências cronológicas - A;

Matéria e tecnologia
- manipular e utilizar técnicas simples - A;
- compreender e respeitar regras de higiene - A;

Educação artística
Educação musical
- cantar canções simples - A;
- participar em actividades com instrumentos - A;
- escutar um registo sonoro - A;
Educação visual
- manifestar interesse por actividades de artes plásticas - A;
- escolher a plicar uma técnica para fazer uma produção pessoal – A;
- provar criatividade e imaginação;

Educação física e desportiva
- participar em jogos de oposição e jogos colectivos – A;
- participar em actividades atléticas e ginastas – A;

Comportamentos e métodos de trabalho
- respeitar as regras da escola e da sala – A;
- estar atento e concentrar-se na realização de uma tarefa – A;
- trabalhar a um ritmo satisfatório – A;
- ser cuidadoso com o seu trabalho – B;
- compreender o trabalho – A .

Estou muito satisfeita porque sei que são muito exigentes pelo que a avaliação não podia ser melhor. Não quero no entanto de deixar de escrever que a melhor avaliação que nós temos é a sua satisfação diária em ir para a escola.

Patrícia

Aos 20 meses

O desenvolvimento da linguagem da Catarina tem sido impressionante. Claro que sou parcial no julgamento mas para quem estava preparada para vê-la a começar a falar por volta dos dois anos e meio, três anos, com base nas teorias de que as crianças expostas a mais do que uma língua desenvolvem a linguagem tardiamente, estou (e não sou a única, o que me encoraja escrevê-lo) impressionada.

Não sinto diferenças em relação ao Diogo que, em abono da verdade, sempre foi precoce no que respeita à linguagem. Pelo contrário, a Catarina, com 20 meses, tem o cuidado de dizer “(s)antinha” cada vez que alguém espirra, ou “bigada” sempre que lhe dão algo que pede. Há muito adulto que se esquece destes básicos!!!

Mas o seu desenvolvimento não fica pela linguagem. Esta manhã, após um bocejo do Nuno disse “papá (s)ono”. Está sempre atenta. Faz legos com o irmão – claro que apenas sobrepõe a peças mas ainda assim, são legos próprios para idades dos 5 aos 12, e não legos gigantes (na escala para pequenotes). Percebe o conceito e tem a motricidade fina para os encaixar.

E como cereja em cima do bolo a personalidade parece ser vincada. Este facto é um pau de dois bicos. É difícil (ou impossível) convencê-la de algo. Por enquanto podemos fazer-nos valer da autoridade parental mas se continuar assim antecipo sérias pegas. Digo que é cereja em cima do bolo se conseguirmos incutir-lhe a filosofia de causa – consequência, ou seja, ela pode fazer as escolhas que quiser se assumir as responsabilidades e consequências inerentes a essa decisão – base da nossa conduta e princípio basilar da nosso papel de pais.

E o que é engraçado é que a convivência com a Catarina me tem permitido perceber algumas frases dos meus pais em relação a mim e a diferenciação para com o meu irmão. Pois bem, é agora claro para mim que a resposta à Catarina é, em muitos aspectos, diferente daquela que tenho para com o Diogo.

Patrícia

18.12.07

O Luxemburgo

e a nossa ida lá ficaram por comentar. Faço-o agora.

De novo os sentimentos contraditórios, como em tudo aquilo que mexe com Portugal. Mais uma vez de volta a este tema, já me aborreço a mim próprio, mas não será por isso que deixarei de falar sobre ele.

No Luxemburgo estivemos bem, sentimo-nos confortáveis. Nada a relatar senão um contínuo bem-estar, como se estivessemos de volta a casa.
Aproveito para deixar aqui uma palavra de agradecimento aos nossos amigos Marta e Miguel pela recepção calorosa de que fomos alvos. De tal forma o foi que vejo com agrado a possibilidade de repetição futura da viagem até lá.

Por falar na viagem, acabou por correr bem. Tínhamos algum receio do comportamento dos putos mas portaram-se bem. A viagem não é tão longa quanto isso, apesar de se atravessar vários países a distância total não chega aos 400 kms.
No regresso o clima não foi favorável: houve um momento, já em território holandês, em que a autoestrada se tornou intransitável por causa do volume de precipitação. Basta lembrar que entrámos em aquaplanning a 80km/h com aquele carro.

Já o país em si parece não existir, encurralado pela sua dimensão residual entre os monstros alemão e francês. A minha percepção é que o Luxemburgo não passa de um conjunto de estradas a ligar os países adjacentes, faz lembrar aquelas regiões alentejanas que se demarcaram enquanto pontos de passagem nas viagens cíclicas entre o Algarve e o resto do país.

No fundo não é uma questão de tamanho mas de carácter. O Luxemburgo pareceu-me território de ninguém, uma espécie de zona franca à espera de desintegração por uma qualquer legislação. Os nossos amigos trabalham lá mas vivem na Alemanha e fazem compras em França.

Sente-se uma presença portuguesa relevante. De certa forma, fiquei com a sensação que sempre que tiver saudades basta-me percorrer 400 kms em vez de 2000. Na verdade, reduziu em enorme medida a vontade de ir a Portugal pelo Natal.

Ao mesmo tempo, rejuvenesceu o meu gosto por este nosso país de adopção. Aqui sente-se uma identidade fortíssima, uma cultura dominante apesar dos inúmeros expatriados. Posso dizer que, em pleno frenesim de portuguesismo, me senti mais Amsterdammer que nunca.

Nuno

15.12.07

Voltar a Portugal

nesta fase não faz qualquer sentido. Não tenho grandes angústias sobre o assunto.

Esta não foi primeira vez que sai do país, não por não gostar muito dele, mas por querer fazer as coisas de outra forma. A verdade é que não acredito no país tal como agora o vejo e sinto. Várias vezes disse que o pior momento da minha vida foi quando tive de regressar da Suíça para Portugal (já fez 11 anos). As circunstancias eram diferente mas o espirito critico era grande já na altura. Hoje digo que foi também um período muito difícil aquele em que o Nuno já estava na Holanda e nós não, e uma fase (não a inicial) já aqui.

O investimento emocional foi muito grande. O custo da mudança não se pense que não pesa. Mas agora está feita. Sujeitar de novo os pequenotes à mudança não me parece boa ideia, não já pelo menos e certamente não para Portugal. Podemos não ter o bolo rei, a manteiga portuguesa, os bolinhos e os cafés, mas temos o privilégio de estar-lhes a proporcionar uma educação nossa e coerente.

Hoje é Sábado. Neste preciso momento estão os filhotes abraçados a dançar na sala e a ouvir música infantil portuguesa. São meninos felizes. E no forno está um bacalhau com natas preparado para receber mais logo novos amigos, também eles expatriados, vindos de Espanha, Itália, Irlanda, China e Roménia. Temos também queijo, chouriço, croquetes, e claro, um belo vinho tinto, da região demarcada dos vinhos do Dão. Fazemos questão de lhes oferecer apenas produtos portugueses, tentamos transmitir-lhes o nosso pais. Não o esquecemos, somente o celebramos e promovemos cá fora e à nossa maneira.

Patrícia

14.12.07

uns minutos antes

de me sentar ao computador a Patrícia chamou-me para ver a Catarina. Não me disse para quê para manter a surpresa. Quando cheguei à sala a minúscula estava sentada à frente do computador, de rato na mão e a comentar o que via no ecrã.
Agora está a reclamar comigo porque lhe ocupei o lugar, isto enquando me rapta o rato e se passeia pela sala com ele.

Entretanto largou-me e foi atormentar o irmão. Filhote, vais sofrer nas mãos dessa mega-peste. Mas também vai provavelmente ajudar-te muito.

Nuno

e mais do mesmo

Ainda no mesmo tempo, eis que resolvi o mistério do vai-e-volta.

A resposta é na verdade simples dentro de uma complexidade irresolúvel: não há regresso possível. Não ao país, pois é sempre possível regressar fisicamente, mas ao que era.

Acabou, qualquer tentativa nunca será mais do que uma reposição digitalmente composta de um clássico da televisão dos anos 60: não acrescenta nada e só aumenta a nostalgia de algo irrecuperável.

Como tentar reviver os tempos da juventude, voltar ao país de origem depois de emigrar só poderá resultar numa enorme frustração.

Nuno

quase Natal

e os já habituais sentimentos contraditórios.

Nesta altura volta a assaltar-me a dúvida fundamental: e se de repente se proporcionasse voltar para Portugal? Refiro-me a uma oportunidade inquestionável, de tal forma que só deixasse espaço à vontade. Que faríamos então?

Olho para nós e vejo pouca disposição para voltar a partir. Todos estamos confortáveis, adaptados e rotinados, os grãos de areia na engrenagem foram lentamente retirados e tudo funciona sem hesitações.
Escusado será dizer que continuamos a interrogar-nos regularmente mas já o fazíamos em Portugal, nada mudou nesse campo.

A verdade é que Portugal se transformou no nosso estrangeiro. Penso que já comentei o tema aqui mas não consigo evitar o regresso a esta questão que me atormenta. Talvez porque um novo ano está à porta, parece-me uma boa altura para tomar decisões relevantes. Ou simplesmente porque vamos a casa e já não consigo pensar no meu país como tal.

Os nossos filhos estão a transformar-se em verdadeiros emigreses. Só por persistência pura conseguimos que mantenham o português.
E a conversa com o Luís fez-me perguntar porque insistimos nisso, porque não deixamos o inevitável acontecer. Queremos mesmo regressar?

A Patrícia já quer deixar de ir a Portugal pelo Natal. E eu compreendo-a. Se esta passou a ser a nossa casa (porque assim é, aconteceu naturalmente) é aqui que devemos celebrar as grandes ocasiões.
Ainda sou contra mas não sei até quando. Aos poucos começo a ter mais vontade de explorar o resto do mundo que ainda não vi do que voltar para trás. Mesmo a Holanda começa aos poucos a parecer-me pequena (quero dizer em termos de prejecção, pois fisicamente é indiscutível), imagino-nos noutros sítios.

Deixei de pertencer. Tenho agora projectos em Portugal e o meu chefe deu-me liberdade para ir antes das reuniões para passar mais tempo lá. Recusei, já não sei o que lá faria.
E as pessoas esquecem, raríssimas são as que fazem esforço por manter contacto. Para a esmagadora maioria a iniciativa tem que ser nossa. Mas o investimento é grande e suponho que com o tempo deixe de ver a razão para continuar a fazê-lo. Há tanto para onde ir, tanta gente para conhecer e Portugal começa a ser tão pequeno.

Divagações de emigrante. Agora só sonho com bolo-rei e uma bica.

Nuno