22.2.10

gomas

Ainda outro episódio caricato da Catarina para não esquecermos ou deturparmos no futuro.

Como quase sempre acontece à hora do jantar, no Sábado passado a minúscula reclamou com a comida (hamburger de frango...) e passou o tempo todo da refeição a levantar-se da mesa para todo o tipo de obrigaçãoes imaginárias, acabando por deixar quase tudo no prato.

Apelando a todo o nosso sentido pedagógico, fomos insistindo para que voltasse para a mesa e comesse mas (desta vez) evitando o conflito e mantendo a paz na casa. Afinal era Sábado e queríamos assegurar um fim de dia tranquilo e uma hora de deitar que lhes permitisse recuperar das perdas de sono da semana.

Depois de levantada a mesa, lavada a loiça e quando nos preparávamos para iniciar os preparativos para a cama, o Diogo pediu para comer um rebuçado. Assenti e, como seria de esperar, a Catarina imediatamente cheirou a oportunidade e tentou juntar-se à festa.

Recusei e expliquei-lhe porquê (penso que posso evitar aqui a lenga-lenga). Como está bom de ver, não aceitou a minha lógica e começou num daqueles berreiros de acordar mortos. Queria gomas, tinha fome, o mano teve, aquilo e aqueloutro.

Voltei a explicar, e outra vez, até já não me poder ouvir. Mas a sua resposta continuava invariável e persistente. Nem uma variação de discurso se lhe notou, numa clara estratégia de desgaste digna dos mais ilustres políticos.

E assim foi durante mais de uma hora. O Diogo desesperava, gritava-lhe para parar, mas ela continuava. A Patrícia e eu nos mantivemo-nos impassíveis durante o tempo todo mas no final achei que ela estava a ir longe demais e acabei por repreendê-la.

Depois de um pequeno amuo, acabou por aceitar. Mas ainda agora é difícil acreditar na perseverança da rapariga.

Nuno

21.2.10

A artista

Na Sexta-Feira fui buscar os miúdos ao after-school e fui acolhido por uma das educadoras com enorme entusiasmo.

Ela esperava ansiosamente para me dizer que a Catarina tem um enorme talento para a pintura. E dedicou alguns minutos a explicar porque me dizia aquilo: a selecção de cores, a imaginação nos temas, a certeza do traço, etc.

Não me surpreendeu, já faz algum tempo que nos apercebemos que a minúscula tem queda para a coisa. E este reconhecimento deixa-nos muito orgulhosos, como acontece com todos os outros talentos dos nossos pequenotes.

Mas, como respondi à rapariga quando lhe deu para mencionar escolas de artes, não vale a pena pôr-lhe ideias na cabeça: ela que se desenvolva de forma equilibrada e tudo surgirá de forma natural.

Se tiver de facto uma predisposição para as artes, tal será indisfarçável a partir de certa altura. E ainda aí não lhe daremos tréguas quanto ao resto das facetas do desenvolvimento pessoal.

Nuno

Filhotes em crescimento

Vê-se em tudo mas o mais mesurável são os pés:

A Miminha usa agora sapatilhas de ballet ,número 30, (acho que o ideal seria 29 mas como os collants variam de lã para mouse...) para as suas aulas de graciosidade:
e o Campeão tem novas chuteiras, número 33, para andar a brincar com as bolas nos relvados (gelados, neste momento) nos seus treinos de futebol:

Patrícia

20.2.10

Bilbao

No Verão de 1995 fui com os meus papás ao Norte de Espanha. Lembro-me que adorei San Sebastian por achar tudo muito limpo e arranjado, e lembro-me dum belo Parador que ficámos no regresso a Portugal. Lembram-se onde era?

Quinta e sexta (quase 15 anos depois) estive em Bilbao para uma reunião de trabalho. Senti-me quase em casa: clima, cheiros, língua (refiro-me ao castelhano, claro), comida, forma de estar...

Bilbao é a capital da província de Vizcaya (e a cidade mais populosa do Pais Basco) e banhado pela rio Nervión. É a principal cidade de Euskadi (ou país Basco) e seu motor económico. O País Basco é uma comunidade autónoma que tem sido governada localmente, com instituições e regras próprias, desde longa data. Este regime autónomo foi retirado durante o regime franquista e devolvido com o reconhecimento da "nacinalidade histórica" pela Constituição Espanhola de 1978. As língua oficiais são o castelhano e o euskara.

Desta vez consegui um tempo livre (as pessoas que fui visitar deram-me um bilhete para aquilo que elas recomendm na cidade) e assim, fui visitar o Guggenheim Museum Bilbao, aberto ao público em 1997, com coleção de arte contemporânea. Não sou especial apreciadora de pintura. A arquitectura do edifício, só por si, justifica a visita. E gostei de algumas das exposições que vi.





As viagens em trabalho deviam contemplar, obrigatoriamente, algum tempo para se poder ver algo do sitio que se visita. Nem que seja por cortesia por quem se visita que sempre quer mostrar uma parte do seu mundo.

Patrícia

Alguns trabalhos da Miminha

Este tem graça pelo desenho da casa por baixo da pintura: modelo holandês.



Algo nela de instinto predador. Que se mantenha!



Tudo no lugar certo:

Patrícia

16.2.10

Sensação de frustração ou emigrante deslocada

Hoje é dia de Carnaval. Não apenas em Portugal mas no mundo, já que o Carnaval não é um feriado móvel.

A pensar no como me divertia a mascarar-me, inquiri ontem o director da escola se poderia mascarar a Miminha. Disse-me que sim. Ao fim do dia de ontem o Campeão apareceu a dizer que a professora tinha dito que poderia ir mascarado.

Ora ontem prepáramos os fatos para o Carnaval. Todos contentes com a dita data.

Hoje de manhã os meninos vestiram-se: a Miminha de Polaca e o Campeão de Cavaleiro. Pintei-lhes a cara como manda a praxe. Estavam girissimos e prontos para ir brincar ao Carnaval.
Saímos de casa e lá fora mais um dia de neve (já irrita, estou mais do que pronta para a Primavera). Chegámos á porta da escola – os primeiros a chegar como tantas vezes – os nossos pimpolhos felizes da vida com a alegria de menino mascarado. Outros meninos começaram a chegar. Mais ninguém estava mascarado.

Miúdos não perdoam e começaram a perguntar-lhe porque tinha um bigode pintado. O Campeão começou a ficar calado. Pediu-me para lhe tirar o disfarce porque era o único. Na casa de banho da escola tirei-lhe a pintura, o colete e a capa. Troquei as camisolas e estava preparado para um dia normal de escola.

A Miminha entrou feliz na sala de aula, radiante com a sua roupa e cara (mais especificamente olhos) pintada. Assim ficou todo o dia, satisfeita por ser a unica com o seu disfarce. Ainda me disse ao fim do dia que nenhum dos meninos sabia que hoje era Carnaval que ela é que teve de lhes dizer...

Depois de os deixarmos ficámos destroçados. O Grandalhão com o coração partido pela situação, eu revoltada e a questionar-me se seria possivel e que me teria enganado na data ou onde estaria metida entre bárbaros que passam pelo Carnaval ao lado como se nada fosse. Hello! Ninguem brinca ao Carnaval por aqui?!?

A Miminha pareceu ficar bem. Mas o Campeão, ter-se-ia sentido embaraçado e teria isto tido algum impacto? Passámos o dia na dúvida. Fomos buscá-los ao after scool e lá estavam ambos felizes da vida - como se nada se tivesse passado.

Tudo bem quando acaba bem. Ainda assim me pergunto, onde raio estamos nós metidos que esta gente, mais concretamente as crianças desta gente, não celebram o Carnaval? Dá vontade de fazer uma festa de máscaras. Ou mudar para o Brasil...

Patrícia

Don Quijote de la Mancha

Mais um ano e abro oficialmente a tradição de que dia dos namorados é dia de ballet. O ano passado vimos a Giselle e este ano fomos ver o “Don Quichot”, também ao Het MusiekTheater Amsterdam. O espectáculo é dançado por o que creio ser a companhia de bailado holandesa e a coreografia foi do russo Alexei Ratmansky. A música do bailado é de Ludwig Minkus e foi tocada pela sinfonia holandesa.

A performance foi absolutamente espantosa com o equilíbrio certo entre humor e seriedade, a coreografia e o guarda fatos fantástica, e a prima bailarina a pura essência do que um bailarina deveria ser.

O espectáculo estava previsto para durar 2 horas e 45 minutos repartidos por 3 partes. Aguentámos as duas primeiras e depois, no segundo intervalo, tornou-se evidente que a Mimina iria começar a disparatar pelo que optámos por sair. Com muita pena minha e do Campeão que estava a adorar o D. Quixote e seu fiel e cómico Sancho.

Patrícia

12.2.10

3 anos e 10 meses - Catarina

Altura - 105,5 cms (um bocadinho acima da média, creio que holandesa)
Peso - 17 kgs (na média)

Vacinas obrigatórias todas em dia - próxima só aos 9 anos. A facultativa, da gripe suína - epidemia do ano -, optámos por não dar.

Patrícia

7.2.10

35 anos

Completei os 35 anos - número bonito resultado da tabuada que oiço o Campeão soletrar: “7 vezes 5 = 35” - e sinto-me bem com a idade. Há 20 anos atrás acharia que aos 35 anos seria uma mulher madura. Certamente daqui a 20 anos acharei que, aos 35, era ainda uma miúda. 35, diga-se o que se disser, é simbolo de plena actividade, já contem uma certa bagagem e a vontade de mudar, não o mundo mas uma parte dele.

Aos 35 anos sinto-me tanto o veículo como o destino. Carrego histórias e sonhos, palavras e canções, simbolos e mitos. Sinto que cuido do mundo à minha volta a cada segundo.

Tive um fantástico pequeno almoço, com um lindíssimo ramo de flores, preparado pelo Grandalhão e meninos.


E ainda um postal maravilhoso com o que somos.


Apaguei as velas do bolo de aniversário na presença do meu Companheiro e Amor da minha Vida, dos fihotes, dos amigos ‘de agora’ e seus filhotes. Recebi telefonemas e mensagens de pessoas queridas e de diversos percursos do meu caminho até chegar aqui. Senti-me acarinhada e acompanhada ao longo do dia. Sabe tão bem, ter a atenção e o mimo neste dia daqueles que sentimos a falta ao longo do ano, dos anos...



Um dia de balanço. Um dia de especial carinho dos que me acompanham no dia a dia e dos que ganhei e perdi, e recuperei por momentos com os votos de parabéns hoje. Um dia gostoso como todos os aniversários deveriam ser.

Felizmente, não tenho a vida perfeita – que assustador isso seria – mas tenho a certa e aquela que me cabe (umas vezes por decisão, outras por sorte).

Patrícia

4.2.10

Avaliação do primeiro semestre da Miminha

Recentemente todos os pais foram chamados para o balanço do primeiro semestre da experiência dos seus filhos numa turma bilingue. Hoje foi a nossa vez.
Reunião com os dois professores - o de francês e a de inglês - e dividida em dois grandes temas, comportamento e actividades escolares.

Começou o professor de francês a dizer que não nos deveria surpreender por dizer que o comportamento da Miminha é óptimo: faz o que lhe pedem, quando pedem, interage e brinca com os professores e com os outros meninos. Ora o professor estava enganado porque me surpreendeu! Em casa tem sempre o não pronto para cada coisa que se lhe pede (quanto mais rotineiro melhor: lavar os dentes, levar a mochila, ir para casa, hora do banho, sopa, hora da cama...) e está disposta a armar uma guerra por cada um dos pedidos. Sempre disse que achava que a disciplina do liceu francês lhe iria fazer bem mas pelos vistos há uma linha bem delineada entre comportamento em casa e na escola.

Ainda sobre o comportamento foi-nos dito (isto realmente não foi uma surpresa) que denotam na Miminha uma certa veia autoritária em actividades livres. Ou seja, se nenhum adulto a está a dirigir, ela entende que deve ser ela a encarregar-se de “pôr as tropas a mexer” e que diz aos outros: vamos brincar a isto, tu és isto, tu aquilo e eu aqueloutro e é assim e acabou.

Quanto à actividade escolar dela, dizem que é impressionante. Pinta tudo dentro das linhas e as pinturas parecem ser feitas por uma criança de outro nível de escolaridade. Absorve de uma maneira absolutamente rápida (“muito mais rápida do que as outras crianças”, segundo a professora de inglês) as línguas. O professor de francês fez questão que lhe confirmássemos (novamente) que quando entrou no liceu, em Setembro, a Quiqucha não sabia falar francês, à excepção das palavras de sobrevivência “bonjour, pipi, eau, oui, non” que na ânsia do desafio que aí vinha para a minha pequenina, fiz questão de lhe ensinar. Diz que a evolução do francês dela é notavel, que já constrói frases com várias palavras e que não faz sentido dar-lhe aulas de apoio às quartas feiras porque “ela aprende depressa demais”. A professora de inglês disse, repedidas vezes, que o caso dela é fascinante, enquanto o professor de francês (também o director da escola) confessou que usa sempre o caso da Miminha como o exemplo aos pais que vêm procurar a escola mas que têm dúvidas sobre o facto de uma experiência bilingue poder ser confuso para os pequenotes. Também disse que diz aos pais que não é uma experiência indicada para todas as crianças.

Em duas semanas, os adjectivos pelos respectivos professores sobre os nossos filhotes são brilhante e fascinante. Uma honra enquanto mamã das criaturinhas, sobretudo quando é sabido que o ensino francês não se alicerça propriamente no conceito de reforço positivo para motivar as crianças: se fizeram mal, depressa e sem dó, ouvirão que fizeram mal e que a ideia é um disparate puro!

Enfim, estou mais inchada do que a rã que queria ser maior que o boi - quem não estaria ao ouvir semelhantes coisas? O Grandalhão é testemunha que isto foi o que hoje foi dito (e sendo ele muito parcial em relação à Miminha e eu a “implacável”, decidi antecipar-me para ser um relato mais fidedigno).

Derreada num dia, babada no outro. Será justo dizer que da Catarina posso ter a certeza que sempre virão surpresas e emoções fortes.

Patrícia

3.2.10

Momento pedagógico

A uns 10 passos da porta do supermercado, depois de arrumar o porta moedas na carteira, ajeitar o saco das compras, a saco da padaria e as mochilas dos pequenotes reparei que a Miminha tinha algo na mão. Algo INDEVIDO na mão. Algo que não era dela e que não pagámos pelo que alerta máximo na minha cabeça: ela roubou.

Milhentas ideias me passaram pela cabeça em segundos. Será que ela tem consciência Tem (apenas) quase 4 anos... Sim tem, era uma caixa de pastilhas elásticas, tipo gorila. Ela sabia que eu nunca lhe compraria aquilo, nem tentou sequer e, para mais, estava a esconder, portanto sim nao tenho dúvidas, ela tinha consciência de que estava a fazer algo de errado. Mais outras duas questões, importantes, me passaram pela cabeça. A primeira, a necessitar de resposta imediata: o que fazer? A segunda, mais complicada, será que isto me diz algo sobre o carácter da minha filha e que não quero ver?

Como resposta à primeira, fi-la dirigir-se ao balcão do supermercado para devolver o que não era seu. Fi-la pedir desculpa, claro. Mas o problema da linguagem aqui tirou o efeito que queria que esta situação tivesse. Eu não tenho holandês para a fazer passar uma vergolha e ela não tem inglês para se envergonhar se quisesse fazer um discurso com essa intenção à frente da menina da caixa.

Imagino que todas as crianças, em dada altura da sua vida, experimentem a brincadeira. Eu fi-lo. Fui apanhada pela minha tia, depois de saída da mercearia do bairro, me estar a tentar desfazer de um chocolate que tinha tirado - tal era já o peso da minha consciência. Não me expuseram, fizeram devolver ou pedir desculpa mas nunca me esqueci. Esperava que o fizessem mais velhas. Estaria mais preparada, talvez, se fosse o Campeão a fazê-lo, ou talvez não, porque estou convencida que ele não o faria...

Estaria só a testar? E teve a minha reacção algum efeito? Positivo? Acho que vou ter de esperar para ver. Ou talvez nunca veja. Não é o fim do mundo (se calhar amanhã rio-me disto) mas agora, no calor do acontecimento, estou derreada.

Patrícia