31.7.07

Perspectiva


Ontem à noite soubemos que a casa que actualmente arrendamos irá a mercado no final deste ano. Não a queremos comprar por inúmeros e variados motivos. Apesar de certa forma esperarmos por isto, a confirmação desta nova tem implicações: nova ronda de horas a ponderar se partimos ou se ficamos; se compramos ou arrendamos; quem nos fará a mudança; quanto custará; como reagirão os nossos filhos; e depois, o processo implementação...

Não é que com isto “caia o Carmo e a Trindade” - expressão idiomática que deriva da época do terramoto de um de Novembro de 1755, em que desabaram as igrejas do Carmo e da Trindade, situadas no centro de Lisboa -, mas é, certamente, mais um desafio / obstáculo (dependendo da perspectiva), a ultrapassar. E, de uma forma ou de outra, ultrapassaremos.

De qualquer maneira, hoje tivemos a sorte de ver um arco-íris no inicio do dia. E ver um arco-íris é sempre um acontecimento (acho que por isso os antigos criaram todos os mitos a sua volta), um bom prenuncio! Ou pelo menos, é bom para lembrar que não existe realmente como um lugar no céu, antes tratando-se de um fenómeno metereológico que causa uma ilusão de óptica dependendo da perspectiva do observador. Não é tudo na vida assim?


Patrícia

30.7.07

Ambivalência

Tenho tantas saudades tuas Diogo! Sei que estas férias estão a ser especialmente saborosas. Nos primeiros dez dias via fotos tuas na praia, na piscina, no jardim, no pomar, filmes de ti a andar de um lado para o outro no carro novo. Tão contente.

Agora tem sido mais complicado. Nunca gostaste de falar ao telefone, e isto do tempo começar a pesar, de quase não falar contigo, nem te ver está-me a custar um bocadinho.

Claro que espero que te divirtas muito mesmo, aproveitando ao máximo o tempo que agora passas com os teus avós. Se aqui estivesses não terias, certamente, o imenso carinho que ai te dedicam.


E conto os dias para, simultaneamente, te fazer um ataque de cócegas e te dar um ataque de beijos!

Patrícia

Portugal e o mundo,

neste caso em Amesterdão.
[Nuno]

Amesterdão vivida


Domingo à tarde, numa rua no centro da cidade: à falta de centros comerciais,
as lojas tradicionais continuam a atrair multidões.

[Nuno]

olimpíadas 2028

Folheava eu distraidamente um dos múltiplos jornais grátis com que os viajantes dos transportes públicos são brindados quando me deparei com um título que me obrigou a fazer o esforço sempre indesejado de ler o texto completo (o jornal é holandês, relembro): a Holanda vai candidatar-se à organização das olimpíadas de 2028.

Dito assim, inclino-me a concordar que não parece especial. A peculiaridade reside no facto de já estarem a preparar-se para essa candidatura. Em 2007, 21 anos antes do evento, 9 anos antes da data limite para a apresentação das canditaturas (2016), décadas antes de qualquer pessoa de mente sã sequer se lembrar dos jogos olímpicos de 2028.

Toda esta motivação advém da possibilidade de celebrar o centenário dos anteriores jogos olímpicos organizados na Holanda, em 1928, justamente com evento igual. Concordo que teria a sua graça, mas poderá ser algo exagerado constituir comissões e atribuir recursos humanos de alto gabarito em permanência a um desígnio de tal forma hipotético.

Mas quem conviva com este povo percebe que isto é apenas normal. A organização é uma fixação, tudo é planeado com suficiente avanço para evitar imprevistos e os assuntos estratégicos são decididos com antecedência e com independência da orientação política vigente.

Porque esta orientação varia, como em qualquer ponto do globo. Mas não vigora a política da terra queimada, não se recomeça tudo só porque os antecessores vestiam camisolas diferentes.

Para mim, como português de gema, incomoda-me todo este planeamento. Lembro-me do Euro 2004 e da capacidade estonteante de realização que demonstrámos para provar que tudo se faz com vontade e motivação. Mas será que teríamos construído 10 estádios (que em boa parte o tempo veio a provar inúteis) se houvesse tempo e cabeça para decidir?

Claro que esta antecipação exige uma disposição adequada. Se tentássemos fazer o mesmo, provavelmente falharíamos miseravelmente pois perder-nos-íamos em querelas inconsequentes até ao momento em que alguém decidisse de forma autoritária e os outros aceitassem, não sem antes se vingarem com anedotas venenosas repetidas à exaustão.

Importa portanto perceber como funciona uma sociedade civil, como esta ganha direito a intervir e como se debate com clareza e finalidade questões de interesse público.

[Nuno]

fraldas

Apenas para memória futura:

D. V. => algures em Abril de 2005, alguns meses antes dos 3 anos
D. S. => entre os 3 e 4 anos, com avanços e recuos

C. V. => com 15 meses, forte consciência e avisos
C. S. => nada a assinalar

[Nuno]

27.7.07

5 anos


faz o Diogo este Verão e esta é a imagem que escolhemos para os convites.

Imprimi dezenas de exemplares aos pares em papel grosso, recortámos tudo num esforço de equipa, em que o Diogo participou com a organização e contagem, e dobrámos as imagens duplas ao meio, formando assim cartões para escrever a mensagem de convite para a festa.

Ele ficou todo contente, sobretudo porque isto se passou poucos dias antes de partir para Portugal de férias. Antecipava por isso naquele momento a visita à escola antiga, onde reviu todos os amigos e os convidou para a festinha.

O problema é que ele, tal como eu, faz anos em Agosto, um mês terrível para organizar festas. Vai acontecer provavelmente que acabe a celebrar os anos com muito poucos meninos. Custa-me um pouco mas não posso dizer que me afecte muito pois conheço bem a sensação.

De qualquer forma, espero que consigamos preparar um dia especial, ele bem merece depois de tudo o que ultrapassou no último ano.

[Nuno]

Visita ao antigo colégio

Mudamos de pais no inicio deste ano. Foi (e ainda esta a ser) uma mudança tremenda, porque faze-lo com filhos tem implicações que só quem passa por elas sabe. Quem tem filhos pode tentar imaginar, talvez por equiparação ao que é preciso para umas ferias, quem não os tem, então, nem vale a pena, porque simplesmente não tem referencias.

O Diogo tem sido espectacular neste processo. Com quatro anos e meio, teve de se ambientar a uma casa, pais, clima, comida, escola, vida novas. E tem tirado tudo de letra. Seis meses passados brinca com os seus novos amigos, como se tivesse estado naquela escola desde os três anos. Mais, enfrenta o “after school” com naturalidade e um sorriso. Menino de ouro, só nos podemos orgulhar imensamente dele.

Para a Catarina foi talvez mais fácil no inicio porque a senhora que nos acompanhava em Portugal veio connosco e a vida dela não mudou muito. Tinha nove meses. Quando, com um ano, teve de começar o infantário, é que a porca torceu o rabo. Numa entrevista no infantário tinha dito que ela era uma doçura, não dava trabalho e só chorava quando se magoava. Não é que a minúscula chorou todo o dia durante a primeira semana? Depois chorava só de manha, e finalmente, só quando a deixava. Agora é a menina dos olhos das educadoras...

Chegado o Verão (pelo menos o que convencionamos ser a estacão, porque sol só de vez em quando), entendemos ser o melhor para o nosso Diogo ir para Portugal, de ferias com os avos (tenho tantas saudades tuas filhote!!). E era aqui que queria chegar. Anteontem foi ao colégio, onde frequentou a sala dos três anos e um mais um trimestre da sala dos quatro. Fizeram-me hoje o relato, e aqui vai:

A Senhora que estava sempre à porta do colégio disse: “o Diogo fez um olhar muito acanhado, depois, quando me meti com ele, sorriu-me imediatamente”. Já a Educadora (com E maiúsculo porque é realmente fenomenal) disse-me que o achou muito crescido, que ele não ficou minimamente intimidado com ela ou com os meninos (“a sensação foi que ele ca tinha estado ontem”, disse), que o seu raciocínio é muito desenvolvido porque tenta arranjar soluções para os problemas, que está muito ágil, e tem uma personalidade muito flexível.

Só relatei...

Patrícia

Oedipus Child

Deixo o excerto de um artigo tirado da revista 'The American' através do 25 centímetros de neve:

'[...]
Recently, these stories have become relevant in an entirely new way. On May 16th, a Maryland State Court of Appeals decision determined that children born to surrogate mothers—with whom they have no genetic connection—can be legally motherless.

In August 2001, a surrogate mother—or “gestational carrier”—gave birth to the biological twin daughters of a man identified as Roberto d.B. When the hospital put the surrogate’s name on the children’s birth certificates as the legal mother, Mr. d.B. sued to have the certificates reissued without a mother, on the grounds that the surrogate is not genetically related to the children. The Court of Appeals granted his wish, basing its decision on Maryland’s Equal Rights Amendment, which guarantees men and women equal rights under the law. According to the opinion, “[T]he paternity statute, as written, provides an opportunity for genetically unlinked males to avoid parentage, while genetically unlinked females do not have the same option.”

The implications inspire a sense of foreboding. As Judge Dale Cathell noted in his dissent, the decision means that “an entrepreneur could contract with a sperm donor, contract with an egg donor, contract with an assembler, contract with a woman to carry the child through the gestation period, and a child could be manufactured with neither a mother nor a father…. The child could then be put up for adoption at a price—and a new business, in the spirit of American ingenuity, is created.”
[...]'

[Nuno]

Camisola amarela


Esta manha vinha a pensar na sorte que tenho em poder vir de bicicleta para o trabalho. Pois é, sair de casa e logo estacionada a porta, a minha super bike. Tirar os três cadeados (que o desporto nacional deste pais é o roubo de bicicletas), despejar as mochilas para as malas laterais, sentar a Catarina na cadeirinha da frente (apertar cinto), e o Diogo na cadeira de trás (apertar cinto), e “up we go!”.

E lá vamos nos, a cantar “os três soldados malucos”, ou algo que o valha. Fica a Catarina no infantário, depois o Diogo na escola, e lá sigo eu para o trabalho, que é o percurso mais distante.

Mas falava da bicicleta. A terceira. A primeira foi roubada, a segunda aguentou três dias com as cadeiras (não era resistente o suficiente para a distribuição de pesos, fui enganada), e esta é a terceira. Espero que dure! Pelo sim, pelo não, fiz-lhe um seguro.

Gosto da bicicleta porque:
- não ha grande problema de estacionamento: digo grande porque tenho de me certificar que fica presa a algo agarrado ao chão ou a parede, e a concorrência por esses locais é enorme;
- faço algum exercício: coisa que em Lisboa não fazia por falta de tempo;
- venho distraída com os meus pensamentos, a calcular o tempo, e a ultrapassar os obstáculos;
- sinto cada pedalada como uma vitoria, ao invés de ir sentada num carro e ver tudo passar ao lado, como se estivesse a ver TV e não a participar no percurso; e
- parei com a minha maior contribuição de CO2 para a atmosfera.

E assim me tenho deslocado nos últimos meses, quatro para ser mais precisa.

Patrícia

26.7.07

os nossos filhotes

são espantosos. Do meu ponto de vista, escusado será dizer. E quem quiser afirmar o contrário tem a caixa de comentários à disposição.
Mas não somos nós que os gabamos assim pois, embora tenhamos consciência da sorte que temos, não faz de todo o nosso estilo fazer gala dos méritos próprios - em bom português 'eu não sou de me gabar' -, são terceiros que o clamam aos quatro ventos.

Desde que o Diogo está em Portugal, os elogios têm sido constantes. Ontem deu-se a ida à antiga escola e o espanto foi geral pela absoluta naturalidade com que entrou e cumprimentou afectuosamente todo um mar de gente com quem não estava há mais de 6 meses.
Tem características de político, liga e desliga com facilidade estonteante o interruptor social: tanto dá a impressão de estar intimamente ligado às pessoas como as esquece sem remorsos, tudo isto num espaço temporal extremamente diminuto.
Graças a essa característica, não só conseguiu adaptar-se muito bem e depressa à escola aqui onde, apesar das diferenças linguísticas, reuniu já alguns amigos muito próximos como manteve na escola antiga inúmeros admiradores confessos, mesmo depois de meses separados.
Conta a professora que alguns miúdos ainda perguntam diariamente por ele, que fazem trabalhos a pensar nele e que ontem foi dia de festa na escola com a visita que lá fez.

Quanto à nossa Catarina, ontem foi também dia de elogios. A Patrícia foi com ela ao infantário para uma reunião com a educadora e a apreciação não podia ter sido melhor. Diz a senhora, que parece ter criado já uma relação muito especial com o nosso passarinho, que ela está bastante avançada para a idade numa série de capítulos.
Nada que nos surpreenda pois ao longo destes anos de experiência parental temos tido oportunidade de conviver com muitas crianças e temos uma ideia fundamentada do que é normal em cada fase; sabemos portanto que a minúscula está avançada no tempo.
A coordenação motora continua a ser o que mais me surpreende, fico embasbacado com a precisão e equilíbrio que ela demonstra com 15 meses, ao nível tanto da deslocação como do manuseamento de objectos complexos.

Mas isto tudo não sou eu quem o diz, porque eu nem sou de me gabar...

[Nuno]

24.7.07

ratos


em nossa casa. Ao que consta, em muitas casas das principais cidades da Holanda, resultado da omnipresença de água e zonas verdes, da idade dos edifícios e da (falta de) qualidade da construção, maioritariamente em madeira e cheia de pequenos buracos por onde os ratos se conseguem espremer para entrar.

Quando falo de ratos, afaste-se desde já a confusão, refiro-me a ratitos de 5 cms de comprimento. Por isso conseguem enfiar-se pelos tais buracos minúsculos provocados pelo desleixo da construção ou entre as frinchas de madeira. Se de ratazanas se tratasse, por mais que se contorcessem não conseguiriam passar. São animais vertebrados, não polvos.

Pelo facto de serem tão pequenos são quase engraçados, sobretudo se observados à luz do dia. Já à noite, quando vamos buscar leite para a pequenota e os apanhamos a passear pela cozinha, faz alguma impressão ver bichos a tomarem conta do nosso espaço. Assim como de manhã, quando nos preparamos para tomar o pequeno-almoço e nos deparamos com vestígios da sua passagem.

Já tentámos tudo: ratoeiras com todos os tipos de iscos (no início resultaram mas a partir de certa altura perceberam a lógica e não mais se deixaram apanhar), veneno (este nem sabemos se resultou) e até vasculhar a casa por possíveis locais de entrada para depois tapá-los. Tudo parece ter resultados temporários mas os ratitos arranjam sempre maneira de voltar.

Será que vamos ter que comprar um gato? Mas um vadio, daqueles que perseguem ratos mesmo com a barriga cheia, nada de Garfields lá para casa...

[Nuno]

meninos em mãos de bruxas,

diz o meu pai para ilustrar os efeitos da convivência do Diogo com as avós. Na verdade, ele acaba por ser um dos piores, cedendo (e antecipando) a todo e qualquer capricho dos netos de forma totalmente despudorada.

Reprimida a ânsia de agradar aos netos durante meses, os avós comportam-se agora como deseducadores descomplexados. Já não disfarçam, assumem abertamente que o tempo que tiverem com eles será para os mimar (equivalente politicamente correcto do mais adequado 'estragar') sem restrições.

Tudo é possível, se o menino quer o menino tem. E, no meio de tanta alegria, até nós temos direito a elogios. De bestiais a bestas, como diz o meu pai, momentaneamente em direcção inversa. Resta saber a velocidade com que, assim que acabarem as férias, voltamos ao sentido habitual.

O Diogo vai estar 20 dias em Portugal sem nós. Este período será dividido em 2: metade para os avós maternos, metade para os paternos. Não é portanto uma eternidade, dá para matar saudades mas dificilmente se compara aos 3 meses de férias a que normalmente associamos o Verão.

Para os 10 dias que vai passar com os avós maternos recebeu, entre milhentas outras coisas, um carro eléctrico (isso mesmo, um daqueles grandes que custam uma pipa de massa).
Ora a última vez que ele se tinha sequer lembrado que tal coisa existia foi há mais de um ano, numa visita à loja de brinquedos, durante a qual se sentou em 20 carros diferentes, saiu de lá de mãos vazias mas muito satisfeito pelo tempo passado.

Os avós sabem, porque foi repetidamente conversado no passado, que nós não somos favoráveis a este género de brinquedos que facilitam a vida às crianças. Gostamos de lhes dar desafios físicos e intelectuais, de os obrigar a criar as suas brincadeiras, de lhes ensinar que o esforço compensa. Estes carros eléctricos incitam-nos, acreditamos nós, à acomodação.
Se é para ter carros, que sejam daqueles a pedais. Mas para quê ter carros se já tem bicicletas, triciclos e outros objectos do género?

Como começa a ser costume, a primeira ocasião em que não estamos presentes foi ideal para deseducá-lo. Procuro lembrar-me que não é assunto meu, que está fora da minha esfera de educador, que faz parte da relação entre netos e avós, mas tudo isso foge à verdade.

A verdade é que nada posso fazer para não gerar conflitos, porque não quero privar os miúdos da presença dos avós e porque a harmonia familiar também depende da minha capacidade de aceitação e transigência.

Deixo aqui então apenas a nota de incompreensão por uma atitude consciente de avós que já foram pais e que conseguem concerteza imaginar o que custa ambientar uma criança de 4 anos a um país novo e a dificuldade que encontraremos em entusiasmá-lo com a ideia de voltar para cá.

[Nuno]

20.7.07

First shoes


Eis os primeiros sapatos da Catarina que hoje seguem para reforma. Os sapatos com que (oficialmente) deu os primeiros passos. Sapatos a sério, com sola grossa, para poder andar na rua segura de que os pés não vão ficar magoados ou molhados, com calcanhar reforçado para que os pés cresçam sustentados.

Escolhemos sapatos vermelhos porque (gostámos deles e) ouvimos dizer que é tradição, no Brasil, oferecer-se sapatos vermelhos a bebés como votos de saúde. E saúde te desejamos!

Patrícia

19.7.07

As Quartas-feiras

Ontem (quarta-feira) foi dia de ficar em casa. Não por doença (minha ou familiar), também não por ser preciso alguém em casa (para receber o electricista ou homem dos telefones). Fiquei, porque os hábitos do país que nos acolhe são diferentes, e uma dessas diferenças é que as mães não trabalham a tempo inteiro mas em regime de part-time (isto quando trabalham). E como diz o ditado (quase direito consuetudinário): “em Roma, sê romana”. Pois eu, na Holanda (e ressalve-se que neste aspecto), sou holandesa, quer dizer, não trabalho cinco mas quatro dias por semana.

As razões para este costume são muitas: historicamente, porque nas guerras mundiais os homens não foram para a guerra (foram território invadido e pronto), logo as mulheres não tiveram de ocupar os seus lugares nas fábricas, empresas e diversas actividades; o pais tem gozado de saúde financeira; qualquer mãe gosta de poder dedicar tempo aos filhos; é muito bem aceite profissional e socialmente (já trabalhar em regime de full time tendo filhos é visto como uma bizarrice, “que raio de mãe dedica todo o seu tempo ao trabalho?”); o custo de ter varias crianças num infantário é elevado, etc.

Já as minhas razões para esta aculturação são outras: a principal é de facto poder acompanhar mais os meus filhos. Em Portugal tinha a doce Narcisa que tratava deles (e de nós), tinha a minha alegre mãe e a minha pedagógica sogra que muito tempo lhes dedicavam, dando-me espaço para outras preocupações; tinha a carrinha do colégio que ia buscar e trazer o Diogo (alguém quer lançar aqui o easybus??), os horários eram mais alargados. Aqui não há disso. Os meus filhos tem-me a mim e ao pai. Os horários são curtos. O pai trabalha longe. A(s) língua(s) é(são) outra(s) e é nossa intenção manter o português correcto. Isso exige tempo com eles. E bom tempo, de preferência.

Ainda só experimentei 2 quartas-feiras em casa. Não posso avaliar, ainda, qual será o meu sentimento. Por agora sei que é uma escolha consciente, em favor da minha família. É que isto de ser mãe tem esta armadilha muito matreira, escolhe-se o que entendemos ser melhor para eles. E se o é para eles, assumimos que é também para nós. Em alguns casos será uma afirmação verdadeira, noutros falsa. Por hora, estou em crer que é a melhor decisão para todos. Depois, logo se reavaliará.

Agora, às quartas-feiras dá vontade de escrever no out of office: “Às quartas-feiras (hoje) dedico-me na integra ao mega projecto dos recursos humanos vindouros”.


Patrícia

férias

O Diogo está em Portugal com os avós, a passar férias sem nós. Não é a primeira vez, mas o facto de estarmos fora do país acrescenta algum peso emocional à separação.
Mas a verdade é, confesso aqui para quem quiser ler, que não me sinto minimamente agastado com a distância. Sinto infinitas saudades dele, vejo constantemente o buraco gigante em forma dele que ficou na casa e em todos nós mas desejo intensamente que se diverta e se lembre pouco de mim, pois também me sabe bem este tempo calmo sem ele.

Isto a propósito do relato que recebemos ontem, segundo o qual o nosso campeão teria acordado às 4.30 da manhã (não é erro de simpatia, ele acordou mesmo de madrugada), foi para a sala brincar e às 6 foi acordar a avó enquanto lhe chamava dorminhoca.

Do que conheço do meu filhote, esperou pelo nascer do dia para decretar oficialmente que estava na hora de acordar. Para ele, como no fundo para todos nós, a luz equivale ao tempo de vigília e, como ainda não tem a noção de tempo dos adultos, não entende a existência de padrões horários de sono independentes do meio ambiente.
Para além disso, tem naturalmente pouca necessidade de dormir. A mistura é portanto explosiva. O que vale é que os avós se encantam de tal forma com o menino que contam isto a rir.

E nós recebemos a mensagem com um sorriso, enquanto recuperamos forças para enfrentar a fera quando voltar.
Mas não me posso queixar demasiado, este comportamento dele é igual ao meu na sua idade. Estou portanto supostamente a pagar por algo que não podia evitar.

[Nuno]

17.7.07

equilibrismo

Agora foi de vez, ficámos sem rede: a senhora que nos acompanhou no início desta aventura voltou para Portugal.

Estamos sós, qualquer falha resulta em desastre.
Em contrapartida, todos os sucessos têm autoria indiscutível.

[Nuno]

a dúvida

Todos os dias me pergunto se devemos ficar ou partir. Suponho que esta seja a dúvida na cabeça de qualquer expatriado até ao dia em que percebe que já não tem para onde voltar.
E, como acontece com todas as dúvidas verdadeiramente importantes, a resposta não só não está à vista como provavelmente não existe. Pelo menos palpável, concreta, como seria desejável.

À minha volta abundam exemplos de gente que saiu para nunca mais voltar. E que garante que não há retorno possível, pois qualquer tentativa nesse sentido resultará em frustração, seja pelo insucesso do retorno seja pelo desgosto do que se deixa para trás.
Mas esta gente não tem filhos, ou se os tem não os vê como eu os vejo. Apesar de todas as vantagens que possa ter, eu não os quero desenraízados, apátridas, desajustados cá - porque estrangeiros - e lá, em casa, porque incompreendidos.

Garantem-me que não mais é possível habituar-se ao trabalho em Portugal (ou Espanha, ou França, ou qualquer país do centro-sul) depois de aqui ter estado.
Lembro-me contudo de um artigo que li em tempos, escrito por alguém que trabalhou fora muitos anos e decidiu voltar, que defendia o oposto, e acredito que tudo passa pela atitude. E aí torce a porca o rabo de novo: sempre tive problemas com a forma como as coisas se passam nas empresas no nosso país.

A verdade é que, com ou sem razão para isso, recuso-me a voltar para algo que não seja um evidente salto em frente. Sinto que vi e aprendi imenso e que isso teria que ser reconhecido para que o retorno fosse um passo lógico.
Mas sei que as coisas não funcionam assim, que isso não vai acontecer, pois ninguém reconhece seja o que for gratuitamente, pois o mercado tem gente de valor (seja em que medida for) em excesso para as raríssimas posições disponíveis.

E continuo na dúvida. Menos por mim, que me satisfaço com as visitas de férias, em que de tudo tiro prazer, do que pelos meus filhos, que crescem longe dos avós, e dos meus pais, que envelhecem longe dos filhos e dos netos.

[Nuno]

para mais tarde recordar

Antes de vir para a Holanda, a empresa que me contratou avisou-me que seria necessário apresentar um comprovativo de comunicação à Câmara / Junta de Freguesia da minha saída do país por tempo indeterminado.

Como nunca tinha ouvido falar de tal coisa, tentei explicar que estava convencido que tal coisa não existia em Portugal. A resposta foi que era essencial pois da apresentação do comprovativo dependeria a aceitação da minha inscrição, obrigatória por lei, na Câmara da cidade em que escolhesse viver.

Ainda recordo com incontido sorriso a reacção das funcionárias da Junta de Freguesia à qual me dirigi para tentar obter o tal documento: em poucos minutos assumiram as posturas mais contraditórias até que, num gesto de arrogância inconvicta, concluiram que me restava dizer "lá" que tal coisa não existia no nosso país.

Quando hoje leio textos de pseudo-liberais a queixar-se do socialismo português, só consigo lembrar-me do abismo que em poucos minutos vislumbrei entre o controlo sufocante que mais tarde confirmei dominar as terras holandesas e a improvisação que desgoverna Portugal.

[Nuno]

12.7.07

Tira-teimas (para lembranças diferentes no futuro)

O Diogo está quase com cinco anos. Pesa 23 kg e mede 116 cm. Na relação peso/estatura está no percentil 90.

Fez, hoje, testes auditivos, visuais, de representação gráfica e, ainda de motricidade (que incluíram coordenação, equilíbrio, etc.). Em todos os testes ele apresentou bons resultados. Ouve bem, vê bem, graficamente está (muito) desenvolvido – isto, (estou em crer) é fruto da exigência do ensino francês. Aquilo que notei que (talvez) fosse esperado (um bocadinho) mais foi a motricidade (parte do ensino holandês). E que, o que um miúdo médio português consegue fazer e a partir de que idade, comparado com o que um miúdo médio holandês consegue, é quase uma anedota.

Essa é, alias, a maior diferença que observo em relação aos miúdos holandeses. Eles saltam, correm, patinam, exercitam-se em andas, e nos parques sobem e descem de todas as maneiras possíveis e imagináveis. Fazem aquilo que, para pais portugueses com o coração menos forte, provocaria um inicio de ataque cardíaco. E os pais (holandeses) estão “na boa”, sentados no banco do parque a conversar com outros pais, incitando os miúdos a experimentar e permitindo-os testar, por si, os seus limites. Surpreendentemente, no tempo que aqui estou, assisti uma única vez uma cabeça partida. E os resultados desta abordagem nos miúdos é impressionante. Eles mexem-se com destreza, mas em segurança, e claro, emocionalmente, eles crescem com confiança em si próprios.

Aos 15 meses, a Catarina está com 10 280 gr e 79,2 cm. Está alta e leve. Quando digo leve não quero dizer magra, está linda! Na mesma idade, o Diogo tinha 13 kg e 83 cm. Ela já é totalmente diferente do Diogo. Mas sobre isso já o Nuno escreveu. Obedece a ordens simples, “vai por a tua roupa suja no cesto Catarina”, assinala quando acabou de sujar a fralda, faz queixas do “Didi” e, ontem, por duas vezes, chamou-me a atenção para o facto da musica de fundo ter acabado. Em relação à linguagem, apesar de dizerem que crianças expostas a mais do que uma língua se atrasam a começar a falar, não é esta a percepção que tenho do que esta a acontecer com a Catarina. Ela entende o que lhe dizemos, e dizem as educadoras que, no infantário, ela entende o que elas lhe dizem. Quanto a falar, tenta imenso, dá entoações, constrói aquilo que parecem ser frases. Vai ser tagarela, como a da canção da Ana Faria.


Patrícia

11.7.07

Personalidade

Pasmo, observo como, desde cedo, se evidenciam as diferenças entre os nossos dois filhos. Não digo que todas se devam a idiossincrasias naturais: sem dúvida as nossas acções enquanto pais, voláteis em tempo e espaço, e a própria existência de um irmão influenciam os comportamentos destes seres em busca de referências.

Mas volto às diferenças, tão notórias que me fazem voltar a acreditar que muito do que somos está inscrito no código genético e pré-determinado antes dos educadores terem qualquer hipótese de intervenção.

O Diogo em casa é um furacão. Precisa de espaço para correr e gritar, para atirar os brinquedos todos para o chão de um só golpe, para brandir a espada e imitar os heróis da guerra das estrelas ou para se enrolar e atirar teias como o homem-aranha.
Fala alto, esquece subitamente as regras e berra para assustar a irmã; em acessos súbitos de energia pura, corre de um lado para o outro da sala até se desequilibrar e bater com a cabeça ou o pé numa mesa e se deitar no chão a gritar com dores; irrompe pelo quarto da Catarina, pega nos brinquedos todos, brinca com cada um 5 segundos e sai, deixando tudo no chão espalhado; só quer lutas, contacto físico, corridas e competição.
Um dia com ele é intenso, emocionante e esgotante, perfeito para esquecer de imediato o stress do trabalho, as angústias diárias e quaisquer motivações pessoais.

A Catarina é a delicadeza em pessoa. Sem qualquer esforço, passa dias seguidos em casa, pois precisa apenas de companhia e de um cantinho para os seus brinquedos de eleição.
Adepta de organização e limpeza, diverte-se a guardar aquilo que o irmão desarruma. Ao mesmo tempo, dotada de uma motricidade fina muito acima da média e de uma capacidade de observação estranhamente madura, é capaz de imitar o Diogo ou mesmo os pais em actividades que normalmente estão reservadas a crianças mais velhas.
Parece desde já muito mais complexa emocionalmente, reagindo com sensibilidade quase assustadora a todo e qualquer tom de voz ou mesmo olhar.
Um dia com ela é pacificador, caloroso e retemperante.

A ver vamos em que se transformam. No Diogo já vamos observando mudanças com o tempo, dizem os mais velhos que todas as crianças mudam várias vezes, por vezes bruscamente.
Pretendo atestar essas mudanças aqui, para mais tarde poder lembrar-me da sua evolução.

[Nuno]

9.7.07

Scheveningen

Finalmente, ao fim de um ano neste país, conheci praia. Conhecemo-la todos juntos mas eles não cá estão há tanto tempo e tiveram tempo de praia no ano passado.

Em Julho de 2006, a Holanda foi, tal como o resto da Europa, invadida por uma onda de calor insuportável. Este ano, para compensar, só não choveu copiosamente um dia, justamente o de ontem. Hoje voltou o clima típico: céu encoberto, chuva intermitente, desta vez com granizo e trovoada para ajudar à festa.

Mas ontem não, ontem foi dia de festa. De manhã à noite, a luz reinou. Sem uma nuvem, temperatura altíssima (22 graus), sol inclemente (para peles que o não sentiam havia meses) e estão reunidos os ingredientes essenciais para um bom escaldão. Que na verdade se verificou, embora apenas moderado.

Os mais felizes do dia eram os nadadores-salvadores (é este o termos politicamente correcto para os janotas das marés vivas?). Que raio de profissão para escolher num país que vê o sol 30 dias por ano! Tão queridos, a ligar e desligar as luzes de emergências e as sirenes das pick-ups, enquanto varriam a praia com os pneus em acelerações e travagens bruscas.

Mas passa-se alguma coisa? pensava eu. Nada, mar vazio e umas almas penadas a cumprir diligentemente exercícios de rotina.
Sim, mar vazio. Quem se atreve a meter o termómetro no Mar do Norte?

Mas quanto à praia em si, é fascinante observar o talento comercial desta gente.
Numa praia igual, nós (atenção, passo a caricaturar!) teríamos três quiosques de bugigangas e dois restaurantes com mau serviço e comida de aspecto duvidoso (embora deliciosa, para quem conhece...), ou então o caos total, sem espaço para andar, carros engalfinhados e casas comerciais atiradas ao desbarato.
Eles têm uma avenida infindável para andar a pé, com restaurantes e hotéis de ambos os lados, atrás dos quais se esconde a praia. É perfeitamente possível passar um dia animadíssimo sem sequer se aproximar da areia, e aliás é difícil cumprir o objectivo de lhe tocar, dada a quantidade de distracções.

Portanto, mais uma vez o tal factor de espanto: a partir de um produto de origem sem ponta de qualidade se cria um produto turístico de sucesso, com base apenas no engenho e organização.

Não é deslumbramento, é aprendizagem.

[Nuno]

Madurodam



Banhada completa!

Os holandeses têm a arte de fazer dinheiro do nada: convertem este Madurodam, que não passa de uma banalíssima exibição de curiosidades na qual as crianças nem podem participar, pois estão proibidas de sequer se aproximar das reproduções expostas, numa mina de ouro, ao cobrar 13 euros por adulto ao turista idiota (oui, c'est moi...) que acredita nos guias que recomendam a visita.

Soubéssemos nós, portugueses, explorar pela metade qualquer um dos tesouros monumentais que temos num dos múltiplos recantos perdidos e obteríamos do turismo visitantes e receitas suficientes para alimentar a Portela e a OTA (ou outro qualquer) em simultâneo e pôr as taxas de crescimento do PIB lá onde a UE as quer.

E o que é Madurodam? Uma exposição com os edifícios e meios de transporte mais significativos do país, a uma escala de 1/25. Mas, ao contrário do nosso "Portugal dos Pequeninos", não há qualquer interacção, é um museu ao ar livre.

Ainda por cima, fomos lá supostamente para mostrar tudo aquilo aos putos, numa de "Holanda dos pequeninos", e acabámos a tentar desesperadamente transmitir um mínimo de entusiasmo ao Diogo, que só nos perguntava quando estava na hora de comer.

A única parte que o divertiu foi andar no escorrega da zona do restaurante, pois também nisso são incríveis: mestres na exploração da restauração, proporcionam aos pais um momento em que podem descansar e consumir à vontade, pois os putos estão nas suas sete quintas.

[Nuno]

6.7.07

O inicio

Só o convite para participar no panutrinocia me poderia tirar desta depressão motivada pelo facto de estarmos em Julho e nem ver (sequer!) vestígios do Verão. O convite, e o facto de ter (vitoriosamente) ultrapassado “een google-account maken”, em holandês, pois está claro!

Pois foi. Completos ficaram, ontem, seis felizes e movimentados anos de casamento. Tanta coisa que temos feito juntos, e (muitíssimo) bem, basta dar uma olhadela ao campeão e a minúscula. Podemo-nos congratular pelos feitos, e pela estrela que nos tem protegido.

E a convivência tem sido fantástica. Talvez com excepção dos montes com os (teus) papeis que insistes em fazer aqui ou ali na nossa casa. E com excepção dos YAAAs do Diogo quando mata (vezes sem conta) os clones do “império” e, dos bramidos da Catarina quando alguém resolve não lhe fazer o que ela quer.

A tua sorte é que és um gajo lindo e inteligente e cheio de amor por mim e pelos pequenotes, senão...

o dia seguinte

Ontem celebrámos 6 anos de casamento. Hoje parece o dia ideal para iniciar este projecto, para somar aos muitos a que em conjunto já nos dedicámos.

[Nuno]