diz o meu pai para ilustrar os efeitos da convivência do Diogo com as avós. Na verdade, ele acaba por ser um dos piores, cedendo (e antecipando) a todo e qualquer capricho dos netos de forma totalmente despudorada.
Reprimida a ânsia de agradar aos netos durante meses, os avós comportam-se agora como deseducadores descomplexados. Já não disfarçam, assumem abertamente que o tempo que tiverem com eles será para os mimar (equivalente politicamente correcto do mais adequado 'estragar') sem restrições.
Tudo é possível, se o menino quer o menino tem. E, no meio de tanta alegria, até nós temos direito a elogios. De bestiais a bestas, como diz o meu pai, momentaneamente em direcção inversa. Resta saber a velocidade com que, assim que acabarem as férias, voltamos ao sentido habitual.
O Diogo vai estar 20 dias em Portugal sem nós. Este período será dividido em 2: metade para os avós maternos, metade para os paternos. Não é portanto uma eternidade, dá para matar saudades mas dificilmente se compara aos 3 meses de férias a que normalmente associamos o Verão.
Para os 10 dias que vai passar com os avós maternos recebeu, entre milhentas outras coisas, um carro eléctrico (isso mesmo, um daqueles grandes que custam uma pipa de massa).
Ora a última vez que ele se tinha sequer lembrado que tal coisa existia foi há mais de um ano, numa visita à loja de brinquedos, durante a qual se sentou em 20 carros diferentes, saiu de lá de mãos vazias mas muito satisfeito pelo tempo passado.
Os avós sabem, porque foi repetidamente conversado no passado, que nós não somos favoráveis a este género de brinquedos que facilitam a vida às crianças. Gostamos de lhes dar desafios físicos e intelectuais, de os obrigar a criar as suas brincadeiras, de lhes ensinar que o esforço compensa. Estes carros eléctricos incitam-nos, acreditamos nós, à acomodação.
Se é para ter carros, que sejam daqueles a pedais. Mas para quê ter carros se já tem bicicletas, triciclos e outros objectos do género?
Como começa a ser costume, a primeira ocasião em que não estamos presentes foi ideal para deseducá-lo. Procuro lembrar-me que não é assunto meu, que está fora da minha esfera de educador, que faz parte da relação entre netos e avós, mas tudo isso foge à verdade.
A verdade é que nada posso fazer para não gerar conflitos, porque não quero privar os miúdos da presença dos avós e porque a harmonia familiar também depende da minha capacidade de aceitação e transigência.
Deixo aqui então apenas a nota de incompreensão por uma atitude consciente de avós que já foram pais e que conseguem concerteza imaginar o que custa ambientar uma criança de 4 anos a um país novo e a dificuldade que encontraremos em entusiasmá-lo com a ideia de voltar para cá.
[Nuno]