29.7.12

21.7.12

U. M.

Domingo passado lá foram os meninos outra vez para as suas férias grandes em Portugal.

Descontraídos e confiantes quando os entregámos no modo UM (Unaccompanied Minors) lá os deixámos à porta do controlo no aeroporto à espera de notícias de que tinham chegado.

fizeram novamente a viagem sem grandes sobressaltos. Estão tão grandes e este desafio passou a ser apenas parte das férias.

À chegada tinham o mimo de todos os avós à sua espera.

E assim começaram as férias deles. Na realidade um pouco também as nossas porque parece que os dias passaram a ter 32 horas... Mais uns dias e estaremos todos de férias no nosso Portugal.

Patrícia

18.7.12

férias a sério

Sem meninos para cuidar, livre de horários e obrigações, despido de preocupações, assim estou eu por um breve momento. Não tão breve assim, se comparar com os curtíssimos períodos a que habitualmente me circunscreve a actividade de trabalhador ao serviço de terceiros. Mas breve sim, porque vai acabar depressa e já lhe consigo cheirar o fim. Essa certeza mancha a paz temporária com gotículas daquele amargo culpado que sempre atormenta os pais quando pensam em si próprios, numa eterna cumplicidade entre felicidade angustiada e autorecriminação.

Eles estão longe em bons cuidados. Ao falarmos com eles, sentimos êxtase nas suas vozes. Puro contentamento, só acessível a quem adia uma vontade até quase deixar de senti-la. A saudade, a tal que só em português se exprime e que a ninguém desvela o sentido pleno, acolchoa ressentimentos e mágoa pela distância do que se ama. Carrega consigo contudo um elixir para o esmorecimento das sensações, guardado em frasco de vidro tosco e baço, ao alcance de qualquer um mas perceptível apenas para alguns. Equilíbrio delicado da existência - a glória enquanto antídoto da pena em medidas estritamente iguais.

Meses a fio vivemos afastados do mais íntimo de nós. Quais fantasmas corpóreos ou telespectadores de novela em que fomos actores, assistimos impotentes ao desenrolar da vida que em tempos foi nossa. À medida que o tempo passa, até a lembrança de nós desvanece. Algumas mensagens, breves interacções, patéticas chamadas de atenção para não cair de vez no esquecimento. No fundo de toda essa agitação, o pânico da despertença. Se não formos de onde nascemos, somos então de nenhures. Pairamos vazios, ocos, desancorados. Movimentamo-nos à deriva entre partes estranhas. Sem pertença apenas partimos, nunca regressamos.

Por compensação, as curtas estadas em casa têm um sabor único. Quais viajantes à beira de um oasis no fim da travessia de um longo deserto, apreciamos com minúcia cada detalhe, degustamos com deleite cada travo, entranhamos com volúpcia cada cheiro. Pelo menos assim é nos primeiros instantes, até sermos absorvidos pela rotina de quem não compreende quão bizarra toda a experiência nos parece. Essa indiferença da nossa gente é reconfortante e acolhedora. Aos seus olhos pertenceremos para sempre, aconteça o que acontecer. Nos braços dessa gente continuamos a ter um poiso, um destino. Assusta-me o futuro em que também isso desapareça.

Por cá a vida continua, sugando-nos sem dó até à exaustão. Trabalho, escola, amigos, actividades...tudo aquilo que uma vida normal é suposta incluir. O ritmo e a exigência chegam a ser insuportáveis. Sem apoios de qualquer espécie, dependemos exclusivamente de nós. Não há espaço para sensibilidades, todos têm que assumir a sua parte. Os meninos são quase tratados como iguais, apenas aliviados do fardo das decisões finais. Talvez por isso haja muito quem lhes note diferenças em relação a outros da mesma idade. Certamente por isso somos tão chegados, tão unidos. Daí a separação ser ao mesmo tempo dolorosa e saborosa, num misto de esvaziamento e alívio.

Chegou o verão. Eles alegremente rendidos aos mimos saudosos dos avós, que os vêem crescidos e carentes de afectos. Nós numas retemperadoras férias a dois. Podendo fazer o que quisermos, o verdadeiro gozo está na ausência  de actividade - a simples companhia mútua, os dias infindáveis, a displicência na gestão das horas, as decisões fáceis, as conversas harmoniosas, o silêncio. O tempo e o silêncio.

Nuno

14.7.12

Kiki - diploma B

Hoje fomos todos ver o exame de natação da nossa kiki.






Que fez o que tinha a fazer e lá veio toda satisfeita com o seu diploma B na mão. Mesmo a tempo para as férias.


Assim termina o ano lectivo 2011/2012.
Patrícia



8.7.12

última sessão de vela da temporada

e chovia torrencialmente. Aliás, acho que choveu quase todas as vezes desta temporada. O Campeão lá esteve. Sem refilar. E no fim, alguns resolveram virar o barco ˝já estava todo encharcado de qualquer maneira mamã, não fazia diferença˝.

Fica a foto do seu barco e a resposta pronta do Campeão (copiada do pai) sempre que tento ser protectora ˝é só água, mãe!˝ Toma lá que já apanhaste para não te armares em mãe galinha, penso.

Eu desconsolada – querem à força fazer Homem do meu menino...

Patrícia

3.7.12

pearl jam in a´dam



Toda a vida - ou pelo menos boa parte dela - fui congelando a vontade de ver Pearl Jam ao vivo. Por uma razão ou por outra desperdicei oportunidades sem remorsos, confiante de que mais viriam e que tinha todo o tempo do mundo. Como é típico da juventude, tratei o tempo com criminosa leviandade e desdenhei a suprema importância da banda para o eu daquela altura. Nunca me ocorreu que uma ocasião aproveitada nunca substitui outra perdida, que a idade me daria outros olhos e me privaria de gozar o evento da mesma maneira, ou que todas as bandas têm uma existência finita e muitas se degradam ou separam prematuramente, deixando os seus seguidores numa espécie de orfandade musical irreversível.

Não posso negar que a minha aversão a concertos de estádio em muito terá contribuído para as ausências. Estou pacificado com esta rejeição e há muito desisti de contestá-la. Sou instintivamente repelido por todo o evento que não encaixe na mais estrita definição de intimismo. É contranatura partilhar uma experiência com gente cuja face nem sequer se consegue avistar e cuja cultura social média não deixa espaço ao respeito mútuo. Ainda se fosse possível ausentar-se da sufocante massa humana que, de forma mais ou menos passiva, se agride mutuamente e concentrar-se unicamente no espectáculo...mas não, os constantes encostos e empurrões relembram em permanência a natureza intrusiva da presença em redor e impossibilitam o prazer da rendição absoluta ao objecto de culto do momento.

Por mais voltas que se dê ao texto, há que admitir sem reservas que todo o conceito de um concerto de estádio é difícil de apreender: esforços sobrehumanos para garantir a tempo e horas o tão ansiado acesso, preços inflacionados por uma quantidade absurda de benefícios sem qualquer interesse para o aficionado comum, a rocambolesca tragédia do controlo à entrada, a violência banalizada na satisfação das necessidades fisiológicas, a exibição irracional de merchandising sem significado...tudo isto a troco de uns ténues vislumbres dos destroços de artistas corroídos por tournées infindáveis e excesso de drogas, pelos sons amplificados e distorcidos da entoação ofegante e arrastada de uma misturada de temas supostamente arranjados para aquela ocasião em particular, e por uns arranjos luminosos mal alinhados ao ritmo da batida.

Se tudo isto não for prémio suficiente pela ousadia de se enraizar durante horas num espaço fechado cercado por milhares de seres alucinados, o espectador pagante garante ainda os privilégios de intercalar a observação do concerto com imagens de alta resolução da nuca tatuada de um qualquer hipopótamo bêbedo e de aspirar - na vã tentativa de escapar ao fumo dos génios que confundem a lata de sardinhas gigante em que se encontram com espaço aberto - o fedor a cerveja derramada pelo incessante vaivem de cromos mais interessados no circo civil que sempre ganha forma à margem dos concertos do que no próprio espectáculo oferecido pelos artistas.

Apesar de tudo isto, guardei sempre um desejo reprimido de presenciar um concerto dos PJ. Desde que finalmente vi Tool ao vivo, assim concluindo epicamente década e meia de concertos de hard rock, Pearl Jam passou a ser o único grupo musical em relação ao qual guardava qualquer género de aspiração. Não porque a sua música ainda me inspire mas por tudo o que representaram durante a minha adolescência, por bem no fundo ter pena de não os ter ido ver na altura certa, talvez até por a sua evolução enquanto banda ser um símbolo da minha própria maturação. PJ tinham aquela raiva engarrafada que tanto apela aos jovens, usavam a música como catarse - entusiasmavam no baixo, malhavam na tarola, embalavam na guitarra e explodiam na voz alternante entre a melodia e a crueza. Entretanto amadureceram, adensaram, mecanizaram-se.

Vê-los ao vivo foi em simultâneo um reencontro e uma passagem. Surpreendi-me com o encanto que senti por vê-los em carne e osso. Pensei nesse momento que os artistas, os tais que tantas vezes me incomodam com a sua ânsia de reconhecimento, são mesmo pessoas diferentes das outras. A sua presença provoca nos outros uma reacção única. Não são como os políticos ou outras pessoas vazias com imagem pública - há algo mais. O tal dom de que tanto se fala, a capacidade de tocar os outros e fazê-los sentir que a mensagem lhes é dirigida. Já o público era bem diferente daquele que estava habituado a encontrar: mais velho, mais calmo, mais batido. À imagem da banda e, suponho, de mim próprio.

Nuno