24.6.12

génio alegre

Quem por vontade ou acaso tomar conhecimento dos resultados do Diogo na escola mas não tiver tido ocasião de privar com ele, é bem capaz de jurar que o rapaz se dedica com seriedade aos trabalhos de casa e se prepara arduamente para os testes. A presunção é compreensível dada a exigência das aulas e o a carga de trabalhos e testes com que diariamente brindam os alunos - se existisse um postal para ilustrar o liceu francês no estrangeiro, incluiria sem dúvida uma criança inclinada para a frente, prostrada pelo peso da gigantesca mochila que carrega às costas - mas não podia estar mais longe da verdade.

A crua realidade é que o nosso campeão reserva para o estudo nem mais um segundo do que o mínimo absolutamente indispensável. Diria até que gosta de esticar a corda e infiltrar nos já de si minúsculos períodos de dedicação intervalos para comer, ir à casa de banho, dar uma espreitadela nos desenhos animados e pesquisar na internet as imagens dos jogos de futebol do dia anterior. Sempre foi assim e não tem revelado qualquer tendência para melhorar com a idade ou com o aumento de dificuldade das lições. Ouve com ilusória receptividade os sermões que lhe dispensamos a este propósito mas reassume hábitos antigos assim que viramos costas.

Quanto à pressão dos pais, resume-se à transmissão das competências de prioritização, ao esforço contínuo de estruturação de uma cabeça em desenvolvimento e a ocasionais chamadas de atenção quando sentem que o tempo disponível é insuficiente para acomodar a galhofa e as obrigações. Dito assim parece muito mas qualquer pai dedicado sabe que pequenos mas regulares momentos de orientação integrados numa política de educação consistente têm infinitamente mais efeito do que palestras infindáveis ou longas sessões de estudo acompanhado.

Tudo somado, não aplicamos neste apoio mais do que uma média diária de 10 minutos, distribuídos equitativamente entre os múltiplos alertas necessários para que se sente à secretária e uma aferição muito acelerada dos conhecimentos. Na maior parte dos casos temos que pôr mais empenho na insistência para que conclua aquilo que começou do que no próprio acompanhamento da aprendizagem, parte com a qual nunca temos tido que preocupar-nos.

O mais frustrante nesta dinâmica é a falta de legitimidade da nossa parte para exigir seja o que for da sua parte. Sempre que tentamos apontar uma falha ao nível do método de trabalho ou da dedicação, somos inevitavelmente confrontados com a excelência das notas, o entusiasmo dos professores e as observações admirativas dos pais dos amigos. Não que ele no-lo aponte - tal é a generosidade da sua natureza que aguenta pacientemente as exigências despropositadas dos pais -, nós é que somos por honestidade obrigados a reconhecê-lo.

Na sexta-feira fui buscá-los à escola. Como estamos perto do final do ano escolar, ele trazia um apanhado dos testes deste trimestre para eu assinar. Enquanto folheava o caderno, não pude deixar de me emocionar com a qualidade monstruosa deste miúdo. Matemática, ciências, história, geografia, francês, holandês, inglês...página após página, 17, 18, 19, 20. De excelente para cima, sem fraquezas, quase sem suor. Força bruta, potencial infinito.

Tão deliciado estava que me esqueci de tudo o que me rodeava. A certa altura levantei os olhos para me certificar que tudo estava bem e apercebi-me que várias mães de colegas deles, sentadas na mesa ao lado, olhavam esparvoadas para a pasta que eu tinha na mão. Nesse preciso instante consciencializei-me pela primeira vez do luxo supremo de ter filhos assim.

Nuno

1 comentário:

Berta disse...

Ao meu neto Diogo!

Sem mais delongas!

Quando esperamos o nascimento dum filho, só ansiamos que nasça «perfeito»!
Quando ele nasce perfeito, então está na hora de o desejarmos «bonito/engraçado»!
Quando verificamos que ele é perfeito e tambem giro/engraçado/bonito, damo-nos ao luxo de o supormos «inteligente/bem dotado»!
Quando começamos a constatar que é inteligente e bem dotado... o que falta querer???
Que ele seja feliz! E é exactamente isso que eu quero desejar hoje e aqui ao meu neto Diogo! Abracinhos, que estou desejosa de dar quando o apanhar a jeito não tarda muito! XXXX