Mais um dia de
celebração de aniversário. Não mais um, como se fosse indeterminado, foi o quadragésimo
sexto, para ser precisa. Como quase todos os dias dos últimos 11 meses, limitado
pela situação de pandemia que nos assolou globalmente em 2020 e da qual,
infelizmente, não nos conseguimos ainda livrar, combatendo-a de forma coordenada
e global. Estou em crer que enquanto cada casa, cidade, região ou pais continuar
a pensar nela enquanto o problema do seu quintal, não a eliminamos porque a ameaça
continua lá. Mas este post não é sobre esse tema. É, antes, a descrição de um
dia tranquilo e cheio de muitos e doces mimos.
Quando
acordei, da janela vi um lençol branco de neve a cobrir a rua. A neve fresca e
fofa a cair e a garotagem mais pequena na rua atarefada com construções na
neve, trenos, skis, pás e tudo o mais porque há 10 anos que não havia uma
tempestade de neve por estas bandas. E a neve e sempre encantadora quando a cair
ou acabada de cair (já perde a graça, como quase tudo, aliás, com o passar do tempo
e, neste caso, a transformação em gelo nas ruas). O cenário era idílico.
A contrastar
com a simplicidade do pleno branco lá de fora, em casa tinha a abundante
diversidade, intensidade e calor dos três grandes amores da minha, todos na sua
individualidade muito própria e dedicados a prendar-me com um dia bom. Adicionalmente,
lindas flores frescas, muito coloridas e cheirosas dentro de casa a definir o
tom do dia.
Andava há uns
dias para recompor uma catana japonesa que adquiri no final do ano passado. Vi vários
vídeos de como o fazer porque estas coisas exigem técnica e precisão. Estava à
espera do Champs para fazer comigo, apesar de quem se juntou à operação ter
sido a Makuks. Trata-se de uma espada tradicional japonesa que foi usada pelos samurais
do Japão feudal. As catanas japonesas são caracterizadas pela aparência
distintiva da lamina curva e um cabo longo para acomodar as duas mãos juntas a manuseá-la.
As espadas eram muito mais do que armas para os seus donos: eram a extensão do
corpo e mesmo da sua mente e as catanas encarnam o espirito samurai. Esta catana,
modelo Nihonto Shinto WW2 (assinada na parte da lamina que esta escondida no
punho) é fabricada no Japão, durante a segunda guerra mundial (1936) por Yasunori
conhecido como um excelente Yasukuni-tosho. O seu verdadeiro nome era
Kenzo Kotani, nascido em Hiroshima em 1909 e sobrinho de Kajiyama Yasuniri.
Kotani Yasunori tornou-se membro de Niho-to Tanten Kai no Santuario de Yasukuni
em 1933 e começou a forjar espadas em 1935. Pensa-se que terá forjado cerca de
1.600 espadas ate ao final da Segunda Guerra Mundial. A espada é feita de tamahagane,
o aço tradicional nobre japonês e o mais procurado para as espadas japonesas. No
total a espada mede 91 cm e o comprimento de lamina e de 65 cm. De notar que
esta espada, fabricada nos terrenos do santuário Yasukuni e um legado
excepcional: um artefacto que preserva não só os métodos de forjamento honrados
pelo tempo, mas as tradições estéticas e espirituais, para reavivar o espirito
do guerreiro samurai. E notavelmente distinta dos chamados Showa-to,
que são espadas produzidas em massa e inferiores em qualidade e arte. Acresce
que todas as espadas foram proibidas no rescaldo imediato da Segunda Guerra Mundial,
e as décadas que se seguiram viram um declínio na popularidade das espadas yasukuni
em grande parte devido as suas associações com essa guerra e os seus militares.
Todavia, nos últimos anos, tem-se assistido um renovado interesse pelas espadas
yasukuni sobreviventes. E colecionadores e avaliadores reconhecem nestas
espadas a mistura perfeita de tecnologia de tradição. Mas voltando dia, estive
ainda um tempo a volta da espada: desmontá-la, limpá-la, oleá-la e voltar a montá-la.
E foi um gosto.
Depois da
espada, resolvi fazer o meu bolo de anos: uma tarde de maçã e cranberry:
frutado e doce. E que cantaríamos os parabéns num chá da tarde (que o Champs quis
que fosse as cinco), com o lindo serviço pintado a mão pela minha mamã. A tarte
estava deliciosa, apesar de ter queimado um bocadito nas partes salientes.
As meninas
resolveram ir dar um passeio sob a neve e fomos até ao Beatrixpark. Quando
voltei, as bochechas ardiam! Momento perfeito para o chá, a tarde, conversa boa
e as prendinhas – que eram maioritariamente e para minha grande delicia, livros.
Para o
jantar encomendamos japonês de um restaurante do bairro que todos gostamos e o Grandalhão
e especial fã e deleitamo-nos com as iguarias nipónicas.
Não sendo uma
festa com muita gente – que também gosto - a casa estava cheia e senti-me acompanhada
aqui e com mensagens de pessoas de várias locais diferentes do mundo e do (meu)
tempo nele.
Foi um dia
feliz e bem passado.
Patrícia