4.6.12

Diogo o navegador

O nosso campeão continua a frequentar as aulas de vela aos domingos à tarde. Nem sempre a vontade é grande mas tem consistentemente optado, sem que para tal os pais tenham que incentivá-lo, por silenciar o queixume e dedicar-se com disciplina às artes marítimas.

Graças a essa concentração, passou para o nível 2 à primeira tentativa e é já capaz de comandar um Optimist - um tipo de barco de peso e dimensões reduzidos, ideal para a aprendizagem - totalmente sozinho, a favor ou contra o vento. Isto tudo sendo dos poucos (quem sabe o único) aluno que não detém qualquer experiência anterior ou antecedentes familiares nestas lides.

Contrariamente ao que acontecia no nível 1, venho reparando que ele agora termina as aulas muito cansado, situação atípica no nosso incansável Diogão. Na aula passada perguntei-lhe o que se passava e comentou que tem que se esforçar muito fisica e intelectualmente para acompanhar as exigências das lições pois vários colegas estão muito mais adiantados nos conhecimentos.

Desta vez a coisa foi ainda pior: não foi devidamente equipado para fazer face à descida da temperatura exterior e à chuva, pelo que passou mais de 2 horas encharcado e gelado no meio do lago sem que as instrutoras lhe dessem quaisquer tréguas. Ele e os outros todos, que o pessoal aqui não está para mariquices. A meu ver bem...se levar um barco para o mar não pode ter medo do frio ou da água. Mas tem que ir bem equipado, lição que espero que tenha aprendido.

Tirando estas lições para o futuro, a verdade é que estava desolado quando cheguei lá para o buscar. Para além do sofrimento já descrito, teve ainda o infortúnio de apanhar com o mastro na cabeça quando uma onda formada por outro barco o desequilibrou. E, para coroar tamanha infelicidade, verificou ao desembarcar que niguém o esperava em terra para o confortar (pela primeira vez em todas estas lições eu tinha decidido aproveitar o tempo para ir às compras).

Fez-me cara de mau - cuja razão não consegui decifrar naquele momento - mas arrumou todo o equipamento como instruído e foi lá dentro com os outros guardar a tralha sem hesitações. Foi só ao regressar cá para fora, e enquanto tentava contar-me o sucedido, que cedeu ao desespero e deixou cair uma pequena lágrima.

Como começou parou, respirou fundo e foi de novo lá dentro para trazer a mochila. Aí já com renovada energia para se zangar comigo por não estar lá para o acolher. Ao chegar ao carro trocou de roupa e prometeu ir para a cama assim que chegasse a casa. Mas ao chegar, retemperado por um banho quente e um lanche, ainda teve força para uns jogos na playstation e umas gargalhadas no skype com os avós.

Filho, se um dia navegares num veleiro algures pelo mundo lembra-te destes princípios desafiantes e dos pais chatos que descobriam estas actividades e te estragavam as tardes de domingo com tais transtornos.

Nuno

2 comentários:

Berta disse...

Filho Nuno!

Tudo fica bem quando tudo acaba bem! Mas fico encolhida, com um aperto no meio do peito, só de pensar que o mastro lhe caiu em cima, que podia ter-se magoado ou perdido o equilíbrio, que passou 2 horas encharcado e ao frio e que não tinha o seu Grandalhão à espera para o consolar na frustração! E mais! Não estarão a exigir dele competências que ainda não domina?? Continuo meia encolhida... apesar de o saber em casa são e salvo. Receios de avó!!! Bjs

CDA disse...

Gostei!

Parece acaso mas, para os anos, até já lhe comprámos um livro do Infante D. Henrique.
Um coincidência no "cognome".