29.6.22

Champs e o São João

 O Diogão acabou o seu segundo ano de faculdade. Tudo feito excepto uma cadeira (cujo prazo para se inscrever para o retake lhe passou). Como está de férias resolveu ir a um torneio de râguebi com alguns dos seus companheiros ao Porto.

Tínhamos comprado o bilhete de avião para Lisboa e dai seguia para o Porto de autocarro/comboio mas teve a boa sorte de o bilhete ser alterado com as confusões todas agora nos aeroportos, pelo que viria para Amesterdão, dai para Londres, seguindo para Lisboa e finalmente para o Porto. O acaso (também conhecido neste blog por Grandalhão) corrigiu a situação para que fosse directo ao Porto, assim poderia experienciar o São João.

Parece que gostou. Muito. Tanto que já falou em voltar. Não sei se terá sido o São Joao, o Porto, o torneio e/ou os amigos. Provavelmente, tudo junto. E ainda bem que gostou e que fez boas memórias – dessas que levamos para sempre na vida e nos fazem sorrir quando as retomamos.

Partilho as fotos que recebi.




Depois do Porto, fez-se a estrada para Lisboa. Tinha como plano estar com a família.

E parece encantado por ver todos os que consegue: avós paternos, avós maternos, tio e prima e a tia – e todos parecem também maravilhados por estarem com ele. Por sorte, esteve como brinde na semana de aniversário das duas avós. Muito mimo bom.

Eu, deste lado, fico roída de inveja por todas as sardinhas que ele come. Mal posso esperar pela minha vez.

Ficam algumas das fotos para mais tarde recordar.




Patricia

27.6.22

O Caminho de Santiago

Apercebi-me agora que não postei nada sobre o meu Caminho a Santiago de Compostela. Mas merece que seja escrito, afinal este blog também é sobre mim.

Há muito que queria fazê-lo. Há muito também que falava com a Marta sobre o tema. Este inicio de ano, apesar de não ser muito meu hábito, tinha-o listado objectivo. E assim foi, andei (andamos) indecisa(s) sobre quando fazer e acabou por ser por um empurrão do Grandalhão que me disse, “marca uma data no calendário e logo nos ajustamos”. A data coincidia com as férias (e estágio) da Makuks que assim estaria entretida e acompanhada.

O Caminho principia-se bem antes do primeiro passo: começa com a ideia, o desafio, o ultrapassar das dúvidas, a decisão de ir. E depois com planeamento e preparação. O que me impeliu a faze-lo? A aventura, a jornada, a vontade de se fazer aquilo que tantos fizeram ao longo de um milénio, a recolha de material, a aprendizagem, a experiência, a vontade de me desafiar. “Walk the talk”.

Fundamental na preparação é o equipamento. Como ouvi alguém dizer, “não há mau tempo, só mau equipamento”. A preparação faz-se também física e mentalmente. Neste ultimo caso, e importante planear mas ao mesmo tempo manter a mente aberta porque por muito planeamento não há como controlar o tempo, as encruzilhadas e percalços, as pessoas com que nos cruzamos, a sucessão de acontecimentos. Podemos planear o que quisermos, mas só fazemos o Caminho, percorrendo cada passo dele. Por isso agilidade e resiliência para ultrapassar desafios e a esperança de ganhar experiencia e, quem sabe, alguma sabedoria.

Na quinta-feira, 7 de Abril, viajei de Amesterdão para Lisboa. As grandes coisas começam com inícios simples, e portanto claro que este Caminho tinha de se abrir com o Capitulo 64 do Dao de Jing (ainda que tantas vezes erroneamente atribuído a Confúcio): “Um caminho de mil passos começa com um simples passo”.

O ensinamento e que ate o mais longo, difícil, ambíguo ou trabalhoso dos percursos que nos levam ao destina (qualquer que ele seja), começa com a manifestação da intenção e um ponto de partida, algo que começa com um movimento ou passo. Isto não é uma ideia original, nem tenciona ser. Não era também uma ideia original fazer o Caminho – foi feito por milhões de pessoas, ao longo do tempo, desde o século IX depois de Cristo. Não era de originalidade que estava a procura, antes de seguir esse apelo mágico de fazer um percurso milenar que se tem mantido por gerações e gerações.  Aberta a esse mistério que levou todos os outros antes de mim a fazê-lo.  

O Caminho de Santiago de Compostela e, na realidade, uma rede de percursos de peregrinação cristã que desemboca na Catedral de Santiago de Compostela, onde os restos do Santo estão guardados, no noroeste da Península Ibérica. Essa rede é composta por quase 1.500 quilómetros, e abrange uma rica herança histórica, religiosa e cultural criada para responder às necessidades dos peregrinos, incluindo catedrais, igrejas, hospitais, albergues, pontes, caminhos percorridos desde o seculo IX. A rede é considerada Património Mundial desde 1993 pela UNESCO.

Portanto o meu começo foi Amesterdão para Lisboa. Com sapatos top performance (que foram fundamentais para uma top performance: desenhados para trilhos, leves, e impermeáveis para que os pés estivessem sempre secos apesar das potenciais chuvas de Abril). Saí de Amesterdão, com a minha nova BFF (a mochila), uma mala para deixar em Lisboa e o gato Mel. Lembro-me de receber olhares curiosos de algo esta “”off” com esta personagem com uma mala de hiking às costas, uma de viagem e um gato. Olhares que me divertiam ao mesmo tempo que sentia borboletas no estômago. Sei que conto com o apoio da minha tribo para esta aventura, e ainda assim…

O embarque no avião atrasou-se porque a tribulação estava a chegar atardada de Londres, e não se pode iniciar o embarque sem a tripulação no avião. A vida a acontecer, não importam os planos e agendas. Não se pode controlar os acontecimentos, ou sucessão deles. É preciso aceitá-los – algo que sempre tive alguma dificuldade em fazer –não é afinal o nosso papel combater a entropia que nos rodeia?

Olhando para trás, o meu caminho tem sido tudo menos linear. E isso agrada-me de sobremaneira, ter a oportunidade e possibilidade de continuamente aprender, desenvolver, reinventar-me. Tenho plena consciência que tudo isto é possível, fruto da aliança que fiz com o Grandalhão. Muito para além e melhor do que o meu sonho mais ambicioso!

E claro, as minhas conquistas mais audazes e o meu melhor desempenho personificado nos nossos dois filhos. Nele sempre vi o meu cavaleiro de luz e príncipe do mundo e nela a manifestação mais poderosa e selvagem da natureza.  Reflectindo nos últimos 20 anos da minha vida, que coincidem também na sua vasta maioria com a minha vida profissional, tem sido muito acerca deles. Num amor incondicional. Assegurando-me que podiam crescer em segurança, saudáveis. Seres humanos gentis, funcionais e autónomos.  

Não foi sempre fácil. Especialmente tendo começado em Portugal com uma rede e apoio que desapareceu com a nossa mudança para a Holanda. Eu quebrei.

Como prevíamos,  os nossos filhos estão a largar o ninho, de forma gradual mas determinada. E apesar de serem sempre parte da nossa vida, a verdade é que se avizinha uma nova fase. Reinventar-me, era de certa forma uma das intenções mais puras para esta minha viagem.

Na viagem ia acompanhada da Marta, uma querida amiga de longa data e que me tem acompanhado em todo este processo. Com ela sonhei e planeei esta viagem.

Este marco pós-covid. Este quebrar da estagnação (e consequente fedor) do que é estar parado. Fico fascinada com a interpretação de papéis e invenção de identidades diferentes ao longo da vida – sempre uma descoberta de tantos interesses, do que somos, e daquilo que nos projecta e/ou condiciona.

A viagem, como são todas, foi feita em etapas. De conexões: comigo, com a natureza, com as pessoas à minha volta e que ia encontrando pelo Caminho. Tudo parecia simples ali: levantar-se cedo, sair, caminhar sempre seguindo as setas amarelas indicadas com uma frequência e regularidade tranquilizadora. Uma única vez me perdi no Caminho – apesar do Grandalhão e a Makuks gozarem comigo e preverem que me iria perder muitas, de tal modo mau é o meu sentido de orientação.

A viagem começou com a Marta e foi tranquila até passarmos o Rio Minho. Pouco depois disso, a Marta teve uma lesão que lhe dificultou grandemente o movimento do joelhos. Vi que tentou com todas as forcas continuar mas os joelhos não permitiam e acabou por decidir regressar a Lisboa. Eu decidi continuar. Os dias anteriores tinham sido determinantes para ver que é seguro e ter uma ideia de como era. Com alguma adaptação ao que é ir acompanhada ou sozinha. O foco de chegar ao destino da etapa era grande em mim. Saía cedo, determinada, e raramente parava – pausas bio - até chegar ao destino, que era regra gera inicio da tarde. Chegar cedo ao albergue permitia ter um bom lugar para descansar (que e essencial), ser uma das primeiras (se não a primeira) a tomar banho em instalações limpas (antes de começar a chegar toda a gente), descansar e tratar os pés, espreitar a localidade do alojamento, combinar algo para jantar e regressar cedo porque às 10 da noite as luzes dos albergues apagam-se e tudo descansa.

Sozinha caminhava, encontrando esta ou aquela pessoa ou grupo. Tudo solidário. Tudo atento também por me ver sozinha – as pessoas preocupam-se genuinamente – ia fazendo contactos com quem me cruzava a noite e que iam “checkando em mim”.

É engraçado, foram 10 dias e no entanto as conexões e a solidariedade de estarmos todos ao mesmo, intensificam-se. Sem a Marta, fiquei mais aberta aos outros. Não que estivesse fechada mas era diferente o meu foco.  Acabei por sincronizar muito com a Riita (Finlandesa veterana de caminhos, com idade para ser minha mãe), que se tornou a minha mãe de caminho. O que eu recebia, retribui a Marie (alemã jovem em doce) e ao Jinu (um ainda mais jovem adulto sul coreano que decidiu embarcar em 6 semanas na Península Ibérica e começar com o Caminho) – eles foram os meus filhos do Caminho. Cada uma fazia o seu percurso, a seu ritmo, e encontrávamo-nos ao fim do dia. Íamo-nos checkando uns aos outros, motivando, inspirando.

Outros companheiros de Caminho foram as gémeas Francisca e Laura e a Daniela – jovens mulheres incríveis que faziam a caminhada e que acompanhava por vezes. E a São, irmã e marido, de Aveiro e Pedrógão.  O Sérgio, um espanhol fisioterapeuta com quem me cruzava bastante. Um casal espanhol, ele da Galego, ela Madrilena, a prepararem-se para uma imigração para o Canada. Um Checo super doce, Daniel. E tantas outras pessoas. Todas agradáveis, sempre: “Bom Caminho”, ouve-se vezes sem conta ao longo do trajecto.

Curiosamente os dias foram passando por mim sem peso (apesar da mochila ter sido sempre carregada por mim). Não tive uma bolha que fosse para contar a história – era meio estranho ver toda a gente – toda – à minha volta a debater-se com bolhas, calos, lesões, dores de costas, unhas a cair. E eu, nada. Enfim, as pernas cansadas ao fim do dia, e as costas a sentirem imenso alivio quando tirava a mochila mas nada mais. Na realidade, penso que os meus pés estavam mais macios no Caminho, tal o cuidado que lhes dava.

O último dia foi o mais difícil para mim. Não sei porquê mas a chegada a Santiago foi especialmente dura – e ao chegar irrompi num choro convulsivo e emocionado na praça. Senti-me pequena. Sozinha. O sucesso do Caminho é feito por cada passo e escolha do trajecto, e também pela companhia. Estive sempre acompanhada ao longo do Caminho mas sozinha à chegada. As pessoas foram chegando e celebrando e muitas se emocionavam também.

Tomei uma cerveja com o Jinu que se despediu de mim com uma paciencia infinita a espera da Compostela, e uma cerveja e um bilhete de obrigado pelo apoio. Vi a Riita ao jantar e assisti a uma parte da missa das 10 da noite.

No dia seguinte, cruzei-me com o lendário Andy – um dinamarquês que criou e gere o App CaminoNinja que usei no Caminho. Há anos que a vida dele e caminhar e actualizar o App. Despedi-me da Riita que se emocionou na despedida, e fui com a Marie que partia para o Porto também.

Eu segui para Lisboa. E depois Amesterdão. Num regresso de terraplanagem tranquila.

O Norte de Portugal é lindíssimo. A Galiza também. Muito verde, muita agua. Muitas flores e pássaros e pessoas habituadas a ver toda a sua vida peregrinos no seu Caminho.

Ultreia!

Patricia

Makuks: Ardennes

 A semana passada, foi a vez da Makuks fazer a sua viagem as Ardennes, na Bélgica. Uma tradição que a Escola Europeia tem e que o Champs também experienciou na S6.

Era cerca de 40 estudantes e 4 professores. Viajaram de autocarro e ficaram na Quinta de Werpin, em Hotton. A quinta tinha 12 apartamentos, com quartos, cozinha e espaços comuns.

A ideia desta viagem é de explorarem o espaço exterior e a capacidade física, fazendo varias actividades em grupo.

As fotos que tenho ficam aqui para memória futura.















Sei que a Makuks se divertiu. Regressou cansada e cheia de nodoas negras nas pernas mas muito satisfeita e com novas (e boas) memorias e historias para contar.

Patricia