29.12.08

Escreveu Fernando Pessoa que

"O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis."

Já deu para perceber pelos posts do Nuno que chegámos anteontem de Portugal, regressados das breves férias de Natal. O Diogo e a Catarina choraram no avião porque as férias não tinham sido boas e porque queriam ficar em Portugal, a viver em casa dos avós. Claro. Quando lá estamos a nossa vida é fácil: carinho e afecto por todo lado, festa e animação, reencontros, mimos, atenção, família e amigos de todos os tempos. Estamos de férias no espaço e tempo (porque não sinto que lá grande coisa tenha mudado) que dominamos.

Cá (na Holanda) tudo é mais difícil. Porque este é um povo calvinista, porque o céu está (regra geral) cinzento, porque a língua (em todos os sentidos) não é a nossa e a toda a hora temos de fazer um esforço por entender e um esforço por expressar, porque não temos a família, porque os amigos são recentes e não passaram por grande coisa connosco.

Mas é aqui que agora temos o nosso lar; é aqui que educamos os filhos esperando que eles cresçam com todas as ferramentas que lhes permitam ter uma vida feliz; é aqui que nos empregam e valorizam as nossas competências. E acima de tudo, é aqui que construímos o nosso futuro porque planeamos ficar no médio prazo. Na minha cabeça regressar a Portugal no curto prazo está fora de discussão.

Adorei o sol com que Lisboa me brindou nesta semana. Não podia ser mais alfacinha. Estiveram 15, 17 graus e um sol e luminosidade fantásticos - mas ainda assim as pessoas queixavam-se. Adoro voltar a Magoito, ver o mar. Gosto de reencontrar os amigos e beber um copo. E de celebrar o Natal com a família.

Gosto também de estar de volta na minha casa. Tenho pena a ida a Portugal não me encha de energia positiva. Regressar deveria ser carregar baterias mas esse nunca foi o estilo luso: sentir saudade e desejar o que não se tem é o mote.

Viémos para a Holanda porque teve de ser. Eu estou cá por opção. Passada, presente e futura. E assumo isso.

Patrícia

pensamentos pós-natalícios III

Não há mesmo como ganhar: se ficamos pouco queixam-se os avós e os netos que foi curto demais; se ficamos muito queixamo-nos nós que já não podemos com a loucura e as obrigações sociais incessantes; quando ficamos o tempo certo surge aquele ambiente depressivo a que se convencionou chamar saudade.

Talvez a Patrícia esteja certa e o mal seja inevitável. Ir a Portugal implica despertar a tal saudade, o prazer esquecido dos cheiros, sons e sabores de sempre, a alegria de ter quem nos receba de braços abertos e exigências de regressos.

Frustra-nos que as pessoas nos exijam mais, que se zanguem porque já vamos, nós que nos esforçamos tanto para não deixar cair ninguém. Mas no fundo é isso mesmo que queremos: não ser esquecidos, continuar a pertencer. É tão quando chegamos e mergulhamos num mar de afectos quando as férias começam, deixando-nos levar pela facilidade do conhecido.

O difícil é gerir as emoções à medida que o momento do fim se aproxima. Aos poucos nota-se uma irritação crescente por sentir o tempo fugir entre os dedos sem que tenhamos feito metade do que tínhamos planeado.
E sobretudo sem que tenhamos gozado um milésimo daquilo que precisávamos.

No dia da partida temos ainda que lidar com as vozes internas e externas que reclamam e com a repulsa que nos causa a todos a vista da realidade que já conhecemos mais ainda não entranhámos.

Procuramos respostas para evitar tudo isto. Mas repito que talvez não seja possível contornar, é possível que tenhamos que aceitar o mal com o bem.

Nuno

pensamentos pós-natalícios II

Dei por mim a pensar que também como filho tenho obrigações. E comparei-as às que tenho enquanto pai: posso escolher não as cumprir mas elas não deixam de existir.

Que pensar então da escolha dos meus pais, justamente para quem acredito ter tais obrigações, que deixaram as suas terras para regressar apenas nas férias do Verão?

Eu cresci com uma consciência muito ténue dos meus avós, que mais não eram para mim do que referências distantes com presenças fugazes durante as férias. Só as avós viveram o suficiente para ter delas memórias consistentes e só uma parecia ter prazer na nossa presença.

Não me lembro de alguma vez lamentar qualquer parte desta realidade. Porque me custa agora que os meus pais não estejam tão perto dos meus filhos quanto no início?

Nuno

pensamentos pós-natalícios I

Estar expatriado é uma explicação sempre à mão para depressões, angústias, tristezas e outros estados negativistas mais ou menos passageiros.

Para um ser humano sempre em busca dos porquês, não poderia haver resposta mais conveniente. Sobretudo se essa expatriação tiver sido forçada - daí o empolamento da saudade emigrante e outros grandes temas do fado.

Nuno

18.12.08

Nossa Lisboa

Tradicional


e/ou moderna


aqui vamos nós!

Patrícia

Antes de ser mãe...

O texto abaixo não é da minha autoria... mas como fala por mim!

Patrícia

"Antes de ser mãe, eu fazia e comia refeições quentes. Eu usava roupas sem manchas. Eu tinha calmas conversas.

Antes de ser mãe, eu dormia tão tarde quanto eu quisesse e nunca me preocupava com que horas iria para a cama. Eu escovava os meus cabelos e tomava banho sem pressa.

Antes de ser mãe, minha casa estava limpa todos os dias. Eu nunca tropeçava em brinquedos ou pensava em canções de embalar.

Antes de ser mãe, eu não me preocupava se minhas plantas eram venenosas. Eu nem sabia que existiam protectores de tomada…

Antes de ser mãe, ninguém nunca tinha vomitado ou cuspido em cima de mim. Eu nunca tinha sido mordida nem beliscada por dedos minúsculos. Ninguém nunca tinha me molhado.

Antes de ser mãe, eu tinha controlo da minha mente, dos meus pensamentos, do meu corpo e do meu tempo. Eu dormia a noite toda!

Antes de ser mãe, eu nunca tinha segurado uma criança chorando para que pudessem fazer exames ou aplicar vacinas. Eu nunca havia experimentado a maravilhosa sensação de amamentar e saciar um bebé faminto. Eu nunca tinha olhado em olhos marejados e chorado. Eu nunca tinha ficado tão gloriosamente feliz por causa de um simples sorriso. Eu nunca tinha me sentado tarde na noite só para admirar um bebé a dormir. Eu nunca tinha segurado um bebé a dormir só porque eu não queria deixá-lo. Eu nunca havia sentido meu coração se quebrar em um milhão de pedaços porque eu não pude parar uma dor. Eu nunca imaginaria que algo tão pequeno pudesse afectar tanto minha vida.

Antes de ser mãe, eu não conhecia a sensação de ter meu coração fora de meu corpo. Eu não conhecia a força do amor entre uma mãe e seu filho.

Antes de ser mãe, eu não conhecia o calor, a alegria, o amor, a preocupação, a plenitude ou a satisfação de ser mãe. Eu não sabia que era capaz de sentir tudo isso com tanta intensidade.

Antes de ser mãe…"

Wishing book


Encontrei, nas páginas da UNICEF, uma ideia que achei brilhante. Diz:

"This is your wishing book.
Inside there are games and things to do.
And also things to think about, to help
You decide what kind of life you want
To live - now, and in the future.

Your wishes are important.
They are to be supported by others.
To be worked for and made into a reality."

Ensina os direitos estabelecidos na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito das Crianças. Para todas as crianças saúde, educação, igualdade e protecção. www.unicef.pt/docs/pdf_publicacoes/convencao_direitos_crianca2004.pdf

Tem actividades para os seguintes temas:
- Eu e a minha família - o meu direito a viver;
- Eu e a guerra - o meu direito a viver sem guerra;
- Histórias de vidas de meninos - o meu direito a ser bem tratado pela minha família;
- Jogos sobre a saúde - o meu direito a não ser abusado;
- Comida e água saudáveis - o meu direito a ser alimentado;
- Prevenção de doenças - o meu direito à saúde;
- Educação e igualdade - meninos e meninas têm o mesmo direito à educação - este tema é-me especialmente caro;
- Brincar e igualdade - meninos e meninas têm o mesmo direito a descansar e brincar;
- Respeito mútuo - tenho o direito de viver sem abuso;
- O que quero fazer quando crescer;
- Que direitos tenh eu;
- O meu sonho/visão para o futuro;
- Desejar...

Pode ser encontrado em www.unicef.org/teachers - take action - a wishbook, e usado com a família.

Patrícia

17.12.08

Neel

Parece estranho e bizarro o título deste post mas não é.

Há uns dias atrás recebemos, no infantário, um papel com o seguinte:
"Woensdag 17 December
Ben Ik jarig!
Kom je op mijn feestje?"

Neel é o nome do menino - colega de infantário da Catarina - que celebra hoje 4 anos (atenção à idade) e que convidou a Minúscula para a sua festa. Assim foi. Eu e o Diogo fomos deixá-la há pouco em casa do Neel.

A Minúscula ía toda contente pela rua com a prenda na mão. E não é para menos, afinal é a sua primeira festa de aniversário à séria. Quando chegámos fez, primeiro, cara de "não me deixes" mas depois lá se rendeu ao sumo de maçã e ao doce holandês da mãe do Neel, e disse-me "não vou chorar", pelo que vim segura de que se irá divertir.

Estavam lá os seus papás (muito holandeses) mais 4 meninos (também puros holandeses) - todos mais velhos do que a Catarina - e uma menina (holandesa) - também mais velha. Resta dizer que isto é mais uma prova de que a Catarina está absolutamente integrada na Holanda (ou é meio-holandesa, a mais holandesa de todos nós, claro)...

Comentei com a mãe que era engraçado convidarem a Catarina porque ela é do género oposto (nesta fase do campeonato isso faz diferença) e bastante mais nova (dois anos e 9 meses). A mãe do Neel depressa me assegurou que o Neel tinha escolhido os amigos e que a Catarina "faz parte do gang".

Como está a correr não sei. Estou prestes a ir buscá-la!

Patrícia

1.º trimestre 2008/2009 - Avaliação

Refere-se este post ao Diogo, que a Catarina ainda não tem avaliação formal.

A avaliação do liceu segue a estrutura abaixo apresentada, numa escala de A a D, sendo considerada a competência em análise:
A = adquirida
B = a reforçar
C = no início de aquisição
D = não adquirida.

Vou colocar todos os items estudados, apesar de alguns não terem sido avaliados. Em 38 itens avaliados, apenas 3 foram a reforçar. Tudo o resto foi adquirido, o que é absolutamente notável!

Domínio da linguagem verbal
Comunicação
O aluno sabe ou é capaz de:
- Exprimir-se de forma compreensível – A;
- comunicar em diálogo e em grupo - A;
- dizer de memória um texto - não avaliado;

Domínio da linguagem de evocação
- Reportar uma história ou acontecimento - A;
- Resumir, explicar, comentar e descrever - não avaliado;
- Ditar um texto ao professor - não avaliado;

Leitura e escrita
- Localizar a leitura numa frase - A;
- Distinguir fonemas – A-;
- Distinguir palavras, silabas, letras - A;
- Decifrar palavras novas - B;
- Ler em voz alta um texto preparado (respeitando a pontuação e a entoação) - não avaliado;

Interpretação
- Identificar diferentes suportes escritos, diferentes tipos de texto - não avaliado;
- Localizar o índice (título, autor) e localizar-se no livro - A;
- Compreender um texto lido pelo professor - A;
- utilizar a biblioteca – não avaliado;

Vocabulário
- Distinguir, de acordo com o contexto, o sentido particular duma frase ou expressão - não avaliado;
- Reconhecer a família das palavras pela sua forma - não avaliado;

Ortografia
- Copiar uma frase, um texto sem erros - A;
- Escrever o que lhe é ditado respeitando a fono/grafia - A;
- Escrever sem erros as palavras de uso corrente - não avaliado;

Gramática
- Identificar uma frase - não avaliado;
- Distinguir os diferentes tipos de frase - não avaliado;

Escrita
- Reconhecer as diferenças gráficas duma mesma letra e palavra - B;
- Escrever de forma legível e respeitando as regras da escrita – B;

Produção escrita
- reconstituir uma frase com um modelo – A;
- reconstituir uma frase sem modelo - A;
- redigir uma frase - não avaliado;

Matemática
Numeraração
- Enumerar e quantificar - A;
- Contar até – 59 (Em português já o ouvi contar até mil!)
- Organizar objectos, classificá-los e comparar grupos - não avaliado;
- Conhecer dobros e metades - não avaliado;
- Organizar números, compará-los e classificá-los - A;
- Comparar formas diferentes de escrever o mesmo número - não avaliado;
- Associar a escrita numérica e por extenso do mesmo número - não avaliado;

Cálculo
- Cálculo mental - A;
- Utilizar diferentes procedimentos de cálculo e adição, subtracção e multiplicação - não avaliado;

Geometria
- reproduzir um algarismo - A;
- utilizar uma tabela de entrada dupla – não avaliado;
- codificar e descodificar um trajecto – A;
- reconhecer figuras simples - não avaliado;
- se localizar e/ou se deslocar em conjunto - A;
- utilizar algumas técnicas e instrumentos - não avaliado;

Resolução de problemas
- procurar informações úteis - não avaliado;
- justificar escolhas e expôr os resultados - não avaliado;
- saber resolver um problema - não avaliado;

Medidas
- comparar e utilisar medidas de comprimento e peso - não avaliado;
- utilizar a moeda - não avaliado;
- utilizar a régua graduada - não avaliado;

Vida em conjunto
- conhecer as regras simples de vida em grupo – A;
- responsabilizar-se – A-;
- compreender as noções de liberdde, igualidade e tolerância - não avaliado;
- compreender e guardar algumas regras simples de segurança rotineira - não avaliado;
- conhecer os simbolos de França e dos Países Baixos - não avaliado;

Descoberta do mundo
No domínio do tempo
- Distinguir o passado recente do passado mais distante - não avaliado;
- Situar e utilizar a localização no sentido cronológico - não avaliado;
- Comparar os modos e locais de vida de diferentes gerações - não avaliado;

No domínio do espaço
- Localizar-se e situar-se num espaço familiar. Elaborar e/ou tilizar uma planta simples - A;
- Saber situar França, os Países Baixos, a Europa e outros continentes sobre um mapa mundo - A (claro que o Diog sabe loalizar Portugal também);
- Reter alguns aspectos da diversidade da vida animal e vegetal bem como dos habitats - não avaliado;
- Utilizar um vocabulário preciso - não avaliado;

Matéria e tecnologia
- Identificar os estados e propriedades duma matéria - não avaliado;
- Manipular e utilizar técnicas simples - não avaliado;
- Utilisar um computador e conhecer algumas funções de base - não avaliado;

No mundo da vida
- Diferenciar o vivo do não vivo - não avaliado;
- Conhecer manifestações de vida animal e vegetal e referir-se a critérios de classificação (ex. deslocação) – A;
- Reconhecer as grandes funções do corpo humano (movimento, crescimento) - não avaliado;
- Conhecer as diferentes características dos 5 sentidos - não avaliado;
- Compreender e respeitar regras de higiene - não avaliado;

Educação artística
Educação musical
- Cantar canções simples - A;
- Participar em actividades com instrumentos - A;
- Escutar um registo sonoro - A;
- Localizar e memorizar alguns elementos musicais - não avaliado;

Educação visual
- Escolher aplicar uma técnica para fazer uma produção pessoal – A;
- Provar criatividade e imaginação - A;

Educação física e desportiva
- Exprimir-se com o corpo – não avaliado;
- Participar em jogos de oposição e jogos colectivos - A;
- Participar em actividades atléticas e ginastas – A;

Comportamentos e métodos de trabalho
- respeitar as regras da escola e da sala – A-;
- estar atento e concentrar-se na realização de uma tarefa – A;
- trabalhar a um ritmo satisfatório – A;
- ser cuidadoso com o seu trabalho – A-;
- compreender o trabalho – A.

Bom trabalho tanto em inglês quanto em holandês. Diz a professora que foi um bom início de primária e que o Diogo é muito motivado para aprender. Está muito bem e assim deve continuar.

Claro que a avaliação por si é muito boa. Se for lida no contexto em que o Diogo a atingiu:
- numa língua que não é a sua e à qual não é exposto senão na escola (competindo com meninos francófonos);
- para além disso ainda fala (e lê) Português muito consistente e holandês (o suficiente para se safar);
- que mudámos de casa;
- que os pais não andam "em cima dele" para aprender (apesar de o acompanharem);
- que é dos meninos mais populares da escola;
- e que o sistema de ensino francês não é propriamente conhecido por ser facilitista ou benevolente,

é de se tirar o chapéu.

Parabéns filhote - VAMOS COMEMORAR!

Patrícia

O rei da simpatia

Enquanto preparava algumas coisas no quarto dos meninos e vestia a Catarina, decidi colocar um CD de Natal para entrarmos no espírito.

Ao ouvir a letra de uma das músicas, pensei que a tinha de reproduzir para aqui, porque parece escrita, de propósito, para o Diogo. Diz assim:

"reparem como ele é: engraçado e bem disposto,
tem já imensos amigos e é alegre como eu gosto!
Estamos hoje aqui por causa, da tua enorme alegria
viémos para te cantar: és o rei da simpatia!"

Sei que olho com olhos de mãe (apesar de muita gente já me ter dito) mas encho-me de orgulho por ver que o Diogo é um menino muito feliz.

Patrícia

Auxiliares de memória

Nos dias que correm tudo é feito através de "auxiliares de memória" informáticos, vulgarmente conhecidas por agendas electrónicas, seja no PC ou no PDA ou ainda no telemóvel. Têm imensa utilidade: ajudam-nos a recordar os imensos compromissos e afazeres e a planear os dias e semanas vindouros. Poderíamos ainda falar do registo do passado, e aí teríamos o exemplo deste blog, mas agora quero mesmo concentrar-me no futuro.

Eu, como verdadeira (sim assumo) control freak, adoro agendas (tenho, guardadas, as dos últimos 10 anos!) e de todos os tipos: a agenda pessoal, a agenda familiar, a agenda profissional e, claro, o outlook de que também uso e abuso. Não uso o telemóvel e não tenho PDA ou blackberry.

Ontem comprei a minha agenda pessoal para 2009 e claro, comecei já a preenchê-la com aniversários, viagens já planeadas, férias de escola do Diogo e dias que o infantário da Catarina está fechado - e com isto já tenho imensa informação guardada.

Ainda não consegui encontrar a agenda familiar, essa sim fundamental para a gestão diária porque regista: as viagens de trabalho, as férias, os dias livres, as festas de aniversário, os jantares, as visitas, os dias da biblioteca, e outros eventos que tal - de todos - é genial! E com isto vamos conseguindo (ou tendo a ilusão de que conseguimos - bem sei) controlar (mais ou menos) as coisas.

Não faço ideia como se conseguem gerir as pessoas que não se munem deste poderoso e fundamental instrumento. Recomendo.

Patrícia

16.12.08

paz e sossego

Pela primeira vez em muitos anos vou passar o ano sem qualquer perspectiva de mudança para o ano que se avizinha.

Confesso que me está a fazer alguma confusão. Não faltam desafios mas acho que me viciei em mudança. Na verdade começo a perceber que sou muito melhor a manter do que a começar algo de novo mas por alguma razão venho sempre fazendo a escolha contrária.

De qualquer forma esse é o meu grande desafio para 2009: manter e evoluir na continuidade. Pois sem dúvida preciso (precisamos) de algum sossego depois de tudo o que vimos fazendo nos últimos anos.

Nuno

plano de férias

Ontem fizemos, pela primeira vez na vida, um plano de férias. Em estilo de folha de gestão de projectos, com os dias na horizontal, as horas na vertical e as tarefas a preencher os espaços a representar a duração estimada de cada uma.

Dei por mim a pensar o que queria atingir com o plano e a abordá-lo de trás para a frente, como faço com os meus projectos profissionais. Ajustámos tarefas, negociámos trocas e aceitámos o resultado final com cedências para ambas as partes.

E agora ocorreu-me que estas são as únicas férias que vamos ter durante largos meses e que temos mesmo que arranjar uma solução para isto.

Nuno

enfrentar os medos

O Diogo agora acorda-me todas as noites para perguntar se pode ir à casa-de-banho. Sempre pensámos que teria a ver com a escola, onde concerteza tem que pedir para sair da sala, mas ontem ele esclareceu o mistério quando acrescentou ´estou a enfrentar os meus medos`.

Isto é, ele só quer companhia enquanto vai à casa-de-banho, ainda que seja à distância. Uma voz é suficiente para o confortar e ajudá-lo a enfrentar o medo do escuro.

Nuno

15.12.08

em público

Em conversas com diversos colegas a propósito da festa de sexta-feira venho ouvindo repetidamente aquilo que sei há muito e nunca esqueço: tenho muita sorte em estar casado com uma pessoa muito especial.

Talvez porque fui ensinado assim - homem, português, filho de combatente da guerra do ultramar, neto e bisneto de gente com vidas duras -, talvez porque com a idade vamos perdendo a sensibilidade ou ainda talvez porque eu seja mesmo assim, tenho tendência a fechar-me e falar pouco sobre sentimentos e sensações.

Não porque ache pouco importante - bem pelo contrário - mas porque de alguma forma me sinto desconfortável quando o faço. Quando namorávamos talvez não fosse tanto assim mas as contrariedades naturais da vida vêm-me endurecendo. Às vezes para proteger de preocupações aqueles de quem gosto, outras vezes por vergonha de erros ou insuficiências, em geral quero resolver primeiro e partilhar depois.

Mas isto tudo para dizer que não deixo tão óbvio quanto devia a convicção absoluta de que a melhor decisão que alguma vez tomei foi juntar-me a uma pessoa a todos os títulos incrível.

Não perantes terceiros, porque isso pouco me interessa e porque acredito que os actos valem bem mais que palavras (e nesse capítulo estou tranquilo), mas perante a própria.
Depois de tantas aventuras em conjunto e na antecipação de muitas mais deixo aqui com todas as letras: PEQUENINA, ADORO-TE E TENHO MUITO ORGULHO EM TI

Nuno

14.12.08

Por falar em encantos


e ainda sobre sexta-feira e vida profissional: fomos jantar a um dos melhores restaurantes de Amsterdão como celebração da época natalícia, a convite da empresa onde o Nuno trabalha.

Apesar de lá fora a noite estar gelada e de Amsterdão ser conhecida pela sua pragmaticidade, foi muito agradável constatar que a cidade também pode ser elegante.

Patrícia

A beleza e aroma das rosas e a dor dos seus espinhos

Sexta-feira terminei um ciclo que começou há quase dois anos. Trabalhei, neste tempo, provavelmente na atmosfera mais internacional que terei ao longo da minha vida profissional. Só no meu piso, tinha colegas dos seguintes países: Holanda, Marrocos, Itália, Inglaterra, China, Camarões, Tunísia, Japão, Zâmbia, Venezuela, Rússia, França, EUA, França, Chile, Alemanha, Arménia, Espanha, Bulgária, Hungria, Letónia, Polónia e Finlândia. Nos outros pisos, trabalhavam pessoas da Irlanda, África do Sul, Argentina, Escócia, Malásia, Índia...

Já tinha tido uma experiência internacional, quando vivi e estudei na Suíça mas o contexto era completamente diferente.

Na Fundação onde trabalhei, e enquanto lá trabalhei, vi passar uma pessoa do Gana, de Trindade e Tabaco, Dinamarca, Suécia, Bélgica e Brasil. Posso dizer que a exposição à variedade e diversidade de culturas e abordagens (havia gente com experiências muito distintas) é, uma das, provavelmente a maior, grande valia que levo comigo.

Mas há outra mudança acentuada que ocorreu em mim fruto da experiência nesta organização. Neste tempo trabalhei não só com Portugal (onde desenvolvi bastantes contactos na minha área) mas com as regiões de África e Médio Oriente. Quando iniciei o meu trabalho tinha, como a maior parte dos europeus médios, uma ideia muito negativa, negra, quase de causa perdida sobre África. Hoje creio que, apesar de muitas tragédias ocorrerem naquele continente, muito daquilo que pensava era ignorância. Hoje sei um pouco mais sobre aquele fantástico, e no entanto tão misterioso, continente com o qual desenvolvi uma relação bastante forte. Tão forte que, me fará continuar a olhar para, e, voltar a, ele.

Sobretudo com África subsahaariana e com a causa especifica do impacto que a educação feminina pode ter no desenvolvimento destes países. Mas a isto voltarei noutro post.

Ou seja, posso dizer que mais do que um desenvolvimento técnico, tive que ter (necessariamente) uma maior abertura na minha percepção do mundo e nas competências sociais exigidas para desenvolver contactos e relações profissionais. Trabalhei (para além da minha competência técnica na área fiscal) na área do marketing (onde fiz targeting e benchmark) e vendas; no desenvolvimento de produtos; na construção, negociação e formalização de contratos com autores externos e redes de contactos. Tive acesso a pessoas e ocasiões que nunca teria noutras circunstâncias, por exemplo, jantei numa tenda erguida para o efeito a 500 metros das pirâmides de Gisé.

Não se pense que tudo foi um mar de rosas. Acredito que poderia ser muito melhor mas simplesmente não acredito na direcção daquela organização. E isso levou à minha saída. Com alguma pena, verdade, porque acredito no potencial que aquela organização tem mas com os olhos postos para a frente e um novo desafio que começará já no início do próximo ano.

E vão sendo estas experiências que nos fazem continuar a crescer.

Patrícia

12.12.08

atacadores

Comprámos umas botas xpto ao Diogo. Ele escolheu o modelo, garantiu que eram aquelas mesmas que queria e fizemos-he a vontade pois sabíamos que ele precisava mesmo de botas capazes de enfrentar um Inverno duro e muita pancada nos jogos de bola na escola.

O problema é que as botas têm atacadores, ele não sabe fazer os laços e não tem mostrado muita vontade de aprender. Apesar da nossa pressão, ao fim de 2 meses continua a não ser capaz de se desenrascar sozinho.

Ou melhor, ele desenrasca-se pedindo a amigos, professoras e afins, mas não faz sozinho. Para ser honesto, não me desagrada inteiramente que ele se safe dessa maneira: demonstra engenho e capacidades sociais. Mas incomoda-me que não se empenhe em fazer as coisas por si.

Nuno

11.12.08

férias de Natal

Mais uma vez o drama das férias em Portugal.

Vamos ficar uma semana, só para passar o Natal. Mas já temos os dias todos ocupados, de tal forma que se torna impossível planear o mais pequeno momento para nós.

Incrivelmente frustrante, pois são os únicos períodos em que poderíamos descansar. A vida aqui não dá tréguas, entre trabalho e as milhentas obrigações andamos sempre a correr. E depois chegam as férias e somos sovados pelas infinitas exigências.

É o preço a pagar pela possibilidade de tocar terra de novo.

Nuno

um Diogo para cada menina

Para recordação...

A Catarina comentou há dias que uma amiga da escola tinha ido para casa com a sua mamã, o seu papá e o seu Diogo.

Nuno

saudades por antecipação

Por vezes dou por mim a olhar para nós e a pensar como no futuro vou sentir saudades do que somos agora.

Os pequenotes estão em idades fabulosas, cada um à sua maneira e os dois em conjunto. Fazem uma dupla hilariante, vezes sem conta fico num canto a rir enquanto assisto às suas discussões ou brincadeiras.

A sua cumplicidade é estonteante, juntos construíram um mundo completamente à parte, no qual só eles se entendem. Espero que mantenham isso. Bem nos esforçamos por incentivar ambos a olharem um para o outro como melhores amigos para sempre.

Nuno

quero alguém dê-me

é a frase obrigatória da Catarina à hora de jantar. Come duas garfadas e depois quer que um de nós a ponha ao colo e lhe dê à boca.

Se não o fazemos recusa-se a comer. O que com ela é um problema pois está cada vez mais holandesa: leite, pão, queijo, carne e pouco mais.

Nuno

gritos

A Catarina descobriu o poder dos gritos. E usa essa técnica sem qualquer pudor, seja nas suas disputas com o irmão seja para chamar a nossa atenção para algo que quer.

Grande guerra que vai ser. No outro dia teve um mini-castigo por causa disso mas só lá irá com o tempo.

Nuno

leitura

O Diogo entrou na fase espectacular da paixão pela leitura. Tenta ler tudo o que lhe passa pela frente, seja em livros, cartazes na rua ou pacotes de leite ao pequeno-almoço.

Para nós também é uma experiência nova pois ele faz isto em 4 línguas ao mesmo tempo. Muito mais complicado pois em cada uma há variações significativas ao nível da pronunciação das letras e das sílabas.

Mas de alguma forma ele vai conseguindo diferenciar e mantém-se a um nível alto no liceu francês, apesar de estar em clara desvantagem perante miúdos cujos pais são nativos e que falam francês em casa.

Nuno

7.12.08

O Nemo (ou terá sido a Dori?) foi à piscina


Este fim de semana a Catarina começou finalmente uma actividade extracurricular: natação. Para ser mais precisa, deveria chamar-lhe as aulas de adaptação ao meio aquático.

A bela Catarina andou a semana inteira a decidir qual o fato de banho que iria escolher. Optou pelo do Nemo – qualquer escolha seria boa porque ela é sempre linda! Mas eu acho que, tirando a parte da perda de memória, que disso ela tem-na todinha, ela é mais a Dori: azul, tagarela, cheia de energia positiva e, (desculpa filhota mas é verdade) terrível a cantar.

Chegados à piscina, na primeira aula havia três pequenotes entre os 2 anos e meio e os três, os respectivos pais (menos nós que pensávamos que não teríamos de ir com ela para a piscina) e os professor. Duas meninas e um menino. Claramente o menino era o mais destemido. Nas outras pistas, o Diogo e outros meninos faziam os seus exercícios normais.

A Catarina foi excelente nos seus diversos desafios:
- molhou com um regador a cabeça da outra menina e deixou que o menino molhasse a dela (isto é especialmente importante porque até há cerca de um mês atrás chorava no banho cada vez que lhe molhávamos a cabeça) – esta parte ainda sentados à borda da piscina;
- encheu um balde com o regador até que ele fosse ao fundo da piscina – através deste exercício o professor levou-os para dentro da piscina. Os pais não os seguram, eles têm de procurar o seu equilíbrio pelo seu próprio pé. Aliás, a páginas tantas engoliu um pirolito quando perdeu o equilíbrio e se afundou: o professor esperou um tempo e depois puxou-a, porque ela não reagiria... ficou provado!;
- empurrou uma bola de ping pong com o nariz ou a soprar;
- percorreu o colchão e lançou-se nas mãos do professor; e

no fim não queria sair, de tão divertida que estava.

Bom começo para a Minúscula que muito merece as suas actividades. A ver se temos força para as continuar (e se ela se autonomiza depressa da necessidade de um pai com ela na piscina – isto já é wishful thinking) mas com tino, sem cairmos na ditadura da vida em função das actividades extracurriculares dos meninos.

Patrícia

6.12.08

Saudades da minha praia


*Há muito que deixei aquela praia
De grandes areais e grandes vagas
Mas sou eu ainda quem na brisa respira
E é por mim que espera cintilando a maré vasa"

Sophia de Mello Breyner Andresen

4.12.08

vizinhos

Quem não tem histórias escabrosas de vizinhos maléficos, sobre os quais poderíamos jurar passarem pelo menos metade do seu tempo a magicar patifarias para transformar a nossa vida num inferno?

Pois aqui na Holanda também os há, tão maus ou piores do que em Portugal. Suponho que seja mais um fenómeno global. Aliás, histórias de terror sobre vizinhos circulam livremente entre expatriados e são contadas às crianças como incentivo para comerem os legumes.

Nós tínhamos vizinhos desses na casa alugada em que estávamos. Não era assim tão mau, era só chato. Ele e a mulher reclamavam por tudo e por nada, e sobretudo com as crianças eram absurdamente intolerantes.

Isto apesar de terem passado 8 meses em obras, perturbando com isso toda a vizinhança sem que ninguém no entanto se queixasse, e de gostarem de ouvir música aos berros nas mais variadas horas do dia.

Enquanto nós fazíamos por compreender que tal é o fado de quem vive em apartamentos., eles atiravam-se aos arames cada vez que um dos nossos putos dava um salto ou uma corrida. Como sofremos a pedir aos miúdos para não correrem dentro de casa!

Finalmente mudámos de casa e anunciámos-lhe que íamos sair. Pela primeira vez lhe vimos os dentes tal foi o sorriso. E nós, radiantes também por nos livrarmos deles, pensávamos "bom de mim fará que depois de mim virá". Mas não nos ocorreu que isso vale para os dois lados.

A Patrícia empenhou-se bastante em fazer boa vizinhança neste novo sítio, dando-se inclusive ao trabalho de escrever postais de Natal para os vizinhos mais próximos todos. Tivemos reacções muito afáveis e ficámos com óptima impressão da generalidade das pessoas em volta.

Até que no fim-de-semana passado bate à porta um vizinho, com o qual nunca tínhamos falado, se apresenta nessa qualidade e me pergunta se as agulhas de abeto espalhadas no tapete eram nossas. E, ainda com um tom acusador, continua a apontar em volta e a mostrar-me a sujeira que eu tinha feito com a árvore de Natal.

Olhei-o nos olhos e perguntei-lhe se estava tudo bem com ele. Ficou atrapalhadíssimo e respondeu que sim, estava tudo bem. Continuei: - Sou o seu novo vizinho, é um prazer conhecè-lo. Ele já gaguejava mas não lhe dei espaço. Pedi licença e fechei a porta, assegurando que limparia tudo assim que acabasse o que estava a fazer.

Nuno

30.11.08

Restauração da independência

Amanhã comemora-se no nosso Portugal a restauração da independência. Andámos subjugados à monarquia espanhola durante um tempo. Segundo reza a história, a 1 de Dezembro de 1640, já lá vão portanto 368 anos, eclodiu em Lisboa a revolta, imediatamente apoiada por muitas comunidades (urbanas e rurais) de todo o país, levando à instauração da Casa de Bragança no trono de Portugal.

A comemoração é feita com um feriado. O 12.º feriado nacional (seria 13.º se contássemos com o feriado municipal) do ano, sendo que ainda haverão mais dois até ao final do ano. Contas feitas há 15 feriados em Portugal, por ano. Mais 22 dias de férias (ou 25 caso os trabalhadores cumpram os requisitos de assiduidade e pontualidade exigidos pelo novo Código do Trabalho Português), que efectivamente são 25 para todos...

Independência (política) de Espanha celebrada com um feriado. Faz sentido mas é irónico tendo em conta a circunstâncias económicas em que vive o nosso Portugal e a sua (inter)dependência com Espanha. Mas celebre-se, que a data é, de facto, histórica!

Isto é na realidade dor de cotovelo, porque o que queria era ter 15 dias acumulados às minhas férias, em vez da metade que tenho na Holanda.

Patrícia

Cinema

Eu e o Nuno fomos ao cinema, pela primeira vez na Holanda, terça-feira (ou terá sido segunda-feira?) à noite ver o Blindeness, baseado no Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago.

Hoje fui com os pequenotes ver o Madagascar 2. Era em inglês, com subtítulos em Holandês. Foi a primeira vez que a Catarina visitou uma sala de cinema - relembro que tem dois anos e quase oito meses - e portou-se lindamente, apesar de não entender inglês e não saber ler. É verdade que fui, baixinho, contando o que se passava. Não fez barulho e apenas pediu para ir à casa de banho já perto do fim.

O Diogo portou-se também muito bem - como seria de esperar, aliás. No fim, enquanto ainda dançava(m) e cantarolava(m) "I like to move it, move it" arrumou o seu ajuste da cadeira para ficar mais alto, como um menino responsável, sem que lhe fosse dada qualquer orientação.

Muito bem os dois. São um absoluto luxo de filhos!

Patrícia

29.11.08

Comprimento e peso - 6 anos e três meses

"Just for the record": recebemos uma nota da enfermaria da escola a dizer que o Diogo está com 124 cm e 24 kilos.

Após uma pesquisa na net (na qual não encontrei nenhum conteúdo de jeito em Português), lá achámos o seguinte:

Boy
Age: 6 year
Optimal Height: 116 cms (range 102 - 128 cms)
Optimal Weight: 21 kgs (range 15 - 30 kgs)

O que quer dizer algo que já sabíamos: o Diogo é mais alto que a média (tem a quem sair) e, consequentemente, mais pesado também.

Patrícia

Tcha ram!


O nosso, lindíssimo, pinheiro de Natal.

Estamos todos muito contentes com ele: por o termos achado; enfeitado em conjunto, ao som de músicas de Natal, e; por se impôr majestoso no centro da nossa sala. Claro que ainda terá de ser cercado por presentes, mas uma coisa de cada vez.

Acho que, um pouco fruto dos contos de Natal (especialmente O cavaleiro da Dinamarca, este ano sentimos a necessidade de ter uma árvore de Natal a sério. E temos. A mais bonita de sempre.

Feliz Natal!

Patrícia

28.11.08

O primeiro Natal na casa nova

Começámos os preparativos de Natal. Devagar, muito de mansinho, sem fazer alarido para melhor poder apreciar, vamos viver o primeiro período de Natal nesta nossa casa nova.

Embora vamos celebrar de alguma forma o Sinterklaas, a verdade é que temos ignorado por completo a sua existência. Não dá, é pedir demais - se um Pai Natal incomoda muita gente, 2 Pais Natal incomodam muito mais...

Ainda não temos árvore pois ainda não encontrámos uma à venda. Disseram hoje à Patrícia que na Alemanha a árvore só é posta na véspera. O que faz todo o sentido se me lembrar de alguns contos de Natal passados aqui para estas bandas e leva a crer que o mesmo se passará neste cantinho à beira-mar (do Norte) plantado.

Mas de resto estamos activos. Já estamos a escrever os postais, temos lista de compras (muito básica para já, mas não se pode pedir mais a quem acabou de mudar de casa) e já distribuímos alguns penduricalhos vermelhos pela casa.

Não vamos passar os dias aqui mas vamos concerteza celebrar à nossa maneira: fora de tempo.

Nuno

Escrita

O nosso puto charila já escreve. Estou neste momento a olhar para ele enquanto escreve os postais de Natal para enviarmos para o pessoal todo.

Nunca deixa de me impressionar a rapidez com que os miúdos aprendem as coiasas novas. Autênticas esponjas, como é costume dizer. Desde as línguas à matemática, passando pela natação e culminando agora na escrita, a quantidade e variedade das competências que ele adquiriu nos últimos 2 anos são impressionantes.

Não queria fazer a sua apologia, apenas pretendia anotar este momento único: pela primeira vez um dos nossos filhotes escreve os postais de Natal.

Nuno

20.11.08

Ronha

Andava à procura desta palavra há dias. Creio que desde a passada manhã de domingo, quando os pequenotes resolveram acordar (como é hábito) mais cedo do que num dia útil (inclua-se o sábado neste conceito porque é dia de compras e rituais afins).

Nunca fui grande dorminhoca – tinha amigos e colegas que aos fins de semana acordavam lá para as 3 da tarde – mas sempre gostei de dormir: de preferência deitar-me cedo e acordar naturalmente, também para o cedo. E claro, fazia ronha. Lembro-me de verdadeiras ronhas já em idade adulta:
- no Magoito – nas manhãs de fim de semana ou de férias, sobretudo as de Verão, enquanto esperava que aquecesse o suficiente para ir para a praia;
- na Suíça - onde me levantava para tomar o pequeno almoço no foyer, e voltava para a cama para sonhar acordada e dormitar mais um pouco por baixo do magnifico colchão de penas enquanto lá fora nevava;
- nos primeiros 10 meses de casada, antes do Minorca nascer.

Depois desta data, faz agora 6 anos e três meses, acabou-se a ronha tal como a conhecia. E acabou-se de tal forma que já nem me conseguia lembrar da palavra, o que é triste.

No domingo perguntava ao Nuno qual era a palavra que descrevia este comportamento. Ele dizia, "bezerrar? pastar?", mas eu sabia que não, que havia outra palavra, a certa. Disse-me hoje a minha cunhada:
"- ronha?"
"- sim, é isso mesmo. Ronha".

Patrícia

Sinterklaas

No Domingo passado participámos pela primeira vez numa das tradições mais representativas dos holandeses: a chegada do Sinterklaas.

Para quem ler isto e não souber quem é tal personagem, o Sinterklaas é tão simplesmente o conhecido São Nicolau, cujos méritos são celebrados em variadíssimos países através de reproduções coloridas das suas acções beneméritas em favor dos mais desfavorecidos.

Aqui na Holanda o senhor teve tal impacto que continua a ofuscar o Pai Natal - que na verdade é também São Nicolau numa versão desfocada pela Igreja Católica e pelo passar do tempo. É no dia 5 de Dezembro que os holandeses celebram em força com trocas de prendas, leitura de poemas escritos para a ocasião, surpresas e outras actividades.

Até essa data os miúdos são constantemente surpreendidos pelas prendinhas dos Zwarte Pieten (os pequenos ajudantes de cara negra - consta que na origem estes representavam o Diabo escravizado pelo Sinterklaas), que descem pelas chaminés ou batem à porta e fogem antes que alguém possa lá chegar, deixando doces ou pequenas ofertas em nome do Sinterklaas.

Ora tudo começa com a vinda do Sinterklaas de Espanha. A escolha de Espanha como país de origem parece ser inexplicável, até para os próprios holandeses, e é ainda mais estranha tendo em conta que São Nicolau era turco. Para mais, os Zwarte Pieten estão vestidos com roupas típicas da Espanha do século XVI (vi isto na wikipedia...).

O Sinterklaas chega em Novembro de barco e é depois passeado de combóio, autocarro, cavalo ou o que for pelas ruas e canais das cidades, perante hordas de criancinhas à espera de doces e breves contactos com o próprio ou os seus ajudantes.

Ora nós evitámos tudo isto no ano passado, com o pretexto de não querermos estragar o Natal. Mas desta vez os nossos amigos Pedro e Cristina desafiaram-nos e fomos com eles para a Dam assistir a tudo isto ao vivo.

Nada de especialmente excitante, se assim posso dizer. Muita confusão, muita gente, bem ao estilo holandês. O senhor lá chegou de cavalo, o Diogo aproveitou para meter pepernoten (pequenos bolinhos de canela que aqui comem aos montes nesta altura) ao bolso e a Catarina gritava ´eu não quero ir ao Sinterklaas´.

No dia 5 iremos celebrar o verdadeiro dia. Na verdade nada de muito novo para nós que já em Portugal estávamos habituados a celebrar o Natal várias vezes por ano.
O desafio está em criar uma história coerente para os minorcas não se baralharem com tantas personagens e festas diferentes.

Nuno

19.11.08

finalmente em casa

A Patrícia já escreveu sobre a nova casa. Mas eu ainda não.
Talvez porque ela o tenha feito ou talvez porque precisasse de tempo para saber o que queria escrever.

Agora quaisquer dúvidas que pudesse ter dissiparam-se, seja quanto ao conteúdo seja quanto à própria vontade de escrever sobre o tema.

Foi paixão à primeira vista, desde que a encontrei no sítio de busca dos agentes imobiliários. Recordávamos no outro dia que escrevi à Patrícia quando a encontrei e na mensagem dizia algo como ´esta não podemos deixar escapar!´.

Para contextualizar, passámos (sobretudo eu, que sempre estive mais obcecado com este tema) mais de um ano à procura de algo que nos agradasse. Arrendávamos um apartamento num sítio muito bom, com muito espaço e luz, mas o dono queria vender e cada período de arrendamento era arrancado a ferros e renegociado com aumentos de renda substanciais.

Precisávamos por isso de encontrar uma solução que nos permitisse assegurar poiso para os próximos tempos de forma satisfatória. Discutimos longamente se devíamos comprar esse mesmo apartamento que arrendávamos mas acabámos por concluir que precisava de muitas obras e não conseguiríamos suportar o custo.

O problema é que os apartamentos aqui não são como aqueles a que estávamos habituados: a estrutura é em madeira e as paredes parecem feitas de areia; as divisões são absurdas - há casas de 90 m2 com salas de 40 m2 e quartos onde mal cabe uma cama de bebé, outras em que tem que se passar pela casa-de-banho para chegar ao quarto e ainda outras em que um espaço aberto com 2 m2 é uma divisão no prospecto -; e o estado geral da casa é tal que as obras necessárias implicariam um investimento financeiro enorme e meses de trabalho.

Por tudo isto e porque não nos víamos a tentar comunicar com pedreiros e carpinteiros holandeses por gestos, resolvemos que teríamos que encontrar uma casa que precisasse do mínimo possível de obras ou arranjos. E cuja divisão do espaço encaixasse no nosso gosto.

O problema é que casas assim, sobretudo na zona onde morávamos e onde queríamos ficar, são raras e caras. Razão pela qual procurámos noutros sítios - sem sucesso à excepção de 2 casos em que gostámos mas nem tivemos hipóteses de fazer oferta -, em várias modalidades (mudámos de arrendar para comprar e vice-versa inúmeras vezes), feitios (casa, apartamento, R/C com jardim e tudo o mais) e condição (sim, cheguei a insistir para avançarmos para obras...).

Quando me deparei com esta nossa nova casinha soube que tinha que ser para nós. Tive que convencer tudo e todos (desde a Patrícia ao banco) mas soube desde o primeiro momento que ficaríamos bem ali.

A Patrícia começou por não se entusiasmar muito e até ao dia da assinatura do contrato final esteve algo resistente. Até que, depois de concretizado o negócio, ela se entusiasmou e agora está tão apaixonada pela casa quanto eu.

Não sei se é perfeita e nem consigo assegurar que parte da paixão não se deva ao esforço que requereu para concretizar, mas senti-me imediatamente em casa. Algo estranho em mim - como exemplo, em quase 2 anos na anterior nunca me senti confortável.

O que interessa é que agora estamos lá e vamos, como diz a Patrícia abaixo, vamos equipá-la para o Natal (e antes disso o Sinter Klaas...).

Nuno

14.11.08

As cores da nossa rua


Da janela da nossa sala avista-se uma imensa rua debruada de arvores em tons magnificos.

Estamos no Outono e as folhas caem criando longos tapetes de folhas amarelas, laranjas e vermelhas. Sao tons lindos os que agora podemos ver. E quando temos vagar para olhar para as arvores, e esperar por um sopro de vento, podemos encantar-nos com as coreografias que as folhas fazem ao cair. Brincamos, entre nos, dancando e tentando imitar o movimento das folhas que caem. E que de novo se erguem no ar porque passou uma bicicleta ou um carro mais veloz.

Ao fim do dia quando regressamos a casa ja e de noite. O Outono esta a passar a correr. Ja se avista a iluminacao de natal em algumas ruas da cidade.

E tempo de comecar a preparar a epoca natalicia. O Nuno ja iniciou o estimulo auditivo com os CDs de Natal. Agora e tempo de pensar na nossa arvore e de comecar a preparar a chegada do pai natal.

Patricia

11.11.08

A primeira noite na nova casa


Passámos o dia inteiro, eu e o Nuno nas mudanças. Claro que a empresa que contratámos fez o trabalho pesado mas havia as escadas (45 na casa anterior) e nesta ainda não contei mas é capaz de ser o mesmo número. Não há elevador, no bom estilo calvinista holandês. Mas lá está, se em "Roma sê romano", em Amesterdão sê Amsterdamer" (porque ser holandês já não escreveria, não neste contexto pelo menos, mas isso é conversa para outras núpcias). Ao menos estamos em forma!

Ao fim do dia o Nuno teve de estar disponivel para uma conference call, e por isso deixamos o PC ligado a internet na casa antiga para não arricarmos problemas de ligação na nova casa. Fez a conference call sentado no chão de uma sala imensa e vazia, enquanto nos esperávamos por ele na nossa casa.

Muito ficou pronto no primeiro dia: cozinhei sopa e a refeição já em casa, o nosso quarto e o dos pequenotes estão bastante avançados, a sala também. Falta ainda um bocado - sobretudo no escritório/quarto das visitas - e vai ser necessário já amanhã que nos visitam os meus sogros.

A sra. que nos limpa a casa foi buscar os meninos e trouxe-os à casa nova onde eu esperava por eles. De manhã o Diogo não estava contente porque era o quarto dia seguido que não ía ao trabalho, e "isso não é justo". Mal ele sabe que ir ao trabalho seria bem mais repousante: ao fim do dia até os dedos dos pés me doiam!

Claro que o quarto deles foi aquele no qual mais tempo investimos. Estava pronto a ser usado (apesar de termos trazido as duas camas enquanto esperamos pelo beliche), com os brinquedos e roupa nos respectivos armários. As crianças têm estas coisas: de imediato se apoderaram do espaço como se sempre tivessem sido senhores dele. Como se não fosse nada, ou antes, como se fosse tudo tão natural.

Não parou de chover a noite inteira, e isso dá um charme ainda maior ao nosso quarto. Quem o visitar entenderá o que digo.

Patrícia

9.11.08

Novo ninho

Pois é. Chegou o dia. Amanhã, por esta hora, estaremos (espero) a jantar na casa nova.

Foi o Nuno que a descobriu. Eu estive um pouco alheada do processo de selecção e papelada inerente à compra de uma casa. Ficámos 1 ano e 10 meses na casa arrendada na jekerstraat. Foram bons momentos, alguns mais duros, claro.

Agora vamos para uma casa que é mais a nossa cara e será, certamente, mais o nosso canto. Esperamos que nos dê mais estabilidade e liberdade para a tornarmos mais nossa.

Estou mesmo contente. Estes útimos tempos, desde as férias até agora, foram difícieis e muito exigentes. A nossa casa (já) é muito acolhedora: esperemos que família e amigos nos visitem e se sintam também bem nela.

Patrícia

5.11.08

8º aniversário de namoro

Sim, nem mais, é hoje. Faz 8 anos que começámos a namorar, com oficialização no ÀS PÁGINAS TANTAS no Bairro Alto. Engraçado, depois disso voltámos lá 1 ou 2 vezes e nunca mais.

Com tantas datas que agora temos para celebrar (o casamento, os aniversários dos 4, emancipações diversas dos putos e tudo o mais) esta vai perdendo preponderância. Mas continua a ter imensa importância, não só por tudo o que gerou mas também pelo que representa em termos de memória de tempos perdidos.

Nessa altura éramos tão livres, impulsivos, decididos. Formávamos uma dupla terrível, se um dizia mata o outro gritava esfola, sempre radicais e intransigentes com tudo e todos.

Antes de termos putos o Fred disse-me que criar filhos era uma arte de compromisso; assim é - dou-lhe inteira razão a posteriori pois na altura não concordei -, nunca mais tivémos hipótese de avançar sem pensar nas 1001 consequências. Também por isso crescemos, amadurecemos, somos agora mais ponderados, diplomáticos, interesseiros.

Por vezes é tentador ter pena do que deixámos de ser, do que ficou para trás. Visto daqui, era mais fácil e mais bonito. Apetece pensar que devia ter durado para sempre.

Mas eu discordo profundamente; não trocava o que fomos por aquilo em que nos tornámos. Nem em sonhos. E não tento sequer explicar porquê, limito-me a aceitar o que sinto.

Nuno

31.10.08

Acabou a ditadura das fraldas


Ainda outro facto a assinalar deste dia de feitiços é que a Catarina deixou a fralda. Deixou mesmo. Deste as 7.00h da manhã até às 19.00 esteve sempre com a mesma roupa, sem que houvesse nenhum acidente.

É magia, e deve ser das fadas. Cada vez que faz um xixi ou cocó na sanita, recebe um autocolante da fada sininho!

Patrícia

Feitiçaria ou coincidência?

Parabéns grandalhão, por teres completado hoje um ano no actual emprego. E creio que este ano te deve ter parecido bem mais que isso. Muito frequentemente fizeste noitadas e, diria que mais de 50% do tempo trabalhaste à noite de casa. E mais do que isso tens conseguido aguentar sócios bastante peculiares. Talvez seja a feitiçaria deste “dia das bruxas”.

Ou coincidência porque, exactamente um ano depois, assinei um novo contrato de emprego.

Patrícia

22.10.08

vitórias a doer

Aproveito mais uma sessão de trabalho nocturno para vir aqui deixar umas palavrinhas. Mais uma vez, faz algum tempo que não contribuo, ultimamente o tempo simplesmente parece não chegar.

E por isso nem sei bem por onde começar. Tanto se tem passado, tantas conquistas e vitórias (tudo à custa de muito suor e alguma inspiração) que é custoso escolher um ponto de início das crónicas. Mas impõe-se, se queremos guardar memória não podemos deixar de fora o que se passa neste momento.

O acontecimento mais imponente é sem dúvida a compra da casa. Vamos mudar para uma rua muito pertinho da nossa actual mas, em vez de arrendarmos, vamos voltar à condição de proprietários.

Para mim tinha que ser, se estamos aqui para ficar algum tempo era importante podermos voltar a escolher o ambiente em que queremos estar sem estar com receio de provocar algum tipo de danos, sem ter que consultar alguém que mora a milhares de kms de distância e sem a frustração de investir para terceiros beneficiarem quando sairmos.

Diz-se que uma mudança de casa é uma das situaçôes mais desafiantes para a vida de um casal e este caso não tem sido excepção. Depois de passar a semana a correr, chegamos ao fim-de-semana e ainda temos de nos dedicar às 1001 actividades que uma mudança requer: documentos, contas, escolher móveis, arrumar tudo na casa actual e planear todo o processo. Enfim, nada de novo para quem já passou por isso.

Mas estou convencido que vamos gostar muito de viver nesta nova casa. E espero com ansiedade pelo momento do regresso da tranquilidade, depois de tudo feito. Até lá obrigo-me a concentrar-me no positivo, penso no Natal que aí vem e imagino-nos a montar a árvore e artefactos para celebrar um momento do ano que nos é tão caro.

Em breve vou começar a pôr os CD de Natal, para desespero de todos cá em casa...

O segundo grande acontecimento é a mudança de emprego iminente da Patrícia. Finalmente vai libertar-se dos colegas peculiares que a têm deixado tão frustrada e avançar para um grande desafio.
Fico muito contente por ela, sei que merece isto e muito mais, só é pena que nem sempre acredite em si e nas suas capacidades. Espero que este novo sítio seja também um factor de motivação nesse capítulo e que lhe permita ganhar definitivamente a autoconfiança que se justifica 1000 vezes.

Outros eventos foram a primeira festa de anos do Diogo aqui na Holanda, o arrendamento da nossa casa em Lisboa, as vitórias da minha irmã em Viena (foi aprovada no teste de alemão e finalmente encontrou uma casa) e muitas outras pequenas conquistas no dia-a-dia.
Mas sobre estes pretendo escrever linhas individuais noutros posts.

Nuno

22.9.08

A expansão

da família Marcelino continua. Não em número mas em dispersão geográfica: a minha irmã está oficialmente a residir na Áustria, mais precisamente em Viena.

Ainda que não possamos dizer que está para ficar, aqui só para nós confesso que gostaria que assim fosse. De alguma forma faz sentido, na tal lógica expansionista que sucessivas gerações têm, consciente ou inconscientemente, respeitado.

Para além disso, é uma grande oportunidade para ela se afirmar, para conquistar o espaço de que tanto precisa e para dar um salto qualitativo incontestável. Espero que ela também pense assim e resista à tentação de voltar atrás.

Nuno

18.9.08

despertar

Há dois meses que não escrevo um post. Primeiro por causa das férias, depois por causa de um atribulado regresso. Já estava a ficar nervoso.

Desde que voltámos, há pouco mais de um mês, que tempo parece nunca chegar para tudo o que precisamos de fazer. Decidimos que queríamos os nossos assuntos resolvidos antes do final do ano e metemos mãos à obra mas agora estamos a sofrer com isso.

E que raio temos nós entre mãos que seja assim tão exigente? Vejamos pois:
  • estamos a comprar casa: no período de 1 mês encontrámos casa, obtivemos empréstimo, assinámos o primeiro contrato (em Amesterdão há 2, um primeiro de compra e venda e um segundo de transferência de propriedade) e tratámos de tudo para o segundo; só nos falta a mudança e os móveis, mas para isso estamos dependentes do vendedor;
  • organizámos a festa de anos do Diogo, um sucesso tal que muitos outros pais declararam a intenção de copiar a ideia;
  • a Patrícia concluíu o seu paper para a conferência na qual vai ser oradora;
  • reintegrámos os miúdos nas escolas e negociámos um apoio para o Diogo e alguns amigos no ATL para os acompanhar com os deveres em francês;
  • estamos a apoiar a minha irmã (ai se ela lê isto...) na sua aventura austríaca;

isto tudo para além dos desafios profissionais de cada um (que, por motivos insondáveis, nesta fase têm sido os mais exigentes que alguma vez tínhamos vivido e que nos têm obrigado a longas noites e dias alucinantes) e das 1001 pequenas coisas que sempre surgem no dia-a-dia.

Enfim, apenas um primeiro post para anunciar tudo o que temos para contar.

Nuno

7.9.08

Tomás: a continuação do nome de família

Há muito tempo que não temos contribuído para o blog. Não porque não se tenham passado acontecimentos dignos de nota (as férias, o início da alfabetização do Diogo, as aulas de natação, a casa nova, a festa de anos do Diogo, a partida da Luísa para Viena de Áustria, os desafios profissionais que levam o Nuno a trabalhar 16 horas por dia – a estes voltarei mais tarde) mas porque os dias têm sido uma loucura e não dá para esticar mais.

No entanto, ocorreu o perfeito acontecimento para me levar a corrigir esta (imperdoável) falta de contribuição para o blog: o nascimento do Tomás. Foi nos últimos minutos da passada sexta feira que nasceu o meu segundo sobrinho de sangue: o Tomás. Há quem diga que isto de ser sobrinho de sangue é diferente de ser sobrinho de afinidade. Ainda não sei porque só tenho sobrinhos de sangue.

Não vi senão fotos e filmes dele mas pensava esta manhã o quanto é tão importante. Todos são, claro. Mas o Tomás, dentre esta nova geração que já são 4, é o único que poderá dar continuidade ao meu nome de família. Tem graça pensar que tão pequenote que és, com dias de vida, mas já se vem com esta expectativa e/ou bagagem nas costas.

E quanto um nome pode ser importante. Tanto que quando casei optei por não mudar o meu. Pareceu-me inadequado e absolutamente forçado que, de súbdito, passasse a ter outro apelido. No nome vem a história de família, os modos de fazer e ver as coisas. Seria muito estranho adoptá-lo sem mais. Para mim, e presumo também para aquele de onde o nome era originário, neste caso o meu sogro, que de repente se veria com mais um, que nada sabendo da sua história, usaria o nome do “clã”. Hoje em dia, apesar de não ter o nome do Nuno já não o considero tão invasor. Talvez por ser o apelido dos meus filhos, talvez por conhecer e entender um pouco melhor a família.

Mas voltando ao Tomás como aquele que poderá dar continuidade ao meu apelido: os meus filhos têm, claro, o apelido do pai. E a minha sobrinha mais velha, ainda que opte por manter o seu nome, em princípio perdê-lo-á como último apelido nos filhos. É portanto o Tomás a continuidade, como era o meu irmão para o meu avô paterno (dos seus 5 netos) aquele que poderia fazê-lo – e fez - , e agora, dos seus 6 bisnetos, é o Tomás o único que poderá continuar.

Que sejas muito bem vindo Tomás a este mundo de mistérios e encantos.

Patrícia

15.7.08

Ainda a propósito do Diogo

e das suas conquistas, revíamos no fim-de-semana o seu percurso, com especial enfoque no período que decorre desde a nossa vinda para a Holanda.

Quando veio, o pequenote só falava português. Bem falado (em minha opinião, muito bem falado para a idade e mesmo quando comparado com muitos outros bem mais velhos) mas nenhuma outra língua, como é normal numa criança de 4 anos.

Em ano e meio aprendeu francês, ao ponto de termos pais de colegas dele a dizer-nos que ele passaria por francês sem qualquer hesitação, e holandês suficiente para se desenrascar nas mais variadas situações.

Numa escola tradicionalmente exigente e pouco tolerante para com miúdos menos capazes, estabeleceu-se como um dos melhores da turma, apesar de ser um dos raríssimos sem qualquer relação familiar com um nativo.

Temos tido relatos de outros pais de origens não francesas sobre inadaptação, dificuldades, rejeições. O nosso campeão chegou, viu e venceu, sendo um miúdo popular entre os colegas e os professores, que o reconhecem não só pelas suas capacidades intelectuais mas também pela sua postura social.

À tarde, depois de um dia inteiro no liceu, vai para o ATL holandês e integra-se de tal maneira que nunca quer ir embora quando chegamos do trabalho para o levar para casa.
E em casa ainda tem energia para ser o herói máximo da minúscula, com quem vem estabelecendo uma relação fraternal encantadora, tendo arrasado desde o início quaisquer dúvidas que pudéssemos ter em relação à sua aceitação da irmã no seio familiar.

Quando penso em tudo o que poderia ter corrido mal e o vejo a limpar desafio após desafio sem nos dar sequer espaço para preocupações, só me apetece escrever isto para ele no futuro saber que também nós sempre reconhecemos, em privado e em público, todos os seus inúmeros méritos.

Nuno

13.7.08

Mais uma vez o Diogo soma e segue


Viajou hoje de avião e, pela primeira vez na sua vida, como menor não acompanhado. Tudo correu muito bem. Deixou-nos a dizer adeus todo contente e pelos vistos chegou também todo contente. Sabemos que pelo meio não chorou e não teve medo. Quando falei com ele ao telefone, depois de ter sido entregue ao avô disse: “mamã, quero dizer uma coisa: no aeroporto em Amsterdão fui de carro até ao avião!”. Foi o que me quis dizer depois deste desafio. Em suma, tirou de letra.

Tudo, em especial ele, foi devidamente preparado, e tivémos a preciosa ajuda do Xano, que conseguiu estar entre a tripulação do avião que o levou e assegurar uma cara familiar. Muito obrigada! Se não fosses tu, teria ganho mais 1.000 cabelos brancos em vez dos apenas 100 que ganhei hoje.

Feito. Parabéns filhote, és um espanto!

Patrícia

9.7.08

O Rei Leão


Ambos os filhotes estão, neste preciso momento, pregados ao ecrã para mais uma vez assistirem ao filme da Disney O Rei Leão.

Perdi a conta ao número de vezes que já o viram, ou mesmo que eu o vi. Lembro-me que a primeira vez que assisti, eles estavam ainda bastante longe de existir, na companhia da minha mãe, algures numa sala de cinema em Lisboa. Lembro-me também que chorei imenso.

O filme é formidável em todos os aspectos por isso não me incomoda muito que o vejam vezes sem conta. Seja nas imagens da savana africana com um impressionante realismo, nas cores, na música ou nas personagens, todas elas animais apesar de humanizadas ao máximo (creio que nunca aparece no filme um ser humano), no habilidoso contrabalanço entre o drama e o humor. As fenomenais personagens do Simba, Mufasa, Scar, Nala, Pumba, Timon, e claro, as hienas. A banda sonora também ela brutal. Com tantas e tantas mensagens: o ciclo da vida, o Hakuna Matata, a chamada para a responsabilidade...



A Disney é invencível no mundo da magia. Os filmes são absolutamente geniais, lembro-me do Dumbo, do Bambi, do Mogli, da Dama e do Vagabundo, dos Aristogatos, do Aladino, da Pocahontas, do Hércules, do Nemo, dos Incríveis, dos Carros, dos Robinsons (também este brilhante). Curiosamente, as histórias da Cinderela, Gata Borralheira e Branca de Neve não têm tido qualquer aderência cá em casa, porque a meu ver não promovem nada de construtivo. Claro que a Catarina lá chegará aos grandes ícones do imaginário feminino, como o Diogo chegou aos pokémons e ao homem aranha. Mas por agora tem sido orientada mais para os ícones femininos menos clásicos: não se fala em princesas (sou 100% republicana!) mas em fadas ou em sereias.

Enfim, regra geral gosto das produções da Disney. Gosto porque realmente me dá gozo ver os filmes e gosto porque gosto de os deixar ver. Fosse o mundo assim.

Em particular o Rei Leão é um filme que acredito deva fazer parte do reportório das gerações futuras.

Patrícia

7.7.08

Mais dois marcos na nossa jornada comum:

O nosso blog, que completou ontem o seu primeiro ano de existência.

E a celebração do nosso sétimo aniversário de casamento que, desta vez, foi com um jantar na nossa actual casa e alguns amigos (os adultos do mundo civilizado e as crianças do não civilizado – nem queria acreditar no quarto do Diogo...). Devíamos ser 15 mas um dos casais que foi convidado e o seu filho tiveram um imprevisto e não puderam juntar-se-nos, para desgosto do Diogo. A comemoração foi feita por nós os quatro (2+2=4, como carinhosamente escreveu a minha sogra na sua mensagem de felicidades) com um casal australiano e seus dois filhos, um colega de trabalho de nacionalidade inglesa, um amigo português que conhecemos aqui, uma grande amiga que vive no Luxemburgo e decidiu juntar-se-nos, e a sua mãe que também a visitava.

Foi um jantar simpático. Bem diferente daquele que fizemos há 7 anos atrás. Como bem diferentes estamos nós.

Estamos juntos, com dois maravilhosos filhos e fora do nosso quadro de origem. Acho que isto diz já muito. Não esperava um Romeu, um António ou um Napoleão, nem fui ou sou a Julieta, a Cleopatra ou a Josefina. Gosto de como interagimos, que é, de certa forma, espelhado no titulo deste blog.

Pudesse eu escrever aqui o que vivemos e escapámos nestes 7 anos de vida em comum. Enfim, o que tem de ser celebrado é: o facto de estar casada com um Homem que, como costumo dizer, é melhor, muito melhor, que a encomenda; pelos dois filhotes; pela saude e harmonia de todos; por ter uma relação que se preocupa em encontrar no outro aquilo que ele é em cada momento, num acto continuo e constante, e não a lembrança daquilo que éramos quando nos casamos; pelo respeito e amor presentes em cada momento e gesto; pela vida e trabalho em conjunto.

Cheers!

Patrícia

4.7.08

Talvez não devesse

mas vou arriscar escrevê-lo aqui, talvez como incentivo para todos os que se interessam por este blog investigarem também o tema.

Refiro-me à Catarina e às suas capacidades psicomotoras: estou convencido que ela é sobredotada. Pronto, está dito, com todas as letras.

Não conheço o suficiente sobre o tema para avançar mais do que isto mas todo o seu desenvolvimento até agora aponta para algo fora do comum e as primeiras investigações a que me dediquei apontam para essa conclusão.

No site do Centro Português para a Criatividade, Inovação e Liderança (CPCIL) encontrei a seguinte lista de indícios:
  • a criança começou a andar e falar mais cedo do que os outros da mesma idade e sexo
  • mostra relativamente cedo interesse pelas palavras
  • tem um vocabulário muito extenso para a sua idade
  • mostrou interesse por relógios, calendários e puzzles
  • mostrou muito cedo interesse pela leitura
  • mostrou muito cedo interesse pelos números
  • tem curiosidade por muitas coisas
  • apresenta uma maior força e personalidade do que os da sua idade e sexo
  • tende a dar-se com crianças mais velhas
  • age como um líder entre crianças da sua idade
  • tem boa memória
  • mostra um poder de raciocínio invulgar
  • tem capacidade pouco vulgar para planear e organizar
  • relaciona informação anterior com a que está a adquirir
  • mostra mais interesse em actividades criativas e novas do que na rotina e repetição
  • tenta exceder-se em tudo
  • concentra-se numa actividade única que prolonga por um grande período sem se aborrecer
  • tem um grande número de interesses que o mantêm ocupado e é persistente apesar dos obstáculos encontrados
  • apresenta soluções próprias para problemas e apresenta um «senso comum» fora do vulgar
  • tem um sentido de humor avançado para a idade
  • mostra sensibilidade aos sentimentos dos outros
  • mostra muito cedo interesse em Deus, religião e questões sobre o certo e o errado
  • as colecções dele são mais avançadas e fora do comum do que as dos da sua idade
  • mostra um interesse intenso em actividades artísticas, como pintar, cantar, dançar, escrever, tocar um instrumento musical
  • inventa histórias dramáticas e vivas, ou relaciona as suas vivências com muitos detalhes exactos
  • gosta de fazer puzzles e vários tipos de jogos com problemas
  • tem uma excepcional habilidade para a matemática
  • tem um interesse fora do vulgar acerca das ciências e da mecânica
  • apercebe-se das coisas que são novas e inovadoras

O comportamento geral da Catarina é similar ao que encontro em crianças do dobro da idade. É claro que percebo que tudo isto é muito difícil de avaliar e sobretudo de comprovar mas é sem dúvida um ponto a investigar, sob pena de ignorarmos uma situação que merece toda a atenção.

Nuno

26.6.08

Avaliação do ano lectivo 07/08

A avaliação deste trimestre final foi excelente. As professoras escrevem que o Diogo está pronto a seguir para a primeira classe tendo aprendido as competências da pré-primária. Dizem ainda que ele fez muitos progressos no francês.

No próximo ano o campeão aprenderá a ler e escrever. Será mais um grande passo para a autonomia e, creio eu, um momento crítico para aprender a gostar de estudar ou não. O próximo ano vai ser um grande desafio.

Já referi várias vezes que a avaliação da escola é de A a D, sendo o primeiro competênca adquirida, B a reforçar e Do oposto de A. Neste período o Diogo teve apenas três B e tudo o resto, 38 As.

A avaliação foi como se segue:
Linguagem verbal
Comunicação:
- Exprimir-se de forma compreensível – A (melhoria);
- comunicar em diálogo e em grupo - A;
- dizer de memória um texto - A;
Linguagem escrita
- contar uma história ou acontecimento – A (melhoria);
Leitura e escrita
- diferenciar fonemas – B (neste regrediu);
Interpretação
- compreender um texto lido pela professora - A;
- utilizar a biblioteca – A;
Escrita
- reconhecer as diferenças gráficas duma mesma letra e palavra - A;
- escrever de forma legível e respeitando as regras da escrita – B;
Produção escrita
- copiar uma frase com um modelo – A;
Matemática
Numerar
- enumerar e quantificar - A;
- contar até – 39 (só pode ser erro da professora o que ele nos provou hoje. Em português já o ouvi contar até mil!)
- classificar os números, comparar grupos - A;
Geometria
- escrever números - A;
- utilizar uma tabela de entrada dupla – A;
- descodificar um trajecto – A
Vida em conjunto
- conhecer as regras simples de vida em grupo – A;
- responsabilizar-se – A;
Matéria e tecnologia
- manipular e utilizar técnicas simples - A;
No mundo da vida
- conhecer manifestações de vida animal e vegetal e referir-se a critérios de classificação – A;
- compreender e respeitar regras de higiene - A;
Educação artística
Educação musical
- cantar canções simples - A;
- participar em actividades com instrumentos - A;
- escutar um registo sonoro - A;
Educação visual
- manifestar interesse por actividades de artes plásticas - A;
- escolher aplicar uma técnica para fazer uma produção pessoal – A;
- provar criatividade e imaginação - A;
Educação física e desportiva
- exprimir-se com o corpo – B (esta é realmente questionável)
- participar em actividades atléticas e ginastas – A;
Comportamentos e métodos de trabalho
- respeitar as regras da escola e da sala – A;
- estar atento e concentrar-se na realização de uma tarefa – A;
- trabalhar a um ritmo satisfatório – A;
- ser cuidadoso com o seu trabalho – A;
- compreender o trabalho – A.

As professoras estão contentes e nós muito orgulhosos do nosso menino. Parece que a fase de maior agitação passou e ele retomou a concentração e o ritmo de trabalho. Vai agora descansado para as suas férias em Portugal e em Setembro há mais!

Entretanto é amanhã o dia de festa na escola. Tirámos a tarde de férias para podermos acompanhá-lo nesta festa. Sabemos que ele vai actuar num exercício de ginástica fazendo uma pirâmide humana. Jogos e outras actividades se seguirão. Estou ansiosa pela festa também para ver se descubro que meninos ficam (sei que os amigos preferidos do Diogo ficam o que são boas notícias numa escola com uma rotação tão grande) e que meninos partem. Quero também descobrir quem será o seu professor(a). Faz-me imensa confusão que nem o Diogo nem o Nuno estejam especialmente preocupados com o que para mim é um mistério.

Estou mesmo contente pelo Diogo!

Patrícia

brinquedos

Sempre me incomodou o abuso de prendas com que os nossos filhos foram brindados desde que nasceram. Em Portugal, era bastante complicado controlar este processo pois os avós não compreendem esta minha rejeição e arranjavam sempre pretextos para contornar as minhas objecções.

Desde que viemos para a Holanda isso mudou radicalmente. Os nossos filhos passaram a receber prendas apenas quando nós queremos ou quando recebemos visitas. Dito assim devo soar totalmente obsessivo mas estou seguro que não estarei só nesta cruzada para impedir o atafulhamento da casa com brinquedos e afins.

Porque o que observo é que o Diogo, de longe o mais agraciado (a Catarina veio para cá com 6 meses), dá pouquíssimo valor às coisas. Porque sabe que vai receber mais, porque sempre lhe apareceram sem esforço, porque nunca soube o que é ter de esperar para obter algo. Até agora...

Ele sabe agora que as prendas são nos anos, no Natal ou numa ocasião especial. De resto apenas pequenas coisinhas, um chocolate quando um de nós volta de viagem ou algo do género.

E já assimilou, de tal maneira que já passou a pedir determinada coisa para os anos. Hoje estava no carro a ver com imensa atenção os Lego, indicando-me vezes sem conta quais vai querer para os anos. Começa portanto a conhecer a espera e o valor acrescido das coisas quando custam a obter.

Nuno

pokémon

Depois de muitos meses de empenho na construção da colecção de cromos dos Pokémon, na qual se envolveram os avós (neste caso específico os meus pais em particular, com as visitas regulares aos Restauradores para encontrar os raros), os pais e o próprio Diogo, eis que o menino começou a tratar a coisa aos pontapés.

A caderneta oficial para agregar os ditos é de muito má qualidade e demasiado frágil para suportar o peso do conjunto de cromos (trata-se de quadrados de plástico bastante grosso, destinados a coleccionar e jogar), o que leva inevitavelmente a uma degradação acelerada e à inutilização depois de poucas semanas.

Este facto levou já à compra de cadernetas de substituição, que tiveram contudo o mesmo fado das outras. Assim, o pequenote acabou por perder a paciência e juntou os cromos todos num saco, esquecendo de vez a caderneta.

É fácil de adivinhar os capítulos seguintes da história. Fora da caderneta, amontoados num saco (são mais de 200), cada vez que procura um tem que tirar todos. E como não é muito arrumado, onde os tira é onde ficam até que um de nós o obrigue a arrumar. Entretanto chega a minúscula, começa a brincar e assim se têm perdido uns quantos.

Não satisfeito, hoje decidiu levar para a escola 2 cromos não repetidos para oferecer a um amigo como retribuição por uma oferta de um qualquer autocolante oferecido pelo McDonald's no Happy Meal.

Por princípio não gosto de me meter nestes negócios deles, acho que têm que aprender com a vida, mas neste caso achei demais e intrometi-me. Indignado pelo desprendimento dele para com algo em que tanto empenho foi colocado, determinei que ele perdeu o controlo da colecção, que passa a estar a meu cuidado.

Agora não sei bem como vou fazer, não tenho qualquer intenção de cuidar daquilo e não quero proibi-lo de brincar. Mas precisa de perceber que as coisas têm significado.

Nuno

olha que menina

A nossa Catarina já consegue, com meros 2 anicos de idade, comandar a casa toda.

Tem tarefas exclusivas para a mãe e o pai; se ela decide que tem que ser um dos dois a tomar conta de determinado assunto que lhe diga respeito, é escusado pensar que se lhe dá a volta.

Felizmente as tarefas não são constantes, o que sempre permite alguma flexibilidade. E ela tem uma noção muito forte de prioridades e um grande sentido de pragmatismo: não faz esta brincadeira quando um dos 2 está ausente.

De forma fixa, a Patrícia tem as incumbências de a vestir, banhá-la e dar-lhe a comida quando mete na cabeça que não consegue comer sem ajuda; cabe-me a mim dar-lhe o leite de manhã, dar-lhe a mão para descer as escadas e lavar-lhe os dentes. O resto é mais ou menos aleatório, consoante a disposição.

Nuno

20.6.08

patriotismo

Ontem a Selecção de futebol foi eliminada do Campeonato da Europa de 2008 pela Alemanha. Perdemos 3-2, num jogo emocionante e bem disputado. O resto é irrelevante para aqui.

Vi o jogo com o meu cunhado e um amigo português que vive aqui na Holanda. Só conseguimos ver os últimos 20 minutos do jogo pois estávamos em casa desse nosso amigo e as nossas crianças todas tomaram conta da televisão.

Quando finalmente conseguimos ligar o futebol, Portugal perdia 1-2. O meu cunhado estava frustradíssimo e empenhado na recuperação, enquanto nós observávamos com algum distanciamento e comentávamos de forma algo calculista a qualidade do jogo. Todos torcíamos pela equipa portuguesa mas a importância atribuída ao jogo era claramente diferente entre ele, residente em Portugal, e nós.

No final o meu cunhado não descansou enquanto não entrou na internet para procurar opiniões que consubstanciassem a sua irritação por uma derrota que considerava injustificada. Quanto a nós, era como se uma equipa qualquer tivesse jogado um amigável algures na Ásia: total indiferença.

E hoje as pequenas provocações dos colegas caíram em absoluto saco roto. Obviamente, não sinto qualquer remorso e não vejo razões para tal; mas pergunto-me a razão da diferença de atitude e da minha total indiferença perante uma situação que até há bem pouco tempo me transtornava.

A resposta não está contudo na minha postura geral perante Portugal - embora também nesse capítulo sinta as coisas com menor intensidade - mas sim na minha percepção do futebol. Quando penso nisso, nunca senti nada aquando das derrotas das equipas portuguesas noutras modalidades; porque há-de o futebol ser diferente?

Nuno

19.6.08

melgas

Combinação mortífera nesta fase: o Diogo na fase dos amuos e em contínuo teste aos limites pessoais e familiares; a Catarina na fase do não, a reforçar a personalidade já de si assintosa.

Os dias são sessões contínuas de confronto e gestão das consequências.
Com o minorca compensa levantar a voz, com a minúscula o resultado é uma choradeira.
Ele pára de fazer naquele momento mas vai fazer por trás mais tarde; ela parte num pranto, reclama comigo, chama pela mãe e não me fala durante horas.

O campeão só quer actividades perigosas, escolhe sempre o caminho mais difícil, põe-se em perigo inúmeras vezes por dia, insiste deliberadamente no que lhe é proibido e amua quando vetamos comportamentos ou escolhas.

A pequerrucha nega por sistema seja o que for que lhe peçamos, escolhe sempre o contrário do que lhe propusermos, desfaz e refaz sozinha as actividades nas quais a ajudarmos sem que ela tenha pedido e chora quando confrontada, deitando-se no chão e recusando qualquer aproximação daquele que a tenha afrontado.

Uff...

Nuno

14.6.08

Autonomia

A minha irmã parece estar decidida a fazer-se à estrada. Melhor dito, a mudar-se de armas e bagagens para o stráungêiro e deixar para trás a pátria lusa.

Esteve esta semana na Áustria a fazer provas para entrar no Conservatório Austríaco, um dos mais (se não o mais) conceituados a nível mundial, e passou limpinho. E disse-me a minha mãe que ela já decidiu que a oportunidade é para não desperdiçar, pelo que podemos contar com um membro mais da família pelas bandas cá do Norte (um pouco mais a Sul, mas ainda assim).

Importa neste ponto rever a história da minha irmã. Desde que decidiu (e atenção, quando ela decide ninguém lhe dá a volta!) seguir a via da música a evolução tem sido notável.

Começou tarde, pois os músicos são supostos começar muito novos a cuidar da sua vocação, contra tudo e todos e desperdiçando capacidades óbvias para áreas mais convencionais - era genial na geometria descritiva (e logo arquitectura, design), sacando 20 de enfiada quando os colegas sofriam para o 10.

Ainda assim, falhou por muito pouco a entrada no Conservatório - muito conservador e exigente na admissão, sobretudo para pessoas fora da idade convencionada - e conseguiu entrar na Academia dos Amadores de Música, a escola alternativa ao Conservatório.

Escolheu inicialmente a guitarra como instrumento de eleição, percorreu os degraus todos de formação e, quando chegava ao topo da escala, decidiu mudar de instrumento: passou para o contrabaixo, ao qual se dedica há 5 anos. Vem novamente percorrendo a evolução natural da aprendizagem do instrumento, enquanto soma sucessos nas orquestras juvenis e em todas as ocasiões em que é posta à prova.

No ano passado cansou-se das fraquezas da Academia e mudou-se para o Conservatório, que desta vez a aceitou de braços abertos, enquanto se preparava para a entrada na Escola Superior de Música. Simultaneamente dá aulas e continua a tocar nas orquestras juvenis e a dar espectáculos amadores, à espera do salto para o degrau superior.

No ano passado fez um tour pela Europa a reunir informação para se candidatar às diferentes escolas europeias. Decidiu-se pela Áustria e conseguiu. E de uma assentada vai conseguir dar o tal salto que tanto merece e ganhar a independência de que tanto precisa.

Parabéns!

Nuno

10.6.08

pontos a favor

A Patrícia começou ontem as suas aulas de yoga; segundo ela a experiência foi positiva e pretende continuar. E eu sou totalmente favorável (se é que isso interessa) pois estou seguro que lhe faz imenso bem em termos físicos e mentais.

Eu estou a ter aulas de golf desde Fevereiro, tendo começado há pouco tempo a jogar no campo principal. Estou entusiasmado e venho aprendendo imenso, não só no que respeita especificamente ao jogo mas também ao nível de inferências para a atitude perante a vida em geral.

Não digo que qualquer destas actividades seja radical ou extraordinária mas ambas constituíam sem dúvida objectivos pessoais que vínhamos adiando.
Será que alguma vez teríamos encontrado tempo ou disposição se ainda estivéssemos em Portugal, imersos no conforto da teia familiar?

Nuno

4.6.08

Juliette


Ontem o Diogo contou-nos que está apaixonado. Ele já nos tinha dito que estava apaixonado antes mas era por outra colega de nome Eva. Só que ela, algures, lhe terá dito que gostava mais de outra coleguinha do que dele, e ele, apesar de ter mantido a sua paixão por ela durante uns tempos, agora chateou-se pela unilateralidade da paixão.


Disse-nos que deu três beijinhos na boca (os primeiros!!) de uma colega de escola. Conta ele que ela andou atrás dele e que ele fugiu porque “tinha medo”. Depois encurralou-o (as mulheres são assim mesmo). Ele teve medo mas ela, decidida, deu-lhe um beijo. Deram mais dois, já por iniciativa de ambos, e ele já gostou destes.


Mas o gozo maior desta história, que não é aqui registado, é a cara de malandro dele a contar-nos esta nova experiência.

Patrícia

3.6.08

escadas

Embora não tenha valor histórico na estrita acepção da palavra, não posso deixar de relatar o episódio de queda das escadas de sábado passado.

Do alto dos seus cinco anos, o Diogo já sobe e desce as escadas com total descontracção. Na verdade, com excesso de confiança, algo tão característico da idade. Mas nada há a fazer em relação a isso que não seja manter a atenção, sempre com o cuidado de não o desmotivar na descoberta de novas capacidades ou de lhe dar a entender que não confiamos nas suas habilidades.

A Catarina está noutra fase do crescimento. Embora tenha uma motricidade muito boa para a idade, as escadas são ainda motivo de preocupação constante. Já sobe e desce sem ajuda mas ainda não nos transmite suficiente confiança para largarmos as amarras.

O problema principal reside, como em tantas outras situações da nossa vida familiar, na diferença entre os dois. É complicado negar à Catarina aquilo que permitimos ao Diogo. A injustiça é comprovadamente a maior fonte de frustrações na infância e procuramos ser tão justos quanto possível.

Muitas vezes é simplesmente impossível manter a equidade, pelo menos de forma compreensível para eles. E acabamos então por ter que suportar a expressão incontida da frustração da Catarina. Explicamos-lhe então a razão das nossas escolhas e ela parece compreender, numa prova de maturidade incrível.

Mas isto não acontece no que se refere às escadas. Ela tem imensa dificuldade em resistir à tentação de seguir o irmão nas suas correrias, nomeadamente quando ele irrompe pelas escadas para fugir dela depois de a atazanar, e nós nem sempre estamos perto para impedir.

Por isso procuramos incentivar o Diogo a ajudar a irmã a lidar com as escadas e ensiná-lo a proteger-se e protegê-la de quedas. Exige riscos mas achamos sempre que é um risco controlado pois nessas alturas estamos presentes para limitar as potenciais consequências.

Aconteceu no sábado que eles quiseram subir para o quarto. Subiram juntos, com o Diogo a protegê-la. Pouco depois o Diogo desceu e ela ficou a berrar no topo das escadas por ter sido deixada sozinha.
Dissemos ao Diogo para ajudá-la a descer. Assim o fez: vieram juntos pela mão, com todo o cuidado. Até que o pequenote, para deixá-la descer pela parte larga dos degraus, escolheu a zona estreita e, calçado apenas com meias, escorregou.

As mãos dadas acabaram por ter efeito contraproducente pois ela foi puxada na queda. Ele escorrregou pelas escadas, bateu com o pescoço mas caiu de pé; ela, muito mais leve e sem força para conter a dinâmica de queda, foi arrastada para baixo pela parte de cima do corpo e acabou a rebolar pelas escadas até bater com a cabeça no chão.

O susto foi grande para todos, incluindo o minorca, aflitíssimo por ter causado aquilo à irmã. Acabei por ter que tranquilizá-lo, dizendo-lhe que a culpa não era dele.

Pouco depois ela estava bem, a correr de um lado para o outro, totalmente recuperada. Mas a meio da noite acordei com sons estranhos vindos do quarto dela. Quando lá cheguei reparei que estava a vomitar, normalmente mau sinal depois de pancadas na cabeça.
Mantivemos o alerta o resto da noite e do dia, repetindo testes de memória e localização para garantir que não havia repercussões. Felizmente ela deu sempre resposta à altura. Parece que os vómitos se deveram exclusivamente a algum virus que também causou uma diarreia.

Ficou o susto e a memória da aflição do pequenote.

Nuno

1.6.08

Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.


Antonio Gedeao In Movimento Perpétuo, 1956

31.5.08

Catarinês IV - dois anos e dois meses

Antes de escrever alguns termos/expressões engraçados de Catarinês, há que dizer que ela fala muito bem e não é trapalhona. Mas há coisas que são giras e vai saber bem mais tarde recordar:

- "brinculos" = brincos
- "balulo" = barulho
- "cintio" = cinto

Esta ela já não diz:
- "eu faço tu" = eu faço

Patrícia

"Comprar compras"

Enquanto o Diogo passava pela sua nova experiência que contei no post anterior, fizémos a vida normal: saí do trabalho e fui buscar a Catarina ao infantário. Fui a última mãe a ir buscar o seu filho e, apesar de estar dentro do horário do infantário, tinha um batalhão de 6 educadoras à minha espera para partirem para o fim de semana.

Bom, o normal não é bem verdade porque ontem (pela primeira vez) esqueci-me da chave de casa em casa. Liguei então ao Nuno a apressá-lo para vir para casa. Enquanto fazia tempo à sua espera, brincámos um bocadinho no parque e depois perguntei à Catarina se queria ir às compras. Ela (já) adora ir "comprar compras". Ao dirigirmo-nos para o mini-mercado disse, "e o que é que precisamos?". Ela começou a listar: "bolachas, leitinho, fruta".

Impressionante!

Patrícia