26.6.08

Avaliação do ano lectivo 07/08

A avaliação deste trimestre final foi excelente. As professoras escrevem que o Diogo está pronto a seguir para a primeira classe tendo aprendido as competências da pré-primária. Dizem ainda que ele fez muitos progressos no francês.

No próximo ano o campeão aprenderá a ler e escrever. Será mais um grande passo para a autonomia e, creio eu, um momento crítico para aprender a gostar de estudar ou não. O próximo ano vai ser um grande desafio.

Já referi várias vezes que a avaliação da escola é de A a D, sendo o primeiro competênca adquirida, B a reforçar e Do oposto de A. Neste período o Diogo teve apenas três B e tudo o resto, 38 As.

A avaliação foi como se segue:
Linguagem verbal
Comunicação:
- Exprimir-se de forma compreensível – A (melhoria);
- comunicar em diálogo e em grupo - A;
- dizer de memória um texto - A;
Linguagem escrita
- contar uma história ou acontecimento – A (melhoria);
Leitura e escrita
- diferenciar fonemas – B (neste regrediu);
Interpretação
- compreender um texto lido pela professora - A;
- utilizar a biblioteca – A;
Escrita
- reconhecer as diferenças gráficas duma mesma letra e palavra - A;
- escrever de forma legível e respeitando as regras da escrita – B;
Produção escrita
- copiar uma frase com um modelo – A;
Matemática
Numerar
- enumerar e quantificar - A;
- contar até – 39 (só pode ser erro da professora o que ele nos provou hoje. Em português já o ouvi contar até mil!)
- classificar os números, comparar grupos - A;
Geometria
- escrever números - A;
- utilizar uma tabela de entrada dupla – A;
- descodificar um trajecto – A
Vida em conjunto
- conhecer as regras simples de vida em grupo – A;
- responsabilizar-se – A;
Matéria e tecnologia
- manipular e utilizar técnicas simples - A;
No mundo da vida
- conhecer manifestações de vida animal e vegetal e referir-se a critérios de classificação – A;
- compreender e respeitar regras de higiene - A;
Educação artística
Educação musical
- cantar canções simples - A;
- participar em actividades com instrumentos - A;
- escutar um registo sonoro - A;
Educação visual
- manifestar interesse por actividades de artes plásticas - A;
- escolher aplicar uma técnica para fazer uma produção pessoal – A;
- provar criatividade e imaginação - A;
Educação física e desportiva
- exprimir-se com o corpo – B (esta é realmente questionável)
- participar em actividades atléticas e ginastas – A;
Comportamentos e métodos de trabalho
- respeitar as regras da escola e da sala – A;
- estar atento e concentrar-se na realização de uma tarefa – A;
- trabalhar a um ritmo satisfatório – A;
- ser cuidadoso com o seu trabalho – A;
- compreender o trabalho – A.

As professoras estão contentes e nós muito orgulhosos do nosso menino. Parece que a fase de maior agitação passou e ele retomou a concentração e o ritmo de trabalho. Vai agora descansado para as suas férias em Portugal e em Setembro há mais!

Entretanto é amanhã o dia de festa na escola. Tirámos a tarde de férias para podermos acompanhá-lo nesta festa. Sabemos que ele vai actuar num exercício de ginástica fazendo uma pirâmide humana. Jogos e outras actividades se seguirão. Estou ansiosa pela festa também para ver se descubro que meninos ficam (sei que os amigos preferidos do Diogo ficam o que são boas notícias numa escola com uma rotação tão grande) e que meninos partem. Quero também descobrir quem será o seu professor(a). Faz-me imensa confusão que nem o Diogo nem o Nuno estejam especialmente preocupados com o que para mim é um mistério.

Estou mesmo contente pelo Diogo!

Patrícia

brinquedos

Sempre me incomodou o abuso de prendas com que os nossos filhos foram brindados desde que nasceram. Em Portugal, era bastante complicado controlar este processo pois os avós não compreendem esta minha rejeição e arranjavam sempre pretextos para contornar as minhas objecções.

Desde que viemos para a Holanda isso mudou radicalmente. Os nossos filhos passaram a receber prendas apenas quando nós queremos ou quando recebemos visitas. Dito assim devo soar totalmente obsessivo mas estou seguro que não estarei só nesta cruzada para impedir o atafulhamento da casa com brinquedos e afins.

Porque o que observo é que o Diogo, de longe o mais agraciado (a Catarina veio para cá com 6 meses), dá pouquíssimo valor às coisas. Porque sabe que vai receber mais, porque sempre lhe apareceram sem esforço, porque nunca soube o que é ter de esperar para obter algo. Até agora...

Ele sabe agora que as prendas são nos anos, no Natal ou numa ocasião especial. De resto apenas pequenas coisinhas, um chocolate quando um de nós volta de viagem ou algo do género.

E já assimilou, de tal maneira que já passou a pedir determinada coisa para os anos. Hoje estava no carro a ver com imensa atenção os Lego, indicando-me vezes sem conta quais vai querer para os anos. Começa portanto a conhecer a espera e o valor acrescido das coisas quando custam a obter.

Nuno

pokémon

Depois de muitos meses de empenho na construção da colecção de cromos dos Pokémon, na qual se envolveram os avós (neste caso específico os meus pais em particular, com as visitas regulares aos Restauradores para encontrar os raros), os pais e o próprio Diogo, eis que o menino começou a tratar a coisa aos pontapés.

A caderneta oficial para agregar os ditos é de muito má qualidade e demasiado frágil para suportar o peso do conjunto de cromos (trata-se de quadrados de plástico bastante grosso, destinados a coleccionar e jogar), o que leva inevitavelmente a uma degradação acelerada e à inutilização depois de poucas semanas.

Este facto levou já à compra de cadernetas de substituição, que tiveram contudo o mesmo fado das outras. Assim, o pequenote acabou por perder a paciência e juntou os cromos todos num saco, esquecendo de vez a caderneta.

É fácil de adivinhar os capítulos seguintes da história. Fora da caderneta, amontoados num saco (são mais de 200), cada vez que procura um tem que tirar todos. E como não é muito arrumado, onde os tira é onde ficam até que um de nós o obrigue a arrumar. Entretanto chega a minúscula, começa a brincar e assim se têm perdido uns quantos.

Não satisfeito, hoje decidiu levar para a escola 2 cromos não repetidos para oferecer a um amigo como retribuição por uma oferta de um qualquer autocolante oferecido pelo McDonald's no Happy Meal.

Por princípio não gosto de me meter nestes negócios deles, acho que têm que aprender com a vida, mas neste caso achei demais e intrometi-me. Indignado pelo desprendimento dele para com algo em que tanto empenho foi colocado, determinei que ele perdeu o controlo da colecção, que passa a estar a meu cuidado.

Agora não sei bem como vou fazer, não tenho qualquer intenção de cuidar daquilo e não quero proibi-lo de brincar. Mas precisa de perceber que as coisas têm significado.

Nuno

olha que menina

A nossa Catarina já consegue, com meros 2 anicos de idade, comandar a casa toda.

Tem tarefas exclusivas para a mãe e o pai; se ela decide que tem que ser um dos dois a tomar conta de determinado assunto que lhe diga respeito, é escusado pensar que se lhe dá a volta.

Felizmente as tarefas não são constantes, o que sempre permite alguma flexibilidade. E ela tem uma noção muito forte de prioridades e um grande sentido de pragmatismo: não faz esta brincadeira quando um dos 2 está ausente.

De forma fixa, a Patrícia tem as incumbências de a vestir, banhá-la e dar-lhe a comida quando mete na cabeça que não consegue comer sem ajuda; cabe-me a mim dar-lhe o leite de manhã, dar-lhe a mão para descer as escadas e lavar-lhe os dentes. O resto é mais ou menos aleatório, consoante a disposição.

Nuno

20.6.08

patriotismo

Ontem a Selecção de futebol foi eliminada do Campeonato da Europa de 2008 pela Alemanha. Perdemos 3-2, num jogo emocionante e bem disputado. O resto é irrelevante para aqui.

Vi o jogo com o meu cunhado e um amigo português que vive aqui na Holanda. Só conseguimos ver os últimos 20 minutos do jogo pois estávamos em casa desse nosso amigo e as nossas crianças todas tomaram conta da televisão.

Quando finalmente conseguimos ligar o futebol, Portugal perdia 1-2. O meu cunhado estava frustradíssimo e empenhado na recuperação, enquanto nós observávamos com algum distanciamento e comentávamos de forma algo calculista a qualidade do jogo. Todos torcíamos pela equipa portuguesa mas a importância atribuída ao jogo era claramente diferente entre ele, residente em Portugal, e nós.

No final o meu cunhado não descansou enquanto não entrou na internet para procurar opiniões que consubstanciassem a sua irritação por uma derrota que considerava injustificada. Quanto a nós, era como se uma equipa qualquer tivesse jogado um amigável algures na Ásia: total indiferença.

E hoje as pequenas provocações dos colegas caíram em absoluto saco roto. Obviamente, não sinto qualquer remorso e não vejo razões para tal; mas pergunto-me a razão da diferença de atitude e da minha total indiferença perante uma situação que até há bem pouco tempo me transtornava.

A resposta não está contudo na minha postura geral perante Portugal - embora também nesse capítulo sinta as coisas com menor intensidade - mas sim na minha percepção do futebol. Quando penso nisso, nunca senti nada aquando das derrotas das equipas portuguesas noutras modalidades; porque há-de o futebol ser diferente?

Nuno

19.6.08

melgas

Combinação mortífera nesta fase: o Diogo na fase dos amuos e em contínuo teste aos limites pessoais e familiares; a Catarina na fase do não, a reforçar a personalidade já de si assintosa.

Os dias são sessões contínuas de confronto e gestão das consequências.
Com o minorca compensa levantar a voz, com a minúscula o resultado é uma choradeira.
Ele pára de fazer naquele momento mas vai fazer por trás mais tarde; ela parte num pranto, reclama comigo, chama pela mãe e não me fala durante horas.

O campeão só quer actividades perigosas, escolhe sempre o caminho mais difícil, põe-se em perigo inúmeras vezes por dia, insiste deliberadamente no que lhe é proibido e amua quando vetamos comportamentos ou escolhas.

A pequerrucha nega por sistema seja o que for que lhe peçamos, escolhe sempre o contrário do que lhe propusermos, desfaz e refaz sozinha as actividades nas quais a ajudarmos sem que ela tenha pedido e chora quando confrontada, deitando-se no chão e recusando qualquer aproximação daquele que a tenha afrontado.

Uff...

Nuno

14.6.08

Autonomia

A minha irmã parece estar decidida a fazer-se à estrada. Melhor dito, a mudar-se de armas e bagagens para o stráungêiro e deixar para trás a pátria lusa.

Esteve esta semana na Áustria a fazer provas para entrar no Conservatório Austríaco, um dos mais (se não o mais) conceituados a nível mundial, e passou limpinho. E disse-me a minha mãe que ela já decidiu que a oportunidade é para não desperdiçar, pelo que podemos contar com um membro mais da família pelas bandas cá do Norte (um pouco mais a Sul, mas ainda assim).

Importa neste ponto rever a história da minha irmã. Desde que decidiu (e atenção, quando ela decide ninguém lhe dá a volta!) seguir a via da música a evolução tem sido notável.

Começou tarde, pois os músicos são supostos começar muito novos a cuidar da sua vocação, contra tudo e todos e desperdiçando capacidades óbvias para áreas mais convencionais - era genial na geometria descritiva (e logo arquitectura, design), sacando 20 de enfiada quando os colegas sofriam para o 10.

Ainda assim, falhou por muito pouco a entrada no Conservatório - muito conservador e exigente na admissão, sobretudo para pessoas fora da idade convencionada - e conseguiu entrar na Academia dos Amadores de Música, a escola alternativa ao Conservatório.

Escolheu inicialmente a guitarra como instrumento de eleição, percorreu os degraus todos de formação e, quando chegava ao topo da escala, decidiu mudar de instrumento: passou para o contrabaixo, ao qual se dedica há 5 anos. Vem novamente percorrendo a evolução natural da aprendizagem do instrumento, enquanto soma sucessos nas orquestras juvenis e em todas as ocasiões em que é posta à prova.

No ano passado cansou-se das fraquezas da Academia e mudou-se para o Conservatório, que desta vez a aceitou de braços abertos, enquanto se preparava para a entrada na Escola Superior de Música. Simultaneamente dá aulas e continua a tocar nas orquestras juvenis e a dar espectáculos amadores, à espera do salto para o degrau superior.

No ano passado fez um tour pela Europa a reunir informação para se candidatar às diferentes escolas europeias. Decidiu-se pela Áustria e conseguiu. E de uma assentada vai conseguir dar o tal salto que tanto merece e ganhar a independência de que tanto precisa.

Parabéns!

Nuno

10.6.08

pontos a favor

A Patrícia começou ontem as suas aulas de yoga; segundo ela a experiência foi positiva e pretende continuar. E eu sou totalmente favorável (se é que isso interessa) pois estou seguro que lhe faz imenso bem em termos físicos e mentais.

Eu estou a ter aulas de golf desde Fevereiro, tendo começado há pouco tempo a jogar no campo principal. Estou entusiasmado e venho aprendendo imenso, não só no que respeita especificamente ao jogo mas também ao nível de inferências para a atitude perante a vida em geral.

Não digo que qualquer destas actividades seja radical ou extraordinária mas ambas constituíam sem dúvida objectivos pessoais que vínhamos adiando.
Será que alguma vez teríamos encontrado tempo ou disposição se ainda estivéssemos em Portugal, imersos no conforto da teia familiar?

Nuno

4.6.08

Juliette


Ontem o Diogo contou-nos que está apaixonado. Ele já nos tinha dito que estava apaixonado antes mas era por outra colega de nome Eva. Só que ela, algures, lhe terá dito que gostava mais de outra coleguinha do que dele, e ele, apesar de ter mantido a sua paixão por ela durante uns tempos, agora chateou-se pela unilateralidade da paixão.


Disse-nos que deu três beijinhos na boca (os primeiros!!) de uma colega de escola. Conta ele que ela andou atrás dele e que ele fugiu porque “tinha medo”. Depois encurralou-o (as mulheres são assim mesmo). Ele teve medo mas ela, decidida, deu-lhe um beijo. Deram mais dois, já por iniciativa de ambos, e ele já gostou destes.


Mas o gozo maior desta história, que não é aqui registado, é a cara de malandro dele a contar-nos esta nova experiência.

Patrícia

3.6.08

escadas

Embora não tenha valor histórico na estrita acepção da palavra, não posso deixar de relatar o episódio de queda das escadas de sábado passado.

Do alto dos seus cinco anos, o Diogo já sobe e desce as escadas com total descontracção. Na verdade, com excesso de confiança, algo tão característico da idade. Mas nada há a fazer em relação a isso que não seja manter a atenção, sempre com o cuidado de não o desmotivar na descoberta de novas capacidades ou de lhe dar a entender que não confiamos nas suas habilidades.

A Catarina está noutra fase do crescimento. Embora tenha uma motricidade muito boa para a idade, as escadas são ainda motivo de preocupação constante. Já sobe e desce sem ajuda mas ainda não nos transmite suficiente confiança para largarmos as amarras.

O problema principal reside, como em tantas outras situações da nossa vida familiar, na diferença entre os dois. É complicado negar à Catarina aquilo que permitimos ao Diogo. A injustiça é comprovadamente a maior fonte de frustrações na infância e procuramos ser tão justos quanto possível.

Muitas vezes é simplesmente impossível manter a equidade, pelo menos de forma compreensível para eles. E acabamos então por ter que suportar a expressão incontida da frustração da Catarina. Explicamos-lhe então a razão das nossas escolhas e ela parece compreender, numa prova de maturidade incrível.

Mas isto não acontece no que se refere às escadas. Ela tem imensa dificuldade em resistir à tentação de seguir o irmão nas suas correrias, nomeadamente quando ele irrompe pelas escadas para fugir dela depois de a atazanar, e nós nem sempre estamos perto para impedir.

Por isso procuramos incentivar o Diogo a ajudar a irmã a lidar com as escadas e ensiná-lo a proteger-se e protegê-la de quedas. Exige riscos mas achamos sempre que é um risco controlado pois nessas alturas estamos presentes para limitar as potenciais consequências.

Aconteceu no sábado que eles quiseram subir para o quarto. Subiram juntos, com o Diogo a protegê-la. Pouco depois o Diogo desceu e ela ficou a berrar no topo das escadas por ter sido deixada sozinha.
Dissemos ao Diogo para ajudá-la a descer. Assim o fez: vieram juntos pela mão, com todo o cuidado. Até que o pequenote, para deixá-la descer pela parte larga dos degraus, escolheu a zona estreita e, calçado apenas com meias, escorregou.

As mãos dadas acabaram por ter efeito contraproducente pois ela foi puxada na queda. Ele escorrregou pelas escadas, bateu com o pescoço mas caiu de pé; ela, muito mais leve e sem força para conter a dinâmica de queda, foi arrastada para baixo pela parte de cima do corpo e acabou a rebolar pelas escadas até bater com a cabeça no chão.

O susto foi grande para todos, incluindo o minorca, aflitíssimo por ter causado aquilo à irmã. Acabei por ter que tranquilizá-lo, dizendo-lhe que a culpa não era dele.

Pouco depois ela estava bem, a correr de um lado para o outro, totalmente recuperada. Mas a meio da noite acordei com sons estranhos vindos do quarto dela. Quando lá cheguei reparei que estava a vomitar, normalmente mau sinal depois de pancadas na cabeça.
Mantivemos o alerta o resto da noite e do dia, repetindo testes de memória e localização para garantir que não havia repercussões. Felizmente ela deu sempre resposta à altura. Parece que os vómitos se deveram exclusivamente a algum virus que também causou uma diarreia.

Ficou o susto e a memória da aflição do pequenote.

Nuno

1.6.08

Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.


Antonio Gedeao In Movimento Perpétuo, 1956