31.5.09

visto de fora

Pinto da Costa, o presidente do FC Porto, veio a público sugerir que a final da Taça de Portugal fosse disputada no Estádio da Luz para permitir aos adeptos do Benfica ver um bom jogo de futebol.

Isto nada tem de novo, o senhor é conhecido pelo sarcasmo e este género de provocação faz parte do seu discurso habitual. A minha primeira reacção foi um pequeno sorriso e uma reflexão rápida sobre a justiça do comentário - nos últimos anos passou de facto a ser raro ver o Benfica fazer um jogo decente.

O que me ocorreu também foi que gostaria que Pinto da Costa pudesse ver o futebol português pelos meus olhos. Estou certo que não mais voltaria a encontrar energia ou disposição para construir piada elaboradas sobre o tema.

Nuno

28.5.09

Barcelona - Man Utd

Ontem assisti pela TV à final da liga do campeões entre o Barcelona e o Manchester United. Sem qualquer dúvida um jogo fantástico pelo ambiente, pela relevância e pela qualidade das duas equipas.

Já sabia à cabeça que tinha uma preferência pelo Man Utd, talvez porque venho acompanhando os jogos da equipa há alguns anos, talvez por causa do Cristiano Ronaldo, talvez porque tenho ido a Manchester em trabalho com muita regularidade. Fosse qual fosse a razão, tinha perfeita consciência que iria torcer pela vitória do ManU.

Mas fiquei espantado comigo próprio quando me apercebi que era bem mais profundo que isso. Eu queria mesmo que o Barcelona perdesse, e à medida que o jogo decorria essa vontade ganhou intensidade, ao ponto de me irritar com os jogadores do ManU por não conseguirem dar a volta ao resultado. Branco no preto, a minha postura era absolutamente negativa: fosse qual fosse o opositor, o Barcelona tinha que perder.

Da última vez que o Barcelona ganhou a Liga aconteceu o mesmo. Tal como agora, na altura fiquei convencido que a equipa tinha sido levada ao colo. Não porque jogasse mal mas porque naqueles momentos críticos em que ser bom não chega os árbitros tinham dado um jeitinho.

Desta vez foi no segundo jogo com o Chelsea, em que uma escolha da equipa de arbitragem com critérios altamente questionáveis levou a um desempenho por parte dessa equipa digno de terceira divisão regional. Suponho que há muito quem se revolte pelo domínio das equipas inglesas.

Nuno

27.5.09

Corrida contra a fome

Organizada pela ONG "Action Contre a Faim", o objectivo desta corrida é recolher dinheiro para a organização distribuir, em especial a crianças subnutridas, comida.

Antes da corrida o Diogo teve de encontrar patrocinadores. Foram 7 os que alegremente apoiaram a sua motivação humanitária. E no dia 15 de Maio, o Campeão participou na 12.ª edição da corrida contra a fome. Deu 10 voltas e, com isso, contribuiu com 75 Euros para esta acção.

Nunca entendi muito bem a motivação das corridas, maratonas, meias-maratonas etc. Este tipo de corrida, todavia, faz sentido. E faz sentido que se sensibilizem as crianças para, desde cedo, entenderem que os abusos que se cometem em muitos países (aqueles em que vivemos) são, não só insustentáveis, como actos de absoluto desrespeito pela vida de tantos. Nos EUA a obesidade infantil atinge, actualmente, 60% da população.

Claro que fiquei absolutamente comovida pelo entusiasmo da participação do filhote nesta iniciativa. Espero que possa ser a primeira de muitas. E que cresça com o sentido de que pode e deve ajudar os outros.

Para a edição do ano que vem contamos ter o reforço da Miminha.

Para quem quer saber mais:
www.lacoursecontrelafaim.org
www.actioncontrelafaim.org

Patrícia

21.5.09

"Miss Imperfeita, muito prazer"

Apanhei este texto na net e tenho de o colocar aqui. Tenho porque prezo tanto a minha independência e quero ser o melhor possível mãe, esposa, profissional, que quase sempre me esqueço de que, antes de tudo e acima de tudo sou, Patrícia.

A ver se mantenho em mente esta ideia que Martha Medeiros expressou no Jornal O Globo, e passo a dar-me tempo e culpa zero. Ora leiam.

"Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes.

Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. A imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe, filha e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado, decido o cardápio das refeições, cuido dos filhos, marido (se tiver), telefono sempre para minha mãe, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos e ainda faço as unhas e depilação!

E, entre uma coisa e outra, leio livros.

Portanto, sou ocupada, mas não uma workholic.

Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.

Primeiro: a dizer NÃO.

Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por nada, aliás.

Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.
Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros.

Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.

Você não é Nossa Senhora.

Você é, humildemente, uma mulher.

E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo.

Tempo para fazer nada.

Tempo para fazer tudo.

Tempo para dançar sozinha na sala.

Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.

Tempo para sumir dois dias com seu amor.

Três dias.

Cinco dias!

Tempo para uma massagem.

Tempo para ver a novela.

Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza.

Tempo para fazer um trabalho voluntário.

Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.

Tempo para conhecer outras pessoas.

Voltar a estudar.

Para engravidar.

Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.

Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.

Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.

Existir, a que será que se destina?

Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.

A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem.

Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si.

Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!

Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente.

Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.

Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C.

Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores.

E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante."

Patrícia

17.5.09

Cultura portuguesa

É a minha cultura. As crenças, comportamentos, valores, regras de conduta e morais com que cresci e fui educada. O que entendo e me faz sentir em casa. A história, as tradições, os dizeres. É aquilo que dia após dia tento transmitir aos filhotes. Mas tem também um pessimismo incrustrado que me recuso a aceitar e que, podendo escolher, pretendo não transmitir aos meus filhos.

Escreveu Manuel Laranjeira "Às vezes, em horas de desânimo, chego a crer que esta tristeza negra nos sobe da alma aos olhos, e então tenho a impressão intolerável e louca que em Portugal todos trazemos os olhos vestidos de luto por nós próprios".

E é essa vitimização, glorificação do passado em detrimento da ideia de controlo ou planeamento do futuro, pessimismo, a nobre e silenciosa resignação a instituições e pessoas que detêm o poder que me deixam danada e sem qualquer vontade de ali criar os meus. Gostaria que fossem seguros de si, confiantes nas suas ideias e valores e, optimistas.

Patrícia

Metro

É o resultado de um pedido feito pelo Governo Francês à Academia de Ciências da França para que criasse um sistema de medidas baseadas em uma constante não arbitrária.

Em 25 de junho de 1792, um grupo de investigadores franceses, composto de físicos, astrónomos e agrimensores, deu início a esta tarefa, definindo assim que a unidade de comprimento metro deveria corresponder a uma determinada fracção da circunferência da Terra (1/40.000.000, ou 1 metro e 1,8 mm) e correspondente também a um intervalo de graus do meridiano terrestre, o que resultou num protótipo internacional em platina iridiada, ainda hoje conservado no Escritório Internacional de Pesos e Medidas (Bureau international des poids et mesures), na França, e que constitui o metro-padrão.

Hoje resolvi medir a Catarina. Mede exactamente um metro.

Patrícia

13.5.09

Cansaço

O Nuno continua a viajar por todo o lado em trabalho. Estou muito contente por se estar a dar bem. Merece-o e eu bem sei o quanto lhe "sai do pêlo".

Mas fico preocupada com tantas viagens. Exijo que me dê conhecimento dos vôos e por onde anda. A experiência com o meu colega em Fevereiro deste ano não ajudou, aliás deixou-me super apreensiva: ele ía no vôo que se despenhou em Buffalo e ninguém tinha a certeza. Foram horas muito complicadas e o processo de confirmação também.

A rotina diária, que já é complicada por si a dois, fica comprometida quando só um é o garante de que tudo funciona bem, a horas certas, dentro da "melhor" normalidade, telemóvel sempre a postos não vá alguma escola precisar de me contactar. Isto no meio de prazos e reuniões e trabalho em pilhas. Safa!

Lembro-me sempre da minha sogra a dizer "a década dos trinta é uma estafa, porque há muito trabalho e os pequenotes precisam de imensa e intensa atenção". Neste preciso momento estou a lutar para escrever isto. Tenho os dois pimpolhos empuleirados em mim.

Há um botão de pause aí algures? E se houvesse, seria eu realmente capaz de nele carregar? Sonho com ele, imagino-o aí mas depois acho sempre que não era capaz, e nessas alturas encho-me de paciência e dou-lhes um ataque simultâneo de cócegas e beijos. Só para os ouvir a soltar gargalhadas. Porque isso me enche novamente a carga de energia.

Patrícia

Head stand

Na minha última aula de yoga tentei, pela primeira vez, a posição shirsasana ou cabeça para baixo.


Fiquei toda contente por conseguir (com a ajuda do professor, claro).

Patrícia

8.5.09

sensações

Aqui há algum tempo decidi que ia parar de escrever sobre as minhas sensações, na medida em que acabava sempre por cair na tentação de me queixar sobre a falta que Portugal me fazia, assunto mais do que gasto e cansado entre nós, e que passaria a concentrar-me na análise puramente factual do dia-a-dia.

Ora esta manhã ocorreu-me que tal decisão é desprovida de sentido: se os factos são necessários para servirem de referência futura, as sensações e emoções são cruciais para podermos compreender o contexto desses factos. De certa forma, seria como acumular fotografias tipo passe sem legenda ou sem acompanhamento de outras fotografias da época - a fisionomia e a expressão facial, únicos elementos capturáveis, tornar-se-iam ilegíveis apesar de evidentes.

Qualquer romancista sabe que tem que incluir elementos intangíveis - cheiros, emoções, sensações - para acrescentar interesse. Nós, enquanto romancistas da nossa própria vida para mais tarde a revivermos, temos também de voltar a capturar esses elementos.

Nuno