O período de Natal é, por excelência, tempo de comunhão em
família - leia-se comunhão, neste contexto, como o acto de realizar ou
desenvolver alguma coisa em conjunto – e por isso, e novamente, optámos por
passar este tempo em Portugal, junto principalmente dos nossos pais e irmãos. A
comunhão é, como é natural, vivida de forma muito diferente consoante onde e
com quem se celebra. Pode ser tranquilidade e alegria. Ambas são os natais que
conheço e que estimo. Um dia, hei-de fazer o meu natal – gostava que fosse com
todos - , e há-de ser diferente – uma mistura dos dois? Talvez. – e nesse dia,
sei que me vou lembrar destes com saudades. Assim é a natureza humana.
Este foi bom.
Os meninos crescem e cada vez mais nos dão mais autonomia: vantagem
de os termos tido (relativamente) cedo. Deixaram-nos muito satisfeitos para ir
com os avós e primos por duas noites. Na primeira, saboreámos a lareira e, no
dia seguinte rumámos a um passeio (no novo pópó dos meus pais) pelo sul.
Tranquilos, “jogando conversa fora”, sem rumo definido passeámos durante dois
dias, com paragem para jantar e dormida na acolhedora pousada D. Afonso II, em
Alcácer do Sal. A pousada está situada dentro das muralhas (com vista para o
Rio Sado e os seus arrozais) do antigo castelo muçulmano, conquistado pelo rei
que lhe dá nome no século XII. No século XVI foi adaptado ao funcionamento de
um convento. A estadia foi maravilhosa (o único senão foi não terem a lareira
acessa): bar & gastronomia deliciosa, descanso e silêncio q.b., atenção com
discrição por parte do pessoal.
No regresso a Lisboa, aproveitando a lufada de ar fresco,
enchemo-nos de coragem e, lá acabámos a compra das prendas de Natal que
faltava. Claro que umas mais que outras, mas acho que foram conseguidas. Ou
pelo menos, todas compradas com carinho para cada um dos presenteados.
Em seguida as festas.
Este ano foi ano de passar a véspera de Natal em casa dos
sogros. A tarde de preparação: a salada de frutas; a disposição da mesa; a música
de natal; os brigadeiros da cunhada. E logo, chegada a hora do jantar, o convívio
de todos, marcado pela presença dos tios. Para o jantar, sempre a canja, o especial
perú (com ossos) recheado no forno, o puré de batata condimentado de noz
moscada, a salada e, para sobremesa (entre os múltiplos bolos da época:
bolo-rei, broas castelares, sonhos e outros que não me encantam especialmente
mas que não poderiam faltar a uma mesa de Natal) a inconfundível salada de
frutas. Tudo no meio de conversa amena. Com historias do passado, com ideias sobre o futuro.
Com vontade de saborear o tempo passado em conjunto. Em seguida, agora em mais apaixonada conversa, a clássica a troca das prendas ao estilo amigo secreto. E
a despedida. Daqui a dois anos lá estaremos de novo – desejando que com todos e
com saúde.
E no dia seguinte, o dia Natal. Este passado na casa eleita pelos
meus pais. Com a mãe sempre na grande ansiedade do Natal – festa que é sua e
que prepara com o coração cheio, o ano inteiro. E o pai, claramente satisfeito quando estamos todos. Chegamos para o almoço. Quando
chegamos, reparo em duas coisas para além da mesa já estar posta: a lareira
acessa (outra das associações indissociáveis ao Natal); e o cheiro ao cozido à
portuguesa único e imbatível da mãe. Vai ser esse o almoço. E tem de haver espaço
para ele. E para as entradas que também não sou capaz de recusar – como pouco
mas saboreio quase tudo. A mesa, a condizer com a toalha vermelha: cheia de
alegria. E as sobremesas. E o café, que tem de ser depois de tudo o que ingeri.
Seguiu-se o espectáculo, remniscência do que fazíamos em crianças,
na véspera de Natal e para nos mantermos acordados e entreter os adultos (chegámos
a ser 40) até chegar a meia noite (quando passava o pai natal com as prendas).
Quatro “pequenotes” na família (mais a avó) já são recursos suficientes para um
“show”. Fazem um teatro, ensaiado mas trapalhão. Estarão com pressa? Penso que
para as prendas.
Logo a seguir a distribuição de prendas. Quatro pais-natais vestidos a rigor e um
elfo (a mesma equipa da peça de teatro). Muita confusão de prendas – quem deu o
quê a quem? Porquê? E o quem gostou? Perguntas sem resposta. Não interessa – aqui
o que interessa é a alegria do natal. Que seja celebrada!
E segue-se a dança das indianas – porque a mãe este ano
concretizou um dos seus sonhos e foi numa viagem à ĺndia e trouxe um sari a
cada menina.
E logo continua. Agora já não tanto em modo de natal mas
em modo de um desejo de pais. Entendo, daqui a muitos anos também vou querer
ver, a somar aos agora presentes, as famílias que (e se) os meus pequenotes
constituirem – todos juntos. Será que vai acontecer? O Di diz que vai sair do velho
continente (ou do planeta nos dias em que se sente mais aventureiro e confiante
no “avenir”), a Kaki diz que vai viver nos EUA ou em França (e di-lo com a
certeza de que já sabe e, pronto). Será que vêem? Pelo Natal ou pelo
Sinterklaas? E onde nos encontraremos? Ano sim, ano não?
E assim é o natal. Uma grande comunhão. De tempos (idos,
presentes e futuros), de tradições familiares – da minha de origem, da do Grandalhão de origem, do que passou a ser quando nos juntámos e do que da nossa união nasceu, de projectos e sonhos e divagações sobre o que será
– com a certeza que será, sempre, o momento e por excelência, de comunhão em
família.
Bem hajam todos.
Patrícia
P.S. E não referi o Natal das primas, logo de seguida, que
também já se tornou tradição e parte das festividades do Natal.