30.1.21

As flores

Coube-me a sorte de receber do meu Grandalhão estas lindas flores.

Chegam lindas e encantadoras para nos enfeitar a casa e me alumiar a alma.

São tão bonitas e cheirosas - suplicam ser colhidas, porque num amanhã não muito longe, murcharão. Assim é a vida, a nossa e a das flores. Não se pode guardá-la para amanhã, porque é hoje que acontece.

Mais um dos teus permanentes gestos, sempre delicado, sempre generoso, sempre atento.

Como escreveu Pablo Neruda:

No te amo como si fueras rosa de sal, topacio
o flecha de claveles que propagan el fuego:
te amo como se aman ciertas cosas oscuras,
secretamente, entre la sombra y el alma.

Te amo como la planta que no florece y lleva
dentro de sí, escondida, la luz de aquellas flores,
y gracias a tu amor vive oscuro en mi cuerpo
el apretado aroma que ascendió de la tierra.

Te amo sin saber cómo, ni cuándo, ni de dónde,
te amo directamente sin problemas ni orgullo:
así te amo porque no sé amar de otra manera,

sino así de este modo en que no soy ni eres,
tan cerca que tu mano sobre mi pecho es mía,
tan cerca que se cierran tus ojos con mi sueño.

Patrícia

25.1.21

Primeiras eleições do Champs

Não sei como se resolveu proceder com eleições presidenciais em Portugal quando se está no olho do furacão em Portugal com a pandemia. Mensagens tão contraditórias: na sexta feira apertam o confinamento e fecham as escolas pedindo as pessoas que fiquem em casa tao dramático e a taxa de contagio e a situação dos hospitais, mas no domingo, convida-se a população activa a ir as urnas que voto a distância é coisa de muito planeamento e futurismo... Também não sei como um boletim de voto pode estar errado. Sim, o primeiro da lista do boletim de voto afinal não concorreu – a maior anedota seria que ganhasse. LOL. Igualmente, não sei como se aceita eleger um presidente da republica com mais de 60% de abstenção. Visto aqui de longe, parece que se saiu completamente do trilho.

Fiquei aborrecida porque não pude votar. Uma falha qualquer do funcionário que fez o meu cartão do cidadão, apesar da morada ser estrangeira, não me recenseou como tal. Não me deixaram votar. Não que fosse fazer a diferença, mas é revoltante deslocar-me a outra cidade e dizerem-me que não porque alguém não carregou numa qualquer caixa do sistema de emissão do cartão do cidadão. E não que tenha grandes esperanças para o pais que neste momento, não estivesse fisicamente agarrado a Espanha, e Espanha a França e todos na União Europeia, tem a credibilidade duma republica das bananas qualquer. A incompetência é revoltante. A falta de alternativas gritante. A mediocridade de quem deveria estar a orientar os cidadãos (governo e oposição) inabalável. E eis que me deixei levar pela espiral negativa – a verdade é que não quero muito saber porque não me afecta muito. Não compreendo a passividade da população civil que parece contentar-se com criticar com todas as forças e energia mas nunca arregaçar mangas para construir soluções, ainda que em pequena escala, para alterar o curso da vulgaridade.   

Estou zangada. Não é só Portugal – apesar de ser representativo. É a falta de visão e cooperação colectivas. Sou humanista e acredito que por mesquinho que seja o ser humano, em momentos de crise se ultrapassa. Tudo isto foi gerido pessimamente – sempre a pensar na minha cozinha, o meu bairro, a minha região, o meu pais. Não posso deixar de observar que é de onde mulheres lideram que tem vindo o tom de empatia, de união, de cooperação, de tratemos dos nossos e de todos. Enfim, agora temos o Biden que aparece com o mesmo discurso, pelo que não posso dizer que é exclusivo. Mas diria que há uma certa tendência, sim, de maior empatia para os casos concretos e não para os números e para navegar a vista das reacções dos eleitores. Não é para trazer o género a baila mesmo porque cá em casa tem sido o Nuno a cabeça fria, a calma, a pessoa que quando o desespero aperta nos para e diz que isto é o que se esperava. Sei que é uma tarefa ingrata e hercúlea e não faria melhor mas também não tenho o treino e meios que quem tem poder de decisão tem. Estou zangada, sim. Falhou o humanismo, falhou a cooperação global que possibilitaria tratar disto concertadamente.   

Votar é um direito é um dever cívico que nasce a partir do momento em que nos tornamos maiores de idade. É uma acção publica, daquilo que é res publica (coisa publica). Parece-me evidente que esse modelo, só por si, não chega. Precisamos também da acção civil, das comunidades para que nos possamos restabelecer.

Em nota positiva, o nosso Diogo é, como sabemos, pessoa muito interessada no mundo da politica – com interesse mais aguçado para assuntos internacionais, é certo – e foi com gosto ao Consulado votar: o voto dele esta algures nos resultados abaixo. Que venha cheio de força e faça deste mundo melhor.

E a seguir passámos por um drive-through para uns Macnugets e batatas fritas que entre pandemia e frio não havia mais opçoes para aproveitarmos uns minutinhos mais de companhia do filho e apaziguarmos a filha.

Patrícia

24.1.21

Caminhos

Quando caminho – e faço-o diariamente, como manutenção sanitária – ando pelos parques e pelas ruas de Amesterdão. Muitas vezes em percursos repetidos. O Grandalhão acha aborrecido, não encontra apelo nessa constante repetição. Eu não o vejo assim, atenta ao pormenor e à mudança do que parece estagnado, desperta-me cada vez sempre mais curiosidade os detalhes e a grande diferença entre o passar de meses. De um dia para o outro parece não haver nada diferente, e no entanto, o mesmo recanto, com o passar de 3 meses, inúmeras vezes, transformou-se profundamente. Quando acontece?   

A este respeito, caminhar é muito parecido com o amor – para um ser humano amar o outro é descobrir continuamente novas camadas de si mesmo enquanto continuamente descobre novas camadas do outro, e neles novos apoios de amor. Em qualquer amor digno do nome, há constância e há mudança. Há certamente constância na mudança e, consequentemente, mudança constante. E assim é necessário, para que o amor que une os dois seja renovado, diminuído da incandescência do discurso inicial que tal sol pode, se olhado indevidamente, cegar e, todavia, crescendo em profundidade e descoberta numa luz mais próxima da lunar, reflexo da do sol num corpo que, em si, não tem luz. Como a lua, reflito a tua luz.    

As minhas caminhadas são conversas. Comigo própria, por vezes conversas imaginadas e imaginárias com outros, em longos diálogos tidos dentro da minha cabeça, que nunca se vão materializar ou, fazendo-o tomam atalhos não contemplados. E ainda cumprimentos e saudações aos animais com que me cruzo e, por vezes, algumas árvores porque são sempre eles meritórios duma simpatia.

Caminho em trilhos desertos, marcados por tanto passo.

Patricia

22.1.21

Este sombrio Janeiro

Janeiro é sempre escuro. Depois da excitação das festas de Sinterklaas, Natal, Passagem de Ano tudo fica triste. Pleno inverno, frio, húmido, chuvoso, ventoso. Os dias são curtos, a natureza escolhe-se e recolhe-se a, escondida, fazer o seu trabalho para explodir exuberante na primavera.

A acrescer à baixa motivação própria da época, este ano continuamos domados por uma pandemia que teima em não desarmar. Uma pandemia global com uma resposta local, desorientada, escassa, de fraca eficiência. Já vamos em dez meses disto no nosso mundo ocidental. Tivemos uma breve abertura no Verão porque as condições são menos favoráveis ao contágio. Do verão para cá passaram quase 5 meses. No final do ano anunciaram-se vacinas que vão demorar tempo a produzir, distribuir e aplicar. Também nesse campo parece haver desorganização e confusão: quem, quando, como.

Foi com esperança que esta semana vi uma mudança no tom do outro lado do Atlântico.    

Continuamos a não poder fazer grandes planos. A grandeza dos dias que correm é passar mais um dia sem receber noticia de que alguém próximo acusou positivo ao vírus ou, acusando, que não precise de cuidados externos para lutar contra ele. É este o foco.     

Vamos passando os dias. O Grandalhão, na sua luta diária de casa com o seu trabalho vai conseguindo as suas vitorias. O Campeão “limpou” os dois primeiros blocos da universidade com distinção e considera neste momento acrescer o seu desafio e uma candidatura a um programa de Honors. E cresce a olhos vistos enquanto um ser funcional e independente. A Kiks, mudando de língua escolar, teve nos seus exames de Dezembro uma média superior a 9/10. Do nosso núcleo, eu sou quem anda mais perdida, esvoaçando entre projectos, sonhando com tertúlias e viagens e sem nada palpável a acontecer. Vale-me ter tempo para acompanhar ainda que brevemente e à distância algumas pessoas, de reflectir na imensa dádiva de quem serve, não com subserviência mas com enorme elevação e muito sacrifício, com uma profunda humanidade e imensa humildade. As mães, em especial as nossas, são inquestionáveis recordistas neste capitulo.


Reverência.           

Patrícia