10.3.23

Animal Farm Opera

 Fomos esta quarta feira. 

Estava entusiasmada porque era uma premier, baseada na obra-prima e atemporal de Orwell - a Quinta dos Animais - que lemos (e vi em adolescente/jovem adulta em filme) e é uma feroz crítica ao apego ao poder, uma a história de libertacão fracassada por causa da decadência que, regra geral, inevitavelmente traz o exercício prolongado do poder. Nesta obra os animais lutam para se libertarem do seu opressor humano, mas apenas para ser tornarem novamente subjugados a um novo governante que ascende entre eles...

Tinha-me informado sobre a ópera, e visto vídeos entusiasmantes sobre os cenários. As minhas expectativas eram altas. 

Talvez por isso tenham sido goradas e saímos no intervalo do espectáculo. 

Talvez tenha sido termos acordado muito cedo nesse dia, termos tido um dia cheio. Talvez tenha sido porque um dos intérpretes principais (Napoleão) estava doente e outra pessoa tomou o seu lugar, com playback (?) - tudo de última hora, corajoso e na tentiva de não estragar o evento. Certamente, e parece que esta é a mais importante das razões, porque não havia melodia ou harmonia musical. 

Percebe-se que quizessem imitar animais com zurros, berregos, mugidos, pios, roncos, runhidos e afins ao mesmo tempo que contavam a história de Orwell. Mas o efeito foi de ataque conseguido aos nossos ouvidos e rejeição. Os cenários e máscaras eram interessantes.  

Uma experimentação de "ópera moderna" que provavelmente não entendemos e não apreciámos. O Champs resolveu vir embora e nós acabámos por seguir. 

Tive pena porque estava entusiasmada com o que fariam. Não achei conseguido.  

Patrícia



 

5.3.23

Praga

O Grandalhão já deixou a sua impressão da nossa escapadela aqui. Deixo também a minha. 

Dos quatro, eu era a única que jà conhecia Praga. Visitei num verão ainda no século (milénio 😁) passado. Lembrava-me da ponte, do relógio astronómico e pouco mais. Agora que temos o blogue, fica o registo para mais tarde recordar.

Praga é a capital da República Checa, conhecida pelo extenso e vestusto património histórico e arquitectónico do centro da Europa. A cidade é conhecida como a "cidade das cem cúpulas", apesar dos Checos serem, de acordo com censos, o país europeu menos religioso da Europa. 

Situando-se no centro da Europa, "apanharam" com tudo. Ora vejamos, assim muito sumáriamente:

  • a cidade de Praga como centro urbano e núcleo político do reino da Boémia, nasceu no século IX e tornou-se um ponto importante das trocas comerciais da Europa medieval. Por causa desta relevância mercantil, em 1170 construiram a primeira ponte de pedra sobre o rio moldava (vltava na língua local) que é um afluente do rio Elba.
  • no século XIV, a cidade ganha um enorme impulso pelo governo do imperador germano Carlos IV de Luxemburgo - grande herói e patrono da cidade - que ali estabeleceu a capital do seu império. Foi ele que ali fundou a universidade, mandou construir a icónica ponte Carlos IV, e da cidade nova. 
  • grande rivalidade entre os checos e germanos, levando à "defenestração de Praga", no século XV, em que os dirigentes da cidade foram atirados pela janela da sede do governo pelo povo enraivecido.
  • no século XVI, os (católicos) Habsburgos ascendem ao poder, e nova "defenestração de Praga", precipitando a eclosão da Guerra dos Trinta Anos pela Europa, período no qual Praga foi ocupada por saxões e suecos. 
  • no século XIX estavam sobre a ascendência dos Austrohungaros. 
  • Em 1918, Praga torna-se a capital da nova e independente Checoslováquia, para ser invadida em 1938 pela Alemanha nazi, e cedida para a órbina da União Soviética no pós II Guerra Mundial.
  • Com a queda do muro de Berlim, e da União Soviética, libertam-se da influência desta e no final de 1992, a República Checa separa-se da Eslováquia.
Tédio ou estabilidade não é algo conhecido pela gente que vive ali!

Chegámos pouco depois da hora de almoço e deixámos a pouca bagagem num hotel simpático na zona turística central. Com fome, lançámo-nos na street food local (para turista).

E passeámos pelo centro da cidade velha, onde vimos a praça central com o relógio medieval astronómico (provavelmente o mais famoso do mundo), construído em 1410 pelo mestre relojoeiro, de quem se conta foi cegado para que não repetisse a sua obra em mais lado nenhum. O relógio é composto por 3 partes: 
  • a esfera inferior da Torre do Relógio representa os meses do ano, os signos do zoodiaco e o escudo das armas da cidade velha; 
  • a esfera superior é o relogio astronómico própriamente dito - a sua função original era representar as órbitas do Sol e da Lua (ao invés de dizer as horas);
  • as figuras do relógio com o desfile dos dozes apóstolos que ocorre a cada momento em que o relógio marca as horas (e passa-se nas janelas superiores do relógio).
  • há ainda quatro outros personagens: o turco, a avareza, a vaidade e a morte (um esqueleto que marca o início do desfile ao puxar uma corda).
A Praça é muito bonita e arranjadinha e foi nosso ponto de passagem todos os dias da nossa estada, por razões variadas. 



Depois fomos passear à beira do moldava. Também passámos diversas vezes, ao longo da estadia, por esta lindíssima ponte Carlos IV que liga a Cidade Velha ao Castelo de Praga. A ponte é acedida de ambos os lados por torres, e tem 30 réplicas (as originais estão em museus) estátuas em estilo barroco.



Gárgulas deslumbrantes
Personagens que não esperava

Do outro lado da ponte, está situado o maior castelo fortificado do mundo, o castelo de Praga que domina a colina da margem esquerda (oriental) do rio. O castelo foi construído entre os séculos XIV e XVII e actualmente é habitado pelo presidente da reública. Mesmo ao lado do castelo, encontra-se a lindíssima catedral gótica.

Jantámos, sob recomendação do taxista que nos trouxe do aeroporto, no restaurante U Rudolfina.



E ainda fomos para mais um passeio pós jantar na bela ponte, sob alguns flocos de neve.





À procura da famosa parede do John Lennon que desde o início dos anos 80 quando Lennon foi assasinado e (Praga se encontrava sob jugo soviético). Lennon era reverenciado como pacifista e era um herói na época em que os comunistas proibiam as músicas dos Beatles e depois do Lennon a solo, por causa das mensagens. De modo que a parede era continuamente decorada com grafites inspirados no John Lennon, e as autoridades limpavam-nos, e novamente reapareciam novas grafites na parede. De modo que o muro é, não só uma homenagem a John Lennon, mas também um monumento à liberdade de expressão e à rebelião não violenta que a juventude checa fazia contra o regime autoritário comunista.



Eu ainda queria ir espreitar a absiteria (nunca tinha ouvido falar) mas estava tudo K.O.. No dia seguinte, passámos pelas peeing statues, de bronze e provocatórias em frnete ao museu do Kafka.
Vimos a pontes Carlos IV de outra perspectiva (outra ponte) e o Grandalhão tem uma foto espectacular da ponte velha daqui no seu post.
Enquanto víamos outros pontos da cidade que naturalmente presta homenagem a um dos filhos da cidade e muito conhecido escritor, Franz Kafka.

Fomos à procura e passámos pela estátudo do homem pendurado, balançando acima de uma das ruas do centro histórico de Praga, e imagino que deixando pessoas preocupadas com a possibilidade de um homem estar prestas a morrer. A estátua é deliberadamente provocativa e representa Sigmund Freud. Do escultor (Cerny), o oscilante Freud é surpreendemtemente realista à distância. É uma declaração escultural sobre a dúvida do escultor sobre o intelectualismo do século XX.  
Mais uma experência de comida Checa no Svejk para ganharmos energia para a visita do dia.

A deslumbrante catedral gótica 








E o maior castelo fortificado da Europa. A janela abaixo, é a tal janela da defenestração de Praga, onde foram atirados pela janela os representantes dos Habsburgs a 8 de Novembro de 1618. Ninguém moreeu e apenas tiveram pequenas escoreações mas as consequências foram enormes e o início de um dos grandes conflitos da história da Europa Moderna: a Guerra dos Trinta Anos


A vista do castelo sobre a cidade
A oferta dos ingleses aos Checos pela ajuda na Segunda Guerra Mundial
E mais iguarias locais ao jantar

E pequeno almoço (melhor tosta de pêra abacate de sempre)
Já no dia de partida, visitámos as exposições do brilhante Salvador Dalí e do Warwhool
E ainda espreitámos o antigo cemitério judeu, entre os mais antigos cemitérios judaicos sobreviventes do mundo com a mais antiga lápide a datar de 1439. No cemitério existem cerca de 12.000 lápides.



Sim, é uma cidade turística e como tal habituada a servir pessoas que vem e vão sem grande apego. Não sentimos grande hospitalidade dos locais que parecem ter sido preparados para constante mudança e instabilidade e portanto não mostram os dentes a estranhos e andam à sua vida. 

Não deixa de ser uma cidade com uma arquitectura fenomenal e muita história (e agora nossas histórias também) para contar. Soube bem este interregno. Sabe sempre bem estar a quatro a explorar novos sítios, culturas, comidas. Testar a resistência física, o palato, e a abertura da mente.

Patrícia 

3.3.23

escapadela

Centos de dias passados e quase esquecidos, eventos e ilusões dispersos na espuma dos dias, realismos e desilusões alinhados em contraponto, eis-nos de corpos e almas de volta na estrada. 

A familiaridade do processo e a antecipação de memórias ímpares a amenizar a insuportável fricção da viagem aérea e da experiência turística. Tudo nos aeroportos insulta o sentimento de si e convida à abdicação da vontade. Deixamo-nos levar, incorpóreos e vazios, por regras subliminares e instruções minimalistas em audio e neon. Ao longo do caminho, o bombardeamento incessante de mensagens comerciais, coisas para levar e coisas para trazer, a prosaica terapia de retalho. Não interessa resistir, qual colete de forças sufoca e restringe até à inevitável rendição e entrada assentida na jaula com asas. Assentos desenhados à medida do mínimo denominador comum, joelhos esmagados pela ganância das companhias aéreas, cheiros e bactérias partilhados à força numa troca semi-consciente de comodidade por celeridade. 

Finalmente em Praga, destino idealizado. A arquitetura da cidade velha tem efeito imediato e transporta-nos para um tempo que nunca vivemos mas romanceamos. Extremamente bem conservados, tanto pela história militar como pela estratégia urbanística, edifícios centenários de todos os usos e feitios propiciam aos visitantes uma experiência tão parecida com a original da idade média quanto possível num contexto moderno. 




Acima de tudo, o prazer de estarmos juntos em viagem. Os nossos filhos crescidos ainda acedem a estas deambulações e parecem ter prazer em explorar o mundo connosco. 






Quanto à visita em si, impossível disfarçar uma sensação de decepção. Apesar das vistas deslumbrantes, a antipatia dos locais (a meu ver típica de destinos turísticos) e o excesso de visitantes em espírito de escapadela - sim, claro que entendo a ironia - tornaram a vivência a espaços desagradável. 

Cidades em tempos heróicas, repletas de feitos lendários e feições marmóreas, rendidas ao gosto universal e bacoco das redes sociais. O turismo como principal - única? - fonte de financiamento da conservação histórica, a horrenda selfie como imagem de marca de monumentos com significado transcendental, o relativismo extremo no domínio do espaço cultural.  

Estou claramente a ficar velho.

Nuno