27.2.08

Ideia de infância

No dia dos namorados a prenda que o Nuno me deu não poderia ter sido melhor: arranjou junto a um colega do trabalho o contacto para uma senhora de limpeza.

Para enquadrar, conto aqui a nossa experiência com empregadas: primeiro, estava ainda grávida do Diogo, tivemos a ajudar-nos uma senhora da Ucrânia, a quem chamávamos Valentina. Assim que o Diogo nasce, apesar de lhe termos proposto ficar a tempo inteiro, recusou porque ganharia menos do que a trabalhar à hora. Depois veio a Vera, por intermédio duma dessas agências que encontram pessoal doméstico. A Vera, era uma rapariga nova e do norte. Ficava com o Diogo o dia inteiro, enquanto trabalhávamos. Cuidava dele, da casa, da roupa e das nossas refeições. A dada altura os horários que precisávamos tornaram-se diferentes e a Vera partiu.

Veio então a Narcisa, verdadeira mãe-negra! Até agora foi quem mais me marcou. Muito mais velha que nós, muito paciente: nunca em vários anos a vi desesperar com os miúdos apesar da vida dela por vezes lhe pregar partidas valentes. Não vou esquecer como tratava dos nossos filhos e de nós! Das suas sopas, do sorriso e da sua tranquilidade. Da segurança que me dava quando nos primeiros tempos aqui na Holanda a Catarina tinha diarreia ou febre por causa dos dentes (pensamos nós), e ela, tranquila, tranquilizava-me também. A Narcisa, que veio connosco para a Holanda, primeiro como interna e depois uma vez por semana, teve de regressar a Portugal. Soube há dias que já tem novo emprego, com uma idosa que era algo que ela queria.

E ficámos sem ninguém para ajudar, numa casa grande, com muita roupa para passar! Eu sou um bocado stressada e passava o tempo a cuidar que a casa não entrasse no descontrolo. E assim volto à prenda do Nuno. Hoje, se aqui estou a escrever, é porque tenho a Kátia e o Emanuel a tratarem da casa e da roupa – os tempos modernos são assim: ela limpa a casa, enquanto ele passa a ferro. Uma vez por semana. Um descanso!

Para se ver o quanto valorizo este serviço, registe-se que, desde pequenina a minha avó, com a mentalidade da sua época, me dizia que eu não haveria de ser uma “boa esposa”. Ao contrário da minha prima, não gostava de cozinhar, limpar, coser ou ficar por casa. Queria ir brincar com os rapazes para a rua. Dizia que quando crescesse havia de ganhar dinheiro para ter alguém que tratasse da casa por mim. Hoje, como seria de esperar, mudei ligeiramente de discurso. Há coisas que gosto de organizar na minha casa. Há vezes que gosto de cozinhar. Mas fazê-lo por opção é totalmente diferente. E continuo a achar que é dinheiro muito, mas muito bem gasto.

Obrigada meu amor, por cuidares tão bem de mim!

Patrícia

23.2.08

Dominó(s)


Domingo passado a Catarina iniciou-se no jogo do dominó. Ao segundo jogo ela percebia o que era esperado dela. É uma menina muito esperta! Claro que sou suspeita para o dizer mas é confirmado por quase todos os terceiros que com ela convivem.

A nossa pequenota está em fase de transição para a sala dos meninos mais velhos. Ontem, quando cheguei para a buscar a sua educadora disse-me que ela tinha pedido para ficar na sala dos mais velhos e não voltar para a sala dos bebés. Lá suspirei e fui buscá-la. Já tinha visto a sala mas sem crianças. Quando lá cheguei estava instalado o caos: miúdos que corriam ou andavam em triciclos; gritos; meninos que cantavam ou se olhavam ao espelho; jogavam... Uma enorme confusão, característica de um espaço com crianças saudáveis. Não vi logo a minha menina. Dirigi-me à última sala onde é suposto ser o gupo dela. Antes de lá chegar, apareceu ela a correr e a chamar "mamã". A educadora, muito simpática, logo atrás para se apresentar e me acolher.

É um novo desafio para ela. O comportamento e hábitos de uma sala de meninos dos 22 meses aos 4 anos é totalmente diferente do ambiente de uma sala de bébés dos 4 aos aos 20. Ela parece estar muito contente e a ambientar-se muito bem. Até agora não chorou, antes fica deslumbrada com o comportamento dos outros (sobretudo das meninas), e sente-se claramente bem.

As educadoras da sala dos bebés, Jessica e Fanny, abraçam-se a ela e dizem que só vão gozar da sua companhia mais uma semana. Gabaram-na muitissimo na entrevista com a educadora da sala dos meninos grandes.

Pode parecer confuso ao início mas as peças vão-se encaixando... como num jogo de dominó.

Patrícia

22.2.08

Experiências com palhinhas II


Esta experiência também foi bem sucedida.

Patrícia

A alegria que está no simples uso de cor



Patrícia

Experiências com palhinhas


Na escola do Diogo andaram a fazer experiências. O enfoque foi dado aos elementos água e ar.

Este quadro é o efeito do uso de palhinhas.

É de artista! Está tão giro que tem direito a exposição no quarto dos brinquedos.

Patrícia

Boneco de neve caloroso


Aqui ficam uns trabalhos do Diogo de Dezembro 2007 e Janeiro 2008.

Este tem como particular o coração no nariz do boneco de neve. Cada um vê aquilo que quer...

Patrícia

21.2.08

parqueamento

Tenho que falar sobre o assunto e, já que ninguém dá qualquer importância ao tema, aproveito para descarregar a minha irritação aqui, onde não me ouvem. Ao menos fica registado.

Para conseguir a licença de parqueamento para residentes há, em algumas zonas de Amesterdão, uma lista de espera. Desde o momento em que se pede até à entrega da licença podem passar no limite 10 anos (no centro).

Mas o curioso em relação a isto é que praticamente não há construção dentro da cidade: os edifícios têm uma média de idades de 80 ou mais anos, são protegidos e a construção limita-se a renovação ou reabilitação. Logo, o único crescimento populacional possível é orgânico.

Como o número máximo de licenças por habitação é fixo (2), o crescimento populacional não gera crescimento no número de licenças atribuídas, que tendencialmente se encontra perto do seu máximo potencial.
Digo perto porque há algumas remissões momentâneas aquando da partida, seja para fora da cidade ou para outras zonas dentro da mesma, de habitantes de determinada área. Nesses momentos, as tais pessoas em fila de espera recebem as licenças.

A minha primeira pergunta é: como pode haver gente em fila de espera, que não sejam as pessoas que ocuparam os lugares daqueles que partiram, em áreas onde não há construção nova e onde a única hipótese de ocupar um lugar é a substituição? Se alguém parte, outra pessoa toma o lugar, logo as vagas são preenchidas automaticamente, não ao fim de meses ou anos.

A única resposta é haver menos licenças atribuídas do que as exigíveis 2 por habitação ou haver fogos que passam a certo momento a ter direito a licença. Mas deviam ser esses a ser postos em lista de espera, não aqueles que compram ou arrendam uma casa no pressuposto que têm direito a estacionar na zona onde vivem.

A segunda parte do ridículo prende-se com processo em si; só é possível pedir a licença depois de ter o carro, logo está-se automaticamente condenado a passar meses ou anos a pagar parque como os visitantes, a preços que podem atingir os 2 euros por hora de estacionamento.
A solução lógica seria permitir que se pedisse a licença, esperasse pela entrega e depois se comprasse o carro (com obrigação de comprovativo para evitar burlas).

E quem fala dos verdinhos de Lisboa não conhece a diligência desta gente a multar. Seja pelo que for e para o que for, há quem controle e multe. E multas pesadas, a penalidade por não pagar parque (embora o carro esteja bem estacionado) é de quase 50 euros, mais de 2,5 vezes o valor de um dia inteiro de estacionamento.

Já descarreguei, agora vou para casa estacionar o carro sem pagar. Já fomos multados umas vezes mas o crime compensa. Ainda por cima descobri uma zona em que não se paga a partir das 19...

Nuno

12.2.08

Dinâmica entre irmãos - parte II

Tinhas razão, vejo relevância em responder. Não porque me sinta injustiçado mas porque me parece que ignoraste um aspecto relevante da questão: o da nossa sanidade mental.

Não me perturba que eles andem sempre a guerrear, que impliquem um com o outro por uma questão de princípio e que oscilem entre o enfernizamento mútuo e a defesa feroz do outro perante perigos ou injustiças.

O que me incomoda é que esse processo implica gritos e correrias. Cada vez que o Diogo rouba o boneco da Catarina (que ele só quer para a arreliar e que ela não queria até ver que ele o tem), ela grita. Se lhe pedimos para não gritar, ela atira-se para o chão e chora. Entretanto o Diogo corre, fazendo abanar tudo na sala, e grita para a espicaçar. E a coisa continua por aí em diante até alguém intervir para por cobro ao caos.

Se os gritos dela se deverem a birra pura, seja por teimosia descabida ou por capricho, temos que ignorar e aturar o barulho. Se surgirem na sequência de uma atitude maldosa do irmão, passamos a ter motivos para actuar e legitimidade para acabar com a chinfrineira.

E o mesmo se passa com ele: encho-me de paciência para não o recriminar por fazer barulho no dia-a-dia, ignorando a minha consciência e os pedidos repetidos do vizinho por perceber que não posso impedi-lo de ser criança; se a correria e os berros forem apenas um aspecto derivado de algo mais grave, ganho o direito de lhe exigir para evitar aquele comportamento porque o que está em causa é a postura moral que me cabe ensinar.

Eu não consigo conviver com gritaria. Em bom português, mexe-me com os nervos; perturba-me de forma tão profunda que os alarmes soam e sou compelido a fazer algo para impedir que continue. É fisiológico, com uma urgência igual à de qualquer outra necessidade que por motivos orgânicos sou obrigado a satisfazer.

Penso que tenho evoluído imenso nesse campo e sou hoje muito mais capaz de tolerar o barulho do que era no passado. Não escondo no entanto que o meu ambiente ideal continua a não ser uma sala cheia de crianças aos berros, razão pela qual procuro imprimir em casa uma vivência de maior tranquilidade.

Nuno

11.2.08

Dinâmica entre irmãos

O Diogo e a Catarina passam agora o tempo a arreliar-se. Provavelmente, é um dos seus passatempos favoritos nos tempos que correm. Isto não quer dizer que se dêem mal porque ambos tem inúmeras manifestações de carinho e preocupação um com o outro [isto é absolutamente verdade e não uma conclusão de mãe que quer ver os seus filhos ligados]. A meu ver isto é muito natural (tenho um irmão e sei como foi – e por vezes ainda é) e saudável.

Eles simplesmente gostam de provocar reacções um no outro, testar-se, lutar por espaço e brinquedos – enfim, conhecer-se a si próprios através do outro. E acho que também gostam de provocar reacções em nós...

Parece-me perfeitamente razoável que o irmão/irmã seja o melhor laboratório para este efeito. E no caso dos meus filhos, dada a fenomenal diferença de personalidades e abordagens, estou certa que ambos terão muito a aprender em casa e entre eles. Como li algures, a dinâmica afectiva entre irmãos é uma peça fundamental na construção psíquica e historia pessoal.

Ora, tal passatempo tira, por sua vez, o Nuno do sério que decide intervir. A intervenção, naturalmente, deve ser feita de forma justa, sem regalias ou proteccionismo, e o problema nestas coisas é saber como começou e se desenrolou. No calor da discussão é difícil ter todas as informações e tomar uma decisão rápida e justa. Então a estratégia do Nuno é ficarem os dois irmãos em situação de perda, ou seja, castigo.

A minha dúvida é qual a melhor forma de actuar porque a relação entre irmãos mal gerida (pelos pais) pode provocar ainda maiores conflitos.

Nesta fase acho, portanto normal que eles guerreiem. Guerreiem, formem alianças e cumplicidades. Mal seria se não o fizessem, apesar de ser claro que para os pais é muito complicado gerir essa relação.

Patrícia

5.2.08

a nossa vizinha dinamarquesa

No Domingo passado parámos por uns minutos no parque em baixo de nossa casa, algo que não fazíamos havia meses. O frio não tem convidado aos momentos ao ar livre e ainda não somos suficientemente holandeses para lidar com temperaturas baixas com descontracção.

Como dizia, parámos no parque, mais por frustração por não termos conseguido encontrar o que realmente procurávamos (um parque de animais onde os miúdos podem alimentar os filhotes de cabras, ovelhas e vacas) do que por vontade expressa, e encontrámos uma vizinha de origem dinamarquesa com a qual não falávamos desde a última vez que tínhamos ido ao parque.

Enquanto os miúdos se empenhavam nas brincadeiras habituais, iniciámos uma conversa de ocasião com temas curriqueiros. Mas eis que a cavaqueira descamba em assunto sério e nos vemos envolvidos numa cena dramática de confissão sentimental: esta nossa vizinha está de luto...pela Dinamarca.

Não porque o país tenha morrido (embora me pergunte se alguma vez esteve vivo) mas porque ela está em processo de nojo pelo afastamento definitivo do mesmo. Soa confuso, de tal tenho perfeita noção; até para nós que estávamos lá foi difícil entender exactamente aonde ela queria chegar.

Com reflexão e debate chegámos à conclusão que a senhora deve ter percebido que o seu amado país não precisa dela para coisa alguma. Ela saiu há 20 anos da Dinamarca, construiu a vida cá com um holandês mas manteve a ilusão que poderia voltar a qualquer momento porque o país a receberia de braços abertos, possivelmente ainda agradecido pelo favor.

Há algum tempo decidiu por o plano em prática e planear o regresso, com marido e filhos incluídos no pacote. Disseram-nos isto algures em meados do ano passado e já estranhávamos que nada acontecesse nesse sentido. Agora juntamos os dados desgarrados e deduzimos que a coisa deu para o torto.

Ora aí está uma ilusão que nunca tivemos. Temos perfeita noção que Portugal e os Portugueses se estão nas tintas para nós, que se alguma vez quisermos voltar vamos ter que criar a oportunidade e que essa possibilidade fica cada vez mais difícil de concretizar à medida que acumulamos tempo cá fora.

Mas não deixa de ser interessante observar o comportamento de outros expatriados em relação à sua pátria, ao desejo de regresso, aos diversos estágios pelos quais toda a gente passa e à reacção que as diferentes pessoas têm perante o afastamento.

A Patrícia é pragmática, tem os olhos no futuro e recusa entrar em lamentações pelo que deixámos para trás. Sim, as saudades tocam a todos, mas para quê deixar-se arrastar por isso quando o presente e o futuro têm tanto para oferecer?

Eu não consigo ser assim, sempre vivi num binómio passado-futuro que de alguma forma misteriosa exclui o presente. Prezo por isso a sua força para me obrigar a concentrar no que temos agora e naquilo que há para construir.

Nuno