Infelizmente não temos fotos do acontecimento, embora merecesse ser
documentado. Costumamos acompanhar o champs em todos os seus jogos, em casa ou
fora. Neste caso era mesmo muito longe, quase na fronteira com a Alemanha, e
tínhamos o espectáculo da kiks. Para além disso iam todos em equipa num
autocarro, não faria sentido ir à parte e por razões diversas nós temos tido
algumas dificuldades de integração com a equipa dirigente do clube.
Seja como for, o que fica para a história é o desempenho magnífico do nosso
campeão. Não só em campo, também fora dele pelo empenho nos treinos ao longo
destes anos e pela entrega à equipa em todas as circunstâncias. Apesar do cansaço
ao fim de um longo dia de escola, das dores persistentes no calcanhar, da chuva
e do frio, ele lá vai quase religiosamente à Terça e à Quinta até às 8 da noite.
Vezes sem conta ficou de fora e viu colegas com pior atitude e performance serem
titulares, nunca desanimou e ao invés sempre se concentrou em melhorar a sua
própria técnica e em aprender com os mais velhos.
Desportos colectivos como o râguebi são magníficas escolas de vida,
micro-cosmos de dinâmicas singulares em que se adquire valores fundamentais na
prática ao invés dos sempre maçadores sermões dos adultos ou das lições
passivas na escola. Princípios simples como o do esforço ou do trabalho de
equipa são absolutos e evidentes no mundo do desporto. Ninguém ganha por acaso
ou talento preguiçoso, quem se julgar melhor que os outros rapidamente desce à
terra com uma cotovelada no nariz, e por aí em diante.
Ora dizia eu que o nosso Diogo tem tido um comportamento exemplar desde que
começou a praticar râguebi. Passou já por inúmeros altos e baixos, e a
convivência com o grupo dos mais velhos tem tido os seus momentos complicados.
Eles são maiores, mais experientes, conhecem-se bem e vários estão inclusive na
mesma escola, é difícil para alguém mais novo e estrangeiro ser respeitado num
ambiente assim. No entanto o champs tem ganho o seu espaço e sido reconhecido
no seio da equipa. Agarrou sempre as oportunidades que lhe foram dadas sem
reclamar, tanto nos treinos como nos jogos, aprendeu a jogar em todas as
posições, explorou as suas qualidades naturais, trabalhou os aspectos mais
fracos, e hoje já ninguém se espanta ao vê-lo com 14 anos na principal posição
em campo – Fly Half em inglês, Abertura em Português – no meio de gandulos de
16 anos.
A razão pela qual escrevo tudo isto é que o Diogão foi pela primeira vez seleccionado
para a equipa de Sevens (râguebi com 7 jogadores de cada lado em vez dos
clássicos 15) que sempre disputa os torneios de final do ano. Dos mais de 30
jogadores inscritos na equipa, 15 foram pré-convocados e desses só 12 foram ao
jogo. Uma vez lá chegados, ele entrou a titular na tal posição de Fly Half. Como
se não bastasse, ganharam os jogos todos e passaram à fase seguinte. Assumindo
que ele vai ser outra vez convocado, lá estaremos para o ver brilhar!
