31.1.14

A cavalo!



Entramos hoje no ano do Cavalo que é um dos animais favoritos dos chineses. Com a simbologia de levar as pessoas onde elas querem estar, não só no sentido de transporte como também na carreira, o sucesso. São competidores e simbolizam liberdade, paixão e liderança. Ele também é considerado um animal social, e com esses atributos, o cavalo é usado como um símbolo romântico.

Para os chineses os cavalos não são usados no trabalho agrícola, isso é coisa para o boi. O cavalo pela sua agilidade, imponência e destreza é tratado como um animal nobre.

2014 será o ano do cavalo de madeira. É um tempo de colheita, de renovação e de mudanças. Apreciador de novidades, o cavalo de madeira promete trazer um ano cheio de descobertas e invenções.

Será um ano decisivo para quem estiver disposto a buscar o seu lugar ao sol e também para aqueles que procuram um bem maior: grandes causas são favorecidas com a força do cavalo. O senso de cooperação e a amizade são características do cavalo de madeira. As comunicações serão favorecidas. Será muito movimentado e até turbulento. Devido ao seu caráter impulsivo, o cavalo pode provocar desgastes políticos. Os anos do cavalo tem sido decisivos para o mundo: a Primeira Guerra Mundial (1918), a Grande Depressão (1930), a Segunda Guerra Mundial (1942) e a Revolução Cultural Chinesa (1966), a libertação de Mandela (1990) aconteceram em anos regidos pelo cavalo.

Então, vamos ao que se promete – escolhamos os nossos cavalos (escolhi o puro sangue lusitano) e saibamos ir a passo, a trote ou galope pela vida em 2014, consoante for mais adequado a cada momento.

Patrícia

O dedo médio do meu menino

sofreu um acidente na quarta feira. Na escola, a tentar apaziguar meninos desavindos: um irrita-se e fecha a porta, o meu menino estica a mão a tentar impedi-lo e, podia ter ficado sem parte do dedo. Foi uma pancada valente, muito sangue à mistura, pele toda arrancada.

Telefonaram-me da escola – nunca gosto quando vejo no visor do telefone o nome da escola identificado – que ele tinha tido um acidente e que o estavam a levar ao médico. Depois que estavam no médico, que tinham “colado” a pele e que tinha de ir ao hospital para um RX para ver se o osso tinha sido afectado. Chegou a casa com o dedo ligado, não conseguia ver nada e ele, santo como é, “sim, dói”, mas sem fazer grande caso disso.

E fomos ao hospital. No hospital pediram-me para tirar a ligadura (?!). Tirei – “ui, que está mesmo feio” fizeram o RX. Comunicaram-me que não estava partido e pronto, podem ir embora.

- “Ir embora? Assim,sem os resultados para mostrar a um médico que se siga, sem uma nova ligadura a proteger a ferida? Sem me dizerem que cuidados tomar e a que sintomas dar atenção? Quanto tempo vai demorar a curar etc?”

- “ Aqui é a radiologia apenas, vamos mandar os resultados para o seu médico de família”.


Lá apanhamos o táxi, directo para o médico de família. Mandam-nos para a enfermeira que ao ver a ferida acha por bem chamar o médico. Vem o bom do homem e lá me explica como ele consegue mexer 1 mm o dedo significa que o tendão está bom e me diz o que esperar. A enfermeira ensina-me a fazer a ligadura – que é preciso fazer diariamente nos próximos dias e venham cá daqui a dois dias para ver como isso está a evoluir.

E fomos. E atendeu-nos outro médico que telefonou para o hospital para confirmar os resultados que nos tinham dito “às vezes eles vêem depois melhor os resultados do RX” e sim, confirmam que não há fractura do osso. Lá manda novamente tirar a ligadura, vê a ferida e os minimos movimentos que o dedo faz, ouve o Campeão (que, muito seguro de si, pede para que a consulta seja em inglês porque ele entende holandês mas a mãe não...), recomenda que isto e aquilo – paracetamol se tiver dor e cuidado a ver se infecta e proteger sobretudo para não apanhar bactérias ou microbios e tal, e pronto, venham se tiver um desses efeitos. E lá saio, de volta para casa, incrédula com este sistema de saúde porque nao tinha ele acabado de dizer que a ferida tinha de estar protegida mas nos manda para casa, novamente sem nada a protegê-la?!

Enfim, vai que não me incomodo com estas coisas de feridas e ligaduras (e a Kikizinha é igual e está sempre pronta para assistir) e ponho a minha face de enfermeira, e a filhota de assistente de enfermeira, e tratamos das feridas do dedo do Campeão com toda a diligência e todo o amor.

Sagas. Desde que tudo acabe bem... mais uma para contar.

Patrícia



Di – Resultados do Primeiro Semestre

O Di recebeu hoje o boletim escolar e, os resultados são:
  • Education artistique (Néerlandais)  - 7 - Diogo worked very well in the first semester. He could focus more in his work and less on his classmates

  • Education physique garcon (Néerlandais) - 8 - Diogo doet het goed, prima.

  • Informatique (Français) - 8 - Le travail est bon, il faut continuer aussi.

  • Langue 1 (Français) - 8 - Elève sérieux, ai comportement irréproachable. Un bon semester qui révèle de réelles qualités, tant a l’écrit qu’à l’oral!

  • Langue 2 (Anglais) - 8 - Diogo is an enthusiastic student who is making good progress in this subject.

  • Mathématiques (Français) - 9 - Le travail est réfléchi et les résultats sont très satisfaisants.

  • Morale (Français) - 9 - Diogo travaille très bien et il possède des bonnes qualités d’analyse. Il faut continuer ainsi.

  • Musique (Neerlandais) - 8 - Keep up the good work!

  • Science humaines (Français) - 8 - Elève actif et impliqué dans sa formation, qui obtient de bons résultats

  • Science intégrées (Français) - 8 - Les résultats sont satisfaisants et la participation au cours est bonne.
Um menino muito lindo que nos deixa a todos muito orgulhosos!

A mamã muito babada.

Patrícia

18.1.14

Avatar

Após uns quantos meses a falar nisso, lá os meninos acederam a ver o filme Avatar. E hoje, vêmo-lo, pela segunda vez, no espaço de uma semana, acompanhados de um bolo de limão acabadinho de fazer e delicioso.

Avatar vem do sânscrito Aval, que significa "aquele que descende de Deus", ou simplesmente "Encarnação". Qualquer espírito que ocupe um corpo de carne, representando assim uma manifestação divina na Terra.

O filme, de ficção científica, passa-se no século XXII, no planeta Pandora, onde humanos exploram o planeta, habitado pelos nativos Na’vi, em busca de um precioso minério: unobtainium. Para além da exploração dos recursos do planeta (com fins comerciais), um grupo de cientistas humanos desenvolve um projecto para estudar o planeta, fauna, flora e, naturalmente os nativos. Fruto da engenharia genética e permitindo a transposição de um ser humano para uma espécie de clone, um híbrido humano / Na’vi, isto é o Avatar.

Para além dos efeitos especiais que são brilhantes, o fime abre azo a muitas questões, interessantes, colocadas pelos meninos ao longo do filme, e da semana. O ecossistema, ligado biologicamente como se se tratasse de uma internet biológica ou de energia. Eywa, a deusa de tudo o que está vivo e ligado e a árvore fonte desse ecossistema, onde os Na’vi carregam e descarregam informação, a memória. A trança dos Na’vi, que se liga a outros seres vivos do planeta permitindo uma transmissão / conexão física e espiritual. Os modos e crenças dos Na’vi, a confiança. A discussao do que e mais valioso no planeta, o unobtainium que se encontra abaixo do solo ou a riqueza natural, acima dele.

A ver se os meninos se aventuram na música do Avatar, ao piano, com o livro oferecido pela tia no Natal.

Li que se espera uma triologia deste filme para Dezembro 2016, 2017 e 2018. Cá ficaremos à espera, deliciando-nos entretanto, mais umas quantas vezes com este.

James Cameron tem-nos trazido bons momentos de entretenimento.

Patrícia

5.1.14

2013

começou sossegado, por casa, na Holanda. Mas foi um ano que nos obrigou a muita ginástica.

A Kaki fez 7 anos e celebrou pela primeira vez um aniversário em Portugal, como queria.

Quanto à nossa Kaki, em Abril propuseram-nos que a fizéssemos avançar um ano na escola – do equivalente à primeira classe (CP) passa directamente para o equivalente à terceira (CE2). Muitas conversas tivémos à volta deste (polémico) tema e acabámos por aceitar a proposta e recomendação da escola, com conivência da visada, claro. No final de Dezembro, recebemos o boletim escolar do primeiro trimestre na nova classe no qual a professora escreve: “Suite au conseil des maîtres de cycle de fin de Juin 2013, Catarina est passée directement du CP au CE2. Ce premier trimestre vient confirmer la décision de passage anticipé. En effect, Catarina réalise un excelent premier trimestre. Les notions abordées sont acquises. Ėleve motivée, sérieuse et apliquée, Catarina participe à l’oral et s’engage pleinement des activités. Félicitations! Continue ainsi.” As professoras de inglês e de holandês corroboram as palavras da professora principal.

Foi neste ano que o Campeão terminou, sempre em grande, a escola primária e mudou de escola. O Liceu francês deu-lhe uma boa base mas estava no momento de mudar. Viu partir com alguma tristeza o Max, o Adrian e o Nika para outras escolas. Mas adaptou-se bem ao novo ritmo exigido pela distância e diferente regime da escola nova, agora com horizontes mais alargados, Europeia. Está satisfeito, com velhos e novos amigos, e diz querer completar o liceu na nova escola. Os resultados iniciais (final de Novembro) foram muito bons e aguardamos agora, tranquilamente, o boletim do primeiro período. Antecipo que irá fazer a universidade noutro continente...

Os meninos fizeram as habituais férias grandes junto da família em Portugal – plantaram uma árvore em Magoito e andaram de burro. E, no tempo que lá tivémos, o Dadi completou 11 anos. Tivémos a visita do John, Amanda, Lily e Tate – amigos de Amesterdão que vimos partir no fim do ano para outro continente. Outros amigos partiram também no Verão, sempre triste vê-los partir. E ainda, no tom triste da partida, a da minha avó.

Foi também no final do Verão que tivémos o evento insólito da queda parcial da cauda da nossa gata.

Quanto a actividades, muitas, com relevo na física este ano. Juntos fizeram ski, natação, body board, teatro, piano e, aos domingos, cozinha com a mamã. O Dadi, com apoio do papá, iniciou-se no raguebi e a Kaki na ginástica (além de cozinha e circo).

2013 levou-nos em família por Kandersteg na Suíça (atravessando a Alemanha para lá chegar de carro), Bruxelas e Antuérpia na Bélgica, Lisboa e Porto na Primavera, Algarve e Magoito no Verão e de novo Lisboa no Natal. O Nuno, em trabalho, andou também (e algumas das cidades várias vezes) por Berlim, Paris, Londres, Moscovo, Israel, várias cidades do Reino Unido, Barcelona, Shangai, Beaverton, Bolonha e Milão. Já eu fiz as habituais visitas a NY e, fui ainda a Zurique, Paris, Estugarda e Londres – tudo em trabalho.

Final de ano com eventos na dentição: A Kaki perdeu os dois dentes da frente e o Dadi colocou um aparelho.

Não tivémos muitas visitas este ano. Estiveram connosco a minha cunhada, os meus pais, a minha sogra. Provavelmente teremos cada vez menos visitas de Portugal...

E terminámos o ano em Portugal: O Natal junto da família e o fim de ano junto dos manos e amigos. Para no dia 1 estarmos de regresso à nossa casa.

Agora, em força para 2014!

Patrícia

Bagagem imaterial

“Chegadas

São como os mil pedaços de algo que se estilhaçou, uma jarra talvez. De repente, como nas imagens filmadas, voltam para trás, fazem todo o caminho até ao momento em que a jarra ainda estava inteira, sem imaginar que se poderia partir.

Se houvesse uma linha traçada entre eles e o objecto dos seus pensamentos, esse desenho de rectas acertaria muitas vezes neste ponto, Portugal. E, na verdade, essas linhas existem. São invisíveis, mas existem. Nem só aquilo que se vê é real e concreto. Como chegaram eles tão longe, a lugares de cores e temperaturas tão diferentes? Cada indivíduo tem o seu próprio rasto. Existe a história de Portugal, cronologia de séculos e dinastias, e existe a história de cada português. Raízes, troncos, ramos a estenderem-se na direcção de algo, mãos a quererem agarrar.

Agora eles fazem o caminho de volta. Trazem as malas cheias. E, porque nem só aquilo que se vê é real e concreto, repito-me, trazem malas imateriais também cheias. Não foi necessario pesá-las, despachá-las no check in, mas são tão necessárias como as outras e, mal aterrem, os seus portadores encontrarão maneira de abri-las, com ou sem código, com ou sem cadeado, e de distribuir o melhor do seu conteúdo por aqueles que ficaram, que os esperam.

Também por isto, este preciso momento é fascinante. Para além daqueles que regressam, há aqueles que seguem essa viagem mentalmente, olhando para o relógio na televisão, no pulso, no telemóvel, e imaginando a distância a que o outro estará, o tempo que falta para que aterre e sem encontrem. Também eles fazem uma viagem, paralela a tudo o que os rodeia, têm sentidos que são capazes de evocar um caminho.

A verdadeira chegada acontecerá no momento do encontro. Quando atravessarem a porta da saída, nada a declarar, e, de repente, se tornarem estrelas num palco com dezenas de pessoas a olharem para eles; ou apenas depois de um táxi, de vários transportes, depois de se reconhecer com surpresa as pequenas mudanças das estradas, das ruas, dos cartazes de publicidade, do céu. No entanto, aquilo que é certo, completamente garantido, é que a chegada acontecerá. Num abraço, todos os quilómetros serão reduzidos a nada. Aqueles que esperam irãao abraçar aqueles que regressam, que fazem esta viagem sobrevoando fronteiras e milhares de vidas.

Por isso, é importante acalmar a voz que repete por dentro: quanto tempo falta para chegarmos? Ė agora importante que se respire longamente. Este tempo é solene. A reunião está marcada. Já foi dado início a todos os movimentos que a vão provocar. O encontro é inevitável. Por isso, de certa forma, é como se já estivesse a acontecer. E está.

A linha entre nós e o objecto dos nossos pensamentos está traçada. Não me arrependo de repetir, nem só aquilo que se vê é real e concreto. Seria uma pena deixar passar este momento sem que fosse desfrutado. Como diante de uma paisagem, aquilo que se abre à nossa frente é enorme. Do alto deste instante, temos a certeza inquebrável de que nunca nada nos poderá separar.

José Luís Peixoto”

Este texto do autor estava na revista de viagem. Gostei dele e retive-o. Por sentir verdade para nós, emigrantes, que regressamos e, assumo, para aqueles que nos esperam. Todavia, ao lê-lo, vem também uma profunda tristeza, por saber que não é uma verdade absoluta. Não é porque há também os que partem, e não podem regressar mais. Com esses o encontro fica, para sempre, condenado.

Os que emigram levem na bagagem imaterial este peso enorme do medo do não reencontro. Quando se despedem ocorre, será a ultima vez que te beijo?

Assim foi com a minha avó. Despedi-me dela, em Agosto 2013, no dia antes de partir. Fomos até sua casa e desafiámo-la a ir comer um gelado à Itália, na Avenida da Igreja. Tranquilamente fomos. Tranquilamente saboreámos, na esplanada, sob o calor de Agosto, o gelado. E regressámos. E me despedi, sem pensar que seria a última vez que a veria animada.

Voltei a vê-la envolta de flores – muitas, como teria merecido em vida - também tranquila, mas fria e inanimada.

Partiu a 28 de Novembro de 2013. Trouxe um vazio em forma de Carlota ao Natal. À família. Lembro muito as suas mãos a apertarem as minhas. Um gesto muito seu, muito firme e quente e de contacto. Não sei porquê mas as mãos vêem-me constantemente à memória. E a voz, contente, a dizer “Patrícia!!”, quando ligava. 85 anos, certo, deveria ser de esperar. Mas não era. Não ela.

Agora repousa ao sol, como em vida gostava de estar.

Tenho saudades tuas avó. Descansa em paz.

Patrícia