12.2.08

Dinâmica entre irmãos - parte II

Tinhas razão, vejo relevância em responder. Não porque me sinta injustiçado mas porque me parece que ignoraste um aspecto relevante da questão: o da nossa sanidade mental.

Não me perturba que eles andem sempre a guerrear, que impliquem um com o outro por uma questão de princípio e que oscilem entre o enfernizamento mútuo e a defesa feroz do outro perante perigos ou injustiças.

O que me incomoda é que esse processo implica gritos e correrias. Cada vez que o Diogo rouba o boneco da Catarina (que ele só quer para a arreliar e que ela não queria até ver que ele o tem), ela grita. Se lhe pedimos para não gritar, ela atira-se para o chão e chora. Entretanto o Diogo corre, fazendo abanar tudo na sala, e grita para a espicaçar. E a coisa continua por aí em diante até alguém intervir para por cobro ao caos.

Se os gritos dela se deverem a birra pura, seja por teimosia descabida ou por capricho, temos que ignorar e aturar o barulho. Se surgirem na sequência de uma atitude maldosa do irmão, passamos a ter motivos para actuar e legitimidade para acabar com a chinfrineira.

E o mesmo se passa com ele: encho-me de paciência para não o recriminar por fazer barulho no dia-a-dia, ignorando a minha consciência e os pedidos repetidos do vizinho por perceber que não posso impedi-lo de ser criança; se a correria e os berros forem apenas um aspecto derivado de algo mais grave, ganho o direito de lhe exigir para evitar aquele comportamento porque o que está em causa é a postura moral que me cabe ensinar.

Eu não consigo conviver com gritaria. Em bom português, mexe-me com os nervos; perturba-me de forma tão profunda que os alarmes soam e sou compelido a fazer algo para impedir que continue. É fisiológico, com uma urgência igual à de qualquer outra necessidade que por motivos orgânicos sou obrigado a satisfazer.

Penso que tenho evoluído imenso nesse campo e sou hoje muito mais capaz de tolerar o barulho do que era no passado. Não escondo no entanto que o meu ambiente ideal continua a não ser uma sala cheia de crianças aos berros, razão pela qual procuro imprimir em casa uma vivência de maior tranquilidade.

Nuno

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